Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 De Trump a Bolsonaro, como identificar (e enfrentar) um populista? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/#respond Fri, 21 Feb 2020 08:49:10 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/palmer-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2400 Populismo é o grande mal dos nossos dias.

Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos EUA, Nicolás Maduro na Venezuela, Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, a lista é imensa. Para combatê-los, a receita é simples: doses cavalares de liberalismo.

A opinião foi expressa há 20 dias em São Paulo por Tom Palmer, vice-presidente mundial da maior organização liberal internacional, a Atlas Network.

Defensora do Estado mínimo tanto na economia como nos costumes, a Atlas influencia diversas organizações mundo afora. No Brasil, Palmer deu uma palestra a convite do grupo Livres.

Para ele, o populismo é bastante heterogêneo, a começar pelo fato de que pode ser de direita ou de esquerda. Mas há algumas ideias centrais que são comuns a todos os populistas.

“Os populistas sempre exploram o fato de haver um inimigo do povo”, diz Palmer. Os nazistas escolheram os judeus; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi identificou os muçulmanos como inimigos; na esquerda europeia, em movimentos como o espanhol Podemos, a culpa é dos super-ricos.

“Temos um inimigo, e precisamos de um líder forte para combatê-lo. Esse é o discurso”, afirma Palmer.

O segundo ponto é a identificação total do líder com a população. O venezuelano Hugo Chávez, um dos grandes populistas do nosso tempo, dizia que ele e o povo eram apenas uma entidade.

“Chávez não sou apenas eu. Chávez é um povo. Somos milhões. Vocês também são Chávez!”, disse o líder, num discurso resgatado por Palmer.

No Brasil, tivemos um exemplo praticamente idêntico de nosso maior populista de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao ser preso disse, para a multidão que o acompanhava: “Eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês”.

Terceiro ponto: estar em batalha permanente. Aqui, Trump é o mestre absoluto. Tudo para ele é um conflito, como no caso da disputa comercial com a China.

“Trump considera o comércio uma batalha. Isso é insano. Quando você compra um sorvete, você está lutando contra ele?”, pergunta Palmer

A quarta característica apontada por ele é a defesa imediata da ação. Não há tempo para debates, considerações ou ponderação. O povo tem pressa, e é preciso trazer rápido as mudanças que a sociedade reclama.

Nessa toada, abusos são cometidos, regras são quebradas, negociações são descartadas. Se você identificou Bolsonaro aqui, ponto para você.

Por fim, se o populismo é o grande mal do nosso tempo, as notícias falsas são o grande mal do populismo. Uma espécie de mal ao quadrado.

Às vezes, é a invenção crua de fatos, como fez Trump ao divulgar, contrariando fotos, que sua posse, em 2017, foi a maior da história.

Aquele episódio levou à criação do termo “fatos alternativos” por uma de suas assessoras, um eufemismo para mentiras. De novo, é algo que podemos ver em outras partes do mundo.

Embora radicado nos EUA, Palmer, de 64 anos, é alemão. Quando jovem, nos anos 80, era membro de uma rede liberal europeia que contrabandeava livros e máquinas de xerox para países do bloco soviético. Espalhava as ideias de luminares como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e Frederic Bastiat.

Para ele, o que leva ao populismo é a sensação de melancolia do homem branco, que nas últimas décadas viu seu status relativo na sociedade ser questionado pelo avanço das mulheres e das minorias no ambiente de trabalho e nas universidades.

Palmer diz que apenas a diminuição do peso do Estado pode combater o populismo. E ele não diferencia suas versões à esquerda ou à direita.

“Populismo de esquerda e direita é como estricnina nos sabores baunilha e chocolate”, afirma.

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Prefeito de Teresópolis (RJ) alinha-se a Witzel e deixa movimento liberal https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/19/prefeito-de-teresopolis-rj-alinha-se-a-witzel-e-deixa-movimento-liberal/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/19/prefeito-de-teresopolis-rj-alinha-se-a-witzel-e-deixa-movimento-liberal/#respond Sat, 19 Oct 2019 15:31:35 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/claussen-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1955 O movimento liberal Livres e o prefeito de Teresópolis, Vinicius Claussen, estão de divorciando. O pivô do afastamento é ninguém menos que o governador do Rio, Wilson Witzel.

Claussen decidiu alinhar-se a Witzel e está trocando o Cidadania, pelo qual foi eleito num pleito tampão no ano passado, pelo partido do governador.

Para o Livres, grupo que é crítico ao estilo linha dura do chefe do Executivo fluminense, a mudança foi inaceitável.

“O movimento [Livres] acredita que segurança pública é um dos principais problemas a serem enfrentados no Rio de Janeiro e que Witzel tem adotado uma política de extermínio e violação de direitos humanos contra a população carioca”, diz em nota o grupo.

Claussen era uma espécie de porta-bandeira do Livres no Executivo, e vinha demonstrando como aplicar na prática o ideário de abertura à iniciativa privada, Estado mínimo e administração pública nos moldes da que é feita nas empresas.

Em agosto, numa entrevista ao blog, ele afirmou que seus objetivos eram “planejamento, foco em resultado, indicadores, metas, monitoramento, informatização”.

