Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Livro mostra como MBL virou símbolo da nova direita e da polarização https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/05/livro-mostra-como-mbl-virou-simbolo-da-nova-direita-e-da-polarizacao/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/05/livro-mostra-como-mbl-virou-simbolo-da-nova-direita-e-da-polarizacao/#respond Tue, 05 Nov 2019 13:49:46 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/impeachment-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2028 Em 1º de novembro de 2014, ou seja, há apenas cinco anos, o MBL (Movimento Brasil Livre) nascia sob o signo do improviso. Seu nome foi tomado emprestado de outra organização, e o primeiro ato ocorreu quase que por acaso.

Ler a história do movimento, retratada em um livro que está sendo lançado, é perguntar-se como um grupo com tais características tornou-se um ator relevante no processo que levou ao impeachment de uma presidente da República.

Não apenas isso, o MBL também contribuiu para tensionar o clima político a ponto de ter feito uma autocrítica recente sobe seu papel na polarização atual do país.

“Como um Grupo de Desajustados Derrubou a Presidente” (ed. Record) é a trajetória do movimento contada por dois de seus principais líderes, o coordenador nacional Renan Santos e o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP).

A obra não é apenas a biografia do MBL. É também a retrospectiva de um período frenético da história do Brasil, que teve raízes nas manifestações de junho de 2013 e dava sinais hoje evidentes (mas nem tanto à época) da onda que levou Bolsonaro e a direita ao poder, no ano passado.

“Aquelas pessoas que caminhavam lado a lado [em 2013] viriam a dividir-se, anos depois, nas turmas que saíram às ruas de vermelho e amarelo na guerra do impeachment”, escreve Renan.

Depois, os amarelos se dividiriam mais ainda, até desembocar na situação de hoje, em que parte da direita considera Bolsonaro até mais nocivo que o PT.

Um efeito curioso da leitura é lembrar como era o MBL antes de embarcar em seu recente processo de institucionalização, que inclui convidar parlamentares de esquerda para seu congresso anual.

O MBL raiz não tinha nada disso: era agressivo e insolente, fazendo do meme sua arma contra a esquerda e a imprensa (a Folha era um alvo preferencial). Em certa medida, eram como adolescentes querendo chamar a atenção.

“Não éramos candidatos a Miss Universo, éramos militantes políticos”, afirma Kataguiri no livro. “Sabíamos como permanecer ativos através da curiosidade –e do ódio– de quem nos cobria e narrava”, ecoa Renan.

Na batalha pelo impeachment, como mostra o livro, eles recorreram a métodos que criticavam nos defensores de Dilma Rousseff, como o uso de máquinas organizadas para arregimentar militância.

“Ficou combinado que as igrejas, os pastores e as comunidades evangélicas orientariam os fiéis a irem às manifestações. E o pessoal do agro ajudaria, inclusive com ônibus para levar o pessoal das igrejas nos deslocamentos”, lembra Kataguiri, falando do derradeiro ato em frente ao Congresso, no dia da votação do impeachment pela Câmara.

O hoje deputado compara a dobradinha dos dois setores, que viriam a ser fundamentais para a vitória de Bolsonaro, a uma equipe de nado sincronizado, e arremata: “Bonito de ver”.

Ao mesmo tempo, o grupo demonstrava um nível de maturidade política que rejeitava soluções de quebra institucional, algo digno de nota em um movimento formado em sua maioria por jovens entre 20 e 30 anos.

Desde o início, as rusgas com os defensores de intervenção militar e fechamento do Congresso se manifestavam, fato que estaria na gênese do grande racha da direita do primeiro semestre de 2019.

Olavo de Carvalho, que àquela altura tinha apenas uma fração da relevância que adquiriu, é chamado por Kataguiri de “sujeito que acredita ter dado início a todas as manifestações direto de seu sofá na Virgínia”.

O livro é rico em bastidores da formação do movimento, seu crescimento e eventos marcantes.

Um dos principais é a Marcha Pela Liberdade, em 2015, uma peregrinação a pé de São Paulo a Brasília que culminou com a entrega de um pedido de impeachment ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, numa foto que perseguiria o movimento (e que ainda tem Bolsonaro e seu filho Eduardo como papagaios de pirata)

Aquela imagem, diz Renan, representou a perda de virgindade do MBL. “[Cunha] era, gostemos ou não, o homem certo no momento certo”, afirma o coordenador do movimento.

Integrantes do MBL posam com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e outros deputados, após entrega do pedido de impeachment de Dilma (Ed Ferreira/Folhapress)

Uma revelação do livro que à época poderia parecer banal adquire outro significado aos olhos de hoje. Como relata Kataguiri, o movimento sempre flertou com a ideia de formar um partido político, e chegou a negociar um atalho em 2016 com um certo PSL, comandado com braço de ferro, antes como agora, por um tal de Luciano Bivar.

A conversa, no entanto, não progrediu, e o MBL desistiu de entrar na legenda de Bivar porque desconfiou que viraria apenas um instrumento nas mãos de um típico coronel partidário, no que, à luz do escândalo das candidaturas laranjas, se revelaria uma premonição.

A relação com os políticos é tema constante do livro, que leva o grupo a seus momentos mais penosos. Associar-se ou não a uma figura como Aécio, por exemplo, é um dilema constante (e trata-se do Aécio ainda com alguns resquícios de credibilidade, ou seja, pré-caso JBS).

Um momento de humor involuntário é a fracassada operação tabajara armada para que políticos de oposição participassem sem dar muita bandeira da manifestação de 13 de março de 2016, a maior de todas  daquele processo (na qual, aliás, o Datafolha é esculachado pelo movimento por supostamente ter subestimado o volume de manifestantes).

O MBL, que meses antes temia qualquer tipo de ligação com a velha política, acaba abraçando um pragmatismo tardio. “Afastar aqueles que votariam a favor [do impeachment] e articulavam para que outros parlamentares votassem sim seria suicídio”, justifica Kataguiri.

O livro termina com o afastamento temporário de Dilma, sem grandes pretensões de discutir o futuro deste movimento que, contra todas as probabilidades, conseguiu como nenhum outro capturar o momento em que a sociedade brasileira assumia seu lado conservador e buscava novas linguagens na política. Não era apenas Eduardo Cunha que estava na hora certa, no lugar certo.

