Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 De Trump a Bolsonaro, como identificar (e enfrentar) um populista? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/#respond Fri, 21 Feb 2020 08:49:10 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/palmer-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2400 Populismo é o grande mal dos nossos dias.

Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos EUA, Nicolás Maduro na Venezuela, Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, a lista é imensa. Para combatê-los, a receita é simples: doses cavalares de liberalismo.

A opinião foi expressa há 20 dias em São Paulo por Tom Palmer, vice-presidente mundial da maior organização liberal internacional, a Atlas Network.

Defensora do Estado mínimo tanto na economia como nos costumes, a Atlas influencia diversas organizações mundo afora. No Brasil, Palmer deu uma palestra a convite do grupo Livres.

Para ele, o populismo é bastante heterogêneo, a começar pelo fato de que pode ser de direita ou de esquerda. Mas há algumas ideias centrais que são comuns a todos os populistas.

“Os populistas sempre exploram o fato de haver um inimigo do povo”, diz Palmer. Os nazistas escolheram os judeus; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi identificou os muçulmanos como inimigos; na esquerda europeia, em movimentos como o espanhol Podemos, a culpa é dos super-ricos.

“Temos um inimigo, e precisamos de um líder forte para combatê-lo. Esse é o discurso”, afirma Palmer.

O segundo ponto é a identificação total do líder com a população. O venezuelano Hugo Chávez, um dos grandes populistas do nosso tempo, dizia que ele e o povo eram apenas uma entidade.

“Chávez não sou apenas eu. Chávez é um povo. Somos milhões. Vocês também são Chávez!”, disse o líder, num discurso resgatado por Palmer.

No Brasil, tivemos um exemplo praticamente idêntico de nosso maior populista de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao ser preso disse, para a multidão que o acompanhava: “Eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês”.

Terceiro ponto: estar em batalha permanente. Aqui, Trump é o mestre absoluto. Tudo para ele é um conflito, como no caso da disputa comercial com a China.

“Trump considera o comércio uma batalha. Isso é insano. Quando você compra um sorvete, você está lutando contra ele?”, pergunta Palmer

A quarta característica apontada por ele é a defesa imediata da ação. Não há tempo para debates, considerações ou ponderação. O povo tem pressa, e é preciso trazer rápido as mudanças que a sociedade reclama.

Nessa toada, abusos são cometidos, regras são quebradas, negociações são descartadas. Se você identificou Bolsonaro aqui, ponto para você.

Por fim, se o populismo é o grande mal do nosso tempo, as notícias falsas são o grande mal do populismo. Uma espécie de mal ao quadrado.

Às vezes, é a invenção crua de fatos, como fez Trump ao divulgar, contrariando fotos, que sua posse, em 2017, foi a maior da história.

Aquele episódio levou à criação do termo “fatos alternativos” por uma de suas assessoras, um eufemismo para mentiras. De novo, é algo que podemos ver em outras partes do mundo.

Embora radicado nos EUA, Palmer, de 64 anos, é alemão. Quando jovem, nos anos 80, era membro de uma rede liberal europeia que contrabandeava livros e máquinas de xerox para países do bloco soviético. Espalhava as ideias de luminares como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e Frederic Bastiat.

Para ele, o que leva ao populismo é a sensação de melancolia do homem branco, que nas últimas décadas viu seu status relativo na sociedade ser questionado pelo avanço das mulheres e das minorias no ambiente de trabalho e nas universidades.

Palmer diz que apenas a diminuição do peso do Estado pode combater o populismo. E ele não diferencia suas versões à esquerda ou à direita.

“Populismo de esquerda e direita é como estricnina nos sabores baunilha e chocolate”, afirma.

]]>
0
Site sobre direita dos EUA ensina a esquerda a entender fenômeno Trump https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/28/para-vencer-trump-e-preciso-conhecer-sua-base-diz-criador-de-site-sobre-direita-dos-eua/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/28/para-vencer-trump-e-preciso-conhecer-sua-base-diz-criador-de-site-sobre-direita-dos-eua/#respond Tue, 28 Jan 2020 10:15:57 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/trump-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2292 Como grande parte da humanidade, o jornalista Howard Polskin, com uma longa carreira em órgãos da imprensa americana, acordou em choque no dia 9 de novembro de 2016.

Donald Trump, o empresário excêntrico que, de acordo com virtualmente todos os analistas, era carta fora do baralho na eleição americana, havia acabado de chegar à Casa Branca.

“Eu achava que conhecia meu país, mas me senti bobo e desinformado naquele dia”, afirma Polskin.

A conclusão a que ele chegou é parecida com a de muitos brasileiros que até o último momento se recusavam a acreditar na possibilidade de uma vitória de Jair Bolsonaro: é preciso informar-se melhor.

A resposta de Polskin foi criar o site “The Righting” (Endireitando), uma espécie de Saída Pela Direita dos EUA (brincadeirinha, rsrsrs).

É um agregador de notícias publicadas em blogs e sites conservadores, cujo slogan é “alertar audiências progressistas sobre as manchetes da direita”.

“Como diversos consumidores de notícias, eu achava que tudo de que precisava para ser um cidadão americano bem-informado era ler, assistir e ouvir uma variedade de fontes da mídia mainstream de forma regular”, afirmou ele, em entrevista por e-mail.

