Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Camisas amarelas vão para o revide e defendem Moro com raiva na Paulista https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/30/com-raiva-camisas-amarelas-defendem-moro-na-avenida-paulista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/30/com-raiva-camisas-amarelas-defendem-moro-na-avenida-paulista/#respond Sun, 30 Jun 2019 22:20:37 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/protesto1-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1334 Da dupla de senhores de cabelos brancos que desfilava com um cartaz atacando a imprensa ao discurso num caminhão de som pedindo “bullying” sobre o Congresso, o tom do novo protesto dos camisas amarelas na avenida Paulista foi raivoso.

Certamente, a indignação era maior do que a da manifestação anterior dos bolsonaristas, em 26 de maio, que tinha uma pauta mais difusa. Neste domingo (30), a defesa do ministro da Justiça, Sergio Moro, esteve em um claro primeiro plano e contaminou o humor da multidão, mesmo quando o tema era outro.

O sentimento dominante era a necessidade de uma reação urgente para resgatar Moro, após uma sequência de reveses que incluiu os diálogos revelados pelo “The Intercept”, a aprovação do projeto de abuso de autoridade pelo Senado e o susto da quase soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Moro, afinal, é hoje uma das duas últimas figuras a unificarem a direita (a outra é o ministro da Economia, Paulo Guedes). Mesmo movimentos que se distanciaram de Bolsonaro, caso do MBL (Movimento Brasil Livre), mantêm seu apoio ao herói da Lava Jato e estiveram presentes na avenida, embora de maneira relativamente discreta.

Vendo o ex-juiz ser atacado, seus defensores foram para o revide. Por onde se olhasse era possível ver cartazes e ouvir palavras de ordem com provocações. “Esquerda escrota, pare de atrapalhar!”, era apenas um exemplo.

Até o vice, general Hamilton Mourão, há muito visto com desconfiança pelo público fiel ao presidente, foi resgatado em um cartaz que pedia: “General Mourão, faça a intervenção. Fim do congresso e do STF”.

Manifestante segura cartaz pedindo que o general Mourão feche o Congresso e o STF

As críticas ao Congresso, sempre presentes em protestos da direita, foram especialmente duras desta vez. Do alto do carro de som do movimento Vem Pra Rua, normalmente visto como mais moderado em comparação com os congêneres, um orador entoou: “Eu estou vendo que o povo está bravo! O povo quer que o Congresso Nacional acorde!”.

À grita contra o projeto do abuso de autoridade somou-se a constatação, de resto óbvia, de que o sucesso do governo de Jair Bolsonaro depende da recuperação econômica e da reforma da Previdência em particular.

“Rodrigo Maia, presta atenção, nós queremos a reforma de 1 trilhão!”, puxou em coro um locutor no caminhão do Vem Pra Rua, em referência ao montante que, segundo o Ministério da Economia, será economizado com a reforma em dez anos.

No vizinho caminhão do movimento Nas Ruas, o recado foi mais direto, e quase ameaçador. “Todo mundo aqui tem que pressionar os deputados pela reforma. É para fazer bullying digital, sim”, afirmou um coordenador.

Cartaz com crítica ao Congresso e o STF durante a manifestação

Segurando um cartaz em defesa de Moro, Jaime Araújo, 51, funcionário de uma empresa que fabrica plástico, disse que a vontade do povo estava na avenida, e não no Congresso. “Existe uma parcela do Congresso que não foi renovada na eleição, por isso é importante a pressão popular”, disse.

Glenn Greenwald e a imprensa em geral foram alvos preferenciais. A Folha foi chamada de “esquerdiota”, “escrota” e “comunista”, entre outros termos, por pessoas que viravam as costas e se recusavam a dar entrevistas.

“A imprensa comprou a versão do Intercept. Perdeu o norte, transformou o jornalismo em militância”, disse Irineu Ramos, que se apresentou como jornalista e, ao lado do empresário Jorge Fernandes, segurava um cartaz escrito “Imprensa Inimiga do Brasil”.