O MBL agora promete entrar numa nova fase, de mais debate e menos gritaria, e seu sucesso nessa roupagem ainda é uma incógnita. Será curioso ver a comemoração de seus dez anos.

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Título: “Como um Grupo de Desajustados Derrubou a Presidente”

Autores: Kim Kataguiri e Renan Santos (364 págs.)

Editora: Record

Preço: R$ 39,90

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MBL, que ajudou a derrubar Dilma, terá deputados de PT e PC do B em congresso https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/04/mbl-que-ajudou-a-derrubar-dilma-tera-deputados-de-pt-e-pc-do-b-em-congresso/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/04/mbl-que-ajudou-a-derrubar-dilma-tera-deputados-de-pt-e-pc-do-b-em-congresso/#respond Fri, 04 Oct 2019 19:42:24 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/MBL1-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1814 Quem poderia imaginar, três anos atrás, um petista figurando num evento do MBL (Movimento Brasil Livre) como convidado, e não como saco de pancada?

Mas veremos essa cena no mês que vem, com a participação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) numa mesa-redonda promovida pelo grupo que foi um dos principais responsáveis pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Em 15 e 16 de novembro, o MBL realiza em São Paulo seu congresso anual, o quinto de sua história.

É o primeiro desde que o movimento, que ficou conhecido por sua agressividade retórica contra adversários e imprensa e por nunca fugir de uma treta, anunciou a decisão de dar uma espécie de “reset”.

O MBL promete deixar de ser escravo dos memes e tratar com respeito seus adversários. Mas também faz um cálculo político.

Seus líderes querem se diferenciar dos grupos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (que eles chamam ironicamente de “minions”) e pretendem ser uma direita crítica.

Seguirão apoiando algumas pautas do governo, sobretudo a econômica, mas querem ter liberdade para comentar acusações de corrupção e pautas que enxergarem como sendo excessivamente conservadoras.

Para quem pediu votos para Bolsonaro no segundo turno do ano passado e flertou com o obscurantismo ao criticar a exposição Queermuseu, em 2017, a mudança não é pequena.

O congresso do MBL foi pensado como uma vitrine desse movimento repaginado, e a programação está investindo bastante na valorização do contraditório.

Chinaglia participará no dia 16 de novembro de um debate sobre reforma política, com outros parlamentares de diversas tendências. Pelo PC do B estará presente Orlando Silva, que além de comunista, é ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), entidade que sempre foi considerada antípoda pelo MBL.

Também integrarão a mesa os deputados Vinicius Poit (Novo-SP), Daniel Coelho (Cidadania-PE) e Kim Kataguiri (DEM-SP), que é um dos coordenadores nacionais do movimento, além do senador Marcos Rogério (DEM-RO).

Outro evento com a participação de um parlamentar da esquerda está sendo negociado e deve ser anunciado nos próximos dias.

Cartaz do MBL anunciando seu congresso, em novembro (Divulgação)

Completam a programação mesas sobre educação política, sátira e empreendedorismo, entre outras.

(Em nome da transparência, devo dizer que haverá debates com a participação de jornalistas também, inclusive eu).

Esse evento servirá como parâmetro para dizer até que ponto o MBL realmente decidiu mudar e se tornar um movimento de direita mais independente.

Os céticos são muitos, o que é normal. Desfazer a impressão pretérita deixada pelo movimento levará tempo.

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Lançamento de filme do MBL tem clima estudantil e provocação a bolsonaristas https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/03/lancamento-de-filme-do-mbl-tem-clima-estudantil-e-provocacao-a-bolsonaristas/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/03/lancamento-de-filme-do-mbl-tem-clima-estudantil-e-provocacao-a-bolsonaristas/#respond Tue, 03 Sep 2019 13:44:54 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/MBL1-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1650 “Lula livre!”, gritou alguém na plateia do cinema quando as luzes se apagaram antes do começo do documentário do MBL sobre o impeachment de Dilma Rousseff, nesta segunda (2) num shopping do bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo. Era uma piada, obviamente, e muita gente riu alto.

Ao fim da sessão, já madrugada de terça (3), outro berrou “Fora, Bolsonaro!”, ao que um terceiro complementou: “Mais um! [impeachment]”. Também era uma piada, mas desta vez menos escancarada.

Assim, nesse clima meio de diretório acadêmico, o movimento que se mobilizou pelo apoio ao afastamento da presidente petista entre 2014 e 2016 lançou seu documentário sobre o evento. “Não Vai Ter Golpe” começa com as ironias desde o nome, pegando emprestado da esquerda seu grito de guerra fracassado. Na visão do MBL, não houve golpe porque o processo seguiu os trâmites constitucionais.

A premiére reuniu a direção do movimento, os mesmos moleques que causaram impacto ao surgir no cenário nacional quando as manifestações de camisas amarelas começaram, agora apenas um pouco menos imberbes. Estavam lá os parlamentares do MBL –Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Arthur Mamãe Falei do Val– e os irmãos Alexandre e Renan Santos, entre outros.

Alexandre dirige o filme, feito com a estrutura própria do movimento, e a um custo estimado em R$ 300 mil. É uma colagem de imagens captadas no auge das manifestações, entremeadas por depoimentos, que dão ao documentário um caráter semiestudantil, o que não é de todo ruim, dadas as raízes do MBL.

Mas antes que perguntem, a produção, se não é tecnicamente primorosa, está muito longe de dar vexame. A edição é bem feita e ágil, as imagens são preciosas e até resvalam para o cômico em algumas situações, como na quixotesca marcha empreendida pelo movimento de São Paulo a Brasília para entregar um pedido de impeachment ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ). A trilha sonora, gravada com uso de uma banda própria, é fenomenal.

Prestigiaram o lançamento do filme, entre outros, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, ex-deputado que deu o voto crucial para o afastamento de Dilma, e o emedebista Darcísio Perondi (RS), além do ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) e do secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão.

Cartaz do documentário sobre o impeachment de Dilma

Envolto no tiroteio interno do PSDB entre a ala paulista, ligada ao governador João Doria, e a mineira, que orbita o deputado Aécio Neves, Araújo tentava dar ar de normalidade à situação. Ele não quis adiantar se o diretório nacional do partido vai se reunir para analisar o pedido de expulsão de Aécio, derrotado pela Executiva do partido, mas não deu sinais muito animadores aos desafetos do mineiro.