No seu caso, eram veículos como os jornais The New York Times e USA Today, a revista Time e as emissoras de TV NBC e CNN. Mas não era o suficiente.

Dezenas de outros sites, alguns bastante obscuros e segmentados, estavam, segundo ele, “formatando as opiniões políticas de milhões de americanos”.

The Righting, diz seu criador, busca essas informações e as agrega para quem se inscreve no site (gratuitamente).

Também produz uma newsletter diária e um ranking mensal dos 20 maiores sites conservadores, além de explicar a influência de cada um.

O ranking de dezembro de 2019 mostrou o site da Fox News disparado na frente, com 95 milhões de visitantes únicos. Completam o top 5 Washington Examiner (12 milhões), Washington Times (9,4 milhões), The Blaze (7,4 milhões) e National Review (6,2 milhões).

Howard Polskin, criador do The Righting (Divulgação)

“Passo os primeiros 90 minutos do meu dia de trabalho lendo o conteúdo de dezenas de sites de direita e escolhendo os links que enviarei para meus assinantes”, descreve.

Ele não informa quantos assinantes tem, ou sua audiência mensal. Diz apenas que é concentrada em cidades como Washington, Nova York, Los Angeles, San Francisco e Seattle, todas redutos do Partido Democrata.

Afirma ainda que conta com um punhado de leitores no Brasil (“espero ganhar alguns quando esse artigo for publicado!”, diz).

Polskin é assumidamente o que se chama de “liberal” nos EUA, que por lá significa progressista ou esquerdista. Em geral, são eleitores do Partido Democrata, opositor dos republicanos de Trump.

E um problema difícil de superar, acredita, é a mentalidade de bolha (alguma semelhança com o Brasil, será?)

“Eu vivia numa bolha antes da eleição de Trump”, admite ele, morador da superesquerdista ilha de Manhattan, em Nova York. E essa mentalidade, acredita ele, não foi desfeita.

“Se você assistir a Rachel Maddow na MSNBC ou Don Lemon na CNN [âncoras de esquerda], vai achar que a qualquer momento agentes do FBI vão invadir a Casa Branca  e prender Trump acorrentado por sua mais recente infração”, afirma.

Mas, pondera ele, essa não é a maneira segundo a qual grande parte dos americanos veem Trump e seu governo.

Às portas de uma nova eleição, em que o presidente enfrentará um democrata ainda não definido, ele alerta para o risco de a esquerda repetir o erro.

“Se os progressistas realmente querem estar acordados, têm de prestar atenção ao que está sendo dito na direita, por mais doloroso que seja”, acredita.

Segundo Polskin, os conservadores foram mais eficazes em criar um sistema que se retroalimenta.

Um Exército de comentaristas e políticos conservadores usa as redes sociais diariamente para expressar seus valores.

Isso é geralmente amplificado por comentaristas de rádio, um veículo que, nos EUA, é tradicionalmente dominado pela direita. A informação muitas vezes sobe na cadeia de produção até chegar na Fox News, emissora muitas vezes mais trumpista que o próprio Trump.

O ápice ocorre quando o próprio presidente ou alguém de seu círculo tuíta a informação, reiniciando com mais força o ciclo.

Polskin não cai na armadilha de achar que tudo que vem da direita é sensacionalismo e desinformação.

“Alguns sites conservadores produzem jornalismo sólido e argumentos bem pensados”, declara. “Mas muito do que é publicado acaba sugado no ecossistema da mídia conservadora sem qualquer filtro”.

Seja como for, o recado dele é claro. “Você não pode combater as forças do trumpismo se não entender as vozes que ajudam a fortalecer o presidente”, conclui.

]]>
0
Crise com o Irã resgata importância de Reagan para a direita americana https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/06/crise-com-o-ira-resgata-importancia-de-reagan-para-a-direita-americana/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/06/crise-com-o-ira-resgata-importancia-de-reagan-para-a-direita-americana/#respond Mon, 06 Jan 2020 10:53:38 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/reagan-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2217 “Há muito tempo não tínhamos um presidente que coloca o país e o povo em primeiro lugar. Desde Reagan não havia um legítimo líder dos americanos”.

A mensagem foi tuitada neste domingo (5) pelo soldado Kato Trillbilly, que se define como um “orgulhoso e patriota” veterano da Guerra do Iraque, de 2003, que derrubou Saddam Hussein.

Opiniões deste tipo vêm pipocando nas redes sociais e em textos de analistas da direita desde o ataque ordenado pelo presidente Donald Trump que matou o general iraniano Qassim Suleimani, comandante da Guarda Revolucionária, no último dia 2.

A escalada na tensão entre EUA e Irã trouxe de volta à ribalta a figura de Ronald Reagan, presidente americano entre 1981 e 1989. Adorado pelos conservadores, ele é o padrão de comparação para todos os líderes do Partido Republicano, e não é diferente com Trump.

O atual ocupante da Casa Branca, lembremos, chegou ao poder quase que por acidente, beneficiado por uma conjuntura de crise econômica em alguns estados-chaves, incompetência dos opositores democratas, torrentes de fake news e muita sorte.

Suas credenciais para lidar com o cenário internacional eram risíveis, para dizer o mínimo, uma situação que não mudou muito desde sua vitória, em 2016. Pegar carona na mitologia e Reagan, assim, vem bem a calhar.

