Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 De Trump a Bolsonaro, como identificar (e enfrentar) um populista? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/#respond Fri, 21 Feb 2020 08:49:10 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/palmer-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2400 Populismo é o grande mal dos nossos dias.

Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos EUA, Nicolás Maduro na Venezuela, Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, a lista é imensa. Para combatê-los, a receita é simples: doses cavalares de liberalismo.

A opinião foi expressa há 20 dias em São Paulo por Tom Palmer, vice-presidente mundial da maior organização liberal internacional, a Atlas Network.

Defensora do Estado mínimo tanto na economia como nos costumes, a Atlas influencia diversas organizações mundo afora. No Brasil, Palmer deu uma palestra a convite do grupo Livres.

Para ele, o populismo é bastante heterogêneo, a começar pelo fato de que pode ser de direita ou de esquerda. Mas há algumas ideias centrais que são comuns a todos os populistas.

“Os populistas sempre exploram o fato de haver um inimigo do povo”, diz Palmer. Os nazistas escolheram os judeus; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi identificou os muçulmanos como inimigos; na esquerda europeia, em movimentos como o espanhol Podemos, a culpa é dos super-ricos.

“Temos um inimigo, e precisamos de um líder forte para combatê-lo. Esse é o discurso”, afirma Palmer.

O segundo ponto é a identificação total do líder com a população. O venezuelano Hugo Chávez, um dos grandes populistas do nosso tempo, dizia que ele e o povo eram apenas uma entidade.

“Chávez não sou apenas eu. Chávez é um povo. Somos milhões. Vocês também são Chávez!”, disse o líder, num discurso resgatado por Palmer.

No Brasil, tivemos um exemplo praticamente idêntico de nosso maior populista de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao ser preso disse, para a multidão que o acompanhava: “Eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês”.

Terceiro ponto: estar em batalha permanente. Aqui, Trump é o mestre absoluto. Tudo para ele é um conflito, como no caso da disputa comercial com a China.

“Trump considera o comércio uma batalha. Isso é insano. Quando você compra um sorvete, você está lutando contra ele?”, pergunta Palmer

A quarta característica apontada por ele é a defesa imediata da ação. Não há tempo para debates, considerações ou ponderação. O povo tem pressa, e é preciso trazer rápido as mudanças que a sociedade reclama.

Nessa toada, abusos são cometidos, regras são quebradas, negociações são descartadas. Se você identificou Bolsonaro aqui, ponto para você.

Por fim, se o populismo é o grande mal do nosso tempo, as notícias falsas são o grande mal do populismo. Uma espécie de mal ao quadrado.

Às vezes, é a invenção crua de fatos, como fez Trump ao divulgar, contrariando fotos, que sua posse, em 2017, foi a maior da história.

Aquele episódio levou à criação do termo “fatos alternativos” por uma de suas assessoras, um eufemismo para mentiras. De novo, é algo que podemos ver em outras partes do mundo.

Embora radicado nos EUA, Palmer, de 64 anos, é alemão. Quando jovem, nos anos 80, era membro de uma rede liberal europeia que contrabandeava livros e máquinas de xerox para países do bloco soviético. Espalhava as ideias de luminares como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e Frederic Bastiat.

Para ele, o que leva ao populismo é a sensação de melancolia do homem branco, que nas últimas décadas viu seu status relativo na sociedade ser questionado pelo avanço das mulheres e das minorias no ambiente de trabalho e nas universidades.

Palmer diz que apenas a diminuição do peso do Estado pode combater o populismo. E ele não diferencia suas versões à esquerda ou à direita.

“Populismo de esquerda e direita é como estricnina nos sabores baunilha e chocolate”, afirma.

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Direita critica verborragia de Guedes, mas não liga para fala sobre empregadas https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/17/direita-liberal-critica-guedes-mas-nao-pela-fala-sobre-empregadas-na-disney/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/17/direita-liberal-critica-guedes-mas-nao-pela-fala-sobre-empregadas-na-disney/#respond Mon, 17 Feb 2020 11:40:03 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/guedes-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2385 Grande parte da direita defensora do Estado mínimo é fã assumida de Paulo Guedes, mas nem ela poupou o ministro da Economia de críticas pesadas depois de sua desastrada declaração da semana passada sobre a alta do dólar.

Ao contrário da maioria das pessoas que se escandalizaram com Guedes, porém, os ultraliberais pouco ligaram para o trecho da fala do ministro em que ele lamenta que empregadas domésticas tenham ido à Disney no passado em razão do dólar barato.

Muito mais importante, para eles, foi a defesa enfática do dólar caro pelo comandante da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro.

Em um artigo publicado no site do Instituto Mises Brasil na sexta (14), o economista Anthony Geller pegou pesado. Chamou o ministro de Ciro Guedes, misturando o seu nome ao do ex-candidato a presidente Ciro Gomes (PDT), figura detestada pelos liberais.

Detalhe: Geller, que trabalha no mercado financeira na Inglaterra, é formado pela Universidade de Illinois, bastante influenciada pelo pensamento liberal, assim como sua irmã mais famosa, a Universidade de Chicago, onde Guedes estudou.

“Por uma questão de justiça, Ciro deveria até ganhar algum cargo na área econômica do governo, em homenagem ao fato de algumas de suas ideias estarem sendo desavergonhadamente copiadas”, escreveu o economista, caprichando na ironia.

O pecado de Guedes seria minimizar o câmbio desvalorizado, algo que economistas desenvolvimentistas (e políticos como Ciro) sempre defenderam. O argumento é que o real barato frente o dólar facilita as exportações, o que em tese melhora o balanço de pagamentos e estimula a indústria.