“O diretório nacional do partido nunca se reuniu, exceto para eleger a Executiva. Vamos ter que ver os elementos para esse pedido de reunião [formulado pelos paulistas]”, declarou.

Fiel a sua raiz liberal, o MBL aproveitou a chance para tentar faturar. Armou uma banquinha para vender canecas e camisetas a R$ 50, algumas com a inscrição “Esse Impeachment é Meu”. Mas não se furtou a pedir respeito aos direitos autorais da obra, o que, para alguns liberais, é um contrassenso.

Banquinha vende produtos do MBL durante o lançamento de documentário

“Deus está vendo você filmando com o celular para piratear!”, provocou Kataguiri antes de a sessão começar. “Livre mercado!”, devolveu alguém na plateia.

Com cinco anos de idade, o MBL está numa fase de transição, hoje praticamente um inimigo do bolsonarismo e num processo de autocrítica sobre seu papel na polarização no país, como Renan, um de seus principais ideólogos, mencionou numa entrevista recente à Folha.

Seu irmão Alexandre, ao final da projeção, alfinetou grupos que querem enfraquecer as instituições, num rápido discurso. “Existe uma parte da direita, talvez pequena, que quer fazer as coisas direito”, disse.

E o filme? Aqui não tenho muito a acrescentar ao que minha colega Carolina Linhares escreveu nessa resenha (link aqui).

Agrego duas observações.

1-) Poderia ser mais curto. Duas horas e 14 minutos é dose, e no final é impossível não sentir certo alívio com o fim da sequência de depoimentos de membros do movimento;

2-) Na inevitável comparação com “Democracia em Vertigem”, a  versão pró-PT do impeachment, este tem uma vantagem inegável. Não tem aquela narração chorosa, que dá nos nervos.

O documentário agora começa a ser exibido em plataformas de video on demand.

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Bolsonarismo é tão autoritário quanto petismo, diz coordenador do MBL https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/29/bolsonarismo-e-tao-autoritario-quanto-petismo-diz-coordenador-do-mbl/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/29/bolsonarismo-e-tao-autoritario-quanto-petismo-diz-coordenador-do-mbl/#respond Fri, 30 Aug 2019 00:07:27 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/f32911e3a63958b8ee6d1219597bbbccaaa278d53c5ac8ee860214e70c93000c_5d3b3a213de95_preview-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1642 Movimento fundamental no impeachment de Dilma Rousseff e portanto insuspeito de esquerdismo, o MBL (Movimento Brasil Livre) acusa o presidente Jair Bolsonaro de usar métodos parecidos aos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O bolsonarismo quer que todo mundo seja vaquinha de presépio, igual o lulismo fez com a esquerda. Querem botar cabresto em todo mundo”, afirma Renan Santos, um dos coordenadores do movimento.

As críticas são mais um passo no rompimento do movimento com o presidente, a quem o MBL apoiou no segundo turno da eleição do ano passado. “Os líderes bolsonaristas são tão autoritários quando o petismo na esquerda”, diz Santos.

O motivo da nova fricção foi um veto parcial do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a penas mais duras para quem propaga notícias falsas nas eleições.

veto foi derrubado nesta quarta-feira (28), durante sessão do Congresso, por destaque apresentado pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), outro dos líderes do MBL.

Em tom irônico, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) parabenizou Kataguiri pelas redes sociais porque, com a derrubada do veto, pessoas que replicam fake news poderão ser punidas.

Já Kim reagiu chamando o filho do presidente de “rato” e por não ter conhecimento sobre o projeto. Segundo ele, a derrubada do veto pune quem espalha denúncia sabidamente falsa, e nada tem a ver com censura.

Segundo Santos, a estratégia de Bolsonaro e de seu entorno é criar uma cortina de fumaça para desviar a atenção de outros temas incômodos, como as denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e seu ex-assessor Fabricio Queiroz.

Além disso, afirma o coordenador do MBL, há um interesse político do PSL em atacar o movimento.

“Se você não faz tudo o que eles querem, partem para a mentira e a destruição de reputação”, afirma. “Se a direita baixar a cabeça como a esquerda baixou, essa ideia de direita vai toda pro saco”, declara.

Ele afirmou também ver uma tentativa de retaliação ao movimento pelo fato de Kataguiri ter apresentado destaque que derrubou a possível engorda do fundo eleitoral, formado com recursos públicos, de R$ 1,7 bilhão para R$ 3,7 bilhões. A fatia do PSL seria de R$ 500 milhões.

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Direita precisa pensar no longo prazo e não ficar atrelada a Bolsonaro, diz professor https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/19/direita-precisa-de-um-projeto-de-poder-de-longo-prazo-diz-professor/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/19/direita-precisa-de-um-projeto-de-poder-de-longo-prazo-diz-professor/#respond Fri, 19 Jul 2019 11:04:18 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Paulista-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1442 Nove meses depois de chegar ao poder com Jair Bolsonaro, a direita está em um momento de definição. Uma parte se desgarrou da figura do presidente, a ponto de hoje termos quase uma direita de oposição.

E muita gente tem se dedicado a responder a uma pergunta: como manter a direita forte politicamente no futuro, para além da euforia com a vitória eleitoral do ano passado?

Professor de filosofia e um dos coordenadores nacionais do MBL (Movimento Brasil Livre), Ricardo Almeida, 31, é uma dessas pessoas preocupadas com os próximos anos da direita.

Em um artigo recente distribuído pelo movimento, Almeida, formado em filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), cita cinco pontos para um programa de direita. O texto é em parte uma avaliação crítica dos últimos anos e uma lista de metas para o futuro.

As prioridades citadas por Almeida são: ampliação do mercado editorial de autores de direita; criação de periódicos especializados para difusão de ideias; formulação de um projeto de poder de longo prazo; elaboração de pautas políticas claras; e investimento na formação de quadros de direita na administração pública.

Até aqui, diz ele, a direita tem se definido mais pela negação do que pela afirmação de suas ideias. Almeida cita três destas rejeições: do legado petista, da corrupção e da crise econômica.

Mas basear-se somente nisso é perigoso, afirma o professor, porque a força da negação do passado tende a se esvair com o tempo. É preciso algo mais.

