Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 No MA, cidade dos crentes rejeita ‘modernidades’ e confia em Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/25/no-ma-cidade-dos-crentes-rejeita-modernidades-e-confia-em-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/25/no-ma-cidade-dos-crentes-rejeita-modernidades-e-confia-em-bolsonaro/#respond Mon, 25 Mar 2019 11:10:12 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/SãoPedro1-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=405 São Pedro dos Crentes (MA) – No mapa eleitoral do Maranhão, há um pontinho amarelo num estado tingido de vermelho. É São Pedro dos Crentes, cidadezinha de 5.000 moradores em que Jair Bolsonaro (PSL) teria sido eleito no primeiro turno, com 50,93% dos votos.

Mas como São Pedro dos Crentes não é o Brasil, foi preciso haver segundo turno, e aí o capitão ampliou sua vantagem: teve 57,5% dos votos válidos. No Maranhão, só para comparar, Fernando Haddad (PT) levou de lavada, com 73,2% dos votos.

A cidade no sul do estado tem características únicas entre os 5.570 municípios brasileiros. A mais óbvia, como o próprio nome diz, é sua proporção de evangélicos. Segundo dados do IBGE de 2010, são 51% na cidade, contra uma média nacional de 29% (apontada pelo Datafolha). Mas os moradores locais dizem que esse dado está subestimado, e que os evangélicos são pelo menos 70% da população.

São Pedro dos Crentes não tem agência do Banco do Brasil (algo raríssimo no país), mas tem dez igrejas evangélicas em sua meia dúzia de ruas. Nos estabelecimentos comerciais, é comum haver uma passagem bíblica pintada na parede. Há três botecos atendendo à minoria de “desviados”, como são chamados os não-evangélicos, mas estavam fechados nos dois dias em que estive por lá, na semana passada.

Passagem bíblica grafitada em parede de oficina de motos na cidade

As pessoas são conservadoras, bolsonaristas e não gostam da esquerda. O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PC do B, que foi reeleito no primeiro turno com quase 60% dos votos, ali teve míseros 14%.

“A sociedade aqui não aceita muito as modernidades”, diz o prefeito, Lahésio Rodrigues, 40, um tucano que abandonou o candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, já no primeiro turno e apoiou Bolsonaro. Ele cita entre as “modernidades” rejeitadas o aborto, o casamento gay e a ideologia de gênero nas escolas.

A cidade tem uma história sui generis. Foi criada a partir da Assembleia de Deus, maior denominação evangélica do país e que ainda hoje domina a vida política e social do município. “A igreja normalmente surge da cidade, aqui a cidade surgiu da igreja”, diz o pastor Manoel Lima de Souza, titular da maior igreja do município.

Pastor Manoel Souza, titular da maior igreja da cidade

Perguntei a ele se é fácil pregar para uma cidade de convertidos. Ele diz que não necessariamente. “Aqui as pessoas conhecem a Bíblia, inclusive crianças, que vão à escola dominical aprender sobre ela. Tenho que me preparar bem para falar com todos”, diz.

Na década de 1940, a fazenda São Pedro, de propriedade da Assembleia de Deus, foi divida em lotes doados para família evangélicas que vieram de fora colonizar a região, dando origem a uma vila pertencente à cidade de Estreito (MA). Em 1994, houve a emancipação, e São Pedro dos Crentes se tornou município.

As principais ramificações da Assembleia de Deus estão representadas na cidade: Madureira, Convenção Geral, Seta, Guará e Comadesma (um ramo local). Mantêm uma relação cordial, mas competem intensamente por fiéis. Há uma solitária Igreja Católica no município.

Lavrador aposentado, Pedro Damasceno, 73, é uma espécie de historiador informal do município. “Quando isso aqui surgiu, crente era besta-fera”, lembra ele, que chegou criança ao povoado. “Hoje, é uma cidade abençoada por Deus”, diz.

Ele afirma que votou em Bolsonaro porque sua candidatura está de acordo com a Bíblia. “Notei que ele fala muito a favor de Israel“, diz. Também gostou do slogan do então candidato, que menciona “Deus acima de todos”.

A cidade é relativamente pobre, com Índice de Desenvolvimento Humano de 0,60 numa escala de 0 a 1 (a média do Brasil é 0,69), mas fiquei com boa impressão do lugar. As ruas são limpas e asfaltadas, a estrutura de saúde é boa, com um hospital grande e equipado, e o comércio é surpreendentemente pujante.