Acontece, diz Geller, que há um duplo efeito perverso nessa política: encarece a importação de máquinas e insumos fundamentais para aumentar a produtividade da indústria e torna mais alto o preço de produtos ao consumidor que dependem de matéria prima estrangeira. Um exemplo que ele cita é o trigo, usado no pãozinho.

“Nenhum país jamais prosperou destruindo sua moeda”, afirma ele, que arremata: “Encarecer viagens para a Disney é o menor dos problemas”.

O comentarista conservador Leandro Ruschel foi ainda mais direto ao tratar do assunto.

“O que me preocupa na fala do Guedes não é a frase infeliz sobre empregadas domésticas”, tuitou ele na quinta-feira (13).

“É a sinalização dada ao mercado sobre querer um real mais fraco. As palavras das autoridades monetárias têm muito peso”, afirmou.

Guedes defendeu o dólar alto em grande medida como um ato de defesa de sua gestão. Afinal, sob seu comando, a moeda americana disparou e atingiu cotação recorde em termos nominais, chegando a R$ 4,33 na semana passada.

Mesmo assim, sua atitude deixou embasbacadas pessoas que o têm como aliado.

Presidente do Instituto Mises Brasil e colunista da Folha, Helio Beltrão não se segurou ao comentar a declaração do ministro.

“O que botaram na bebida do Guedes hoje?”, disse na quarta (12), mesmo dia em que o ministro falou sobre o tema.

Para Beltrão, um dos problemas é o fato de o ministro da Economia se meter numa seara que deveria ser exclusiva do Banco Central, minando a autonomia da instituição.

“Ministro da Economia não deve falar de câmbio. Esta é a política de todo país organizado. Se o ministro fala de câmbio, mexe mercados e levanta dúvidas perigosas sobre a autonomia do BC”, escreveu.

Fernando Ulrich, ex-economista-chefe de criptomoedas da XP Investimentos e um libertário assumido (daqueles que questionam a própria necessidade de existência do Estado), escreveu no Twitter que “respeita e admira o ministro Paulo Guedes”, mas vê erros e simplificação no que ele diz.

“Essa política segue pressionando o câmbio, o que não é bom para a economia, a despeito das cotações do Ibovespa”, afirmou ele, atualmente membro do Conselho de Administração da Casa da Moeda, em referência aos índices recorde da Bolsa de Valores de São Paulo.

Liberais têm tido uma relação ambivalente com o governo Bolsonaro, relevando algumas de suas investidas mais claras contra instituições em nome do apoio à agenda econômica.

Apesar desse estranhamento de agora, é improvável que rompam com o ministro. Nem a frase sobre as empregadas parece ter causado grande comoção.

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‘Não sou louca, sou transgênero’; 10 lições de uma economista liberal https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/11/nao-sou-louca-sou-transgenero-10-licoes-de-uma-economista-liberal/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/11/nao-sou-louca-sou-transgenero-10-licoes-de-uma-economista-liberal/#respond Tue, 11 Feb 2020 11:16:29 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/deirdre-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2363 Antes de chegar ao Brasil, Deirdre McCloskey, 75, era conhecida por duas coisas: ser uma autêntica liberal da Escola de Chicago, discípula do papa dessa linha de pensamento, Milton Friedman; e ter mudado de gênero em 1995, quando deixou de ser Donald.

Durante sua passagem pelo país, há duas semanas, a economista ganhou notoriedade também por ter tido uma palestra cancelada pela Petrobras, provavelmente em razão da crítica ao presidente Jair Bolsonaro numa entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Deirdre é uma liberal por inteiro, na economia e nos costumes, e por isso a rejeição dela a Bolsonaro. Mas ela não é xiita. Consegue enxergar situações em que limites do Estado são necessários.

Fui acompanhar sua palestra ao Partido Novo, no último dia 30. Ela é uma figuraça, debochada e com o sentimento nobre da autoironia.

Explicou que seu nome se pronuncia “deer-dre”, e aí simulou uns chifres com as mãos (“deer” é veado em inglês).

Interrompeu a palestra no meio e anunciou o motivo em alto em bom som ao microfone: “preciso fazer xixi”.

E deu uma série de lições sobre diversos assuntos. Selecionei dez:

1-) O exemplo chinês – “Em 1978, o Partido Comunista chinês decidiu parar de ser estúpido na economia. Hoje, a renda per capita na China é a mesma do Brasil. E se isso não te deprime aqui no Brasil, você é uma pessoa muito otimista”.

2-) A praga da normatização – “Cada regulação criada pelo Estado é uma mão aberta para a corrupção. Brasília diz alguma coisa a vocês sobre isso”.

3-) Conexão Pelé – “Nenhum de nós aqui é Pelé, mas as pessoas pagavam para vê-lo atuar. Nós estabelecemos uma relação de troca com ele. O liberalismo possibilita esse momento, de você ter uma conexão com o maior jogador do mundo”.

4-) Deixa povo entrar – “Restrição de movimento de pessoas é algo muito cruel.  Essa ideia de que os imigrantes têm de ter sua liberdade limitada não é aceitável para liberais”.

5-) Não sou louca, sou transgênero – “A resposta da esquerda para os trânsgeneros é oferecer cirurgia de mudança de gênero gratuita. Mas a cirurgia não é cara. É o preço de um carro pequeno. A resposta certa é tirar o Estado das preferências de gênero e religiosas das pessoas.

Não sou louca, sou transgênero. Tenho quatro certificações médicas de que sou sã. Alguém aqui [na plateia] tem alguma?”.

6-) O mercado empodera – “Mercados livres sempre foram bons para mulheres. Mulheres com acesso ao mercado em países pobres têm independência de seus maridos. Ganham seu dinheiro e não o gastam em prostituição e jogatina. Gastam com seus filhos”.