Manifestantes seguram cartaz com crítica à imprensa

Não conseguiam dar dez passos sem ter de parar para um  pedido de foto.

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No Twitter, protesto pela educação tem ligeira vantagem sobre ato pró-Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/28/no-twitter-protesto-pela-educacao-tem-ligeira-vantagem-sobre-ato-pro-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/28/no-twitter-protesto-pela-educacao-tem-ligeira-vantagem-sobre-ato-pro-bolsonaro/#respond Tue, 28 May 2019 11:17:28 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/Bolsonaro-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1079 As menções no Twitter, uma das formas mais diretas de se medir o impacto de um grande evento, mostraram os protestos contra Bolsonaro (15 de maio) ligeiramente à frente das manifestações a favor dele (26 de maio). Praticamente um empate técnico.

Até as 18h de domingo passado, houve 1,1 milhão de menções relacionadas à manifestação em defesa do governo, segundo levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV (DAPP-FGV).

Nesse mesmo horário, mas no protesto contra Bolsonaro, que teve como mote os cortes na área de Educação, a pesquisa registrou 1,18 milhão de referências no Twitter,  (7,2% a mais portanto).

Nem todas essas menções ao ato do último domingo foram de apoio, segundo o levantamento: 67% foram positivas e 29% com críticas ao governo (além de 4% neutras).

Os apoiadores do ato se dividiram em dois grupos. Um defendendo mais claramente Bolsonaro, inclusive com críticas à direita que não aderiu, sobretudo o MBL (Movimento Brasil Livre), e outro priorizando pautas do governo, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça).

Entre os alvos principais dos tuítes estiveram o Congresso Nacional, o STF e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

De uma forma geral, portanto, a tuitosfera refletiu mais ou menos de maneira fidedigna as bandeiras prioritárias dos manifestantes (ao menos no ato da avenida Paulista, que acompanhei). Vi muita defesa de Bolsonaro, mas muita gente que estava lá estava quase se lixando para o presidente e mais preocupada com a aprovação de reformas pelo Congresso.

Dentro do universo de citações no Twitter, os temas ficaram assim divididos:

 

O DAPP-FGV também levantou os personagens mais citados (após Bolsonaro, obviamente):

A conclusão do DAPP-FGV é de que as manifestações foram “significativas, mas não avassaladoras”, o que só vai apimentar a disputa nas redes. Os atos também tiveram caráter “antissistema” (contra os políticos, o Congresso e o STF), o que deve gerar reação contra o presidente, que de uma certa forma os estimulou.

Por fim, consolidou-se um racha na base de direita de Bolsonaro: de um lado os defensores radicais do presidente, de seu estilo e de seus valores conservadores. De outro, os mais liberais, preocupados com a economia e apoiadores apenas de Guedes.

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Vem aí mais uma bancada da bala no Congresso Nacional https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/04/vem-ai-mais-uma-bancada-da-bala-no-congresso-nacional/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/04/vem-ai-mais-uma-bancada-da-bala-no-congresso-nacional/#respond Mon, 04 Mar 2019 11:06:47 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/trutis-150x150.png http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=232 A Câmara dos Deputados está criando uma segunda bancada da bala. A atual, cujo nome oficial é Frente Parlamentar da Segurança Pública e reúne 300 deputados (58% da Casa), aparentemente não é suficiente.

A nova frente será exclusiva para defender uma das bandeiras de campanha mais chamativas do presidente Jair Bolsonaro: a facilitação da compra, posse e porte de armas de fogo pela população.

Seu proponente, como adiantou a coluna “Painel” na semana passada, é o deputado novato Loester Trutis (PSL-MS), que nas redes sociais se define como “conservador, pró armas, anticomunista e carnívoro”.