O ex-presidente, morto em 2004 aos 93 anos, é mais lembrado por ter vencido a Guerra Fria contra o bloco soviético, mas também aplicou sua retórica de um nacionalismo viril no Oriente Médio.

A década de 1980 teve como um de seus piores conflitos a guerra entre Irã e Iraque, que deixou mais de 1 milhão de mortos.

Reagan posicionou-se decisivamente contra os iranianos, colocando como prioridade a contenção do regime xiita que havia acabado de se instalar no país.

Aliou-se ao iraquiano Saddam Hussein, fornecendo ajuda militar ao ditador, que na década seguinte passaria a ser considerado um inimigo. Mas naquele momento evitar que a Revolução Islâmica se espalhasse era mais importante.

Por isso sua postura de confrontar o regime persa é tão emblemática, especialmente se comparada à de presidentes democratas como Jimmy Carter, humilhado pela crise dos reféns na embaixada americana em Teerã, e Barack Obama, que negociou um acordo nuclear com o país.

Frases de Reagan para inspirar o atual momento passaram a ser resgatadas nos últimos dias. “Quando não puder fazê-los ver a luz, faça-os sentir o calor” é uma delas.

Outra, utilizada como um slogan, é “paz por meio da força” (peace through strength).

No Twitter, diversos perfis alinhados à direita americana têm pedido que o assassinato do general Suleimani seja apenas um primeiro passo.

E sugerem a Trump que, “no estilo Reagan”, escale ainda mais ofensiva em direção à Síria, aliada do regime iraniano. Duas hashtags populares nesses círculos pedem o uso de drones contra o ditador sírio, Bashar al-Assad, e seu principal comandante militar, Suheil al-Hassan.

A ação de Reagan contra o regime iraniano não esteve livre de desastres e polêmicas. A maior tragédia ocorreu em julho de 1988, quando um avião de passageiros iraniano, com 290 pessoas a bordo, foi derrubado por um míssil lançado de um navio de guerra dos EUA.

Outro escândalo foi o caso Irã-Contras, em que armas foram vendidas secretamente ao regime iraniano por membros da alta hierarquia do Pentágono, oficialmente para obter a soltura de americanos mantidos reféns no Líbano pelo Hizbollah, uma milícia xiita alinhada a Teerã.

Uma parte da receita da venda dessas armas, no entanto, foi direcionada a rebeldes contra o governo socialista da Nicarágua.

O caso arranhou a imagem de Reagan como um líder implacável contra a ameaça dos xiitas iranianos e deixou claro que para o establishment militar americano nada importa mais do que fazer negócios, mesmo que com inimigos.

Mas para a direita americana, são apenas deslizes num cenário maior. Mais importante é que Reagan mostrou o caminho para lidar com os iranianos, e Trump deve segui-lo.

Ou, como resume num tuíte o ativista Patrick S., ligado ao Tea Party, a ala radical do Partido Republicano. “Trump é o melhor presidente que tivemos desde o Gipper [apelido de Reagan]. Todos os demais entre eles não dão para o cheiro”.

]]>
0
Guedes, Damares, AI-5, Aliança e hienas; 10 fatos que marcaram a direita em 2019 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/#respond Fri, 20 Dec 2019 13:38:16 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Bolsonaro-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2190 2019 foi o primeiro ano completo desde que a onda conservadora tomou o país.

Embora a saída de Lula da cadeia e a Vaza Jato tenham energizado a esquerda durante os últimos meses, quem comandou o noticiário foi mesmo a direita.

Jair Bolsonaro foi, claro, o principal protagonista, mas o ano foi rico no mundo destro e não se limitou ao presidente.

E como a perspectiva é de que o pêndulo político fique do lado direito por um bom tempo, muitas tendências apontadas no ano que passou devem ter desdobramentos em 2020.

Esta é a retrospectiva de Saída Pela Direita, com os dez fatos mais importantes do ano. Como sou humilde, não coloquei a criação deste blog entre eles.

Neste fim de ano, dou uma pausa e retorno com tudo em janeiro. Muito obrigado a todos que me acompanharam em 2019. Feliz Natal e um ótimo 2020 para quem é destro e para quem não é.

Mas antes, fique com o top 10 da direita no ano que termina.

*

1-) Parquinho liberal pega fogo

Teve treta pelo apoio ao governo Bolsonaro, simbolizado pelo arranca-rabo entre Helio Beltrão, do Mises, e Elena Landau, do Livres. E teve provocação dos liberais clássicos aos adeptos da Escola Austríaca, comparados a economistas de humanas (ofensa grave).

Ouviram de volta que os clássicos só se preocupam com números. Tanta briga não deixa de ser um sinal de que a Kombi liberal cresceu.

2-) Flavio murcha, Carluxo dá um tempo e 03 se consagra

 

O deputado federal Eduardo Bolsonaro durante a conferência conservadora Cpac, em outubro (Divulgação)

O senador, acuado pelo caso Queiroz, não conseguiu ser o articulador político que se esperava. O vereador  gerou tanto problema na comunicação presidencial que achou por bem tirar um sabático.

Eduardo Bolsonaro, emissário junto a Trump e líder da tropa de choque do pai, se consolidou como herdeiro político dele.