“O que desejamos? Queremos voto distrital puro, misto ou como está? Como serão as candidaturas? Como serão as regras de formação dos partidos? Defenderemos modelos de governança baseados em quais tradições? Qual será a postura brasileira na política externa? Como será nossa diplomacia? Como será o sistema de saúde do Brasil? O transporte? Qual o projeto nacional para a educação? Tudo isso precisa ser pensado, ponto por ponto”, cobra ele no artigo.

A esta dificuldade, afirma o professor, soma-se um segundo problema, tão ou mais grave. Faltam técnicos e servidores de direita para tocar a agenda conservadora. Muitas vezes, diz ele, a turma destra se preocupa demais em aparecer nas redes sociais e menos em qualificar seu pessoal.

“Fazer barulho e aparecer é engraçadinho e coisa e tal, porém, a longo prazo, significa pouco. É preciso enfrentar a gestão pública com maturidade. Não é simples”, diz.

Conversei com Almeida sobre seu texto. Ele diz que o motivo de tê-lo escrito é que o momento de ser apenas crítico da esquerda já passou.

“De um modo geral a direita é reativa. No caso do governo Bolsonaro, essa reatividade é mais pronunciada”, afirma.

Para os próximos anos, é muito importante criar uma burocracia (no bom sentido da palavra) que seja alinhada aos princípios da direita.

“Existe uma dificuldade que o Bolsonaro e a direita estão enfrentando, que é a falta de quadros. Isso por uma razão simples, a direita é muito nova. Se faltam as pessoas, o gestor vai ser obrigado a manter gente de uma administração anterior sem alinhamento ideológico. Ou vai colocar gente ideológica sem experiência”, afirma.

O MBL, que se afastou do governo Bolsonaro nos últimos meses, está em pleno processo de discussão de suas estratégias para o futuro, o que deve culminar em um congresso nacional do movimento em novembro.

Para a eleição do ano que vem, Almeida sugere que o MBL se concentre em ocupar espaço em prefeituras de cidades menores, justamente para que haja um processo de formação de gestores.

“É mais fácil ter cargos executivos em cidades menores e construir a pirâmide de baixo para cima”, defende.

Como alerta o professor ao final de seu artigo, caso nada disso seja feito “a tendência da direita é caminhar a passos largos para a sua dissolução”.

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Treinamento militar inspirou música de grupo pró-Bolsonaro na Paulista https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/27/ato-na-paulista-teve-musica-inspirada-em-treinamento-militar-contra-centrao-e-mbl/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/27/ato-na-paulista-teve-musica-inspirada-em-treinamento-militar-contra-centrao-e-mbl/#respond Mon, 27 May 2019 17:40:12 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/douglas-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1058 Ao fim do ato em defesa do governo Bolsonaro deste domingo (26) na avenida Paulista, uma cena chamou a atenção do público que se dispersava.

Em frente à estação do metrô Trianon/Masp, um grupo entoava uma musiquinha descendo a lenha nos alvos principais da manifestação –centrão, Rodrigo Maia e MBL– enquanto pulava numa dança que em alguns momentos lembrava o pogo, frequente em shows punks.

A repórter Carolina Linhares filmou:

Os manifestantes são do Direita SP, grupo conservador, olavista e bolsonarista que vem crescendo desde que surgiu em 2016. Destacam-se por terem diversos membros jovens vindos da periferia de São Paulo. Um deles é o deputado estadual Douglas Garcia (PSL), que no vídeo aparece ao lado de Jhonatan Valencio, o puxador dos versos.

Esta é a letra:

O centrão oportunista quis articular
Disse que sem ministério não iria mais votar
Tá pensando que é o PT, no esquema mensalão
Mas agora é o Bolsonaro, não é mais o Lula, não

Não adianta o MBL tentar manipular
O povão veio pra rua pras reformas aprovar
O presidente tá contando com o apoio da nação
E o MBL oportunista foi vendido pro centrão

Não adianta MBL um golpe articular
O povão está na rua e ao centrão vai pressionar
Maia e Kataguiri abrindo as pernas pro centrão
Fazendo acordo com bandidos e traindo a nação

O povo não vai deixar! Viemos pra lutar por isso!
Bolsonaro eu tô contigo

Jhonatan, 24, um dos coordenadores do grupo e assessor da liderança do PSL na Assembleia Legislativa, é o autor da música, junto com Stefanny Papaiano, 36, também assessora parlamentar (a Stefanny participou de um debate com eleitores de Bolsonaro na Folha em abril).

Segundo Jhonatan, o nome deste estilo musical é “TFM”, sigla para Treinamento Físico Militar. São aquelas canções mais parecidas com gritos de guerra que militares entoam para se exercitar, geralmente correndo. Um puxa e outros repetem (os mais velhos vão lembrar da propagada da cerveja Malt 90, com o refrão “1, 2, 3, 4… 4, 3, 2, 1”).

A dupla bolou a canção na sexta-feira (24) à noite, especialmente para a manifestação. “Quisemos que fosse fácil pra decorar e mostrasse a insatisfação com o centrão e aqueles que se renderam à narrativa deles, como o MBL”, afirma Jhonatan.

A ideia inicial era gravar um vídeo chamando para a manifestação, mas não deu tempo. Então optaram pela rodinha no ato mesmo.

Já a dancinha no final foi totalmente improvisada. “O pessoal ali se empolgou”, afirma Jhonatan, que diz não ter nenhuma formação musical, apenas uma aptidão natural.

Também é coincidência, segundo ele, o fato de haver vários carecas no vídeo, e quase nenhuma mulher. “Havia mulheres também ali, elas só não aparecem no ângulo filmado. Temos muitas mulheres no movimento”, diz.

Jhonatan, no vídeo, usa uma camisa com os dizeres “gays de direita”. Garcia também recentemente se assumiu homossexual, parte de um ainda pequeno, mas crescente movimento de gays que rejeitam o ativismo LGBT e se aproximaram de Bolsonaro.

O Direita SP tinha de 50 a 70 pessoas na Paulista, além de ter participado de manifestações pelo interior de São Paulo.

Não é a primeira vez que o grupo utilizar musiquinhas. Eles têm uma em defesa do projeto Escola Sem Partido, por exemplo. “É como a gente forma os mais jovens. Para nós é normal, a gente sempre trabalhou assim”, afirma Garcia.