Mas, segundo Paulo Gontijo, presidente do Livres, o governador “relativiza as garantias fundamentais que o liberalismo trouxe para a humanidade”. “Não podemos compactuar com isso. Os valores de liberdade individual e respeito aos direitos humanos são inegociáveis para nós”, afirmou.

Segundo ele, a decisão foi tomada de comum acordo. “Torcemos para que o prefeito siga defendendo princípios liberais em sua administração, mas não é possível continuarmos juntos”, disse Gontijo.

O Livres, criado em 2015, é um movimento suprapartidário, dentro do espírito dos novos tempos, de fazer política fora da camisa de força das legendas tradicionais. Tem entre seus membros filiados a partidos como Cidadania, Rede, Novo, PSB e PSDB.

Para pertencer ao grupo, todos precisam ter o compromisso de seguir as ideias de liberalismo econômico e de costumes.

O grupo chegou a se filiar ao PSL no passado, mas deixou o partido no começo de 2018, quando o presidente Jair Bolsonaro juntou-se à legenda.

Como mostrei aqui na sexta (18), eles agora acompanham com indisfarçável alívio à guerra fratricida no partido do presidente.

Claussen, um empresário, foi eleito prometendo resgatar a cidade da serra fluminense, a 90 km do Rio de Janeiro, após uma sucessão de prefeitos afastados por corrupção. Confiante no trabalho que vem fazendo, quer disputar a reeleição no ano que vem. Agora, grudado no governador.

Por meio de sua assessoria, o prefeito confirma que a saída do Livres foi tomada de comum acordo e assegura que se mantém fiel aos princípios liberais.

“Acredito no liberalismo econômico, na redução equilibrada da intervenção estatal”, diz ele, que afirma que seu objetivo é “tornar a administração pública mais leve e voltada para as vocações e necessidades básicas do município e o estímulo ao empreendedorismo para gerar oportunidades, renda e desenvolvimento”.

O alinhamento a Witzel, de acordo com Claussen, ocorreu porque o governador tem sido um forte apoiador da sua gestão.

“Ele também representa uma ruptura com o modelo de gestão ultrapassado que faliu Teresópolis e o estado do Rio. Nosso alinhamento é em torno de um projeto comum de reconstrução e desenvolvimento econômico e social do município”, declara.

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‘Nós avisamos’, diz, aliviado, grupo que perdeu PSL para Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/18/grupo-que-perdeu-psl-para-bolsonaro-se-diverte-com-briga-no-partido/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/18/grupo-que-perdeu-psl-para-bolsonaro-se-diverte-com-briga-no-partido/#respond Fri, 18 Oct 2019 18:32:54 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Livres2-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1940 Pense numa pessoa aliviada. Pensou? Agora multiplique por dez.

Esse é o sentimento de Paulo Gontijo, presidente do Livres, grupo liberal que está acompanhando de camarote a confusão no PSL.

A explicação é que o Livres escapou de estar no meio da brigalhada no partido (ainda) do presidente Jair Bolsonaro.

“É uma novela mexicana de segunda divisão“, resume Gontijo. “É até difícil acompanhar: fulaninho que trai beltrano, um que passa a perna no outro, a Carla Zambelli que xinga a Joice Hasselmann e é xingada de volta…”

Numa era distante, em que Bolsonaro era apenas um deputado federal do baixo clero cuja pretensão de disputar a Presidência era vista com descrédito, o Livres surgiu com uma nova proposta. Ser um raro movimento liberal na economia e também nos costumes.

Criado em 2015, reuniu gente de peso, como os economistas Persio Arida e Elena Landau, e começou a procurar um partido para se hospedar. Chegaram ao PSL, que era apenas uma legenda nanica e buscava um novo projeto. Deu match.

Os líderes do Livres filiaram-se ao partido e começaram a controlar diretórios estaduais. Chegaram a dominar 12 deles. Tinham como aliado Sergio Bivar, presidente da fundação do partido e filho do carique da legenda, Luciano Bivar.

Sergio, hoje afastado da política, tinha uma cabeça liberal, bem diferente da do pai, um deputado e ex-cartola (do Sport) que disputou a Presidência em 2006, quando obteve 0,06% dos votos.

Mas aí, lá para o final de 2017, as coisas começaram a ficar estranhas. Bolsonaro, de saída do PSC, começou a procurar um partido que pudesse controlar. Acenou para o Patriota, mas começou a negociar sua filiação ao PSL com Bivar.

O Livres incomodou-se. Afinal, apesar dos acenos de Bolsonaro a políticas econômicas liberais, o discurso conservador e as bravatas do presidenciável incomodavam. Gontijo foi tirar satisfação com Bivar, que garantiu: era tudo especulação.

O Livres acreditou e colocou um comunicado em seu página no Facebook garantindo que Bolsonaro não se filiaria ao PSL.

Comunicado do Livres divulgado em dezembro de 2017 (Reprodução)

Menos de um mês depois, em janeiro de 2018, a especulação virou realidade. Bolsonaro entrou e o Livres saiu.

Hoje, o grupo se mantém como um movimento suprapartidário, com filiados espalhados por partidos como Cidadania, PSDB, PSB, Novo e Rede.

“O PSL virou briga na pelada da várzea, um negócio horroroso”, afirma Gontijo.

Apesar da indisfarçável schadenfreude, ele acha a situação “institucionalmente ruim” para o país.