A base da economia é a agricultura familiar. Além disso, o sul maranhense, que fica numa zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, é grande produtor de soja. Parte da população trabalha em lavouras em municípios vizinhos.

Há quatro meses, São Pedro recebeu o que seria a versão local de um Carrefour ou Wal-Mart: um supermercado que vende comida, roupas e autopeças. Seu dono, Neurivan Jorge, 43, traz produtos de cidades maiores como Balsas e Imperatriz e diz que não costumam encalhar.

“Está melhor o movimento este ano”, diz ele, que, claro, é evangélico e votou em Bolsonaro. “Se o presidente diminuir um pouco a corrupção, já é um adianto”, afirma. Para melhorar seu ambiente de negócio, ele pede duas coisas: estradas melhores (as que levam ao município são uma buraqueira só) e uma agência bancária.

Uma vez por mês, conta ele, um carro-forte traz dinheiro para o único caixa eletrônico da cidade (do Bradesco), e para a agência do Banco Postal, que representa o Banco do Brasil. Acaba faltando dinheiro em circulação, e por isso ele criou um cartão de crédito de sua loja, nos moldes dos que têm as grandes redes.

Pelo menos de uma coisa os comerciantes da cidade não podem se queixar. Episódios de violência são praticamente inexistentes. Não há delegacia de polícia, apenas um destacamento da PM.

“Há pequenos furtos e de vez em quando algum caso de Maria da Penha [agressão a mulher]”, disse o soldado Wellington, que naquele dia chefiava o posto.

Para ele, o alto índice de evangélicos contribui para a cidade ser tão pacífica. “Aqui dá um certo tédio. A gente sai pilhado da academia de polícia, vir pra cá é meio frustrante. Não acontece nada”, diz.

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Na PB, megaevento evangélico compete com Carnaval e usa estrutura do São João https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/22/na-pb-megaevento-evangelico-compete-com-carnaval-e-usa-estrutura-do-sao-joao/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/22/na-pb-megaevento-evangelico-compete-com-carnaval-e-usa-estrutura-do-sao-joao/#respond Fri, 22 Mar 2019 11:13:18 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/coro-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=388 Campina Grande (PB) – Enquanto os blocos de rua passavam, a Mangueira encantava a Sapucaí e o Brasil discutia o que é “golden shower”, um público estimado em 120 mil pessoas passava um Carnaval bem diferente em Campina Grande (PB).

Eles participavam da vigésima edição do Encontro Para a Consciência Cristã, hoje o maior evento evangélico do Nordeste e um dos principais do Brasil. Não apenas o período escolhido para sua realização é simbólico, mas o local também: o Parque do Povo, mais conhecido por abrigar “o maior São João do mundo”, em junho (embora a pernambucana Caruaru discorde desse título).

O fato de um evento gigantesco como esse ocorrer todos os anos durante o Carnaval num centro urbano de médio porte como Campina Grande mostra a força dos evangélicos no Nordeste. A cidade de 410 mil habitantes mal dá conta de receber tantas pessoas de fora, e tem gente que acampa ou se acomoda em sofás de desconhecidos, como relata o organizador do evento, pastor Euder Faber, 47.

Baixinho, franzino e carismático, pastor Euder comanda o show de seu modesto escritório numa casa perto do centro da cidade paraibana.

O pastor Euder Faber, 47, em seu escritório em Campina Grande (Fábio Zanini/Folhapress)

Ex-coroinha da Igreja Católica que se converteu em 1996, ele é um verdadeiro empreendedor do mundo evangélico. Preside uma entidade chamada Visão Nacional para a Consciência Cristã (Vinacc), que organiza o encontro. A exemplo dos responsáveis pelo Carnaval do Rio, mal termina uma edição e ele já começa a pensar na do ano seguinte.

A Vinacc é um guarda-chuva de igrejas evangélicas de Campina Grande, reunindo cerca de 70% das denominações presentes na cidade. Só ficam de fora as neopentecostais, como Universal, Renascer e outras. “A gente prioriza mais o lado evangelizador, não tanto a teoria da prosperidade que essas igrejas representam”, alfineta.