É dele a iniciativa de recolher apoios para a criação da Frente Parlamentar Armamentista. Até o meio da semana passada, Trutis já tinha a assinatura de 174 deputados, número suficiente para criar a frente (4 senadores também a apoiam). O deputado diz que a lista vai chegar a cerca de 220 e já marcou até data para a criação oficial do grupo: 19 de março,

E por que mais esse grupo, se a bancada da bala “raiz” já tem o armamento da população como uma bandeira? Para Trutis, 36, empresário em seu estado e adepto do tiro esportivo e da caça, o tema é importante demais para ser um mero sub-item da pauta da segurança pública.

“A segurança tem vários temas para tratar, todos de suma importância. Principalmente o pacote enviado pelo ministro Sergio Moro. Não vai sobrar tempo para discutir temas armamentistas”, diz ele.

A primeira meta do deputado será baratear as armas e aumentar a qualidade do produto oferecido no Brasil, que, segundo ele, deixa muito a desejar. E, para isso, ele promete ir para cima do monopólio nacional representado pelas empresas Taurus e CBC, que, em 2014, tornaram-se uma só.

“Se você conversar com qualquer policial militar hoje e perguntar o que fazer para melhorar as condições de trabalho, ele vai falar: ter armamento de ponta. E isso só será possível se a gente quebrar o monopólio”, afirma.

Uma série de normas, desde regulamentações do Exército até a lei 12.598/12, estabelecem que a venda de armas e munição é prerrogativa de empresas nacionais. Abrir o mercado para importação de armamento e para que estrangeiras instalem fábricas no Brasil revolucionará o setor, diz ele.

Como mostrou a Folha em reportagem recente, empresas como a tcheca CZ, a austríaca Glock e a suíça Sig Sauer têm planos de vir ao Brasil, mas esbarram na burocracia.

Segundo o deputado, uma pistola nacional padrão custa cerca de R$ 4.500, valor que poderia cair à metade se o mercado fosse aberto às estrangeiras. A qualidade segundo ele, é baixa em razão de “má-fé” da Taurus, que vende nos EUA um produto superior.

“A CBC/Taurus fabrica arma de qualidade de exportação para os EUA. Porém, nenhum desses modelos internacionais eles colocam à disposição do Brasil. Acontece aquela velha prática: porque não há concorrência na licitação, o produto é de baixa qualidade”, acusa.

As armas brasileiras, segundo Trutis, têm índice de problemas 60 vezes maior do que o padrão internacional. “A arma trava, não solta o projétil na hora que precisa, tem também muito disparo não proposital. Temos casos de mortes no Brasil, de civis ou policiais, de arma que dispara sozinha quando o carro passa em cima de um buraco”.

 

Funcionário manuseia arma em fábrica da Taurus em São Leopoldo (Diego Vara/Reuters)

Procurei a Taurus, que me enviou uma nota dizendo que a acusação do deputado “não faz sentido e é um grande equívoco”.

“A companhia produz cerca de 1 milhão de armas por ano. Destas, aproximadamente 10% são comercializadas no Brasil. Portanto, não seria razoável acreditar que para cada 10 armas, 9 são produzidas com qualidade superior e, mudando os critérios, uma é produzida com qualidade inferior. Isso não existe e não seria viável”, diz a nota.

A Taurus afirma ainda que seu processo produtivo é “robusto” e que a qualidade das armas é atestada em testes rigorosos em laboratórios do mundo todo.

Por fim, a empresa diz que a liberação dos importados ocorrerá quando o Congresso resolver a questão tributária e regulatória. Para as empresas brasileiras, 70% do preço da arma são impostos, o que não incide sobre as estrangeiras e pode criar uma concorrência desleal.

Mas brigar com a indústria de armas não é a única prioridade da nova frente. O parlamentar diz que o Parlamento tem de fazer a discussão sobre posse e porte, que não pode ficar apenas na mão do Executivo.

Em um dos primeiros atos de seu governo, Bolsonaro baixou um decreto tentando facilitar as regras para a posse de armas. Mas mudanças mais profundas precisam de nova legislação.

Uma alteração importante seria uniformizar os critérios para obtenção de arma, que atualmente são sujeitos à aprovação da Polícia Federal.