“É triste que a principal legenda de apoio ao governo esteja se comportando dessa forma. É o que acontece quando você não tem um projeto de verdade. O PSL é um bando, que se juntou apenas por um projeto de poder”, afirma.

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É possível tratar cidade como empresa? É o que quer o prefeito de Teresópolis https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/e-possivel-tratar-cidade-como-empresa-em-teresopolis-o-prefeito-acha-que-sim/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/e-possivel-tratar-cidade-como-empresa-em-teresopolis-o-prefeito-acha-que-sim/#respond Tue, 13 Aug 2019 11:42:33 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/teresopolis-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1561 Se você se impressionou com o discurso de campanha de João Doria de que é um gestor, e não um político, provavelmente vai achá-lo comedido em comparação ao do prefeito de Teresópolis (RJ), Vinicius Claussen.

Eleito há um ano para comandar a cidade da serra fluminense para um mandato-tampão, Claussen, 40, não tem problema em dizer com todas as letras que seu objetivo é transformar a prefeitura numa empresa.

Ele é, afinal, o único prefeito brasileiro ligado ao Livres, um grupo que defende o liberalismo acima de tudo e a iniciativa privada acima de todos.

Formalmente filiado ao Cidadania, novo nome do PPS, Claussen pegou uma cidade em estado de terra arrasada.

“Os objetivos são planejamento, foco em resultado, indicadores, metas, monitoramento, informatização. Dou o exemplo de uma empresa porque a administração pública tem de ser tratada dessa maneira”, diz ele, que diz ter chegado ao cargo com uma estrutura do século 19 para atender a demandas do século 21.

Teresópolis, a 90 km do Rio de Janeiro, tem 180 mil habitantes e é famosa por ser uma estância climática, pelo pico Dedo de Deus e por sediar a Granja Comary, onde se concentra a seleção brasileira de futebol.

No últimos tempos, ficou famosa também por tragédias naturais, como as chuvas de 2011, que deixaram quase 400 mortos, e por escândalos de corrupção em série que derrubaram um prefeito após o outro.

Claussen afirma que sua receita de austeridade fiscal e modernização da gestão já conseguiu tirar a cidade do cadastro de inadimplência de convênios e regularizar os salários de servidores públicos.

O passo seguinte, diz ele, é avançar na receita de liberalismo, com um amplo programa de privatizações e a saída do poder público mesmo de alguns setores tidos como estratégicos. Nem a Saúde escapa.

“Não vale a pena termos um hospital municipal, que custa duas vezes mais que um particular. Podemos ter parcerias com empresas e fundações, que têm foco, investem em capacitação, conseguem produtividade muito maior”, afirma.

Não que sua administração chegue ao extremo de pregar um Estado totalmente ausente da prestação de serviços à população. Claussen, nesses primeiros 12 meses de governo, tomou algumas medidas que, à primeira vista, não diferem em nada de colegas Brasil afora que seguem expandido a máquina.

Comprou ambulâncias, contratou médicos e até deu aumento de salário para os servidores públicos. Ele não vê contradição entre discurso e prática.

“Temos que entender o que é custo e o que é investimento”, diz ele. “Não posso virar uma chave e negligenciar a estrutura do município”, afirma.

Seu balanço de um ano de governo traz algumas coisas curiosas. Uma é a ação que estimula a regularização de imóveis, que ganhou o sugestivo nome de Lei da Mais Valia.

“Mais valia” é um dos conceitos-chave do marxismo, que seria o excedente de valor de uma mercadoria após os meios de produção e o trabalho envolvidos na sua manufatura serem computados. Em outras palavras, é o lucro que o capitalista aufere no processo produtivo.

O prefeito jura que o nome não é uma provocação. “Não, de jeito nenhum, a gente respeita a direita, a esquerda, o centro”, diz.

Outro termo emprestado da esquerda que Claussen utilizar é o “empoderamento feminino”, que, para ele, é a condição dada à cidadã de empreender.

E numa cidade com tantas carências e ainda traumatizada, a receita de menos Estado é apropriada? Ele acha que sim.

“A rua representa o capitalismo, o movimento livre. A gestão pública tem que ter uma estrutura mais enxuta, tem que agir regulamentando e abrindo oportunidades para as pessoas empreender”, afirma.

Em outras palavras, diz ele, a ordem é desburocratizar.

Na sua avaliação, a crise econômica que se arrasta desde 2015 teve ao menos um efeito positivo, o de conscientizar as pessoas de que não podem depender tanto do Estado.

“Com esse aperto financeiro, as pessoas tiveram de se reposicionar. Isso é um amadurecimento importante”, afirma.

Se der certo, a receita liberal do prefeito, que tem poucos paralelos Brasil afora, pode servir de modelo para outros gestores.

Claussen está confiante. Vai disputar a reeleição?. “Com certeza”, responde.

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Documentário mostra como o real vingou contra todas as probabilidades https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/03/documentario-mostra-como-o-real-vingou-contra-todas-as-probabilidades/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/03/documentario-mostra-como-o-real-vingou-contra-todas-as-probabilidades/#respond Sat, 03 Aug 2019 05:00:36 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/FHC-Livres-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1511 Em 25 anos, o Plano Real ganhou o status de mito fundador da nossa moderna economia, a ponto de as gerações mais novas terem dificuldades de conceber como era a vida antes desse grito do Ipiranga monetário. Porém, é só assistindo a depoimentos dos pais fundadores da moeda que se percebe como a complexa obra de engenharia econômica que derrubou a inflação só deu certo por uma combinação de fatores altamente improvável.