A entidade ainda conta com uma editora própria de livros, a Visão Cristã, um canal no YouTube e uma plataforma online de distribuição de vídeos cristãos, a Blesss (com três “s” mesmo).

Mas o carro-chefe é mesmo o encontro, que começou de forma modesta, em 1999. “Na primeira edição reunimos 300 pessoas num museu”, lembra o pastor, que é da igreja O Brasil Para Cristo.

O encontro funciona como um festival, mas sem músicas ou shows. São debates, palestras, uma feira de livros e eventos paralelos. Na tenda principal, convidados, alguns deles internacionais, se revezam durante sete horas por dia. Nos 22 eventos paralelos, foram discutidos temas tão diversos como arqueologia bíblica, islamismo, design inteligente (espécie de criacionismo repaginado) e depressão.

Estrutura do encontro é desmontada no Parque do Povo, em Campina Grande (Fábio Zanini/Folhapress)

A chave para o sucesso do evento, conta o pastor Euder, é marcar Campina Grande como uma “cidade-retiro”. A população historicamente tem um viés conservador, expresso já há algumas eleições. Em 2014, Aécio Neves bateu Dilma Rousseff, e em outubro passado Jair Bolsonaro venceu nos dois turnos.

“Aqui nunca houve muito Carnaval de rua. Então, se tornou um point dos evangélicos, que não se identificam com a festa”, afirma.

O evento custa R$ 810 mil. Cerca de 40% são bancados por editoras que participam da feira de livros, e o resto vem de alguns patrocínios e colaborações de fiéis, além de ajuda da prefeitura, que cede o espaço.

Mesmo com o governo Bolsonaro ainda fresco e a empolgação natural no meio evangélico com os valores que ele defende, o encontro tomou cuidado com questões políticas, diz o pastor. “A gente procurou não entrar muito na temática nacional. Temos uma cautela muito grande”. Políticos locais foram convidados para a abertura, mas não discursaram.

A entidade não se manifesta sobre política, mas seus líderes, sim. O pastor Euder foi de Bolsonaro. “O brasileiro de direita era visto como um cão sarnento. O Bolsonaro teve a sacada de fazer uma leitura correta da época, as coisas estão mudando”, diz ele.

A conjuntura, diz o pastor, é favorável para os evangélicos, e não apenas por terem um aliado na Presidência. “A Igreja Católica se enfraqueceu muito desde que abraçou a questão social e deixou a evangelização de lado. Não existe vácuo, nem de poder, nem de espírito. O espaço sempre vai ser ocupado”, afirma.

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No interior de PE, a revolução trabalhista de Paulo Guedes já começou https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/20/no-interior-de-pe-a-revolucao-trabalhista-de-paulo-guedes-ja-comecou/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/20/no-interior-de-pe-a-revolucao-trabalhista-de-paulo-guedes-ja-comecou/#respond Wed, 20 Mar 2019 11:10:47 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/toritama-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=366 Santa Cruz do Capibaribe (PE) e Toritama (PE) – Parece uma grande avenida de São Paulo antes da Lei da Cidade Limpa, de 2007. Grandes outdoors anunciando jeans, roupas de praias e vestidos dão as boas vindas a quem chega à região de Santa Cruz do Capibaribe, no agreste pernambucano.

As fotos de modelos com aquelas caras blasé pipocam nesta cidade de 110 mil habitantes a 45 km de Caruaru, capital de um pólo de confecção que reúne 54 municípios. Lojistas locais dizem que a região responde por cerca de 20% da produção de vestuário nacional.

Outdoors de moda na estrada na região de Santa Cruz do Capibaribe (Fábio Zanini/Folhapress)

Em Santa Cruz, Jair Bolsonaro venceu nos dois turnos a eleição presidencial, única cidade pernambucana em que isso ocorreu (teve 54% na etapa final). O município se orgulha de ter o DNA do empreendedorismo e segue à risca o mantra do governo de “menos direitos, mais empregos”.

Na verdade, até radicalizou esse slogan, que poderia muito bem ser “nenhum direito, pleno emprego”. Paulo Guedes faria bem em dar um pulinho lá para ver os efeitos práticos (e colaterais) da revolução na legislação trabalhista que defende. Em Santa Cruz e na vizinha Toritama (40 mil moradores), ela já vigora há muito tempo.