3-) Ai, ai, ai, AI-5

Essa foi feia. 51 anos depois, o ato que endureceu a ditadura foi resgatado do pântano por frases inconsequentes de Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes. Voltou a ser um fantasma, por ora contido.

4-) Salvini vacila, Vox cresce e Boris vira rei

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reeleito de forma esmagadora em dezembro (Folhapress)

Que ano para a direita europeia.

O italiano Matteo Salvini tentou forçar uma eleição para chegar ao poder e viu sua estratégia falhar espetacularmente, com a união da esquerda, que formou novo governo. Na Espanha, os herdeiros de Franco do partido Vox cresceram vertiginosamente. Mas nada se comparou à consagração de Boris Johnson, o novo rei do Brexit.

Nos EUA, Trump não se abalou com o impeachment, mas é cedo para fazer prognóstico sobre sua reeleição. Netanyahu terminou o ano como primeiro-ministro de Israel, mas enfrenta novo pleito em 2020.

E na América Latina a direita perdeu Macri na Argentina, que saiu desmoralizado, mas ganhou Lacalle Pou no Uruguai, promessa de renovação na arena sul-americana.

5-) Aliança chega para ser a cara da direita brasileira

Teremos finalmente um partido genuinamente conservador no Brasil? A Aliança Pelo Brasil nasceu com essa ambição, para ser o veículo da direita bolsonarista, e não o puxadinho que era o PSL de Luciano Bivar.

6-) Cultura e educação, os novos campos de batalha

Do ministro falastrão Abraham Weintraub (Educação) à guinada conservadora na Cultura, a direita levou a sério o combate ao chamado “marxismo cultural”, conforme mandou professor Olavo de Carvalho.

A ascensão de grupos como a produtora Brasil Paralelo deu impulso a esse novo campo de batalha.

7-) Damares é pop, Guedes é Deus e Moro patina

A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, uma das mais populares do governo (Folhapress)

A ovação à ministra dos Direitos Humanos na conferência conservadora Cpac reforçou seu caráter de pop star da direita, corroborado pelo Datafolha. Seu colega de Esplanada Paulo Guedes também teve um ano bom, endeusado pelo mercado.

Já Sergio Moro teve um ano difícil, abatido pela Vaza Jato e pela desidratação de seu pacote de segurança.

8) Surge a direita de soja

As diatribes de Bolsonaro contra a imprensa, STF e Congresso alienaram parte da direita que o apoiou. Afastaram-se ex-aliados como MBL, Novo, João Doria, os ex-ministros Gustavo Bebianno e Carlos Alberto Santos Cruz e deputados como Alexandre Frota e Joice Hasselmann.

Todos de direita ainda, mas prometendo serem mais respeitadores da liturgia da política. E das instituições.

9-) Mais armas, mas menos do que a direita quer

Não foi fácil acompanhar o vaivém dos decretos do governo para tentar liberar armas. No fim, houve ampliação de acesso para produtores rurais e algumas poucas categorias. Muito pouco para quem votou em Bolsonaro por causa das arminhas que ele faz com a mão.

10-) O vale tudo das redes sociais

Post compartilhado por Jair Bolsonaro em que ele se compara a um leão acossado por hienas (Folhapress)
O vídeo das hienas de Bolsonaro; o quebra-pau entre Allan dos Santos e Nando Moura; a milícia digital agindo contra Joice Hasselmann; e muita, muita fake news. A internet, em 2019, esteve fora de controle no mundo destro. Que medo de 2020.
]]>
0
Com Biden acuado, aliados de Trump apostam em Warren como rival em 2020 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/15/com-derrocada-de-biden-aliados-de-trump-veem-warren-como-rival-em-2020/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/15/com-derrocada-de-biden-aliados-de-trump-veem-warren-como-rival-em-2020/#respond Tue, 15 Oct 2019 05:00:05 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Schlapp-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1900 A campanha à reeleição de Donald Trump já vê a senadora Elizabeth Warren (Massachusetts) como sua mais provável adversária na disputa de 2020, e o caminho para a vitória passa por associá-la a um termo que é quase uma ofensa para muitos americanos: socialista.

A avaliação foi feita por Mercedes Schlapp, 46, que foi diretora de Comunicação da Casa Branca de 2017 até julho deste ano e participou da Cpac, conferência conservadora ocorrida sexta (11) e sábado (12) em São Paulo.

“Elizabeth Warren é uma candidata da extrema esquerda, que tem a marca do socialismo. Se você olha para os independentes, olha inclusive para os democratas moderados, eles não gostam disso”, disse à Folha Mercedes, que ocupará a função de “conselheira-sênior” na campanha de Trump à reeleição.

“Trump tem a oportunidade de dizer: ‘a economia está mais forte do que nunca, estamos enfrentando a imigração ilegal, e esses socialistas vão mudar a direção e destruir a democracia dos EUA'”, declarou.

Na visão da assessora republicana, o ex-vice-presidente Joe Biden, que vinha sendo apontado como favorito para ser o postulante democrático, está praticamente descartado como oponente.

“As pesquisas mostram que ela [Warren] está ganhando terreno, e é porque há tanta controvérsia cercando Biden. O cenário é problemático para ele. Acho que veremos Warren ir bem já nas primárias dos primeiros estados”, afirmou.