Em resumo, tinha tudo para dar errado, como fica claro no recém-lançado documentário “Real: Muito Além de uma Moeda”, produzido pelo grupo liberal Livres para marcar um quarto de século do plano.

O filme entrevista os principais responsáveis pelo real, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros Pedro Malan e Rubens Ricupero e quase todos os principais economistas responsáveis pela concepção e execução do plano, como Persio Arida, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Elena Landau. Chama a atenção a ausência de André Lara Resende, coautor do celebrado “Larida”, o paper escrito com Arida em 1983 que depois seria uma das principais bases da concepção da nova moeda.

Segundo o Livres, a opção foi por focar em depoimentos sobre a implantação do plano, e diversas pessoas acabaram ficando de fora, incluindo Lara Resende.

“[O real] Foi um acaso. Não era para ter acontecido”, afirma Arida no filme. O ceticismo àquela altura como mais um plano de estabilização após sucessivos fracassos dominava o país, que tinha em Itamar Franco um presidente titubeante e em FHC um ministro da Fazenda que não era da área. A própria decisão de Itamar de colocar FHC como seu quarto ministro da pasta foi um lance arriscado de criatividade política que depois se revelaria magistral.

A grande pergunta, obviamente, era se a criação de uma moeda intermediária para neutralizar a inércia inflacionária (a URV) antes da chegada da definitiva (o real) seria algo que migraria dos modelos teóricos, em que parecia funcionar muito bem, para a vida real.

Era algo nunca tentado em lugar nenhum do mundo, e poucas vezes a expressão jabuticaba caiu tão bem numa discussão econômica. Como diz FHC no filme em tom de blague, a URV foi a primeira moeda virtual criada, duas décadas antes de isso virar moda.

Não menos importante, havia a batalha da comunicação, a de explicar o mecanismo de conversão do cruzeiro real para a URV e convencer as pessoas de que dessa vez não haveria congelamento. Um cidadão especialmente cético dava expediente no Palácio do Planalto. Itamar, lembra FHC, era adepto da filosofia “prende o Abílio e faz congelamento”, em referência a Abílio Diniz, à época na rede de supermercados Pão de Açúcar e símbolo do setor varejista, com suas maquininhas de remarcar preço. Como se sabe, o empresário continuou livre, assim como os preços.

Dobrar a desconfiança de Itamar e fugir de sua insistência em congelamento e aumentos do salário mínimo foram parte importante do desafio, como registra Ricupero em passagens divertidas do documentário. “Quando tocava o telefone, palpitava meu coração”, relembra Ricupero, que assumiu a Fazenda em razão da candidatura presidencial de FHC e ficou no cargo até ser derrubado pelo “escândalo da parabólica” (não mencionado pelo filme, aliás).

Para ser justo, não era apenas Itamar que trabalhava contra seu próprio plano, mas uma parte considerável da classe política, incluindo importantes caciques do PSDB. O então deputado José Serra, relembra Bacha, tinha diversas ressalvas ao plano. Mas nada se comparava a Mario Covas, àquela altura a principal liderança do partido, que manifestava hostilidade aberta ao real em reuniões internas, embora para o público externo o defendesse.

O documentário tem ricas imagens da luta anti-inflacionária ao longo de décadas e faz um bom trabalho de garimpagem de momentos memoráveis da saga que arrastou dezenas de ministros e destruiu reputações.

Aos olhos de hoje, a entrevista coletiva da então ministra Zélia Cardoso de Mello anunciando o confisco da poupança parece extraída de uma outra era, mais surreal (é provável que o mesmo seja dito sobre nossa política atual daqui a 25 anos).

Como afirma Gustavo Franco num depoimento, vencer a inflação era como estar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Uma turma de jovens ia para o front, morria e era substituída por outra, num ciclo interminável.

Por vezes, a sucessão de depoimentos sem muito roteiro é cansativa, e fica a sensação de que a produção poderia ter sido enxugada um tanto.  A ideia dos realizadores é reduzir a versão apresentada na pré-estreia na última terça-feira (30) de 100 para 60 minutos.

No fim, o foguete lançado um tanto no escuro, na imagem usada por Malan em seu depoimento ao documentário, cumpriu sua missão e, mesmo enfrentando percalços como o da caótica desvalorização de janeiro de 1999, consolidou-se. Ficaram para trás as imagens de consumidores esbaforidos pelos corredores de supermercados nos anos 1980, atrás de produtos antes que subissem de preço ou sumissem da prateleira.

Como definiu um consumidor numa entrevista que o filme resgata, era “a Olimpíada da carne”. Graças ao real, ao menos dessa tragicomédia nos livramos.

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Fiasco de Macri na Argentina põe liberais brasileiros em saia justa https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/fiasco-de-macri-na-argentina-constrange-liberais-brasileiros/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/fiasco-de-macri-na-argentina-constrange-liberais-brasileiros/#respond Wed, 24 Apr 2019 10:52:36 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/macri-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=744 Saudado como uma esperança liberal para a América Latina após anos de intervencionismo econômico do casal Kirchner, Mauricio Macri mudou de rumo e deixou a direita em transe.