“Se você atingir os critérios da lei –maior de 25 anos, sem queixa de violência doméstica, não ter antecedentes criminais, ter aptidão física e psicológica e possuir curso de tiro e tiver emprego fixo–, tem que poder comprar. Hoje  vai da interpretação do delegado da PF. Se ele não for com a tua cara, não dá [a posse]”.

Talvez para tornar mais palatável o tema, a frente propõe também endurecer a lei para quem dispara uma arma “por motivo torpe”.

“Como diz a frase dos quadrinhos do Stan Lee: com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Se você usar essa arma numa briga de trânsito, tem que ser exemplarmente punido”, afirma ele, que defende a criação de uma nova tipificação criminal para casos assim.

O discurso do deputado Trutis é um pouco diferente dos argumentos típicos da bancada da bala, que defende o armamento “para matar bandido”. Sua retórica é mais parecida com a da Segunda Emenda da Constituição americana, de que ter uma arma é um direito individual.

“Compra, posse e porte de arma têm a ver com liberdade de escolha”, diz ele.

Dar armas aos cidadãos, ele admite, não vai acabar com a violência. “Quando eu compro um casaco, eu não quero acabar com o inverno. Eu quero me proteger do frio. Quando eu compro uma arma, eu não quero acabar com a criminalidade. Eu quero deixar a minha integridade física e a da minha residência mais seguras”, diz.

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Nas redes, direita celebra recuo de Moro em nomeação de Szabó https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/02/28/com-olavo-de-carvalho-a-frente-direita-celebra-recuo-de-moro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/02/28/com-olavo-de-carvalho-a-frente-direita-celebra-recuo-de-moro/#respond Thu, 28 Feb 2019 23:41:27 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/ilona2-150x150.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=219 Se ontem estava em chamas com a nomeação da cientista política Ilona Szabó como suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a direita pró-armas festejou o recuo do ministro Sergio Moro dando tiros (metafóricos) para o alto.

Moro cedeu à pressão das redes sociais e desconvidou Ilona, pedindo desculpas a ela, como antecipou a colunista Vera Magalhães, de O Estado de S. Paulo e rádio Jovem Pan. Tudo porque Ilona tem uma conhecida militância contraria à flexibilização da posse e porte de armas.

No Twitter, pessoas que se diziam decepcionados com o ministro celebraram a volta do filho pródigo.

O ex-senador Magno Malta, que andava meio sumido desde que foi escanteado por Bolsonaro na formação do governo, ressurgiu parabenizando o ex-juiz.

Bene Barbosa, um dos mais influentes militantes pró-armas do país, aproveitou para festejar o efeito colateral do desconvite a Ilona, a renúncia de Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança do Conselho Nacional de Segurança, em solidariedade a ela.

Outro bolsonarista influente nas redes, Allan dos Santos, diz que foi uma vitória do povo que elegeu Bolsonaro.

Já o MBL inimigo jurado de Ilona, foi sucinto:

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Onda conservadora chega ao Ministério Público https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/02/25/onda-conservadora-chega-ao-ministerio-publico/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/02/25/onda-conservadora-chega-ao-ministerio-publico/#respond Mon, 25 Feb 2019 11:30:32 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/MPProSociedade-150x150.png http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=131 A onda conservadora no país chegou com força ao Ministério Público.

Em 30 de novembro do ano passado, reunidos em Brasília, procuradores e promotores criaram uma associação assumidamente defensora de valores religiosos, morais e da família, pró-endurecimento penal e contrária a qualquer traço de ativismo progressista no Judiciário.

O manifesto de criação do Ministério Público Pró-Sociedade teve 128 signatários, entre fundadores e apoiadores da nova entidade, todos membros da Procuradoria federal e das promotorias de diversos estados. No preâmbulo do manifesto, o MPPS diz que o Ministério Público não deve ser agente de transformação social e se coloca contra ideologias (as de esquerda, claro, embora isso não seja dito claramente).