Nos EUA, a escolha dos candidatos a presidente é feita por meio de eleições primárias nos estados, que devem começar em fevereiro.

Segundo uma média de pesquisas divulgada na sexta (11) pelo jornal The New York Times, Biden, da ala moderada do Partido Democrata, ainda se mantém ligeiramente à frente da esquerdista Warren, por uma margem de 26% a 23%. Em julho ele tinha mais de 30%.

A controvérsia a que ela se refere é a ligação do filho de Biden, Hunter, com uma empresa ucraniana suspeita de corrupção. Em uma conversa telefônica com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, o líder americano pressionou para que a família do ex-vice-presidente fosse investigada, o que levou ao início de um processo de impeachment de Trump.

Mas o imbróglio também jogou luz sobre possíveis conflitos de interesse envolvendo Joe Biden e seu filho. Neste domingo (13), Hunter anunciou que deixaria o conselho de outra empresa à qual é ligado, a chinesa BHR, administradora de fundos de investimentos.

“Agora mesmo há uma caçada por Hunter Biden, ninguém sabe onde ele está. Desapareceu, está escondido”, disse Matt Schlapp, 51, marido de Mercedes e presidente da União Conservadora Americana, que organiza a versão americana da Cpac.

O evento, que nos EUA é realizado desde 1973, ocorreu pela primeira vez no Brasil, trazido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A estratégia dos republicanos para rebater a suspeita de que Trump abusou do cargo para perseguir Biden também já está traçada e terá duas ações simultâneas, segundo deixou claro o casal.

A primeira é reforçar que presidentes têm a prerrogativa de conversar com líderes estrangeiros livremente, pois isso atende ao interesse nacional dos EUA.

“Temos uma longa tradição diplomática na qual o chefe de Estado pode conversar com líderes estrangeiros e isso se mantém confidencial, não se torna uma conversa pública. Se isso começa a ser vazado para a imprensa, pode levar a menos comunicações. Quanto menos Trump conversa, menos sabe o que está acontecendo nesses países e qual a decisão correta a tomar sobre diversos assuntos”, afirmou Matt.

A segunda perna da estratégia é dizer que o impeachment é algo que poderá desestabilizar os EUA.

“O objetivo deles [democratas] é criar distração e caos. Isso pode levar a uma crise econômica, a uma crise constitucional, por causa do ódio contra Trump”, disse Mercedes.

Para seu marido, o processo de impeachment é preocupante, mas não em razão de algum crime que o presidente tenha cometido.

“Estou preocupado no sentido de que é um processo em busca de um crime. Os democratas tentaram por dois anos e meio provar alguma ligação de Trump com a Rússia, e não conseguiram. Estão tentando de novo agora”, afirmou.

 

]]>
0
Aliados de Bolsonaro sofrem derrotas, e sonho de Internacional Destra fraqueja https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/06/aliados-de-bolsonaro-sofrem-derrotas-e-sonho-de-internacional-destra-fraqueja/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/06/aliados-de-bolsonaro-sofrem-derrotas-e-sonho-de-internacional-destra-fraqueja/#respond Sun, 06 Oct 2019 05:00:53 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Bolsotrump-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1828 Em dezembro de 2018, a primeira Cúpula Conservadora das Américas, em Foz do Iguaçu (PR), parecia anunciar uma fase de ouro para a direita continental.

Organizada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi pensada como uma alternativa ao Foro de São Paulo, grupo de partidos latino-americanos de esquerda capitaneado pelo PT.

Simultaneamente, o grupo The Movement era criado por Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, para ser um contraponto assumidamente populista e conservador à Internacional Socialista. Não por acaso, Eduardo foi escolhido seu representante na América Latina.

Menos de um ano depois, essas iniciativas estão fazendo água.

A Cúpula deve ter uma nova versão em dezembro. Já o Movement está em morte clínica. Em maio, seu coordenador na Europa, o belga Mischael Modrikamen, teve uma derrota tão grande nas eleições de seu país que foi obrigado a extinguir seu partido.

O próprio Bannon hoje parece mais um oráculo decadente da direita americana do que alguém com poder real de mobilização. Poucos esperam que tenha alguma posição de destaque na campanha à reeleição de Trump, no ano que vem.

Pior para os Bolsonaros, os líderes políticos com os quais o Brasil se aliou de forma mais intensa neste início de governo estão fragilizados. Cuidam da própria sobrevivência política e não têm encontrado muito tempo para grandes debates sobre a criação de um novo eixo conservador mundial.

Não ajuda o fato de que a nova direita é, por definição, nacionalista e antiglobalista. Formar grandes coalizões internacionais parece um tanto paradoxal para quem tem discurso nativista.

O presidente brasileiro estabeleceu sua rede mundial de alianças em um pentágono, no qual um vértice já caiu, outro está destinado ao desemprego em breve e dois têm futuro, no mínimo, incerto.

Apenas o húngaro Viktor Orbán, o líder mais próximo de um autocrata que a União Europeia já abrigou, segue firme no comando de seu país.

O italiano Matteo Salvini (outro que embarcou no Movement) levou um contragolpe humilhante ao tentar derrubar o governo no qual era vice-premiê, apostando em uma vitória em eleições antecipadas.

