Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Direita vê vitória emblemática das redes em caso de trans abraçada por Drauzio https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/13/direita-canta-vitoria-em-caso-de-trans-abracada-por-drauzio-mas-briga-por-furo/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/13/direita-canta-vitoria-em-caso-de-trans-abracada-por-drauzio-mas-briga-por-furo/#respond Fri, 13 Mar 2020 11:13:00 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/suzy-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2473 Seria o caso Suzy/Drauzio Varella um marco na influência das redes sociais e uma vitória sobre o jornalismo profissional?

A direita está convencida que sim e, inebriada com o sucesso de ter arrancado um pedido de desculpas da odiada Rede Globo, começou uma feroz disputa de paternidade sobre o feito.

Para quem esteve em Júpiter e não sabe do que estou falando, o caso começou com a reportagem do Fantástico do dia 1º de março, em que Dráuzio retrata o dia a dia de presas transexuais.

Ao final, ele abraça Suzy Oliveira, uma das entrevistadas, que reclamava de se sentir solitária. Seguiu-se uma onda de solidariedade à presidiária.

Uma semana depois da entrevista, veio outra onda, em sentido contrário. Perfis ligados à direita passaram a noticiar que Suzy, que gerou tanta empatia, era uma criminosa condenada por um crime bárbaro: ter estuprado e assassinado um menino de nove anos.

As críticas a Drauzio e à Globo foram tão grandes que obrigaram o médico e a emissora a se explicar. Disseram que o foco da reportagem nunca foi o crime de Suzy, mas as condições em que detentos trans vivem.

Mas isso não evitou que pedissem desculpas, para júbilo da direita, que fez a festa nas redes sociais.

Como tuitou o perfil O Corvo:

E quem foi o responsável por colocar a grande mídia de joelhos? Aí começa um arranca-rabo.

O MBL News, agência de notícias do Movimento Brasil Livre, reivindica para si o furo.

Seu diretor, Israel Russo, diz que começou a desconfiar da história de Suzy pelo fato de ela estar presa há oito anos. “Ninguém condenado apenas por roubo ou furto fica tanto tempo na cadeia. Tinha que ser algo mais grave”, diz Russo.

O MBL News passou a buscar os autos sobre o processo dela no site do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas não conseguiu.

Foi então que um deputado obteve a papelada e repassou à agência, que ligou para o presídio e confirmou que Suzy era Rafael Tadeu, sua identidade anterior, condenado pelo crime.

Às 12h28 de domingo (8), o MBL News postou a matéria, e o assunto começou a viralizar.

“O papel das redes sociais foi muito importante. Elas fizeram um movimento orgânico, que incentivou as pessoas a buscarem informações sobre o caso”, afirma Russo.

Um aspecto curioso desse caso é que unificou a direita como há muito não se via. Entidades críticas ao atual presidente, como o MBL, e perfis bolsonaristas se jogaram na história com o mesmo ímpeto.

Russo, no entanto, vê uma nuance. “A gente não tentou demonizar o Drauzio, como outros fizeram. Apenas noticiamos o fato”, diz.

Outros contestam a primazia do MBL e dão a paternidade do furo ao site Conexão Política, ligado ao Movimento Brasil Conservador (MBC), que apoia o governo. Um deles foi o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O Conexão realmente colocou uma reportagem no ar no dia 8, mas não informa, em seu site, o horário. Não importa: bolsonaristas rapidamente começaram a acusar o MBL de tentar roubar o furo.

Tentei contato com o site e com o MBC, mas não tive resposta.

Outro a reivindicar os louros é o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), apoiador defende o presidente. Ele também tuitou no domingo pela manhã sobre o crime de Suzy.

De perfil ativista e sem preocupação nenhuma com isenção e equilíbrio, os sites direitistas dizem que fazem jornalismo e que esse caso mostra como podem preencher um espaço deixado vazio pela grande imprensa.

O discurso recorrente é que, tomada por profissionais com simpatia pela esquerda, a grande mídia foi negligente no caso Drauzio e não fez seu trabalho direito.