Em três anos e meio de mandato, o presidente argentino não conseguiu controlar a inflação e fazer a economia deslanchar com sua receita de desregulamentação e retirada de controles e subsídios. Candidato à reeleição em outubro, transportou seu país de volta aos anos 1990, pedindo socorro ao FMI. Para horror dos liberais, cometeu o sacrilégio de decretar congelamento de alguns preços. José Sarney não faria melhor.

A direita brasileira, que o via como um modelo em 2015, agora busca explicações, e não esconde a decepção.

“Foi um alívio a eleição dele num momento em que a Venezuela endurecia seu regime e o esquerdismo tinha várias vitórias no continente. Não deixa de ser decepcionante o que vemos agora”, diz o deputado Marcel van Hattem (RS), líder do Novo na Câmara dos Deputados, que atuou como observador na eleição de Macri.

O deputado é ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), grupo que na época festejou a vitória do candidato. “Macri assumiu a Argentina há menos de duas semanas e está tomando uma política econômica antagônica à de Dilma. Daqui a um tempo veremos o resultado dessa nova argentina, e o caminho tomado pelo Brasil”, disse o movimento em um tuíte de dezembro de 2015.

O argentino, no começo, procurou tirar algumas amarras da economia, como o controle do câmbio. Também acabou com a manipulação dos índices de inflação. Mas não conseguiu combater o déficit público e não consertou o problema crônico argentino de dependência de capital estrangeiro. Quando os recursos secaram, houve choque de juros, ataque à moeda e recessão profunda.

O fiasco argentino, diz Van Hattem, se deve à resiliência de décadas de populismo e intervencionismo no país. “Fica claro que no caso do liberalismo as ideias são maiores do que as pessoas”, diz ele, que ainda acha Macri uma opção melhor que o retorno de Cristina Kirchner. “O ideal seria surgir outro candidato, verdadeiramente comprometido com o liberalismo”, afirma.

Outra que comemorou a vitória de Macri foi a então senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS). “A eleição de Maurício Macri entra para a história da Argentina e da América Latina porque coloca fim a 12 anos de kirchnerismo. Ficou evidente que a sociedade argentina quer mudar o rumo, quer uma nova maneira de governo”, discursou na época, no plenário do Senado.

Hoje, ela diz que lamenta que o governo não tenha dado certo. “As medidas tomadas contrariam o histórico dele, de empresário liberal”, afirma a ex-senadora. Para ela, o desempenho “acende uma luzinha amarela” nos liberais brasileiros. “É sempre bom ficar de olho no que acontece lá”, afirma.

Ana Amélia prefere, no entanto, esperar o efeito que as medidas intervencionistas terão na economia argentina antes de dar um veredito final. “Não dá para fazer uma projeção de que ele errou ou acertou neste momento. Temos que esperar os resultados”, afirma.

Para Paulo Gontijo, presidente do grupo Livres, Macri errou na dose de liberalismo, que foi muito fraca. “Ele escolheu um caminho gradual numa economia que ainda é muito fechada e muito controlada. Não enfrentou os sindicatos, por exemplo”, afirma.

Segundo ele, Macri está pensando apenas nos efeitos políticos de curto prazo, para ter alguma chance de vitória eleitoral. “A gente já viu esse filme. O resultado é um desastre absoluto. Mas traz dividendos políticos de curto prazo”, diz.

Gontijo discorda que o fracasso argentino coloque em xeque as ideias liberais no continente. “Os liberais não estão envergonhados. Estão denunciando o que houve na Argentina até mais do que a esquerda”, diz.

Gianluca Lorenzon, ligado a dois institutos liberais (Mises Brasil e Clube Farroupilha), diz que Macri decepcionou desde o início. “Acho que o erro foi a esperança liberal nele”, diz.

Para ele, que ocupa um cargo técnico no Ministério da Economia, o desempenho foi frustrante, mas esperado.

“Infelizmente a promessa liberal nunca se concretizou. Apesar de alguns acenos no início, nada concretamente liberal foi proposto. Inclusive ele iniciou o mandato com estatizações, sem sequer reverter as políticas estatistas de Cristina”, diz.

Lorenzon estudou com alguns colaboradores do governo Macri e diz que desde sempre os argentinos viam o discurso liberal como radical. “Se ele fosse, de fato, liberal, muita coisa teria sido diferente. Pessoas que acham o liberalismo algo radical estão fadadas ao fracasso econômico, cedo ou tarde”, declara.

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Golpe ou revolução? O que pensa a nova direita sobre o 31 de março de 1964 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/29/golpe-ou-revolucao-o-que-pensa-a-nova-direita-sobre-o-31-de-marco-de-1964/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/29/golpe-ou-revolucao-o-que-pensa-a-nova-direita-sobre-o-31-de-marco-de-1964/#respond Fri, 29 Mar 2019 11:36:26 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/castello-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=456 O golpe militar de 1964 completa 55 anos no próximo domingo, dia 31 de março. O assunto, nunca totalmente pacificado no debate político, está pegando fogo neste ano por causa de um certo Jair Messias Bolsonaro, capitão reformado do Exército que agora também preside o país.

Bolsonaro nunca escondeu sua simpatia pelo movimento que derrubou João Goulart. Minimiza as violações de direitos humanos, que deixaram 434 mortos ou desaparecidos, segundo a Comissão Nacional da Verdade. Nega que tenha havido uma ditadura.