Não contava com uma reorganização da esquerda italiana, que evitou o novo pleito e o deixou na oposição.

Na Argentina, Mauricio Macri, saudado por Bolsonaro e seu entorno como um exemplo de liberal corajoso, está na curiosa posição de ex-presidente ainda no cargo.

Para todos os efeitos, Alberto Fernandez já é tratado como novo chefe de Estado, e a eleição do final do mês deve ser apenas uma formalidade.

Ainda de pé, mas abalados, estão dois dos líderes pelos quais o brasileiro nutre mais carinho. O israelense Binyamin Netanyahu, chamado por Bolsonaro de “amigo e irmão” em sua visita ao país do Oriente Médio em março, tenta pela segunda vez no ano formar uma maioria parlamentar para seguir no cargo de primeiro-ministro.

Esbarra, no entanto, no resultado inconclusivo da eleição do mês passado e nas acusações de corrupção que pesam contra si. Pela primeira vez em dez anos, um cenário sem Bibi no comando israelense é possível de ser vislumbrado.

Já Trump, aliado incondicional e espécie de modelo para o presidente brasileiro no estilo de se comunicar e de brigar com adversários, é alvo de processo de impeachment.

As chances de que seu mandato seja cassado pelo Congresso são remotas, mas as evidências de que ele operou junto ao governo da Ucrânia para que investigasse o filho do democrata Joe Biden podem causar dano político considerável.

Se a economia se desacelerar, como temem analistas, cresce a chance de Trump entrar na restrita galeria dos presidentes americanos de um mandato apenas.

Há ainda outra estrela do populismo de direita em apuros, o britânico Boris Johnson. Mas o conservador, em guerra com os europeus e com as instituições de seu próprio país em meio ao caos do Brexit, nunca teve grande proximidade com Bolsonaro.

Sua eventual queda, no entanto, seria mais um elemento a mostrar como o sonho de uma Internacional Destra parece impraticável, ao menos no momento.

]]>
0
Livro mostra como a internet turbinou movimentos da esquerda à extrema direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/27/livro-mostra-como-a-internet-turbinou-movimentos-da-esquerda-a-extrema-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/27/livro-mostra-como-a-internet-turbinou-movimentos-da-esquerda-a-extrema-direita/#respond Tue, 27 Aug 2019 10:31:30 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/42580528cf0e33349a1475be9900cae30622841627e73c5e4b769ffc4a04acac_5b7f0a5015e31-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1620 Os efeitos dos protestos de 2013 sobre a vida política brasileira são bastante conhecidos, mas um deles talvez tenha passado despercebido.

Em 14 de junho daquele ano, cerca de 24 horas depois de um dos primeiros confrontos entre manifestantes e policiais nas ruas de São Paulo, um deputado federal do baixo clero chegou à conclusão de que era de levar a sério a comunicação via redes sociais.

“Caros amigos, tentarei a partir de agora centralizar as informações do meu trabalho em apenas uma página, para evitarmos sobrecarregamento de informações repetidas”, disse. Seu nome era Jair Bolsonaro.

À luz do que viria a se tornar sua máquina de propaganda virtual, o alcance desse primeiro post no Facebook foi para lá de modesto: 617 curtidas, 69 compartilhamentos e 97 comentários. Alguns deles, contudo, se tornariam proféticos. “Saia candidato à Presidência, contamos com o senhor”, dizia um.

A importância da revolução digital para a extrema direita e outros movimentos em geral é o mote de “Dias de Tormenta” (ed. Geração), do jornalista Branco Di Fátima. O livro analisa nove episódios marcantes da política e da economia mundiais, concentrando-se em como a internet e as redes sociais contribuíram para desfechos que pareciam improváveis. Não raro, com boa dose de desinformação, muito antes da consagração do termo fake news.

O autor estabelece como marco inicial desse simbiose entre política e ciberespaço a revolta zapatista no México, em 1994, que, grosso modo, coincide com o momento em que a internet está deixando de ser um produto de laboratório para ganhar a vida cotidiana. De forma ainda muito tímida, a rede figurou na máquina de propaganda do movimento indígena da região de Chiapas.

O site Ya Basta, por exemplo, tornou-se fonte confiável de notícias sobre o movimento, com cerca de 300 visitas semanais. Na época, menos de 2% da população mundial tinha acesso à rede.

Conforme o crescimento da web se tornava exponencial, sua importância para movimentos de rua crescia junto. O que antes era mera ferramenta para relatar acontecimentos virou instrumento fundamental para o próprio sucesso de movimentos.

Nesse sentido, os protestos antiglobalização de 1999 em, Seattle (EUA) são considerados um divisor de águas, por terem inviabilizado uma reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). Com comunicação ágil e em tempo real, os manifestantes conseguiram dar um nó nas autoridades locais, ainda operando em modo analógico e tentando a todo custo entender como grupos se materializavam subitamente em avenidas ou na porta de hotéis.

Vieram a invasão americana do Iraque, a Primavera Árabe e manifestações em locais tão distantes como Irã e Portugal, cada um dependendo em algum grau da rede mundial.