Mas o que ocorreu nesse caso é tão simbólico assim?

Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP e estudioso das redes sociais, diz que nova proeminência das redes sociais é algo que veio para ficar. Mas ele vê com certo exagero a tentativa de considerar esse caso um marco.

“O que houve foi uma campanha de exploração política muito bem feita desse episódio”, afirma Ortellado, que é também colunista da Folha.

Segundo ele, há precedentes em que algo parecido ocorreu, com as redes conseguindo furar o noticiário da imprensa.

“O caso das mortes na favela de Paraisópolis é um exemplo. A imprensa cobriu de um jeito, numa linha mais próxima do que dizia a polícia, e depois vídeos foram aparecendo mudando o quadro”, declara.
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Direita busca fórmula para repetir onda Bolsonaro nas prefeituras https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/24/direita-busca-formula-para-repetir-onda-bolsonaro-nas-prefeituras/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/24/direita-busca-formula-para-repetir-onda-bolsonaro-nas-prefeituras/#respond Fri, 24 Jan 2020 11:08:40 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/conservadores-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2281 A eleição municipal em outubro deste ano será uma espécie de tira-teima para a direita.

A onda conservadora que elegeu o presidente Jair Bolsonaro, diversos governadores e parlamentares em 2018 foi apenas produto de uma circunstância específica? Ou foi sintoma de uma mudança duradoura na sociedade brasileira?

Lideranças conservadoras estão desde já ocupadas em tentar transpor a onda nacional de dois anos atrás para o plano municipal.

Mas não é algo simples. Eleições locais são muito mais sobre a limpeza das ruas e as condições do trânsito do que sobre slogans como “a nossa bandeira jamais será vermelha”.

“Precisamos transpor a nossa ideologia, aquilo em que nós acreditamos, a nossa moral, nossos princípios, para os problemas locais”, diz Rodrigo Morais, que foi secretário-geral do PSL de São Paulo e atualmente é consultor político de pré-candidatos conservadores a prefeito e vereador.

Morais também é um dos líderes da Acons (Associação Nacional dos Conservadores), que em abril realizará um congresso voltado à discussão municipal. O slogan do evento é um alerta: “Eleições 2020: a última fronteira da esquerda”.

Traduzindo, há o risco, da perspectiva dos conservadores, de que a esquerda consiga se reorganizar em outubro e se fortaleça para a próxima eleição presidencial. Isso, lógico, caso a direita não saiba lidar com temas locais.

“Se nós não ganharmos essas prefeituras, alguém vai ganhar. E serão nossos inimigos, nossos opositores”, afirma Morais, em vídeo de apresentação do evento.

Segundo o raciocínio do dirigente, a primeira onda do bolsonarismo, apesar de toda a empolgação, gerou um efeito colateral preocupante.

Foi produto sobretudo da campanha em redes sociais, e elegeu um grande número de pessoas com pouco ou nenhuma vivência de rua.

“A primeira onda de bolsonarismo teve pouco ou nenhum contato com a sociedade, com a base”, afirma ele. “A grande maioria dos deputados foi eleita por vídeos no WhatsApp, nas redes sociais. Pessoas que não pegaram na mão de 5% dos seus eleitores”, diz ele.

A solução, afirma o dirigente, é um retorno à boa e velha campanha de porta em porta.

“É muito importante que essa segunda onda esteja fincada, ancorada num trabalho de base, municipal”, diz Morais. “É indo lá, batendo na porta, ouvindo não. É assim que a gente vai aprender”, afirma.

Nesse ponto específico, a esquerda larga na frente, por ter mais tradição em campanhas de rua, e uma base de atuação que conta com movimentos sindicais e sindicatos.

E quais são os temas que a direita pode explorar?

Em setembro do ano passado, entrevistei Everton Sodario, que foi eleito pelo PSL num pleito especial na cidade de Mirandópolis (SP), para um mandato-tampão.