7-) Resposta ao aquecimento global está errada – “Há um pânico global sobre aquecimento. Eu aceito que existe, e concordo com a ciência sobre isso. Você não pode ignorar o assunto, como faz o Trump. Mas o mundo não vai acabar rapidamente.

Instituir uma taxa sobre o carbono vai dar muito mais incentivos às pessoas para fugir da energia suja do que oferecer subsídios para construirem moinhos de vento”.

8) É permitido proibir – “Proibir o fumo em lugares fechados é uma restrição de direitos individuais. Mas eu entendo que o cigarro afeta a vida de outras pessoas. Me incomoda ver fumantes  congelando no inverno de Chicago, na rua. Poderia haver uma solução intermediária.

Fumei 20 anos. Comparado a parar de fumar, trocar de gênero é fácil.

Há coisas que o governo tem de proibir. Você não pode escolher não vacinar seus filhos contra o sarampo, por exemplo.”

9-) O dilema das cotas – “Não gosto de cotas, porque desvalorizam as pessoas negras que merecem estar aonde chegaram. Mas também não vejo pessoas não-brancas neste ambiente [dirige-se à audiência]. Quando fui falar a um banco de investimentos outro dia, não havia nenhuma em 500 pessoas”.

10-) E o mais importante – “Um conselho final para meus amigos liberais: tenham senso de humor”.

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Eleição britânica mostra como é dura a vida dos liberais https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/13/eleicao-britanica-mostra-como-e-dura-a-vida-dos-liberais/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/13/eleicao-britanica-mostra-como-e-dura-a-vida-dos-liberais/#respond Fri, 13 Dec 2019 13:03:28 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/libdems-320x213.png https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2168 Não é fácil a vida de um liberal, como mostrou o resultado da eleição britânica.

O Partido Liberal Democrata do Reino Unido é talvez a expressão mais fiel do liberalismo em um país desenvolvido.

Na economia, não chegam a defender o Estado mínimo, mas têm um compromisso firme com o incentivo ao empreendedorismo e estão a léguas da noção de que o governo é a solução para garantir crescimento.

Na segurança, são contrários às políticas de endurecimento da repressão defendidas pelos conservadores e querem limites claros às ações da polícia, para evitar restrição a liberdades individuais.

Defendem a descriminalização do uso de drogas  e combatem o horrendo discurso anti-imigração em voga na Europa.

São efusivamente globalistas, pedindo de forma aberta a permanência do Reino Unido na União Europeia, apesar do referendo de 2016 em que saída do bloco foi  vitoriosa.

Mas na eleição desta quinta-feira (12) levaram mais uma paulada, como já ocorreu em pleitos anteriores. Estão cada vez mais distantes de formar um governo. Ficaram com apenas 11 cadeiras no Parlamento, atrás dos conservadores (364), dos trabalhistas (203) e dos nacionalistas escoceses (48).

Nem a líder liberal-democrata, Jo Swinson, conseguiu se reeleger.

E pensar que eles já foram a maior força da política britânica. Eram liberais alguns dos maiores primeiros-ministros da história do país, como William Gladstone (1809-98), que teve quatro mandatos no século 19, e a dupla que comandou o Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial, Herbert Asquith (1852-1928) e David Lloyd George (1863-1945).

Até Winston Churchill, que viveu o auge da carreira no Partido Conservador, foi filiado ao Partido Liberal durante parte de sua trajetória política.

O que gerou tamanha decadência? Como costuma ocorrer nesses casos, diversos fatores ajudam a explicar a situação.

No início dos anos 1980, a fusão com uma ala dissidente do Partido Trabalhista levou a uma certa esquerdada na legenda, que inclusive trocou de nome e perdeu muito de sua personalidade. Os liberais de então viraram liberal-democratas, ou lib-dems, nome que conservam até hoje.

Mais recentemente, uma aposta ousada revelou-se um desastre político, quando os lib-dems se uniram aos conservadores numa coalizão após a eleição de 2010.

Vários de seus eleitores se sentiram traídos, e o partido não conseguiu compensar esse fator abocanhando uma parte da direita moderada.

Mas há uma explicação mais de longo prazo, e que traz lições ao Brasil. Nas últimas décadas, o partido ficou espremido entre a direita conservadora e a esquerda trabalhista, que se revezaram no poder (com vantagem para a direita, na verdade).

Liberais têm um problema político, e não é só no Reino Unido. São ruins de voto, provavelmente porque são moderados na comparação com os dois extremos. Como estamos vendo por aqui, o eleitorado gosta de polarização, e quem pede silêncio tem dificuldade de ser ouvido em meio à gritaria.

Historicamente, ideias liberais na economia são tocadas por governos conservadores, e não são poucos os casos em que esse casamento da direita se consumou. Estamos vendo um exemplo disso agora mesmo no governo de Jair Bolsonaro.

Mas paga-se um preço pesadíssimo, o de se implementar um liberalismo pela metade. Os liberais acabam dando algum verniz de respeitabilidade a governos conservadores, mas via de regra são engolidos por políticas autoritárias e retrógradas. Lembra algo?

Aqueles que optam por um caminho liberal puro ficam pelo meio do caminho.

Faça-se a ressalva de que no Reino Unido grande parte do problema está no sistema de voto distrital puro, em que apenas o candidato mais votado numa circunscrição geográfica é eleito.

Como ficam em segundo lugar em diversos distritos, os lib-dems acabam tendo um percentual de deputados eleitos bem menor do que a soma da votação de seus candidatos pelo país.

Não por acaso, eles são grandes defensores de uma mudança no sistema eleitoral, para que tenha também um componente que leve em conta a proporção dos votos obtidos nas urnas.