“Aqui é a revolução industrial, meu amigo”, foi logo dizendo Adilson Vitorino, 28, do grupo Direita Pernambuco, ao me encontrar num restaurante de Santa Cruz na última quarta-feira (13).

Dono de um “food bike” que vende tapioca, ele preside o núcleo local do grupo Direita Pernambuco e foi um dos principais responsáveis por organizar carreatas e atos pró-Bolsonaro na reta final da campanha. Num deles, reuniu 20 mil pessoas, 20% da população da cidade.

“No dia do atentado contra Bolsonaro eu decidi fechar meu food bike e caí pra dentro da campanha. Avisei minha mulher que só voltava a trabalhar depois que ele fosse eleito”, diz Vitorino.

De certa forma, ele estava pregando para convertidos. O capitalismo radical de Santa Cruz e o discurso antiestatista de Bolsonaro (mais de Guedes, na verdade) se atraíram fortemente.

Não encontrei estatísticas confiáveis, mas todo mundo com quem conversei na região diz a mesma coisa: só não trabalha quem não quer.

Todos os dias, milhares de moradores das cidades que orbitam Santa Cruz se dedicam à confecção em fabriquetas de fundo de quintal, muitas vezes em suas próprias casas. Elas são chamadas localmente de “facções”.

Com duas ou três máquinas ao custo médio de R$ 3.000 uma nova (metade se for uma usada em bom estado), já podem produzir. Algumas “facções” se dedicam a cortar tecido; outras, à costura, ao tingimento ou ao aprontamento (colocação de zíperes e bolsos), numa linha de montagem que realmente relembra os primórdios da industrialização na Inglaterra do século 18, na imagem usada por Vitorino.

Algumas dessas fabriquetas são basicamente núcleos familiares, com marido e mulher trabalhando em casa por encomenda. Outras têm até 20 funcionários, todos em jornadas de até 14 horas por dia, sem registro em carteira. Também não há recolhimento de impostos (o argumento é que o imposto já foi pago na compra do tecido).

Como me disse o dono de uma dessas pequenas fábricas, “se a fiscalização aparecer por aqui, fecha a cidade toda”.

Como fazem uma atividade específica na linha de montagem, há um ganho de eficiência, e uma “facção” pode gerar até 400 peças por semana. Pela costura de uma calça jeans, por exemplo, ganha-se de R$ 1 a R$ 1,20, pago pelo contratante do serviço.

Toda segunda-feira, os pequenos fabricantes expõem seus produtos no Moda Center, um enorme pavilhão em Santa Cruz com capacidade para quase 10 mil boxes.

Stand no Moda Center, de Santa Cruz do Capibaribe (Fábio Zanini/Folhapress)

O lugar fica abarrotado. Lojistas de diversas partes do país vêm comprar calças, camisetas, roupas de banho, vestidos e lingerie.

Um dos boxes é de Pedro José da Silva, 65, um ex-lavrador que entrou no ramo da confecção há 20 anos. O tecido que ele compra vem de Recife, João Pessoa ou Salvador. Com o material em mãos, distribui entre fabriquetas que o cortam, costuram e finalizam. Trabalha com bermudas, calças jeans e camisetas polo e de tactel.

Ele vende por R$ 15 uma bermuda que será comercializada por R$ 25 ou R$ 30 em lojas populares Brasil afora. “Deus plantou a confecção nessa cidade, senão a gente ia estar isolado”, diz. “Na lavoura a gente planta só pra comer, não lucra nada”.

O polo remonta à década de 1960, quando agricultores que sofriam com a seca começaram a trazer retalhos de capitais do Nordeste e fazer produtos simples como panos e toalhas, que chamavam de “sulanca”. Há até um museu dedicado aos pioneiros. Com o tempo, a confecção foi se sofisticando.

Na cidade de Toritama, vizinha a Santa Cruz, a especialidade são as peças de jeans. Numa rua sem asfalto, um portão preto de correr se abre e revela um casebre com parede de blocos no fundo de um pátio. Lá moram Gilvan Fernandes, 36, e a mulher, Lucineide da Silva, com duas filhas de 4 e 14 anos.

No cômodo de entrada, eles têm sua “facção”, com sete máquinas de costura. Chegam a produzir 400 calças por semana. “A gente ganha na quantidade”, diz ele, que chega a obter uma renda de até R$ 3.000 em alguns meses. “Quero chegar a R$ 7.000”, afirma.