Apelidado de Bolsonaro caipira, conseguiu realizar na prática o projeto de transplantar a onda conservadora para o plano local.

“No interior não tem essa coisa tão forte de direita e esquerda. As pessoas não querem tanto saber de conservadorismo. Querem saber de emprego, saúde, asfalto, educação”, alertou ele, na época.

Sua grande sacada foi adaptar partes da plataforma de Bolsonaro para a realidade de seu município.

Ecoou o discurso do fim do toma-lá-dá-cá desistindo de contemplar vereadores com cargos na prefeitura. Também prometeu um plano de redução de impostos para atrair empreendimentos.

E, mais sintomático, encerrou um convênio com presídios da cidade pelo qual presos ajudavam na limpeza da cidade.

“Queremos que o preso trabalhe dentro da cadeia. Aqui fora, eu prefiro que o pai de família trabalhe”, disse ele.

Foi um sucesso. Elegeu-se com 60% dos votos. Sua receita pode resolver o dilema da direita em outubro.

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Guedes, Damares, AI-5, Aliança e hienas; 10 fatos que marcaram a direita em 2019 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/#respond Fri, 20 Dec 2019 13:38:16 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Bolsonaro-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2190 2019 foi o primeiro ano completo desde que a onda conservadora tomou o país.

Embora a saída de Lula da cadeia e a Vaza Jato tenham energizado a esquerda durante os últimos meses, quem comandou o noticiário foi mesmo a direita.

Jair Bolsonaro foi, claro, o principal protagonista, mas o ano foi rico no mundo destro e não se limitou ao presidente.

E como a perspectiva é de que o pêndulo político fique do lado direito por um bom tempo, muitas tendências apontadas no ano que passou devem ter desdobramentos em 2020.

Esta é a retrospectiva de Saída Pela Direita, com os dez fatos mais importantes do ano. Como sou humilde, não coloquei a criação deste blog entre eles.

Neste fim de ano, dou uma pausa e retorno com tudo em janeiro. Muito obrigado a todos que me acompanharam em 2019. Feliz Natal e um ótimo 2020 para quem é destro e para quem não é.

Mas antes, fique com o top 10 da direita no ano que termina.

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1-) Parquinho liberal pega fogo

Teve treta pelo apoio ao governo Bolsonaro, simbolizado pelo arranca-rabo entre Helio Beltrão, do Mises, e Elena Landau, do Livres. E teve provocação dos liberais clássicos aos adeptos da Escola Austríaca, comparados a economistas de humanas (ofensa grave).

Ouviram de volta que os clássicos só se preocupam com números. Tanta briga não deixa de ser um sinal de que a Kombi liberal cresceu.

2-) Flavio murcha, Carluxo dá um tempo e 03 se consagra

 

O deputado federal Eduardo Bolsonaro durante a conferência conservadora Cpac, em outubro (Divulgação)

O senador, acuado pelo caso Queiroz, não conseguiu ser o articulador político que se esperava. O vereador  gerou tanto problema na comunicação presidencial que achou por bem tirar um sabático.

Eduardo Bolsonaro, emissário junto a Trump e líder da tropa de choque do pai, se consolidou como herdeiro político dele.

3-) Ai, ai, ai, AI-5

Essa foi feia. 51 anos depois, o ato que endureceu a ditadura foi resgatado do pântano por frases inconsequentes de Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes. Voltou a ser um fantasma, por ora contido.

4-) Salvini vacila, Vox cresce e Boris vira rei

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reeleito de forma esmagadora em dezembro (Folhapress)

Que ano para a direita europeia.

O italiano Matteo Salvini tentou forçar uma eleição para chegar ao poder e viu sua estratégia falhar espetacularmente, com a união da esquerda, que formou novo governo. Na Espanha, os herdeiros de Franco do partido Vox cresceram vertiginosamente. Mas nada se comparou à consagração de Boris Johnson, o novo rei do Brexit.

Nos EUA, Trump não se abalou com o impeachment, mas é cedo para fazer prognóstico sobre sua reeleição. Netanyahu terminou o ano como primeiro-ministro de Israel, mas enfrenta novo pleito em 2020.