Para a velha guarda, revolução é o termo mais correto: impediu-se, segundo essa visão, que o Brasil aderisse ao campo comunista.

E o que pensam as novas gerações sobre esse tema? Fui atrás de jovens lideranças que estão reerguendo a bandeira da direita em diversos estados, após décadas de hibernação.

Obviamente, eles não têm a menor relação pessoal com 1964. Suas opiniões dão um bom termômetro de como é visto um evento que ainda hoje define a direita brasileira.

Dos 12 representantes que ouvi, 4 classificam os acontecimentos de 31 de março de golpe, 4 de contrarrevolução e 1 de contragolpe. Os outros 3 não disseram como denominam o evento.

Sintomaticamente, ninguém usou a palavra revolução. Veja o resultado da enquete:

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Nome: Carla Zambelli

Idade: 38

Grupo: Nas Ruas (está afastada desde que foi eleita deputada federal pelo PSL-SP)

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“Estava em curso um movimento de implantação do comunismo no país e isso levou à destituição do presidente, aprovada pelo Congresso e seguindo um clamor popular. O plano era devolver em algum momento o poder aos civis, e isso foi feito. É fato que sempre que há movimentos assim, erros são cometidos, e isso ocorreu dos dois lados. Não foi um regime perfeito.”

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Nome: Douglas Garcia

Idade: 25

Grupo: Direita SP (é deputado estadual pelo PSL-SP)

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“1964 foi um movimento civil de reação à ameaça estrangeira patrocinada pelo bloco soviético, que atuava de formal ilegal e clandestina no governo e na sociedade brasileira da época, resultando na derrubada do governo Jango com apoio massivo do povo.”

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Nome: Ednaldo Emerson

Idade: 35

Grupo: Conservadores Pernambuco

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“Por diversos registros históricos podemos afirmar que ocorreu uma contrarrevolução que impediu a instalação da ditadura do proletariado pretendida por grupos terroristas. Ela teve apoio inicial da sociedade civil e passou por períodos turbulentos, mas não foi tão nefasta como tentam impregnar, do contrário um capitão do Exército não teria chegado à Presidência. É importante destacar que por muito tempo o Exército mantém o prestígio de ser uma das instituições com maior credibilidade perante a população em geral.”

*

Nome: Fernando Holiday

Idade: 22

Grupo: MBL (é vereador pelo DEM em São Paulo)

Golpe ou revolução? Golpe

“Foi um golpe, apesar de ter havido amplo apoio popular. Uma discussão possível é se o golpe foi dado em 1964 ou 1968, com o AI-5. Mas para mim foi mesmo em 1964. Havia realmente um contexto de o governo Goulart ter dado uma guinada à esquerda, mas acho que não havia risco de revolução socialista. A herança econômica dos militares foi terrível, e a política também, porque acabou fortalecendo a esquerda. Foi tudo negativo, portanto.”

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Nome: Gianluca Lorenzon

Idade: 26

Grupo: Clube Farroupilha, de Santa Maria (RS)

Golpe ou revolução? Não respondeu

“Existia um risco, como vimos nos documentos divulgados pela República Tcheca, e a gente precisa entender que dentro do contexto parece que alguma coisa precisava ser feita. Se ela foi completamente, correta, a gente não sabe, é difícil julgar.  Eu não tenho conhecimento para afirmar. Os arquivos dos EUA estão abertos, mas os da Rússia, não. Então, é muito inocente da nossa parte acreditar piamente que um país que tinha aquele poder militar [soviético] não poderia fazer algo que parecesse interno [no Brasil.”

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Nome: Guilherme Moretzsohn

Idade: 33

Grupo: Instituto de Formação de Líderes, de Belo Horizonte (MG)

Golpe ou revolução? Golpe (mas depois de 64)

“Definir se foi golpe ou revolução o que ocorreu não é tão simples . O entendimento clássico do que seria uma revolução não se aplica; porém, a história mostra que o que estava ocorrendo era um alinhamento com um pessoal que entende tudo de golpe. Não há como negar o flerte incestuoso entre João Goulart e o bloco comunista, e manchetes da época comprovam que o Brasil estava uma baderna ainda maior do que o habitual.

Golpes sucessivos foram dados depois, com a permanência prolongada dos militares no poder. Golpes de caneta, como o AI-5; ou golpes de cassetete do DOI-CODI. Inebriados pela paixão que só o poder provoca, generais demoraram demais para largar o osso.”

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Nome: Lucas Ferrugem

Idade: 26

Grupo: Brasil Paralelo, de Porto Alegre (estão lançando o documentário “1964: o Brasil entre Armas e Livros”)

Golpe ou revolução? Nenhum dois dois. Foi um contragolpe

“O termo que você escolher para definir os acontecimentos de março de 1964, seja qual for, certamente reduz seu ensinamento: a democracia não é uma fórmula mágica. As fantasias de que um modelo de Estado pode estar acima de todos os homens que os criam, gerenciam e apoiam sempre vão sofrer quando defrontadas com a realidade. Considerando todos os fatos em jogo e tentando me afastar das paixões, julgo contragolpe um termo mais adequado.”