Bastante atuantes em redes sociais, têm feito lobby pela aprovação do pacote de medidas do ministro Sergio Moro (Justiça), que prega tratamento mais duro para criminosos e maior rigor no combate à corrupção. Criticam o “garantismo” penal, linha jurídica que privilegia a presunção da inocência e o direito de defesa de acusados.

Em postagens, seus membros denominam-se “juiz-raiz” e “promotor-raiz”. O lema da nova entidade é “Post tenebras lux”, citação em latim que significa “Depois da escuridão, luz” e é um mote da Reforma Calvinista.

A escuridão, depreende-se do manifesto de fundação do grupo, está em pontos como ideologia de gênero, chamada de “experimento totalitário de engenharia social que destrói a identidade natural do ser humano”, e nas regras de progressão de regime para condenados, entre outros.

O grupo repudia a “política de soltura indiscriminada de criminosos e recomenda a diminuição da lotação carcerária mediante criação de vagas no sistema prisional”. Ou seja, para acabar com o caos penitenciário é preciso construir cadeias, e não privilegiar penas alternativas ou medidas cautelares como tornozeleiras eletrônicas.

O manifesto de fundação do grupo tem 23 pontos. Parte considerável é gasta com a defesa do Escola sem Partido, embora o projeto não seja citado nominalmente. “O Ministério Público deve proteger a dignidade da criança e do adolescente de ‘práticas pedagógicas’ abusivas, entendidas, entre outras condutas, a estimulação sexual, a doutrinação ideológica, política ou partidária, ainda que a pretexto educacional”, diz um dos pontos.

Defendem também a “inviolabilidade dos direito à vida desde a concepção” (ou seja, são contra o aborto), redução da maioridade penal para 16 anos no caso de crimes hediondos e, num ponto especialmente polêmico, afirmam que o combate às “fake news” muitas vezes é pretexto para censura na internet.

No último dia 18, representantes do grupo se reuniram com o ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, para quem entregaram um documento. Uma das propostas da entidade é a criação de um novo órgão ligado ao Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos das Vítimas.

Entrei em contato com o grupo pedindo uma entrevista com algum de seus coordenadores.

A assessoria do promotor do Ministério Público Federal do Distrito Federal, Renato Barão Varalda, que coordenou o congresso de lançamento do grupo, respondeu descartando uma entrevista, mas pediu que eu mandasse perguntas por e-mail, o que fiz no último dia 11. Nelas, pedi detalhes do funcionamento do grupo e perguntei se a formação desse movimento não poderia comprometer a imparcialidade de promotores ao julgar causas concretas.

Prometeram responder no dia 15 e não cumpriram. No dia 21, finalmente disseram que não iam mais responder. Mandaram apenas uma nota que já haviam publicado no Facebook em resposta a uma coluna na Folha do Demétrio Magnoli do dia 9 de fevereiro, que deixou o grupo furioso.

Minhas perguntas ignoradas estão reproduzidas abaixo, assim como a nota do grupo em resposta ao Demétrio.

***

Perguntas enviadas por mim ao Ministério Público Pró-Sociedade e não respondidas:

 1-) Como surgiu a ideia de formação do Ministério Público Pró-Sociedade e por que a decisão de criá-lo?

2-) Quem pode participar da organização? Quantos são seus membros hoje, aproximadamente?

3-) De que forma o movimento pretende atuar? Fará atos públicos, lançará manifestos etc.?

4-) O preâmbulo do movimento diz que o MP não deve ser “agente de transformação social”. Vocês identificaram muitos membros do MP com a proposta de transformar a sociedade?

5-) O movimento se coloca contra ideologias de esquerda. Mas defende uma série de princípios do chamado campo conservador. Isso também não é ser ideológico? Ou ideologias são apenas de esquerda?

6-) O Ministério Público Pró-Sociedade defende o programa Escola sem Partido (embora não o nomine), a redução da maioridade penal para 16 anos e medidas de endurecimento contra criminosos. Tais iniciativas dependem de aprovação do Legislativo. É papel do Ministério Público ter opinião sobre essas matérias?