E na América Latina a direita perdeu Macri na Argentina, que saiu desmoralizado, mas ganhou Lacalle Pou no Uruguai, promessa de renovação na arena sul-americana.

5-) Aliança chega para ser a cara da direita brasileira

Teremos finalmente um partido genuinamente conservador no Brasil? A Aliança Pelo Brasil nasceu com essa ambição, para ser o veículo da direita bolsonarista, e não o puxadinho que era o PSL de Luciano Bivar.

6-) Cultura e educação, os novos campos de batalha

Do ministro falastrão Abraham Weintraub (Educação) à guinada conservadora na Cultura, a direita levou a sério o combate ao chamado “marxismo cultural”, conforme mandou professor Olavo de Carvalho.

A ascensão de grupos como a produtora Brasil Paralelo deu impulso a esse novo campo de batalha.

7-) Damares é pop, Guedes é Deus e Moro patina

A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, uma das mais populares do governo (Folhapress)

A ovação à ministra dos Direitos Humanos na conferência conservadora Cpac reforçou seu caráter de pop star da direita, corroborado pelo Datafolha. Seu colega de Esplanada Paulo Guedes também teve um ano bom, endeusado pelo mercado.

Já Sergio Moro teve um ano difícil, abatido pela Vaza Jato e pela desidratação de seu pacote de segurança.

8) Surge a direita de soja

As diatribes de Bolsonaro contra a imprensa, STF e Congresso alienaram parte da direita que o apoiou. Afastaram-se ex-aliados como MBL, Novo, João Doria, os ex-ministros Gustavo Bebianno e Carlos Alberto Santos Cruz e deputados como Alexandre Frota e Joice Hasselmann.

Todos de direita ainda, mas prometendo serem mais respeitadores da liturgia da política. E das instituições.

9-) Mais armas, mas menos do que a direita quer

Não foi fácil acompanhar o vaivém dos decretos do governo para tentar liberar armas. No fim, houve ampliação de acesso para produtores rurais e algumas poucas categorias. Muito pouco para quem votou em Bolsonaro por causa das arminhas que ele faz com a mão.

10-) O vale tudo das redes sociais

Post compartilhado por Jair Bolsonaro em que ele se compara a um leão acossado por hienas (Folhapress)
O vídeo das hienas de Bolsonaro; o quebra-pau entre Allan dos Santos e Nando Moura; a milícia digital agindo contra Joice Hasselmann; e muita, muita fake news. A internet, em 2019, esteve fora de controle no mundo destro. Que medo de 2020.
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No Congresso, direita busca ampliar suas pautas, mostra estudo https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/03/no-congresso-direita-avanca-na-pauta-economica-mostra-estudo/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/03/no-congresso-direita-avanca-na-pauta-economica-mostra-estudo/#respond Tue, 03 Dec 2019 11:06:34 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Novocongresso-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2118 Deputados federais de direita tratam mais de religião e segurança pública, e menos de trabalho e meio ambiente. Até aí, nenhuma grande surpresa.

Mas a direita também dedica muito de seu tempo a temas menos óbvios, como empreendedorismo, participação feminina e visitas a ONGs.

A análise foi feita pela organização Transparência Partidária, com base no levantamento das agendas divulgadas por parlamentares em suas redes sociais.

Usando o Torabit, uma ferramenta de monitoramento de redes, a ONG esquadrinhou 5.031 postagens de deputados no Facebook que continham determinadas palavras-chave, indicando compromissos, como “reunião”, “em agenda” e “estive com”. O período examinado foi o trimestre entre agosto e outubro deste ano.

Os dados brutos foram catalogados por temas, revelando as prioridades de cada deputado. E algumas conclusões dão sinais eloquentes de para onde está indo nossa direita.

O fato de temas que vão além da pauta tradicional surgirem com destaque mostra uma direita que procura ampliar sua atuação, algo condizente com o fato de ter saído do gueto em que vivia até há alguns anos e invadido com tudo o palco principal.