É um pleito mais do que justo, mas a chance de os demais partidos aceitarem a mudança é nula.

A sina dos liberais britânicos, e de todo o planeta, parece ser a de permanecer na periferia da política por um bom tempo ainda.

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Por que é tão difícil estudar a direita nas universidades? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/26/por-que-e-tao-dificil-estudar-a-direita-nas-universidades/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/26/por-que-e-tao-dificil-estudar-a-direita-nas-universidades/#respond Tue, 26 Nov 2019 11:14:07 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/cpac-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2102 Enquanto influenciadores digitais da direita tiravam selfies e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) era paparicado o tempo todo, uma profusão de panfletos e folderes era distribuída para os participantes da Cpac, conferência conservadora que ocorreu em São Paulo no mês passado.

Um deles me chamou a atenção: uma pós graduação em conservadorismo, com uma carga horária de 360 horas, distribuída em 12 disciplinas.

Entre elas, “fundamentos do pensamento conservador”, “discurso e narrativa conservadora” e “nova direita, liberais vs. conservadores”.

Quem anunciava a novidade era a Uninter, Centro Universitário Nacional, entidade paranaense que oferece cursos presenciais e à distância (como era o caso da pós em conservadorismo).

Parecia interessante. Cursos universitários sobre a direita são raros, o que dá certa credibilidade à acusação de que o ambiente acadêmico é um antro esquerdista. De fato, quem quiser estudar marxismo aplicado à jardinagem certamente conseguirá.

Mas a ideia, aparentemente, não foi para a frente. No site da Uninter não há nenhuma referência ao curso anunciado.  A assessoria de imprensa da instituição, que procurei, foi lacônica. Limitou-se a dizer que “o curso não consta no portfólio atual de oferta de pós-graduação”.

Perguntei se o curso havia sido cancelado e os motivos, e a resposta foi o silêncio.

Como não recebi explicações, só posso deduzir o motivo provável para o projeto ter flopado: falta de interesse. O que leva a uma questão maior: por que é tão difícil aprender sobre a direita e o conservadorismo?

Não é que haja um vazio absoluto. Institutos especializados, como o liberal Mises Brasil e o conservador Burke, de São José dos Campos (SP), oferecem programas acadêmicos (este último, aliás, até anunciou promoção na Black Friday).

A produtora gaúcha Brasil Paralelo, da qual já falei bastante neste blog, é outro exemplo, oferecendo documentários e cursos online com uma visão conservadora sobre história, educação e cultura.

Mas esses esforços, embora meritórios, são parciais e enviesados. Partem de um determinado ponto de vista, e não contemplam a visão mais imparcial e abrangente que se espera de um ambiente universitário.

Exemplo, do caso do Burke: quem se inscrever nos cursos do instituto recebe de brinde a obra “Por que o Brasil é um país atrasado”, do deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).

O parlamentar é unha e carne com o presidente Jair Bolsonaro e um dos organizadores de seu novo partido, a Aliança Pelo Brasil. Não espere uma visão desapaixonada, portanto.

A universidade é, por excelência, o espaço da crítica, e isso deveria ser estendido para o estudo da direita. Mas o que vemos hoje é uma espécie de círculo vicioso.

As instituições de ensino superior muitas vezes preferem ficar no conforto de suas grades curriculares, em que o conservadorismo é tratado como algo exótico. Nova direita, então, praticamente não encontra espaço.

E, como isso acontece, estudantes se desinteressam por estes temas ou, pior, têm receio da reação de seus pares ao tentar estudá-los.

Como corolário, o cenário reforça o discurso de gente como Olavo de Carvalho e o ministro Abraham Weintraub (Educação), de que o tal do “marxismo cultural” impera nas universidades.

A direita tem conquistado espaços, e talvez seja questão de tempo até que também entre com tudo nas universidades. Por enquanto, contudo, esse território continua sendo praticamente uma exceção na atual onda conservadora.

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Em crise, Rio, Minas e RS patinam em ranking de liberdade econômica; Amapá lidera https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/14/em-crise-rio-minas-e-rs-patinam-em-ranking-de-liberdade-economica-amapa-lidera/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/14/em-crise-rio-minas-e-rs-patinam-em-ranking-de-liberdade-economica-amapa-lidera/#respond Thu, 14 Nov 2019 12:42:16 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/greve-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2070 Alguns dos estados mais encrencados do ponto de vista fiscal estão também entre os menos favoráveis à liberdade econômica.

A conclusão é de um indicador lançado na semana passada, o Índice Mackenzie de Liberdade Econômica Estadual (IMLEE).

Com base em uma cesta de variáveis que engloba gastos dos governos, modelos de tributação e estrutura do mercado de trabalho, é feito pelo Centro de Liberdade Econômica da Universidade Mackenzie. Um ranking de 26 unidades da Federação é produzido anualmente, desde 2017 (apenas o Distrito Federal fica de fora).

Veja como se dividem os estados no mapa abaixo:

Os principais estados quebrados, aqueles que muitas vezes não têm condição nem mesmo de honrar suas folhas salariais, ocupam posições medíocres. Minas Gerais aparece em 17º lugar; o Rio de Janeiro está em 20º, e o Rio Grande do Sul, num vexatório 21º posto.

O primeiro lugar é surpreendente. Fica com o pequeno Amapá, que obtém índice 7,94 numa escala que vai de 0 (nenhuma liberdade) até 1 (liberdade total).

O Espírito Santo, saudado nos últimos anos por ter equilibrado suas contas e atraído investimentos privados, ficou com a medalha de prata, com nota 7,79.