O trabalho começa às 8h e costuma passar das 22h. Com sonhos de crescer, o casal de evangélicos criou uma etiqueta para seus produtos, que batizou de Tirza, termo em hebraico que significa “prazer” e está no Antigo Testamento.

Eleitor de Bolsonaro, Gilvan quer que o Estado o deixe trabalhar. “Só espero que deixem a gente livre. O governo quando fala em incentivo dá com uma mão e tira mais ainda com a outra”, afirma.

Funcionário da prefeitura de Toritama, Abimael Santos, 34, diz que a população da cidade “se sente sufocada” pelos impostos e pela legislação trabalhista. “A população daqui empreende. E quem empreende quer o livre mercado”, diz ele, que durante a campanha animou carreatas pró-Bolsonaro de cima de trios elétricos pela região.

O argumento que mais ouvi em dois dias na região na semana passada é que um emprego com carteira assinada rende um salário mínimo. O trabalho informal numa confecção pode gerar o triplo disso por mês.

Mas esse capitalismo todo cobra um preço, e nem todos aguentam a sobrecarga de trabalho. Danielle Rodrigues, 30, trabalhou durante nove anos numa confecção, em jornadas de até 14 horas por dia. “O dinheiro é bom, mas você acaba se tornando escravo da máquina”, diz ela.

Decidiu sair, fez faculdade de administração e hoje é secretária na prefeitura de Toritama, com horário para entrar e sair e carteira de trabalho assinada. “Não tenho saudade daquela vida. Mas é uma garantia para um dia que precisar de trabalho”, afirma.

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Nas capitais do forró nordestino, novos grupos de direita se multiplicam https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/18/nas-capitais-do-forro-nordestino-novos-grupos-de-direita-se-multiplicam/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/18/nas-capitais-do-forro-nordestino-novos-grupos-de-direita-se-multiplicam/#respond Mon, 18 Mar 2019 11:09:54 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/caruaru1-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=348 Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) – Os 140 km que dividem Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) são palco de uma das maiores rivalidades do país, a de quem sedia o maior São João do mundo.

Na última eleição, essas duas metrópoles do agreste nordestino transferiram a competição para a política. As duas são sérias candidatas a serem a capital da nova direita nordestina.

Ex-redutos petistas (como, aliás, todo o Nordeste), deram a Jair Bolsonaro expressiva votação. No primeiro turno, o atual presidente ficou na frente nas duas cidades (teve 41,5% em Caruaru e 50,6% em Campina). Na cidade paraibana, ganhou também na segunda votação, com 56,3% (teve 46% em Caruaru).

Em diversas cidades localizadas entre Caruaru (350 mil habitantes) e Campina Grande (410 mil), o fenômeno se repetiu. Bolsonaro venceu nos dois turnos em Santa Cruz do Capibaribe (PE) e no primeiro turno em Taquaritinga do Norte (PE). Também foi bem votado nas cidades da região metropolitana de Campina.

De três anos para cá, as duas cidades-pólo do “eixo do forró” viram proliferar novos grupos da direita. Lá estão representados a turma conservadora alinhada a Bolsonaro, o pessoal do liberalismo econômico e braços atuantes de organizações nacionais como Livres, Novo e MBL. Nem em Recife e João Pessoa a cena destra é tão animada.

Como pode algo assim acontecer com tamanho vigor numa região em que até outro dia Lula era rei, direita era palavrão e o mito de Miguel Arraes (1916-2005), o ex-governador socialista de Pernambuco, ainda é muito presente?

Na última terça-feira (12), sentei com quatro representantes desses grupos no café de um shopping em Caruaru. Dois eram do grupo Conservadores Pernambuco, alinhado ao governo Bolsonaro; um fundou o Caruaru Livre, de orientação mais liberal; o outro era a principal liderança do Novo na região.

Apesar das diferenças entre seus grupos, têm diversas pautas em comum e se definem jocosamente como “A Liga da Direita” (um representante do MBL também foi convidado, mas acabou não aparecendo). Na campanha, organizaram carreatas pró-Bolsonaro que chegaram a reunir 2.000 veículos.