Os assuntos ligados à nova economia, nesse aspecto, chamam a atenção.

Segundo o levantamento, os partidos que mais dedicam sua agenda ao liberalismo econômico, seja em entrevistas, reuniões, visitas ou seminários, são, pela ordem, o Novo, o PP e o DEM.

A explicação é simples: as três legendas estão tentando oferecer uma alternativa ao tipo extremo de conservadorismo proposto pelo presidente Jair Bolsonaro, e a economia surge como um caminho natural.

(Quem diria, alguns anos atrás, que PP e DEM, herdeiros da antiga Arena da ditadura militar, seriam hoje vistos como exemplos de moderação?)

Da mesma forma, a direita domina o tema do empreendedorismo, dessa vez com deputados do PRB à frente. Ligada à Igreja Universal, essa sigla é a expressão mais concreta da inserção política dos evangélicos atualmente.

Tecnologia é outro setor em que a direita está buscando crescer. Os partidos que mais trataram desse tema foram Novo e PRB. Na infraestrutura, têm destaque, de novo os filhotes da ditadura, DEM e PP.

O caso da corrupção é interessante. A direita parece mesmo ter se apropriado dessa bandeira, que em anos passados era brandida pelo PT.

Tem tudo a ver, obviamente, com o lavajatismo e com eventos como a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Novo e PSL são os partidos que mais trataram desse item, e o PT não aparece nem no top 5.

As bandeiras mais antigas associadas à direita “raiz” não foram esquecidas. Assim, o PRB, por motivos naturais, fala mais de religião, enquanto o PSL, até recentemente o partido de Bolsonaro, trata de segurança e questões militares.

Um ponto que o estudo não aborda é o teor da agenda listada, ou seja, não é possível saber se um evento sobre privatizações é para defendê-las ou atacá-las.

Assim, DEM, PL e PSL, três legendas associadas à direita, lideram no item visita a ONGs. É de se imaginar que grande parte dessas visitas não foi exatamente para exaltar o trabalho que elas fazem.

E também pode-se presumir que muitas dessas organizações sejam alinhadas a causas conservadoras, o que destoa do senso comum (propagado pela direita, aliás), de que ONG é sempre coisa de esquerdista.

De qualquer forma, o estudo feito pela Transparência Partidária é relevante para mostrar como algumas noções pré-concebidas sobre o comportamento de partidos precisam ser atualizadas.

Nesse sentido, não há muitas dúvidas de que a mudança mais frenética nos últimos anos foi vivida pela direita.

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Por que é tão difícil estudar a direita nas universidades? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/26/por-que-e-tao-dificil-estudar-a-direita-nas-universidades/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/26/por-que-e-tao-dificil-estudar-a-direita-nas-universidades/#respond Tue, 26 Nov 2019 11:14:07 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/cpac-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2102 Enquanto influenciadores digitais da direita tiravam selfies e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) era paparicado o tempo todo, uma profusão de panfletos e folderes era distribuída para os participantes da Cpac, conferência conservadora que ocorreu em São Paulo no mês passado.

Um deles me chamou a atenção: uma pós graduação em conservadorismo, com uma carga horária de 360 horas, distribuída em 12 disciplinas.

Entre elas, “fundamentos do pensamento conservador”, “discurso e narrativa conservadora” e “nova direita, liberais vs. conservadores”.

Quem anunciava a novidade era a Uninter, Centro Universitário Nacional, entidade paranaense que oferece cursos presenciais e à distância (como era o caso da pós em conservadorismo).

Parecia interessante. Cursos universitários sobre a direita são raros, o que dá certa credibilidade à acusação de que o ambiente acadêmico é um antro esquerdista. De fato, quem quiser estudar marxismo aplicado à jardinagem certamente conseguirá.

Mas a ideia, aparentemente, não foi para a frente. No site da Uninter não há nenhuma referência ao curso anunciado.  A assessoria de imprensa da instituição, que procurei, foi lacônica. Limitou-se a dizer que “o curso não consta no portfólio atual de oferta de pós-graduação”.