São Paulo completa o pódio, com nota 7,71, o que é uma boa notícia para os tucanos, que governam o estado há um quarto de século de forma praticamente ininterrupta.

No outro extremo da tabela, os estados menos amigáveis à liberdade econômica Acre (nota 6,51), Mato Grosso do Sul (6,46) e, segurando a lanterna, o Piauí (6,34).

Aqui a lista completa dos estados, com a posição no ranking:

Antes de avançarmos, algumas explicações são necessárias. O índice analisa dados oficiais de fontes como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a Secretaria do Tesouro e bases de dados estaduais sob uma perspectiva liberal.

Ou seja, quanto menor for a participação do governo na economia e a regulação sobre o mercado de trabalho, mais pontos o estado recebe. Idem para sistemas tributários mais simples.

Um índice com os mesmos dados elaborado por keynesianos, escola que defende a presença do Estado como motor da atividade econômica, certamente chegaria a um ranking totalmente diferente.

O professor Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro de Liberdade Econômica e um dos responsáveis pela confecção do índice, defende sua opção.

“Nossa matriz é liberal. Quanto mais espaço o governo ocupa, menos espaço há para o setor privado. Quando tributa em excesso, falta renda para o consumo, para o mercado funcionar, para novos empreendedores”, diz.

Outra ressalva importante é que os dados analisados são de 2017, os últimos disponíveis. Ou seja, ainda não contemplam as medida liberais tomadas pelos governos Michel Temer (2016-19) e Jair Bolsonaro.

Segundo Maciel, é de se esperar que haja algum avanço em direção à liberdade econômica nos próximos anos. Medidas tomadas na esfera federal, afinal, têm impacto também nos estados.

Mesmo com essa perspectiva, o Brasil, de forma geral, ainda é um país muito pouco amigável à liberdade econômica, diz o professor. “Mesmo que uma determinada unidade da Federação esteja numa boa posição no ranking, ainda assim as condições de se fazer negócios estando no Brasil são ruins”, afirma o estudo.

Na verdade, os indicadores estaduais já melhoraram um pouco nessa edição do índice em comparação às anteriores. Isso se deve à retomada (ainda que tímida) da economia, o que aumenta um pouco a renda das pessoas em comparação com o gasto público, tirando o peso relativo dos governos.

E como se explica que o Amapá, com apenas 850 mil habitantes, seja o estado com maior liberdade econômica do Brasil?

De acordo com o professor, é um estado relativamente novo (criado pela Constituição de 1988), que ainda não tem os vícios de unidades estabelecidas há mais tempo.

“É pouco populoso, e fundamentalmente vive de transferências do governo federal. Do ponto de vista de quem empreende, os impostos são baixos. Não carrega o peso de crescimento de despesa pública de estados mais antigos”.

Outra surpresa do ranking é a posição da Bahia, em quarto lugar. É governada há 12 anos pelo PT, o que relativiza o senso comum de que a esquerda necessariamente é inimiga do liberalismo econômico.

“A Bahia, mesmo antes do PT, já vinha de governos conhecidos pela boa gestão. Continuidade na gestão econômica é algo muito importante”, diz Maciel.

Ou seja, não é possível fazer um corte partidário neste ranking. E nem geográfico, pois há exemplos de estados mais e menos livres em todas as regiões.

“Este índice destrói alguns mitos, inclusive o de que o Sul é sempre maravilha e o Norte/Nordeste é sempre ruim”, declara o coordenador.

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Não podemos retroceder no modelo liberal, diz economista chilena https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/12/nao-podemos-retroceder-no-modelo-liberal-diz-economista-chilena/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/12/nao-podemos-retroceder-no-modelo-liberal-diz-economista-chilena/#respond Tue, 12 Nov 2019 11:32:22 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/chile-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2061 Para os discípulos dos Chicago Boys chilenos, a onda de protestos no país não põe em xeque o modelo liberal aplicado há décadas, mas é preciso haver ajustes que contemplem as novas demandas da classe média.

É esta a opinião de Bettina Horst, 48, vice-diretora do Instituto Libertad y Desarrollo (Liberdade e Desenvolvimento), principal porta-voz no país das ideias liberais que foram implementadas por economistas ligados à Escola de Chicago ainda durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-90). Um dos fundadores do think tank é Hernan Buchi, que foi ministro da Fazenda de Pinochet.

“A liberdade econômica gerou grandes benefícios, pois reduziu a pobreza e melhorou os padrões de vida. Mas hoje isso precisa ser acompanhado também de um Estado que consiga enfrentar os novos desafios e as novas demandas”, diz Horst, em entrevista por telefone.

Segundo ela, as manifestações não têm relação com a desigualdade de renda, mas com as frustrações causadas pela redução no ritmo de crescimento da economia dos últimos cinco anos. A média de alta do PIB, que já teve picos de mais de 10%, caiu para 2,31% desde 2014.

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O Chile é um país bastante desigual. Que papel esse fator tem nas manifestações? Não é por acaso que tudo isso tenha surgido após termos registrado, nos últimos cinco anos, o pior crescimento da economia em três décadas. Eu, quando digo que não é um tema de desigualdade, não é porque queira afirmar que ela não exista. Mas mais do que a desigualdade, o que as pessoas sentem é que a economia não anda tão bem. A taxa de crescimento tem sido muito mais baixa do que em anos anteriores. Quando se vê as pesquisas de antes deste episódio, as pessoas se queixam de que têm muitas dívidas pendentes e de que há deficiências em educação, aposentadoria, saúde. Muitos setores da população atendidos pelos Estado hoje recebem um tratamento pior do que o oferecido pelo setor privado. Não se notava a urgência desse problema, e se buscava respostas erradas. Quando se fala de reformar a saúde, por exemplo, muitas vezes se termina por injetar maiores recursos no sistema, mas que não necessariamente dão melhor resultado.