A ‘Liga da Direita’ de Caruaru: a partir da esq., Clederson, Ednaldo (ambos do Conservadores PE), João Antônio (Novo) e Pedro (Caruaru Livre) – Fábio Zanini/Folhapress

João Antonio, 42, empresário e professor de matemática que é o líder local do Novo, diz que a explicação para a explosão de direitismo tem relação com a crise do coronelismo local. “O coronelismo aqui se tornou populista e com discurso de esquerda. Mas as pessoas se cansaram disso e só querem trabalhar”, disse

Ele mesmo diz que já beijou a mão de Lula, mas se converteu ao liberalismo durante o governo do petista. De uma certa forma, diz, é uma volta às origens. Sua família tem origem aristocrática e foi dona de um engenho de açúcar na região de Cabo de Santo Agostinho, no litoral, até a terra ser expropriada por Arraes para reforma agrária nos anos 60. No ano passado, João se candidatou a deputado federal, mas não foi eleito. Deve sair para prefeito em 2020.

Pedro Holanda, 27, foi um dos fundadores do Caruaru Livre em 2013, quando cursava economia no campus de Caruaru da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Aqui há uma emergência do capitalismo, uma nova burguesia”, diz ele, citando que a região é um polo de confecção e moda (do qual falarei num post mais adiante).

Caruaru e Campina Grande são cidades com classes médias fortes, setor de serviços diversificado e grande presença de profissionais liberais. Por não serem as capitais de seus estados, não têm presença tão forte de funcionários públicos, público tradicional de esquerda.

Em 2014, lembra Pedro, ele deu uma entrevista para uma rádio defendendo as privatizações. “Apanhei demais, foi uma chuva de telefonemas”. Hoje, tem uma coluna na CBN local em que basicamente defende as mesmas coisas e é aplaudido.

Mas só um certo espírito empreendedor das cidades não explica a força de Bolsonaro, dizem eles. A situação da segurança pública também ofereceu amplo terreno para a pregação do capitão que ocupa a Presidência.

“Aqui ter arma para proteger a fazenda é uma necessidade”, diz Ednaldo Emerson, 35, advogado e um dos líderes do Conservadores PE, grupo que nasceu em Caruaru em 2017 e tem ramificações por todo o estado. Assaltos a banco, relata ele, também são um problema sério.

Segundo o Atlas da Violência de 2018, Caruaru registrou 68,2 homicídios por 100 mil habitantes. São Paulo, em comparação, teve 14,9.

Colega de Ednaldo no Conservadores PE, Clederson Maia, 32, diz que não tem dúvida de que o governo Bolsonaro vai dar certo. Mas se preocupa com o fato de o presidente estar “tropeçando nas próprias pernas”, especialmente na comunicação. Ainda assim, dá nota 8 para esse começo de governo.

João Antonio, do Novo, diz que torce para que a pauta econômica do governo seja aprovada rapidamente, especialmente a reforma da Previdência. Para ele, a direita ainda tem de aprender a se comunicar com as pessoas. “A gente ainda usa muito academicismo desnecessário”, diz.

Pedro faz coro. “Ainda nessa região há uma dependência muito grande do assistencialismo. Não é fácil falar da pauta econômica”.

Para Clederson, o alvo prioritário numa próxima etapa é a classe média baixa. “Ao falarmos de privatização de uma estatal municipal, vamos mostrar os benefícios que isso pode gerar no atendimento ao público. Quando tratarmos de corrupção, em vez de falar que o desvio foi de R$ 1 milhão, falar que dava para comprar 20 ambulâncias”.

Em Campina Grande, a história se repete. Mateus Siqueira, 23, estudante de administração na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), comanda o Instituto Tropeiros, organização surgida em 2016 para difundir ideias liberais na economia e nos costumes.

Mateus Siqueira, do Instituto Tropeiro, de Campina Grande (PB) – Fábio Zanini/Folhapress

“Campina Grande é uma cidade de empresários. Tem muita start up vindo pra cá”, diz ele, que, aliás, tem duas: um site sobre resumo de novelas (“dá muita audiência”, diz) e outro com notas sobre política e entretenimento.

O Tropeiros (homenagem aos vaqueiros que construíram Campina Grande, no século 19) primeiro chamou a atenção na cidade em 2017 com dois seminários de nomes provocativos: “Capitalismo em favor dos pobres” e “Privatizar para Solucionar”. “A esquerda ficou louca, tivemos de chamar segurança”, lembra Siqueira.