Perguntei se o curso havia sido cancelado e os motivos, e a resposta foi o silêncio.

Como não recebi explicações, só posso deduzir o motivo provável para o projeto ter flopado: falta de interesse. O que leva a uma questão maior: por que é tão difícil aprender sobre a direita e o conservadorismo?

Não é que haja um vazio absoluto. Institutos especializados, como o liberal Mises Brasil e o conservador Burke, de São José dos Campos (SP), oferecem programas acadêmicos (este último, aliás, até anunciou promoção na Black Friday).

A produtora gaúcha Brasil Paralelo, da qual já falei bastante neste blog, é outro exemplo, oferecendo documentários e cursos online com uma visão conservadora sobre história, educação e cultura.

Mas esses esforços, embora meritórios, são parciais e enviesados. Partem de um determinado ponto de vista, e não contemplam a visão mais imparcial e abrangente que se espera de um ambiente universitário.

Exemplo, do caso do Burke: quem se inscrever nos cursos do instituto recebe de brinde a obra “Por que o Brasil é um país atrasado”, do deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).

O parlamentar é unha e carne com o presidente Jair Bolsonaro e um dos organizadores de seu novo partido, a Aliança Pelo Brasil. Não espere uma visão desapaixonada, portanto.

A universidade é, por excelência, o espaço da crítica, e isso deveria ser estendido para o estudo da direita. Mas o que vemos hoje é uma espécie de círculo vicioso.

As instituições de ensino superior muitas vezes preferem ficar no conforto de suas grades curriculares, em que o conservadorismo é tratado como algo exótico. Nova direita, então, praticamente não encontra espaço.

E, como isso acontece, estudantes se desinteressam por estes temas ou, pior, têm receio da reação de seus pares ao tentar estudá-los.

Como corolário, o cenário reforça o discurso de gente como Olavo de Carvalho e o ministro Abraham Weintraub (Educação), de que o tal do “marxismo cultural” impera nas universidades.

A direita tem conquistado espaços, e talvez seja questão de tempo até que também entre com tudo nas universidades. Por enquanto, contudo, esse território continua sendo praticamente uma exceção na atual onda conservadora.

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Evento conservador consolida Eduardo Bolsonaro como herdeiro político do pai https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/13/evento-conservador-consolida-eduardo-bolsonaro-como-herdeiro-politico-do-pai/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/13/evento-conservador-consolida-eduardo-bolsonaro-como-herdeiro-politico-do-pai/#respond Sun, 13 Oct 2019 15:54:28 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/eduardo-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1879 A primeira edição brasileira da Cpac (Conservative Political Action Conference), principal evento conservador americano, trouxe o repertório esperado de críticas à mídia, denúncias de um suposto domínio cultural marxista e apelos por unidade da direita.

Mais relevante para o longo prazo, consolidou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), 35, como o sucessor político de seu pai.

Desenvolto na função de mestre de cerimônias do evento, realizado na sexta (11) e no sábado (12) num hotel de São Paulo, Eduardo foi o grande responsável por importar a conferência, que acontece desde 1973 nos EUA. Terminou a noite de sábado sendo saudado em coro como “Mitinho” pela plateia.

Em dois dias de reunião, o deputado alternou exemplos de puro bolsonarismo, atacando inimigos de seu pai e propagando bandeiras conservadoras, com momentos em que soube exercer um inesperado lado carismático.

Abusou do politicamente incorreto, como no momento em que pediu paciência à audiência porque um convidado chamado ao palco, o senador americano Mike Lee, se atrasou.

“Ninguém vai tocar fogo no prédio, né? Não vai ter mulher mostrando suvaco cabeludo, defecando e vomitando no chão e falando que é arte. E ninguém vai dizer que quem não gosta é fascista e racista”. A plateia adorou.

Em seguida, revelou que seu apelido de infância era Buba, referência a uma personagem hermafrodita da novela “Renascer”, e que o de seu irmão Flávio era Baleia Azul. Não explicou a razão.