A ênfase nos ataques ao MBL não é por acaso. Os dois grupos disputam o mesmo público: jovens de direita atuantes nas redes sociais. À medida que um se distancia do governo Bolsonaro e engrossas as fileiras de uma direita mais crítica, o outro busca ocupar esse espaço.

“O MBL é a expressão da velha política. A população tem demonstrando rejeição a eles, que mudam de posicionamento o tempo todo. Nós sempre apoiamos o Bolsonaro, desde 2016”, afirma Jhonatan.

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Na Paulista, manifestantes esquecem o PT e escancaram o racha na direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/26/na-paulista-manifestantes-esquecem-o-pt-e-escancaram-o-racha-na-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/26/na-paulista-manifestantes-esquecem-o-pt-e-escancaram-o-racha-na-direita/#respond Mon, 27 May 2019 00:44:27 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/e9cd0182f4b7f73cff0f632314fa1d39173ccee0d321ad86627f6cd2f75bf7a3_5ceae0e4ad617-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1049 Até podiam ser vistos alguns Pixulecos na avenida Paulista, e de vez em quando alguém puxava um coro de “a nossa bandeira jamais será vermelha”.
A manifestação de apoiadores do governo, no entanto, tinha outros inimigos. Eram os “traidores”.

O centrão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os ministros do STF e o MBL (Movimento Brasil Livre) tomaram o lugar que durante muito tempo foi ocupado por Lula, Fernando Haddad ou Gleisi Hoffmann.

Um desavisado que aparecesse por ali com uma camiseta do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do MBL, correria tanto risco quanto alguém que usasse uma do PT.

Um exemplo dessa mudança de alvos ocorreu no carro de som do grupo Direita SP, quando foram lidos os nomes dos deputados federais paulistas do centrão que votaram contra a permanência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) com Sergio Moro (Justiça).

Um a um foram vaiados parlamentares de DEM, PP, MDB, PRB e outros, com destaque para Paulinho da Força (SD-SP), chamado de “maldito”.
Os do PT e PSOL foram ignorados, porque, como justificou o locutor, destas legendas nunca se esperou apoio para as pautas do governo. Era como se tivessem sido rebaixadas a uma Série B do antibolsonarismo.

Já a direita não-alinhada ao governo foi tratada como uma inimiga muito mais forte, o que revela uma disputa de espaço no conservadorismo.

O MBL apanhou muito, algo sintomático dado que era um protesto de direita. Foi chamado de “tchutchuca do centrão” e “Movimento Bumbum Livre”. Num rap improvisado, o MC Reaça mandou o movimento para a “Cuba que o pariu”, sob intensos aplausos.

Sobraram petardos também para as deputadas Janaina Paschoal (PSL), que criticou as manifestações, e Carla Zambelli (PSL), vista como titubeante na defesa dos atos.
“Eu tenho vergonha de ter votado na Janaina e ver que ela chegou lá e em cinco minutos nos esqueceu”, disse uma liderança do Direita SP no microfone.

Muitas das pessoas ali presentes apoiavam as reformas propostas por Moro e Paulo Guedes (Economia) até com mais força do que defendiam o próprio presidente Jair Bolsonaro.
Contraditoriamente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um dos principais defensores da reforma da Previdência, era criticado em cartazes e palavras de ordem. Seu pecado: tentar roubar o protagonismo de Bolsonaro.

“Ele teve 67 mil votos [na verdade, 74.232] e o Bolsonaro teve 57 milhões, não dá para comparar”, disse a empresária Milcia Ghilardi, que estava com um grupo que carregava uma faixa contra o “golpe” do parlamentarismo. “Nós votamos no Bolsonaro, é ele quem deve governar, não o Rodrigo Maia”, afirmou.
Corretor de seguros, José Alexandre Acre afirmou que “Maia usa sua inteligência para o mal”. “Ele se elegeu a duras penas, não gosta do Sergio Moro e agora se aliou ao centrão”.

Outrora idolatrado em manifestações do tipo, que incluíam até o maior símbolo de prestígio da direita –seu próprio boneco inflável–, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, foi outro a receber críticas, embora em escala menor do que a destinada ao odiado centrão.

“Ele é traíra. Tudo que o Bolsonaro fala ele é contra. É a favor do aborto, contra porte de armas, defende a Venezuela”, disse João de Andrade, bancário aposentado que veio de Araras (SP) para a manifestação.

Apoiador de Bolsonaro durante a manifestação na avenida Paulista (Nelson Almeida/AFP)

Apesar da virulência de alguns discursos, eles ficaram no limiar da defesa da ruptura institucional, mas sem cruzar essa linha vermelha, no que parece ter sido uma orientação dos movimentos de evitar qualquer posicionamento que pudesse ser classificado como antidemocrático.

Vaias a ministros do STF, pedidos de impeachment de integrantes da corte como Dias Toffoli e Gilmar Mendes (outro que já foi visto como aliado dos que estavam na Paulista) estiveram por todo lado.

Mas, excetuando-se manifestações isoladas de pessoas mais exaltadas, não se ouviu a defesa do fim do Supremo ou do Congresso Nacional.

Ninguém lembrou, por exemplo, do cabo e do soldado mencionados por Eduardo Bolsonaro como suficientes para fechar o STF.

O máximo a que se chegava eram faixas como “A Justiça se perde com esses togados do STF”. Ou o muito aplaudido discurso de um sargento, completo com sua farda do Exército, que defendeu a mudança na forma como os ministros são escolhidos, com obrigatoriedade de serem juízes de carreira.

A Paulista estava cheia, embora não intransitável. Havia muitos empresários, profissionais liberais e estudantes universitários que defendiam as reformas. Um deles, Ericon Matheus, segurava um cartaz que dizia: “Larga esse ódio e venha amar o Guedes”.

Mas também participaram muitos desempregados e moradores de bairros periféricos, todos defendendo uma reforma que vai, em última análise, reduzir direitos, o que não deixa de ser uma demonstração de força do governo.

“Vim pelo pacote do Moro, a reforma da Previdência e contra os ministros do STF. Bolsonaro está tentando governar, mas tem a interferência do Parlamento”, afirmou José Carlos de Oliveira, 21, ajudante de pedreiro em Guarulhos (SP).