Sua conversão foi rápida. Em 2014, ele votou em Dilma Rousseff (PT) para presidente, mas já antes da posse dela começou a se arrepender. O esquerdismo de seu curso o incomodava, diz. “Comecei a me perguntar como um curso de administração fala tanto de Keynes [pai do intervencionismo econômico] e tão pouco de Adam Smith [pai do livre mercado]”, afirma.

O instituto agora pretende começar a levar eventos sobre a reforma da Previdência para dentro da universidade. “O que faz uma sociedade crescer não é crédito, é poupança”, diz.

Mas, assim como seus colegas em Caruaru, Siqueira acha que a direita ainda tem de melhorar o nível do debate. “O meio liberal ainda é muito do chavão, do youtuberzinho. Falta um debate sério, não apenas essa conversa de ‘vamos destruir o Estado'”.

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No Recife, bolsonarismo mostra força em bairro símbolo da era Lula https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/no-recife-bolsonarismo-mostra-forca-em-favela-simbolo-da-era-lula/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/no-recife-bolsonarismo-mostra-forca-em-favela-simbolo-da-era-lula/#respond Fri, 15 Mar 2019 10:07:31 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/6246198882588486307_IMG_0050-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=325 Saída Pela Direita está no Nordeste, para um mergulho por redutos do conservadorismo numa região que historicamente é reduto eleitoral do PT e de Lula.

Mas algo está mudando por lá, como mostrarei em uma série de posts nos próximos dias. O primeiro é sobre a comunidade de Brasília Teimosa, no Recife (PE).

Brasília Teimosa, Recife (PE) – Há 46 anos ocupando um sobrado com vista para a praia do bairro de Brasília Teimosa, no Recife (PE), o restaurante Império dos Camarões recebeu duas vezes a visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em ambas, o petista ficou na cozinha de papo com o proprietário, José Bezerra dos Santos, 69, enquanto camarões suculentos eram preparados para ele e sua comitiva.

Na época, início do seu governo (2003-10), Lula ganhou o voto de Santos, conhecido como Zezinho do Camarão, um self-made man que começou vendendo caldinho numa barraca na areia.

Mas hoje, Zezinho é apoiador entusiasmado de Jair Bolsonaro e diz que PT nunca mais. “Esse país virou zona. Quem manda hoje é o malandro. Espero que o Bolsonaro seja o cara para consertar”, diz.

Localizada na ponta norte da praia de Boa Viagem, Brasília Teimosa era uma insalubre comunidade de palafitas quanto Lula assumiu a Presidência, em 2003. O petista incluiu a favela em sua primeira viagem após a posse, levando ministros a tiracolo.

Prometeu urbanizar o local e cumpriu: quase todas as palafitas foram retiradas, e os moradores ganharam casas. Uma agradável orla surgiu no local.

Campo de futebol na orla de Brasília Teimosa (Fábio Zanini/Folhapress)

A obra impulsionou o restaurante de seu Zezinho, como ele mesmo admite. Hoje, o local atende a uma clientela que inclui executivos de bairros distantes que vêm provar seus pratos.

Mesmo com todo o simbolismo de ter sido transformada na era petista, Brasília Teimosa vive uma onda de bolsonarismo. Numa localidade em que o PT sempre nadou de braçada, o resultado do primeiro turno da eleição no ano passado foi surpreendente: Bolsonaro ficou em primeiro lugar, com 3.346 votos, contra 3.180 de Fernando Haddad (PT). No segundo, Haddad recebeu os votos de outros candidatos e teve 57% contra 43% do atual presidente.

Brasília Teimosa é uma comunidade densamente povoada com cerca de 35 mil moradores, em ruas estreitas, mas todas asfaltadas, com calçada, casas e comércio. Menos de 10% da população ainda vive em palafitas.

O nome é um certo samba do crioulo doido. No início era apenas Brasília, uma homenagem à nova capital que surgia mais ou menos na mesma época da formação do local, nos anos 1950. Depois acoplou-se o adjetivo “teimosa”, porque a comunidade de pescadores que ali se instalou não se intimidava com as remoções de barracos do governo e sempre voltava.

Radialista aposentado, Wilson Lapa, 59, é o principal líder político do pedaço. Há 13 anos preside o conselho de moradores do bairro, e está no quinto mandato seguido. “Eleição aqui é uma guerra. Haddad contra Bolsonaro é fichinha”, diz, sentado em sua sala num sobrado que é a sede da associação.