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Nome: Mateus Siqueira

Idade: 23

Grupo: Instituto Tropeiros, de Campina Grande (PB)

Golpe ou revolução? Não respondeu

“Vejo a ditadura não como um movimento isolado. Vejo a falha do Estado Democrático de Direito, desde a queda da Monarquia. É de se estranhar que, após a queda da monarquia, a República tenha falhado constantemente, desde a República Velha até a Constituição de 1988. Há de se notar esses períodos conflitantes não somente na ditadura, mas também no Estado Novo de Vargas. Acredito que o problema do nosso país foi a perda da herança que vínhamos construindo havia séculos com a Monarquia, o que por si só, com as peculiaridades de sua época, chega a ser mais estável que qualquer governo hoje.”

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Nome: Paulo Gontijo

Idade: 37

Grupo: Livres

Golpe ou revolução? Golpe

“O golpe de 1964 inaugurou um período nefasto na história do Brasil. Marcado por mortes de opositores e jornalistas, censura, tortura e perseguição política. A ditadura civil militar brasileira causou ainda um desastre econômico, implementando políticas populistas guiada por estatismo em seu grau máximo. O protecionismo nacionalista e a criação da bomba-relógio da hiperinflação marcaram a época, que ainda contou com a criação de centenas de estatais.

Os 21 anos de ditadura vividos no país se basearam em autoritarismo e arrogância estúpida, que empobreceu a população e ampliou nossas desigualdades estruturais. Quem realmente tem compromisso com a liberdade não apoia nenhum tipo de ditadura. Não importa se de esquerda ou direita, nenhum regime autoritário deve ser celebrado”.

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Nome: Pedro Holanda

Idade: 27

Grupo: Caruaru Livre

Golpe ou revolução? Golpe

“Há talvez elementos que deram fundamentos para intervenção política naquele momento. O que descaracteriza ser um golpe tomado pela força. Porém não podemos negar que houve uma ruptura institucional significativa e que precedeu um período de ausência de democracia.
O uso da palavra golpe pra mim não é equivocado tendo em vista que se instaurou um regime em seguida que quebrou instituições.”

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Nome: Anamaria Camargo

Idade: 52

Grupo: Instituto Liberdade e Justiça, em Salvador (BA), e líder do movimento Educação sem Estado

Golpe ou revolução? Nenhum dos dois. Foi uma contrarrevolução

“O ‘31 de março de 1964’ foi uma resposta estatal a uma revolução que se armava: a versão brasileira da Guerra Fria que o mundo vivia. A ameaça de uma tomada de poder por aqueles que defendiam uma ditadura comunista foi respondida inicialmente com uma contrarrevolução de direita, através de um aparelho repressivo razoavelmente seletivo — ainda que eticamente condenável porque perpetrada pelo Estado. Com o passar tempo, no entanto, tanto a ação como a reação se radicalizaram. Se as guerrilhas comunistas, que causaram mortes inclusive dentre os seus, tivessem arrefecido logo, possivelmente não chegaríamos aos piores anos de chumbo, de tortura e assassinatos em prisões.

Esta constatação obviamente não serve como justificativa para o que se seguiu: o soldado que mata o inimigo no combate nem de longe se assemelha ao Estado que mata indivíduos que estão sob seus “cuidados”. Entendo o argumento de que tivemos que pagar um preço pela liberdade que temos hoje, mas gostaria muito que tivéssemos barganhado um preço menos aviltante. Por outro lado, diante de comemorações pelos 100 anos da revolução russa, apesar dos milhões de mortes causados pelo comunismo, é difícil acreditar que não estaríamos muito pior se o resultado do ‘31 de março’ houvesse sido outro.”

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Nome: Vinicius Poit

Idade: 33

Grupo: Novo (é deputado federal por SP)

Golpe ou revolução? Não respondeu

“Nenhuma forma de ditadura deveria ser defendida em pleno século 21. Assim como condeno as ditaduras de esquerda que assolam a América Latina nos dias de hoje, também condeno os regimes autoritários de direita que feriram o Estado de Direito nos países onde foram implementados. Os fins nunca justificarão os meios.”

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Após levar ‘rasteira’ de sigla de Bolsonaro, Livres tenta se reerguer https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/11/apos-levar-rasteira-de-sigla-de-bolsonaro-livres-tenta-se-reerguer/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/11/apos-levar-rasteira-de-sigla-de-bolsonaro-livres-tenta-se-reerguer/#respond Mon, 11 Mar 2019 11:00:08 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/livres-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=249 Parecia um conto de fadas liberal.

Em fins de 2015, um grupo de ativistas, acadêmicos e políticos foi convidado a entrar em um partido àquela altura praticamente desconhecido e começou a transformá-lo em algo novo. Assumiram diretórios, fortaleceram as instâncias de formulação de programa de governo e pensaram que iam introduzir no cenário político brasileiro uma novidade: uma legenda 1oo% dedicada ao liberalismo, seja na economia, seja nos costumes e valores.

Em poucos meses, o grupo Livres havia conquistado 12 diretórios estaduais do PSL, partido que naquele momento não dizia muita coisa para o eleitorado além de ser mais uma agremiação fisiológica interessada apenas em vender fundo partidário e tempo de TV para a coligação que oferecesse mais.