Não se perdeu totalmente o clima de domingão na Paulista. Crianças tiravam fotos em cima de um caminhão do Exército estacionado (propriedade de um colecionador). Ambulantes vendiam camistas de Bolsonaro a R$ 10.

Bastões de plástico branco eram distribuídos. Mas neste domingo, não eram bonecos de Lula preso, como em outras manifestações. Tinham a frase “Congresso corrupto”, com ratos passeando pelas letras.

Bastão inflável distribuído na manifestação (Fábio Zanini/Folhapress)
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Fiasco de Macri na Argentina põe liberais brasileiros em saia justa https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/fiasco-de-macri-na-argentina-constrange-liberais-brasileiros/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/fiasco-de-macri-na-argentina-constrange-liberais-brasileiros/#respond Wed, 24 Apr 2019 10:52:36 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/macri-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=744 Saudado como uma esperança liberal para a América Latina após anos de intervencionismo econômico do casal Kirchner, Mauricio Macri mudou de rumo e deixou a direita em transe.

Em três anos e meio de mandato, o presidente argentino não conseguiu controlar a inflação e fazer a economia deslanchar com sua receita de desregulamentação e retirada de controles e subsídios. Candidato à reeleição em outubro, transportou seu país de volta aos anos 1990, pedindo socorro ao FMI. Para horror dos liberais, cometeu o sacrilégio de decretar congelamento de alguns preços. José Sarney não faria melhor.

A direita brasileira, que o via como um modelo em 2015, agora busca explicações, e não esconde a decepção.

“Foi um alívio a eleição dele num momento em que a Venezuela endurecia seu regime e o esquerdismo tinha várias vitórias no continente. Não deixa de ser decepcionante o que vemos agora”, diz o deputado Marcel van Hattem (RS), líder do Novo na Câmara dos Deputados, que atuou como observador na eleição de Macri.

O deputado é ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), grupo que na época festejou a vitória do candidato. “Macri assumiu a Argentina há menos de duas semanas e está tomando uma política econômica antagônica à de Dilma. Daqui a um tempo veremos o resultado dessa nova argentina, e o caminho tomado pelo Brasil”, disse o movimento em um tuíte de dezembro de 2015.

O argentino, no começo, procurou tirar algumas amarras da economia, como o controle do câmbio. Também acabou com a manipulação dos índices de inflação. Mas não conseguiu combater o déficit público e não consertou o problema crônico argentino de dependência de capital estrangeiro. Quando os recursos secaram, houve choque de juros, ataque à moeda e recessão profunda.

O fiasco argentino, diz Van Hattem, se deve à resiliência de décadas de populismo e intervencionismo no país. “Fica claro que no caso do liberalismo as ideias são maiores do que as pessoas”, diz ele, que ainda acha Macri uma opção melhor que o retorno de Cristina Kirchner. “O ideal seria surgir outro candidato, verdadeiramente comprometido com o liberalismo”, afirma.

Outra que comemorou a vitória de Macri foi a então senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS). “A eleição de Maurício Macri entra para a história da Argentina e da América Latina porque coloca fim a 12 anos de kirchnerismo. Ficou evidente que a sociedade argentina quer mudar o rumo, quer uma nova maneira de governo”, discursou na época, no plenário do Senado.

Hoje, ela diz que lamenta que o governo não tenha dado certo. “As medidas tomadas contrariam o histórico dele, de empresário liberal”, afirma a ex-senadora. Para ela, o desempenho “acende uma luzinha amarela” nos liberais brasileiros. “É sempre bom ficar de olho no que acontece lá”, afirma.

Ana Amélia prefere, no entanto, esperar o efeito que as medidas intervencionistas terão na economia argentina antes de dar um veredito final. “Não dá para fazer uma projeção de que ele errou ou acertou neste momento. Temos que esperar os resultados”, afirma.

Para Paulo Gontijo, presidente do grupo Livres, Macri errou na dose de liberalismo, que foi muito fraca. “Ele escolheu um caminho gradual numa economia que ainda é muito fechada e muito controlada. Não enfrentou os sindicatos, por exemplo”, afirma.

Segundo ele, Macri está pensando apenas nos efeitos políticos de curto prazo, para ter alguma chance de vitória eleitoral. “A gente já viu esse filme. O resultado é um desastre absoluto. Mas traz dividendos políticos de curto prazo”, diz.

Gontijo discorda que o fracasso argentino coloque em xeque as ideias liberais no continente. “Os liberais não estão envergonhados. Estão denunciando o que houve na Argentina até mais do que a esquerda”, diz.

Gianluca Lorenzon, ligado a dois institutos liberais (Mises Brasil e Clube Farroupilha), diz que Macri decepcionou desde o início. “Acho que o erro foi a esperança liberal nele”, diz.

Para ele, que ocupa um cargo técnico no Ministério da Economia, o desempenho foi frustrante, mas esperado.

“Infelizmente a promessa liberal nunca se concretizou. Apesar de alguns acenos no início, nada concretamente liberal foi proposto. Inclusive ele iniciou o mandato com estatizações, sem sequer reverter as políticas estatistas de Cristina”, diz.

Lorenzon estudou com alguns colaboradores do governo Macri e diz que desde sempre os argentinos viam o discurso liberal como radical. “Se ele fosse, de fato, liberal, muita coisa teria sido diferente. Pessoas que acham o liberalismo algo radical estão fadadas ao fracasso econômico, cedo ou tarde”, declara.

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Golpe ou revolução? O que pensa a nova direita sobre o 31 de março de 1964 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/29/golpe-ou-revolucao-o-que-pensa-a-nova-direita-sobre-o-31-de-marco-de-1964/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/29/golpe-ou-revolucao-o-que-pensa-a-nova-direita-sobre-o-31-de-marco-de-1964/#respond Fri, 29 Mar 2019 11:36:26 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/castello-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=456 O golpe militar de 1964 completa 55 anos no próximo domingo, dia 31 de março. O assunto, nunca totalmente pacificado no debate político, está pegando fogo neste ano por causa de um certo Jair Messias Bolsonaro, capitão reformado do Exército que agora também preside o país.