A economista chilena Bettina Horst, defensora do modelo liberal de seu país (Divulgação)

O modelo liberal chileno foi aplicado em dose excessiva? O fato concreto é que o modelo dos últimos 30 anos e as reformas dos anos 1980 tiveram três pilares: liberdade econômica, responsabilidade fiscal e políticas sociais focadas nos grupos mais pobres. Essa foi a base do desenvolvimento. O que mais faltou foram políticas sociais que se ajustassem a um país mais de classe média, e não a um país com 70% de pobreza, como já tivemos. O Estado não tem sido capaz de atender à urgência das pessoas. Essas manifestações são de pessoas cansadas de esperar por uma melhor atenção de saúde, cansadas de esperar melhor segurança etc. Um dos principais desafios é conseguirmos fazer uma reforma do Estado e de políticas que deem conta da nova realidade do Chile.

Uma realidade de uma classe média mais forte? Mais forte, com maiores perspectivas e mais exigente. O que não podemos perder é a liberdade econômica e a responsabilidade fiscal. Não se deve retroceder. As coisas não são excludentes. No fim das contas, tudo que faça que em políticas sociais, tudo que se faça para melhorar o Estado, se você não melhora as condições do que a população sente, nunca é suficiente.

Mas não é necessária uma correção no modelo? Não acho que houve excesso. O que vimos é que durante o segundo governo da presidente Bachelet (2014-18), foram feitas reformas importantes que atentavam contra a liberdade econômica. Essas reformas levaram o país a crescer menos e a ter menos empregos. A taxa de crescimento dos salários começou a cair também. Então, o eixo central é retomar uma trilha de crescimento econômico com uma política social que seja capaz de acolher as distintas demandas.

Deveria haver mais desregulamentação? Não podemos retroceder em reformas que nos permitam retomar o caminho do crescimento. Hoje, por exemplo, nosso código de trabalho não dá conta da nova realidade do teletrabalho ou da automatização. É muito rígido quanto às jornadas de trabalho e outros aspectos. As reformas têm de ser focadas em como o país conseguirá ter mais desenvolvimento econômico, mas também ter um Estado capaz de responder melhor às demandas que estão surgindo. E aí o tema da saúde, o tema da aposentadoria, é central. Vocês veem isso no Brasil, muitas vezes o Estado não é capaz de cumprir com suas promessas. Este é o desafio, de se cumprir o que está se prometendo, porque senão o descontentamento será muito maior.

A capitalização chilena é vista como modelo para o Brasil, mas falhou ao não garantir uma renda digna para uma parte dos cidadãos. É hora de reformar a Previdência chilena? Aqui há anos se discute uma reforma do sistema de aposentadorias. Isso vai além da capitalização. O sistema que temos, em que as pessoas poupam para sua posterior aposentadoria, é insuficiente para quem não consegue manter um emprego estável. Temos que discutir o aumento da idade mínima para a aposentadoria, porque aqui seguimos com a idade nos anos 1980, e hoje a expectativa de vida é muito mais alta. É necessário aumentar a taxa de participação [no sistema], aumentar a idade mínima e reforçar também as aposentadorias dos setores que não conseguiram poupar uma quantidade suficiente. Com respeito à capitalização, os aportes que cada um faz asseguram que a aposentadoria vai estar ali amanhã. Temos visto outros sistemas, de repartição, em que, no fim do dia, se o sistema não tiver recursos, não vai pagar. É preciso manter a capitalização, mas fazer reformas que deem conta do que houve nos últimos 40 anos.

O Chile arrecada pouco e gasta pouco com educação e saúde públicas. É preciso mudar esse modelo também? Hoje, efetivamente há educação pública que responde por 40, 45% das matrículas. Educação pública que lamentavelmente perdeu muitas matrículas porque vimos alguns colégios emblemáticos serem capturados por setores mais radicais, que fazem com que seja impossível haver aulas. E houve o desenvolvimento de uma educação privada financiada pelo Estado. Hoje, há mais gente se educando neste sistema do que no público. Quando o último governo [Bachelet] insistiu em transformar a educação, houve várias manifestações em colégios particulares pagos pelo Estado, que se opuseram fortemente. Estavam defendendo seu legítimo direito a escolher entre educação privada e pública.

A redução do crescimento é resultado de políticas de esquerda? O clima anti setor privado que se instalou nos últimos anos não ajuda a um ambiente favorável a fazer negócios. Qualquer política de Estado mais forte, qualquer política social que não venha acompanhada de reformas que facilitem ou gerem um melhor clima para fazer negócios não vai ser suficiente.

A economia chilena ainda é muito dependente de exportações. Até que ponto isso é um problema? Sempre houve a dependência do cobre, mas vimos desenvolvendo outros setores. E também a economia em seu conjunto cresceu em setores distintos, mas nos afeta muito o que se passa no mundo, especialmente nos EUA e na China. Nesse contexto, conseguimos ter políticas que fortaleçam aqueles setores mais prejudicados, que dependem mais do ciclo externo.

Como essa crise afetou a imagem no país dos Chicago Boys? A liberdade econômica gerou grandes benefícios, pois reduziu a pobreza e melhorou os padrões de vida. Mas hoje isso precisa ser acompanhado também de um Estado que consiga enfrentar os novos desafios e as novas demandas. Os temas da saúde, da segurança, da aposentadoria, são próprios de um país que mudou radicalmente nos últimos 30, 40 anos. Mas não se pode deixar de avançar em medidas que permitam recolocar o país no caminho do progresso econômico. Os próximos meses e anos serão muito difíceis.