Wilson Lapa, presidente do conselho dos moradores de Brasília Teimosa (Fábio Zanini/Folhapress)

É outro ex-lulista que se bolsonarizou, como muitas das pessoas com quem conversei numa tarde no bairro na última segunda-feira (11). Filiado ao Patriota, legenda de direita com a qual Bolsonaro chegou a flertar, Lapa pensa em se candidatar a vereador no ano que vem.

“Torço por ele [Bolsonaro]. Está tentando moralizar as verbas que são enviadas sem critério para a cultura e para essas ONGs ligadas a petistas”, afirma. Com um filho que é instrutor de tiro, também defende o maior acesso a armas proposto pelo presidente.

Por enquanto, Lapa acha que as acusações contra o presidente e seu partido são apenas jogo da oposição. Faz um único reparo a Bolsonaro. “Ele não devia ter compartilhado aquele vídeo [mostrando ato pornográfico no Carnaval de São Paulo]. Pelo menos sabemos que não mudou, ainda é o mesmo Bolsonaro de sempre”.

No dia que conversamos, Lapa planejava organizar uma caravana para ir a Brasília denunciar as ameaças que a xará recifense sofre. A especulação e o apetite do mercado imobiliário pelo terreno onde está a comunidade, que fica pouco distante da Recife turística, já levaram a um salto no preço dos aluguéis de casas simples, diz ele.

“Precisamos de proteção, quero falar isso ao Bolsonaro. Ou a um ministro. No mínimo, estendo uma faixa na praça dos Três Poderes”, diz. Por enquanto, o bairro é uma zona de proteção social e está a salvo da construção de novos edifícios, mas os moradores dizem que é preciso manter mobilização constante para que a legislação não mude.

Lapa é evangélico da denominação batista, e o número de igrejas no bairro pode ajudar a explicar o crescimento da direita em Brasília Teimosa. São mais de 30.

Edmilson Macena, 46, cursa o seminário para se tornar pastor. Diz que tem carinho e afeto por Lula, mas votou em Bolsonaro por uma “questão moral e cívica”. Também afirma que se desiludiu com os petistas pela sucessão de escândalos. “Sempre votei no Lula. Mas onde há fumaça há fogo”, diz.

Uma razão prática o levou à desilusão com o PT. No governo Lula, tinha um tio, duas irmãs e um filho empregados nas obras do porto de Suape, região metropolitana de Recife. Terminado o contrato, foram todos para a rua e tiveram dificuldade em se recolocar profissionalmente.

Sobre as acusações contra o presidente, ele prefere esperar. “A gente não tem muito conhecimento dos fatos. Mas ele está dizendo que tem que investigar, o que já é uma mudança”, diz.

Macena é dono de um mercadinho que fica protegido da rua por grossas grades pretas.

O comerciante Edmilson Macena, dono de um mercadinho em Brasília Teimosa (Fábio Zanini/Folhapress)

O bairro não é especialmente perigoso, mas há muito consumo de crack, o que traz o risco permanente de violência. A fala grossa de Bolsonaro ao tratar do tema da segurança o agrada.

De frente para a orla, a ONG “Brasília Teimosa Driblando o Crack” tentar afastar crianças e adolescentes do vício com aulas de futebol e atividades recreativas. Seu fundador, o professor de educação física Luiz Fernanda Silva Neto, diz que teve 27 alunos entre 14 e 19 anos assassinados por causa da droga em 26 anos de trabalho social na região.

A nova desgraça do bairro, diz ele, é uma droga batizada de “pó virado”, que mistura crack moído com ácido bórico e é inalada. “Deixa o cara extasiado”, afirma. Na comunidade, estima o professor, apenas de 5% a 10% dos jovens vêm de famílias estruturadas. A maioria cresce sem pai.

Ele já votou em Lula e andava de broche e camisa vermelha em eleições. “De repente, o homem que era uma referência internacional manchou seu nome”, avalia. Foi então de Bolsonaro, “para ter uma mudança radical”.

Mas não está gostando muito desse início de governo. Acha que é preciso explicar melhor as acusações que surgiram e não aprecia a intromissão dos filhos nos assuntos de governo.

“Quando Bolsonaro entrou eu dava a ele nota 10. Agora, pra mim caiu pra 7”, diz o professor.

 

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