Bolsonaro nunca escondeu sua simpatia pelo movimento que derrubou João Goulart. Minimiza as violações de direitos humanos, que deixaram 434 mortos ou desaparecidos, segundo a Comissão Nacional da Verdade. Nega que tenha havido uma ditadura.

Para a velha guarda, revolução é o termo mais correto: impediu-se, segundo essa visão, que o Brasil aderisse ao campo comunista.

E o que pensam as novas gerações sobre esse tema? Fui atrás de jovens lideranças que estão reerguendo a bandeira da direita em diversos estados, após décadas de hibernação.

Obviamente, eles não têm a menor relação pessoal com 1964. Suas opiniões dão um bom termômetro de como é visto um evento que ainda hoje define a direita brasileira.

Dos 12 representantes que ouvi, 4 classificam os acontecimentos de 31 de março de golpe, 4 de contrarrevolução e 1 de contragolpe. Os outros 3 não disseram como denominam o evento.

Sintomaticamente, ninguém usou a palavra revolução. Veja o resultado da enquete:

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Nome: Carla Zambelli

Idade: 38

Grupo: Nas Ruas (está afastada desde que foi eleita deputada federal pelo PSL-SP)

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“Estava em curso um movimento de implantação do comunismo no país e isso levou à destituição do presidente, aprovada pelo Congresso e seguindo um clamor popular. O plano era devolver em algum momento o poder aos civis, e isso foi feito. É fato que sempre que há movimentos assim, erros são cometidos, e isso ocorreu dos dois lados. Não foi um regime perfeito.”

*

Nome: Douglas Garcia

Idade: 25

Grupo: Direita SP (é deputado estadual pelo PSL-SP)

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“1964 foi um movimento civil de reação à ameaça estrangeira patrocinada pelo bloco soviético, que atuava de formal ilegal e clandestina no governo e na sociedade brasileira da época, resultando na derrubada do governo Jango com apoio massivo do povo.”

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Nome: Ednaldo Emerson

Idade: 35

Grupo: Conservadores Pernambuco

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“Por diversos registros históricos podemos afirmar que ocorreu uma contrarrevolução que impediu a instalação da ditadura do proletariado pretendida por grupos terroristas. Ela teve apoio inicial da sociedade civil e passou por períodos turbulentos, mas não foi tão nefasta como tentam impregnar, do contrário um capitão do Exército não teria chegado à Presidência. É importante destacar que por muito tempo o Exército mantém o prestígio de ser uma das instituições com maior credibilidade perante a população em geral.”

*

Nome: Fernando Holiday

Idade: 22

Grupo: MBL (é vereador pelo DEM em São Paulo)

Golpe ou revolução? Golpe

“Foi um golpe, apesar de ter havido amplo apoio popular. Uma discussão possível é se o golpe foi dado em 1964 ou 1968, com o AI-5. Mas para mim foi mesmo em 1964. Havia realmente um contexto de o governo Goulart ter dado uma guinada à esquerda, mas acho que não havia risco de revolução socialista. A herança econômica dos militares foi terrível, e a política também, porque acabou fortalecendo a esquerda. Foi tudo negativo, portanto.”

*

Nome: Gianluca Lorenzon

Idade: 26

Grupo: Clube Farroupilha, de Santa Maria (RS)

Golpe ou revolução? Não respondeu

“Existia um risco, como vimos nos documentos divulgados pela República Tcheca, e a gente precisa entender que dentro do contexto parece que alguma coisa precisava ser feita. Se ela foi completamente, correta, a gente não sabe, é difícil julgar.  Eu não tenho conhecimento para afirmar. Os arquivos dos EUA estão abertos, mas os da Rússia, não. Então, é muito inocente da nossa parte acreditar piamente que um país que tinha aquele poder militar [soviético] não poderia fazer algo que parecesse interno [no Brasil.”

*

Nome: Guilherme Moretzsohn

Idade: 33

Grupo: Instituto de Formação de Líderes, de Belo Horizonte (MG)

Golpe ou revolução? Golpe (mas depois de 64)

“Definir se foi golpe ou revolução o que ocorreu não é tão simples . O entendimento clássico do que seria uma revolução não se aplica; porém, a história mostra que o que estava ocorrendo era um alinhamento com um pessoal que entende tudo de golpe. Não há como negar o flerte incestuoso entre João Goulart e o bloco comunista, e manchetes da época comprovam que o Brasil estava uma baderna ainda maior do que o habitual.

Golpes sucessivos foram dados depois, com a permanência prolongada dos militares no poder. Golpes de caneta, como o AI-5; ou golpes de cassetete do DOI-CODI. Inebriados pela paixão que só o poder provoca, generais demoraram demais para largar o osso.”

*

Nome: Lucas Ferrugem

Idade: 26

Grupo: Brasil Paralelo, de Porto Alegre (estão lançando o documentário “1964: o Brasil entre Armas e Livros”)

Golpe ou revolução? Nenhum dois dois. Foi um contragolpe

“O termo que você escolher para definir os acontecimentos de março de 1964, seja qual for, certamente reduz seu ensinamento: a democracia não é uma fórmula mágica. As fantasias de que um modelo de Estado pode estar acima de todos os homens que os criam, gerenciam e apoiam sempre vão sofrer quando defrontadas com a realidade. Considerando todos os fatos em jogo e tentando me afastar das paixões, julgo contragolpe um termo mais adequado.”

*

Nome: Mateus Siqueira

Idade: 23

Grupo: Instituto Tropeiros, de Campina Grande (PB)

Golpe ou revolução? Não respondeu

“Vejo a ditadura não como um movimento isolado. Vejo a falha do Estado Democrático de Direito, desde a queda da Monarquia. É de se estranhar que, após a queda da monarquia, a República tenha falhado constantemente, desde a República Velha até a Constituição de 1988. Há de se notar esses períodos conflitantes não somente na ditadura, mas também no Estado Novo de Vargas. Acredito que o problema do nosso país foi a perda da herança que vínhamos construindo havia séculos com a Monarquia, o que por si só, com as peculiaridades de sua época, chega a ser mais estável que qualquer governo hoje.”

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Nome: Paulo Gontijo

Idade: 37

Grupo: Livres

Golpe ou revolução? Golpe

“O golpe de 1964 inaugurou um período nefasto na história do Brasil. Marcado por mortes de opositores e jornalistas, censura, tortura e perseguição política. A ditadura civil militar brasileira causou ainda um desastre econômico, implementando políticas populistas guiada por estatismo em seu grau máximo. O protecionismo nacionalista e a criação da bomba-relógio da hiperinflação marcaram a época, que ainda contou com a criação de centenas de estatais.