 

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Raio-x
Nome: Bettina Horst
Idade: 48
Cargo: vice-diretora do Instituto Libertad y Desarrollo
Formação: formada em engenharia comercial, com mestrado em Economia pela PUC do Chile
Funções que exerceu: foi chefe da Área Monetária do Departamento de Estudos do BC chileno e associada da Fundação Atlas
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Ex-dirigente do Flamengo se lança a prefeito do Rio e quer tratar cidadão como cliente https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/25/ex-dirigente-do-flamengo-se-lanca-a-prefeito-do-rio-e-quer-tratar-cidadao-como-cliente/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/25/ex-dirigente-do-flamengo-se-lanca-a-prefeito-do-rio-e-quer-tratar-cidadao-como-cliente/#respond Fri, 25 Oct 2019 11:30:42 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/fred-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1984 A ascensão de ideias liberais deve trazer uma novidade para o discurso político na campanha municipal de 2020. Diversos pré-candidatos pretendem defender que as prefeituras sejam tratadas como empresas, e os cidadãos, como clientes.

A iniciativa parece incomum, para dizer o mínimo, e sua aceitação pelo eleitorado ainda é incerta. Na eleição de 2016 algo desse discurso já esteve presente, por exemplo na campanha de João Doria (PSDB) em São Paulo e seu famoso bordão “não sou um político, sou um gestor”.

Mas a promessa agora é radicalizar esse conceito, e o Partido Novo é quem empunha essa bandeira com mais ênfase, especialmente nas capitais onde terá candidato próprio.

No Rio, Fred Luz, 66, ex-engenheiro da Petrobras, executivo que trabalhou em diversas empresas e com uma passagem pela administração do Flamengo, foi escolhido no último fim de semana o candidato a prefeito do Novo.

“A primeira coisa é choque de gestão na prefeitura, de fazer funcionar os serviços, não aparelhar a máquina. É muito mais uma atitude de síndico de que de ideologia”, diz Luz. “O cidadão tem que ser tratado como cliente, afinal é ele que paga por tudo”.

O liberalismo, afirma, será o pano de fundo de sua campanha. “É estimular o empreendedorismo, simplificando a vida do cidadão, desregulamentando, apoiando, para gerar negócios”, diz.

Há, obviamente uma questão chave nessa aposta, o efeito que a defesa de um Estado mínimo terá em comunidades onde os serviços públicos são precários e a população espera uma ação maior, e não menor, do poder público.

O pré-candidato não vê empecilho, e acha que seu discurso terá bastante ressonância em favelas, por exemplo. “Basta entrar em qualquer comunidade para você ver a quantidade de pequenos empreendimentos que existem. As pessoas que vivem nesses locais querem apenas mais liberdade para trabalhar e iniciar seu próprio negócio”, diz.

Seu cartão de visitas será a experiência que teve como executivo no setor privado. Ele destaca, por exemplo, seu trabalho nas Lojas Americanas.

E daí vem a pergunta inevitável: ter sido parte da cúpula do Flamengo, clube mais popular,  mas também o mais odiado, do Rio de Janeiro, ajuda?

“O Flamengo hoje virou um paradigma de gestão entre os clubes brasileiros. Não é um torcedor que estará indo para a prefeitura. O que importa é replicar o modelo de recuperação que foi dado”, afirma.

Luz a princípio se mostra aberto a coligações com outros partidos, algo que costuma ser um tabu no Novo. “Não descarto coligação. É  difícil coligar com o Novo por causa dos nossos princípios, mas não impossível. Todos estamos evoluindo nesse aspecto”.

Novato em eleições, ele foi integrante do Renova BR, uma das start-ups da política que querem renová-la e capacitar para a atividade pública gente sem nenhuma experiência prévia.

Em 2018, Luz foi coordenador da campanha presidencial de João Amoêdo, do Novo, e depois ajudou no início da administração de Romeu Zema, do mesmo partido, em Minas Gerais. Agora, acha que chegou sua hora de estar na linha de frente de uma eleição.

Se eleito, pegará uma prefeitura com dificuldades financeiras e estará à frente de uma cidade machucada pela crise iniciada em 2015. Mais um argumento, acredita ele, para um prefeito com cabeça de empresário.

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Prefeito de Teresópolis (RJ) alinha-se a Witzel e deixa movimento liberal https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/19/prefeito-de-teresopolis-rj-alinha-se-a-witzel-e-deixa-movimento-liberal/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/19/prefeito-de-teresopolis-rj-alinha-se-a-witzel-e-deixa-movimento-liberal/#respond Sat, 19 Oct 2019 15:31:35 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/claussen-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1955 O movimento liberal Livres e o prefeito de Teresópolis, Vinicius Claussen, estão de divorciando. O pivô do afastamento é ninguém menos que o governador do Rio, Wilson Witzel.

Claussen decidiu alinhar-se a Witzel e está trocando o Cidadania, pelo qual foi eleito num pleito tampão no ano passado, pelo partido do governador.

Para o Livres, grupo que é crítico ao estilo linha dura do chefe do Executivo fluminense, a mudança foi inaceitável.

“O movimento [Livres] acredita que segurança pública é um dos principais problemas a serem enfrentados no Rio de Janeiro e que Witzel tem adotado uma política de extermínio e violação de direitos humanos contra a população carioca”, diz em nota o grupo.

Claussen era uma espécie de porta-bandeira do Livres no Executivo, e vinha demonstrando como aplicar na prática o ideário de abertura à iniciativa privada, Estado mínimo e administração pública nos moldes da que é feita nas empresas.

Em agosto, numa entrevista ao blog, ele afirmou que seus objetivos eram “planejamento, foco em resultado, indicadores, metas, monitoramento, informatização”.