Eis que então…

No final de 2017, um certo Jair Bolsonaro, que estava de malas prontas do PSC para o Patriota (ex-PEN) para disputar a Presidência, começou a mudar de ideia. E os rumores de que iria preferir o PSL começaram a se avolumar. No começo, parecia só boataria. “Chegamos a divulgar nota dizendo que Bolsonaro não viria ao PSL”, diz Paulo Gontijo, 37, que na época presidia o diretório fluminense do partido e hoje é o principal coordenador nacional do Livres.

Nota do Livres negando a filiação de Bolsonaro ao PSL, que depois se confirmou (Reprodução/Facebook)

Mas era verdade, e o resto é história. Citando diferenças insuperáveis com Bolsonaro, a turma do Livres saiu por uma porta enquanto o hoje presidente entrava por outra, trazendo a tiracolo seu círculo de apoiadores. Cerca de 5.000 pessoas do Livres se desligaram do PSL.

Foram enganados?, perguntei a Gontijo na semana passada. Ele balançou a cabeça afirmativamente. A traição, segundo ele, partiu de Luciano Bivar, que na época (como agora) presidia o PSL e havia sido o entusiasta da transformação da legenda em um movimento liberal. “Ele tinha um acordo com a gente e não cumpriu. Ficou mais preocupado com a cláusula de barreira na eleição”, diz.

Procurei Bivar para responder, mas ele não se manifestou.

O Livres agora tenta se reorganizar. Gontijo, empresário de comunicação no Rio com passagem como jornalista pelo saudoso Jornal dos Sports (aquele das folhas cor de rosa) chegou a São Paulo no início do ano e se instalou em um escritório na região da avenida Paulista para reestruturar o grupo.

Primeira lição aprendida: não têm a intenção de se transformar em um partido político. “Partido é caro, pesado, e nos tira liberdade de posicionamento”, diz ele.

Isso não quer dizer que o Livres esteja afastado do mundo partidário, ao contrário. O grupo conta com apoiadores em diversas legendas, como Novo, PPS, PHS, PSDB e Rede. Tem em seus quadros, por exemplo, o senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL), os deputados federais Marcelo Calero (PPS-RJ) e Tiago Mitraud (Novo-MG), além de deputados estaduais e vereadores em 5 estados. São 14 detentores de mandato, ao todo.

“Para 2019, a meta é aumentar filiados e aumentar os que têm mandato. Queremos ser referência de liberalismo por inteiro”, diz Gontijo.

Algumas estrelas de governos passados também compõem o movimento. Entre eles, Elena Landau, que foi diretora de privatizações do BNDES no governo Fernando Henrique, Ricardo Paes de Barros, considerado um dos pais do Bolsa Família, e Persio Arida, ex-presidente do Banco Central.

O Livres se define como um grupo “liberal-liberal”, em oposição a Bolsonaro, que seria, para eles, “liberal-conservador”. Explica-se: enquanto todos mais ou menos convergem na pauta econômica de redução do peso do Estado na economia, o Livres destoa do atual governo por defender direitos humanos, direitos dos homossexuais (com ênfase nos trans), descriminalização das drogas, fim do serviço militar obrigatório e voto facultativo.

Também são contra o Escola Sem Partido, embora reconheçam que a doutrinação esquerdista nas escolas é um problema real. No caso do aborto, não há consenso no grupo, porque ali se chocam dois direitos individuais, na visão do Livres: o da mulher e o do feto.

Têm ainda algumas pautas um tanto inusitadas, como a oposição à proibição de canudinhos de plástico (no lugar, defendem campanhas de conscientização).

“Estamos falando de criar uma cultura de liberdade. A esquerda sempre teve o mérito de ter uma identidade, ao contrário de nós”, diz Gontijo, que disputou uma vaga na Assembleia do Rio pelo PPS em 2018, mas não se elegeu.

“Por que Vargas Llosa, por exemplo, não é celebrado pelos liberais como a esquerda faz com suas referências intelectuais?”, pergunta, em referência ao peruano Nobel de Literatura.

O Livres é uma associação civil sem fins lucrativos e se financia por meio de mensalidade de seus cerca de 2.000 filiados (R$ 24,90) e de contribuições. Um doador expressivo é a Atlas, fundação baseada nos EUA que fomenta ideias liberais pelo mundo. Para 2019, o orçamento é de cerca de R$ 1,2 milhão.

E como fica a bigamia de políticos que ao mesmo tempo se dizem do Livres enquanto continuam ligados a partidos? As coisas não são excludentes, diz ele, embora seja inevitável que eventualmente ocorram ciumeira e mal-entendidos.

“A gente tenta qualificar o mandato, e não ser uma dor de cabeça para eles”, diz Gontijo. “Não queremos dirigir as carreiras de nossos associados”.

A atuação do Livre se dá pela organização de seminários, difusão de material teórico e compartilhamento de experiências de boa gestão. A exemplo de outros grupos recém-surgidos, são bastante atuantes on-line. Acabaram de pôr no ar, por exemplo, uma série sobre os 25 anos do Real, com depoimentos de protagonistas do plano que controlou a inflação.

(Reprodução/Facebook)

Sobre o governo Bolsonaro, Gontijo diz que o grupo não guarda ressentimentos, e apoiará as teses que forem boas para o país, sobretudo na pauta econômica. “Mas temos muitas diferenças com o novo governo. Somos pelo gradualismo, pela convivência democrática”. Duas coisas que não são exatamente uma marca do novo presidente, para usar um eufemismo.

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