Os 21 anos de ditadura vividos no país se basearam em autoritarismo e arrogância estúpida, que empobreceu a população e ampliou nossas desigualdades estruturais. Quem realmente tem compromisso com a liberdade não apoia nenhum tipo de ditadura. Não importa se de esquerda ou direita, nenhum regime autoritário deve ser celebrado”.

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Nome: Pedro Holanda

Idade: 27

Grupo: Caruaru Livre

Golpe ou revolução? Golpe

“Há talvez elementos que deram fundamentos para intervenção política naquele momento. O que descaracteriza ser um golpe tomado pela força. Porém não podemos negar que houve uma ruptura institucional significativa e que precedeu um período de ausência de democracia.
O uso da palavra golpe pra mim não é equivocado tendo em vista que se instaurou um regime em seguida que quebrou instituições.”

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Nome: Anamaria Camargo

Idade: 52

Grupo: Instituto Liberdade e Justiça, em Salvador (BA), e líder do movimento Educação sem Estado

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“O ‘31 de março de 1964’ foi uma resposta estatal a uma revolução que se armava: a versão brasileira da Guerra Fria que o mundo vivia. A ameaça de uma tomada de poder por aqueles que defendiam uma ditadura comunista foi respondida inicialmente com uma contrarrevolução de direita, através de um aparelho repressivo razoavelmente seletivo — ainda que eticamente condenável porque perpetrada pelo Estado. Com o passar tempo, no entanto, tanto a ação como a reação se radicalizaram. Se as guerrilhas comunistas, que causaram mortes inclusive dentre os seus, tivessem arrefecido logo, possivelmente não chegaríamos aos piores anos de chumbo, de tortura e assassinatos em prisões.

Esta constatação obviamente não serve como justificativa para o que se seguiu: o soldado que mata o inimigo no combate nem de longe se assemelha ao Estado que mata indivíduos que estão sob seus “cuidados”. Entendo o argumento de que tivemos que pagar um preço pela liberdade que temos hoje, mas gostaria muito que tivéssemos barganhado um preço menos aviltante. Por outro lado, diante de comemorações pelos 100 anos da revolução russa, apesar dos milhões de mortes causados pelo comunismo, é difícil acreditar que não estaríamos muito pior se o resultado do ‘31 de março’ houvesse sido outro.”

*

Nome: Vinicius Poit

Idade: 33

Grupo: Novo (é deputado federal por SP)

Golpe ou revolução? Não respondeu

“Nenhuma forma de ditadura deveria ser defendida em pleno século 21. Assim como condeno as ditaduras de esquerda que assolam a América Latina nos dias de hoje, também condeno os regimes autoritários de direita que feriram o Estado de Direito nos países onde foram implementados. Os fins nunca justificarão os meios.”

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Atacado por Joice, Kim diz que articulação é catástrofe e que reforma morreu https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/25/atacado-por-joice-kim-diz-que-articulacao-e-catastrofe-e-que-reforma-morreu/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/25/atacado-por-joice-kim-diz-que-articulacao-e-catastrofe-e-que-reforma-morreu/#respond Mon, 25 Mar 2019 17:38:38 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/kim-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=422 O barraco do dia no Congresso veio de uma troca de farpas entre a líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), e o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do MBL (Movimento Brasil Livre).

Ex-aliados durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, eles bateram boca por causa da articulação política (ou falta dela). O clímax foi Joice chamando Kim, 23, de “moleque” e sugerindo que ele “pegue a chupeta e vá nanar”.

Ouvi Kim sobre o imbróglio. Ele critica a articulação do governo e diz que a reforma da Previdência morreu.

*

 

O que o sr. achou do tuíte da deputada Joice Hasselmann que o chama de moleque? Quando entra no terreno da baixaria, prefiro não responder. Minha crítica é à articulação política do governo.

E qual sua avaliação? É uma catástrofe.

Por culpa de quem? É principalmente por causa do perfil do Bolsonaro, de não querer dialogar com o Congresso, de não querer receber parlamentares, de falar para todos os ministros fecharem as portas, de não escutar os projetos. Ou seja, de não fazer articulação republicana. O governo está tentando transformar a articulação em sinônimo de corrupção. Quando na verdade é escutar os projetos [dos parlamentares] para eventualmente encaminhar nos estados. Construir pontes, fazer hospitais, é legítimo também. Isso não tem nada a ver com corrupção.

Como o sr. avalia as escolhas dele para sua liderança no Congresso? Ele ficou traumatizado com o erro do major [Major Vitor Hugo, do PSL-GO, líder do governo na Câmara], que é um cara que não se impunha com os líderes, e aí acabou exagerando, tentando apagar o fogo com pólvora, nomeando a Joice.

Que consequência o estilo dela pode ter? O efeito que gera é que quanto mais parlamentares ela ataca, mais sentimento de corpo contra o governo gera nos outros parlamentares.

Com essa situação, qual o futuro da reforma da Previdência? A reforma encaminhada pelo governo morreu, não tem chance de ser votada e aprovada. Mas acho que também tem um senso de responsabilidade aqui de boa parte dos parlamentares. E mesmo a pressão dos governadores, que faz efeito. Acredito que talvez a gente retome o texto do Arthur Maia [relator da proposta apresentada no governo Temer], o que resolveria o problema a curto prazo da Previdência e ao mesmo tempo o centrão não seria derrotado.

Essa morreu por quê? Principalmente pela questão dos militares, mas pelo conjunto da obra. Pela falta de tato do governo. No caso dos militares, dizer que a economia vai ser de R$ 90 bi, quando na prática vai ser de R$ 10 bi.

Esses ataques da Joice são dela, ou vem uma ordem de cima, do Palácio? Eu acho que é a linha geral do governo, mas também vem ao encontro da personalidade dela.

Vocês tinham uma boa relação no passado, por exemplo durante o impeachment de Dilma, não? Sim. Estivemos juntos. Mas ela não reconhece que o trabalho dela não está funcionando. E há um sentimento de que a única direita possível é a do Bolsonaro.

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