Na Venezuela, em 2002, a disseminação de supostos planos falsos do então presidente Hugo Chávez de fechar o regime contribuíram para o fracassado golpe contra ele. Ironicamente, foi essa tentativa frustrada de derrubá-lo que contribuiu para dar credibilidade ao discurso chavista de vitimização e levar à transformação efetiva do país em uma ditadura.

Em 2016, na eleição americana, a influência da internet tomou definitivamente um caminho sinistro, com a já documentada influência das fake news sobre o processo que elegeu Donald Trump. Em escala parecida, foi o que se viu no Brasil em 2018.

A arma é poderosa, resume o autor, e sua extensão sobre os movimentos sociais do futuro é impossível de ser prevista. Certo é que o ambiente sem comando da internet casou perfeitamente com as demandas descentralizadas dos dias atuais.

“Em três décadas, a internet transformou a forma como as pessoas protestam. Deu um novo fardamento para movimentos de indignação social em vários países do globo”, conclui o livro. “É o espaço para a construção do dissenso coletivo, um ímã que atrai as vozes sequiosas por mudanças.”
]]>
0
Com Brasil na rota, evento conservador CPAC mostra ambição global https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/20/com-brasil-na-rota-entidade-conservadora-cpac-mostra-ambicao-global/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/20/com-brasil-na-rota-entidade-conservadora-cpac-mostra-ambicao-global/#respond Tue, 20 Aug 2019 10:44:41 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/CPAC.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1594 Um sorridente Donald Trump abraça a bandeira americana como se fosse um garoto acariciando um brinquedo novo.

A imagem está em destaque no site da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora), anunciando a edição 2020 de um dos maiores eventos conservadores do planeta. Ocorrerá em fevereiro em National Harbor, estado americano de Maryland.

Os ingressos já estão à venda, variando de US$ 85 (R$ 350) para estudantes, até US$ 5.750 (R$ 23.500) no pacote “premium gold”. Há também uma série de eventos paralelos com DNA tipicamente conservador, como o “jantar Ronald Reagan”. Veteranos de guerra têm preços especiais.

O apoio à reeleição do presidente americano no pleito de novembro não chega a ser uma surpresa para a American  Conservative Union, entidade que organiza a conferência. Trump, afinal, sempre foi figurinha fácil na CPAC, desde quando era apenas um apresentador de TV folclórico.

Menos notada é a nova ambição global dessa organização. Cada vez mais, a CPAC deixa de ser um evento simplesmente americano para tentar se firmar como uma referência em ideias conservadoras em âmbito mundial. O inédito alinhamento político que levou diversos líderes de direita ao poder em vários continentes oferece uma oportunidade única para que o conservadorismo se espalhe.

Na semana passada, foi anunciada a versão brasileira do evento, que ocorrerá em outubro em São Paulo. Seu principal promotor é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que em breve deve ser indicado pelo seu pai como embaixador em Washington (pendente aprovação do Senado). Matt Schlapp, presidente da entidade organizadora, é presença confirmada, e espera-se a vinda de outros convidados internacionais.

Eventos similares estão pipocando em diversas partes do planeta. Há duas semanas, houve a primeira edição da CAPC Austrália. Conforme mostrou minha colega Patrícia Campos Mello, o evento foi repleto de polêmicas em razão da participação de alguns convidados, entre eles o ativista britânico de direita Raheem Kassam, conhecido por suas críticas ao Alcorão, o livro sagrado do islamismo.

No final do mês, o Japão realizará sua segunda edição do evento. Entre os temas em discussão, formas de lidar com o regime norte-coreano (inclusive com a presença de dissidentes da ditadura comunista), os protestos por democracia em Hong Kong e o crescente apetite da China de influenciar outros países, sobretudo por meio de projetos de infraestrutura. Também haverá uma discussão sobre as Olimpíadas do ano que vem, em Tóquio, e como tornar o evento um sucesso capitalista.

“À medida em que o mundo se move em direção ao caos, a situação cercando o Japão está se tornando mais e mais tensa”, diz o texto que apresenta o evento.

Em outubro, além da versão brasileira, também a Coreia do Sul sediará sua CPAC. No mês seguinte, será a vez da Irlanda. Fora esses grandes eventos internacionais, a American Conservative Union promove encontros regionais nos EUA praticamente todos os meses, que deverão se tornar um aquecimento da campanha eleitoral de 2020.

A chegada do evento a São Paulo, portanto, não é apenas uma deferência dos conservadores americanos ao governo de Jair Bolsonaro, embora isso tenha certamente sido fundamental para que a CPAC aporte por essas bandas.

Os conservadores, como bons defensores do capitalismo, estão percebendo uma oportunidade de mercado para crescer e divulgar suas ideias. Pode esperar novas edições do evento em diversas partes do mundo nos próximos anos.

]]>
0
O recado da direita dos EUA para Bolsonaro: Previdência é tudo https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/02/15/o-recado-da-direita-dos-eua-para-bolsonaro-previdencia-e-tudo/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/02/15/o-recado-da-direita-dos-eua-para-bolsonaro-previdencia-e-tudo/#respond Fri, 15 Feb 2019 09:00:37 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/17282205-150x150.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=54 Há uma cena no filme “Vice”, sobre a vida e a carreira do ex-vice-presidente dos EUA Dick Cheney (2001-09), em que são mostrados em sequência as fachadas dos três centros de estudos que formam a nata do pensamento conservador americano: American Enterprise Institute, Heritage Foundation e Cato Institute. (Aliás, o filme é ótimo, não deixe de ver).