Mas, segundo Paulo Gontijo, presidente do Livres, o governador “relativiza as garantias fundamentais que o liberalismo trouxe para a humanidade”. “Não podemos compactuar com isso. Os valores de liberdade individual e respeito aos direitos humanos são inegociáveis para nós”, afirmou.

Segundo ele, a decisão foi tomada de comum acordo. “Torcemos para que o prefeito siga defendendo princípios liberais em sua administração, mas não é possível continuarmos juntos”, disse Gontijo.

O Livres, criado em 2015, é um movimento suprapartidário, dentro do espírito dos novos tempos, de fazer política fora da camisa de força das legendas tradicionais. Tem entre seus membros filiados a partidos como Cidadania, Rede, Novo, PSB e PSDB.

Para pertencer ao grupo, todos precisam ter o compromisso de seguir as ideias de liberalismo econômico e de costumes.

O grupo chegou a se filiar ao PSL no passado, mas deixou o partido no começo de 2018, quando o presidente Jair Bolsonaro juntou-se à legenda.

Como mostrei aqui na sexta (18), eles agora acompanham com indisfarçável alívio à guerra fratricida no partido do presidente.

Claussen, um empresário, foi eleito prometendo resgatar a cidade da serra fluminense, a 90 km do Rio de Janeiro, após uma sucessão de prefeitos afastados por corrupção. Confiante no trabalho que vem fazendo, quer disputar a reeleição no ano que vem. Agora, grudado no governador.

Por meio de sua assessoria, o prefeito confirma que a saída do Livres foi tomada de comum acordo e assegura que se mantém fiel aos princípios liberais.

“Acredito no liberalismo econômico, na redução equilibrada da intervenção estatal”, diz ele, que afirma que seu objetivo é “tornar a administração pública mais leve e voltada para as vocações e necessidades básicas do município e o estímulo ao empreendedorismo para gerar oportunidades, renda e desenvolvimento”.

O alinhamento a Witzel, de acordo com Claussen, ocorreu porque o governador tem sido um forte apoiador da sua gestão.

“Ele também representa uma ruptura com o modelo de gestão ultrapassado que faliu Teresópolis e o estado do Rio. Nosso alinhamento é em torno de um projeto comum de reconstrução e desenvolvimento econômico e social do município”, declara.

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Fala de Bolsonaro na ONU foi 75% conservadora e 25% liberal https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/24/fala-de-bolsonaro-na-onu-foi-75-conservadora-e-25-liberal/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/24/fala-de-bolsonaro-na-onu-foi-75-conservadora-e-25-liberal/#respond Tue, 24 Sep 2019 21:39:51 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/8833fc06f9d3271a398504df5d0db0356cba830989f8d5ae1356ada58a94fd36_5d8a380d4b19a-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1770 Jair Bolsonaro gosta de caracterizar seu governo como uma mistura de liberalismo econômico e conservadorismo social. Ou, nas palavras do ministro Paulo Guedes (Economia), a união da ordem com o progresso.

O discurso do presidente à Assembleia Geral da ONU oferece uma oportunidade rara de tentar medir quanto de seu governo é liberalismo e quanto é conservadorismo. Ficou claro que certamente não é meio a meio.

Com base na íntegra do discurso, construí uma classificação, dividindo-o em quatro temas gerais: antiesquerdismo, defesa de valores, ambientalismo/questão indígena e liberalismo/globalismo (sim, houve acenos à demonizada comunidade internacional). Críticas à imprensa não mereceram uma categoria à parte porque basicamente perpassam o discurso inteiro.

Bolsonaro pronunciou 2.780 palavras, em 32 minutos. Destas:

-763 (27,4%) foram usadas para defender a visão do governo sobre meio ambiente, Amazônia e direitos indígenas;

-721 (25,93%) referiram-se à defesa de valores liberais e globalistas

-683 (24,56%) foram pronunciadas para a defesa de valores conservadores

-585 (21,04%) palavras foram de ataque a esquerdistas dos mais variados.

(o outro 1,07% é de saudações).

Ou seja, a defesa de ideias liberais na economia e no comércio exterior ou acenos ao multilateralismo, como a participação em missões de paz, mereceram 1 em cada 4 palavras. Grosso modo, é o que mais poderia se aproxima de uma agenda positiva apresentada pelo presidente.

Exemplos:

“O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil”;

“Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor”;

“Reafirmo nossa disposição de manter contribuição concreta às missões da ONU, inclusive no que diz respeito ao treinamento e à capacitação de tropas, área em que temos reconhecida experiência”.

Os outros três quartos da fala são de um Bolsonaro que foi para cima dos adversários, como se estivesse em um palanque. Ou, para os que defendem o presidente, que reagiu às críticas num tom duro, mas necessário.

Como disse, dividi essa parte majoritária do discurso em três categorias, que detalho a seguir.

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1-) Ambientalismo/meio ambiente/questão indígena (27,4% do discurso). Exemplos:

“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo”;

“O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses. O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas”.

2-) Defesa de valores (24,56%). Exemplos:

“A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família”;

“Não estamos aqui para apagar nacionalidades e soberanias em nome de um interesse global abstrato”.

3-) Antiesquerdismo (21,04%). Exemplos:

“O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido”;

“Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto”.

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Minha divisão temática do discurso não é ciência exata, claro, e outras pessoas que se aventurem a fazer esse exercício poderão chegar a conclusões diferentes (embora não muito, suponho). Além disso, alguns trechos misturam categorias (crítica ao socialismo misturada com ambientalismo, por exemplo).

Mas o exercício teórico serve para mostrar que talvez seja um exagero dizer que este é um governo liberal-conservador. Está mais para um governo conservador com um nicho liberal.

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