7-) Ao assinar um manifesto com a defesa de diversas bandeiras conservadoras, procuradores e promotores não podem ter sua isenção comprometida ao se debruçar em casos concretos sobre esses temas?

8) Ao alinhar-se claramente a diversas prioridades do governo Bolsonaro, tais como o pacote anticrime e anticorrupção lançado pelo ministro Sergio Moro, os membros do grupo não estariam abrindo mão da função de fiscalizar o governo federal?

9-) Os srs. diriam que há um viés ideológico de esquerda, ou progressista, no Ministério Público atualmente?

10-) O manifesto defende repressão a conteúdo pedagógico que configure doutrinação. Ao mesmo tempo, se coloca contra repressão a fake news. Não há uma contradição aí? Em outras palavras, não há a defesa de censura em um caso e combate a ela em outro?

11-) Qual a opinião do movimento sobre a Operação Lava Jato?

12-) O sistema prisional hoje é caro e está falido. Expandi-lo, numa política de endurecimento de regras e construção de penitenciárias, não pode agravar o problema?

 

 

***

Resposta do Ministério Público Pró-Sociedade ao colunista Demétrio Magnoli, publicada em 10/02/19

 

O jornal Folha de S. Paulo publicou, neste sábado, 9 de fevereiro de 2019, o artigo “Ministério Privado: partidarização de promotores e procuradores se alastra como fogo cerrado”, de autoria de Demétrio Magnoli, lançando fortes críticas a associações de membros dos Ministérios Públicos de todo o país.

Especificadamente sobre o MP Pró-Sociedade, mencionado no referido artigo, cumpre esclarecer tratar-se de uma associação nacional, instância de integração, discussão e aperfeiçoamento da ação de membros do Ministério Público que atuam na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Dentre os objetivos da Associação MP Pró-Sociedade estão: defender a ordem jurídica e o Estado Constitucional de Direito; propor alterações legislativas ou estruturais para o aperfeiçoamento do sistema de Justiça e para a redução da impunidade; expedir enunciados, notas técnicas e moções relacionados aos temas jurídicos mencionados em estatuto; estimular a aproximação, cooperação, articulação e integração dos membros do Ministério Público que atuam no combate à macrocriminalidade, ao crime organizado, à improbidade e crimes hediondos, buscando a construção de estratégias conjuntas, de âmbito nacional ou regional, bem como a harmonização de procedimentos e posicionamentos relativos às questões consideradas prioritárias, além da socialização de iniciativas operacionais; promover o acompanhamento das atividades legislativas que tenham repercussão direta ou indireta com a apuração criminal, o sistema de Justiça, a impunidade e o controle da criminalidade, do crime organizado, da improbidade e de crimes hediondos e discutir e propor eventuais sugestões visando ao aprimoramento da legislação; estimular o debate público entre o sistema de Justiça, polícia, sociedade civil e agentes do Estado sobre os problemas da violência e da criminalidade e das intervenções imprescindíveis à garantia da segurança dos cidadãos; exercer outras atribuições compatíveis com defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Por outro lado, é de se estranhar que a Folha de S.Paulo só agora se incomode com um grupo de promotores e procuradores que expressa seus entendimentos jurídicos publicamente, vez que nunca lançou criticas semelhantes a “coletivos” de juízes e promotores/procuradores que pregam o ativismo judicial que usurpa a função legislativa. Isso sugere ter mencionado uma delas só agora, e en passant, para aparentar a isenção que não se acredita que tenha: não é à toa que multiplicam-se nas redes os memes humorísticos sobre esse jornal e seu instituto de pesquisa.

Nesse sentido, a Associação MP Pró-Sociedade, ciente de sua missão, tal qual de outras diversas associações, ao apresentar propostas e projetos das áreas do Direito do que entende necessário ao desenvolvimento social, pauta-se exclusivamente no cumprimento de seus objetivos definidos em seu Estatuto em prol da defesa da ordem jurídica.

Diretoria do MP Pró-Sociedade

 

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