Quando a maré conservadora está alta, estes três baluartes ditam as tendências da direita americana. Eles têm suas diferenças: o AEI e o Heritage defendem valores conservadores clássicos e uma política externa forte; o Cato é libertário, mais preocupado com o liberalismo econômico e em reduzir a presença do Estado da vida do indivíduo.

Mas a trinca tem um ponto em comum atualmente: estão acompanhando de perto a principal notícia para a direita a surgir na América Latina em décadas. Falo, obviamente, do governo Bolsonaro.

Conversei com analistas dos três institutos nos últimos dias. Para nosso presidente, ter um selo de aprovação do conservadorismo americano é fundamental. O alinhamento ao governo Trump, afinal, é sua principal aposta na política externa. Mas engana-se quem acha que ele recebe aplausos apenas por ter derrotado o PT.

O recado que ouvi é claro: tudo depende das reformas econômicas, em especial, da Previdência. Se Bolsonaro aprovar um novo sistema de aposentadoria, será aceito no clube. Se fracassar, toda a simpatia se esvai.

Aqui, o que pensam eles:

Juan Carlos Hidalgo, analista para a América Latina do Cato Institute:

“Estou cauteloso. Vou esperar para fazer um julgamento após eu vir Bolsonaro assinando alguma lei aprovada no Congresso, especialmente se for a reforma da Previdência. Paulo Guedes me entusiasma muito. Ele vem dando todos os sinais corretos até agora sobre os principais assuntos. Há muitos Chicago Boys que não me entusiasmam, mas Guedes me entusiasma.

Bolsonaro é um populista, e populistas gostam do aplauso fácil. Por isso, esperar é a melhor aposta nesse momento. E a agenda de Guedes é extremamente liberal num país que sempre foi morno quanto ao liberalismo.

É difícil estabelecer um deadline, mas se Bolsonaro não aprovar algo da pauta econômica em três meses, quem o apoia nos EUA começará a ter dúvidas. A reforma da Previdência é o sinal que todos estão esperando. Se houver alguma medida mais forte, como um sistema de capitalização no estilo chileno, melhor ainda.

Não adianta Bolsonaro apenas abraçar a pauta econômica. Ele tem de jogar todo o seu peso político atrás dela.

O presidente tem dado os sinais certos, mas precisamos mais do que de sinais. Prefiro ser cauteloso do que ingenuamente otimista.”

James Roberts, analista do Heritage Foundation para a área de liberdade econômica e crescimento:

“Continuamos otimistas. Foi muito encorajador acompanhar os primeiros movimentos de Bolsonaro como presidente, suas opiniões sobre a saúde fiscal do Brasil. E ver como os mercados financeiros subiram desde que foi eleito.

Conservadores estão esperançosos de que ele mova a política latino-americana para longe dos extremismos e do estatismo e mais na direção do livre mercado.

Na questão econômica, o veredito ainda está por sair, mas a sinalização econômica com Guedes é importante. A reforma da Previdência é o grande teste. Bolsonaro tem  ‘momentum’ [algo como ‘impulso político’], tem condições de aprovar.

Bolsonaro não está no extremo. Extremista era o PT, Bolsonaro está trazendo a política brasileira mais para o centro. Foi por isso que muitos votaram nele, aliás.

Seus primeiros passos foram bons: na área de segurança, quanto à Venezuela, na relação com Israel, na abordagem mais realista com a China.

A chegada ao poder de Bolsonaro vai levar a um maior foco dos EUA na América Latina. É uma oportunidade que não deveria ser perdida.”

Roger Noriega, analista do American Enterprise Institute, ex-secretário de Estado para o Hemisfério Ocidental no governo George Bush filho

“O desafio de Bolsonaro será implementar políticas efetivas que demonstrem que soluções de livre mercado podem criar oportunidades econômicas, empregos e crescimento. Se ele atingir esses objetivos, merecerá crédito para dar uma virada no Brasil com sua forte liderança.

Conservadores crescem apenas se produzem resultados tangíveis com políticas bem-sucedidas baseadas no respeito à lei e à democracia e no fortalecimento da população, especialmente a mais pobre, para que melhorem de vida obtendo empregos sustentáveis e dignos na economia formal.

Estou bem impressionado com as políticas econômicas de livre mercado de Bolsonaro. Mas é preciso esperar para ver se ele conseguirá passar essas iniciativas no Congresso. Qualquer pessoa com algum conhecimento da fragmentação do Congresso brasileiro e da complexidade da política sabe que o desafio de Bolsonaro de mudar as coisas é muito duro. Mas ele tem quatro ou oito anos para implementar seu programa.

O presidente Bolsonaro só vai conseguir desmantelar as políticas socialistas se seu modelo de livre mercado produzir crescimento econômico, empregos e mobilidade social. Salário digno está no centro da justiça social e aliás, dos valores cristão.

Francamente, eu penso que parte das críticas a Bolsonaro nos EUA não é apenas pelo fato de ele dizer coisas controversas. Acho que a esquerda dos EUA não consegue aceitar o fato de que os brasileiros rejeitaram o PT e Lula.”

]]>
0