Eduardo, indicado (ainda informalmente) embaixador do Brasil nos EUA, brilhou sozinho, talvez numa estratégia proposital do clã. Nenhum de seus irmãos esteve no evento, e a própria presença de Jair Bolsonaro, que estava confirmada, foi cancelada. O presidente preferiu ver o jogo entre Palmeiras e Botafogo no Pacaembu.

A enorme fila que se formava a cada intervalo da conferência para bater selfies com o deputado federal foi uma amostra de que é o filho “03” quem tem mais chances de ser escolhido o herdeiro do espólio do presidente, em 2026. Ou 2022, caso Bolsonaro, por algum motivo, não possa concorrer.

A conferência teve cerca de 1.200 participantes, na estimativa da organização. Bancada com recursos públicos do fundo partidário destinados ao PSL, custou cerca de R$ 800 mil.

Passaram pelo palco políticos, professores, escritores, ativistas e influenciadores digitais, que não disfarçavam a empolgação com o fato de terem ganho o palco principal do debate público depois de anos considerados uma franja.

Na maioria dos discursos, exaltações a que os conservadores ali presentes espalhassem o Evangelho direitista em suas cidades e bairros.

“Boa tarde aos robôs do Bolsonaro aqui presentes!”, ironizou Filipe Martins, assessor internacional da Presidência e um dos principais ativistas digitais da direita alinhada ao governo, em saudação à plateia.

A audiência riu, o que foi a deixa para Martins pedir uma homenagem a alguém ainda mais importante que ele na estratégia digital do presidente. “Quem aqui gosta do Carlos Bolsonaro?”, perguntou. “Pitbull, pitbull, pitbull!”, respondeu a plateia.

“Precisamos de uma estratégia de mobilização permanente”, convocou Martins. “Como diz Olavo [de Carvalho], não parar, não precipitar, não retroceder”.

Houve momentos mais soturnos, como o discurso do youtuber católico Bernardo Kuster, que prometeu “pegar o chicote e descer o cacete” em quem macular sua fé. E que viu méritos no sentimento do ódio.

“Temos motivo para odiar algumas coisas. Eu odeio assassinos, eu desprezo bandidos. Muitas vezes o ódio tem uma força pacificadora”, afirmou.

Os youtubers bolsonaristas Bernardo Kuster (à esq.) e Allan dos Santos, na Cpac (Fábio Zanini/Folhapress)

Sean Fieler, empresário americano conservador, ganhou aplausos rumorosos ao exibir em sequência as bandeiras da União Soviética, de Cuba e do movimento gay, equiparando-as como formas de totalitarismo.

“É o movimento mais perigoso nos EUA atualmente”, declarou, apesar das inúmeras juras de Eduardo Bolsonaro e outros organizadores durante o evento de que conservadores não têm nada contra gays.

A deputada estadual catarinense Ana Campagnolo (PSL) fez um discurso contra o movimento feminista, que, segundo ela, tem integrantes que defendem pornografia, pedofilia e incesto. Chamou o divórcio de tragédia e concluiu dizendo que “o que acaba com casamento é a competitividade. Deus colocou as mulheres para ajudar nossos maridos, e maridos para nos proteger”.

Participaram quatro ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Damares Alves (Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (Educação). Damares e Onyx foram especialmente emotivos, dizendo que haviam esperado por aquele momento durante anos.

A ministra Damares Alves (Direitos Humanos) durante seu discurso

Weintraub fechou a conferência com uma explanação sobre as ameaças ao conservadorismo atualmente no Brasil e no mundo e detalhando a existência de uma suposta conspiração que envolveria até empresários bilionários comunistas. Numa analogia de gosto duvidoso, disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu caminho para Luiz Inácio Lula da Silva assim como a Aids abre caminho para a morte por tuberculose.

A segunda edição brasileira da Cpac, em 2020, está garantida. O termo de adesão foi assinado no palco por Eduardo Bolsonaro e Matt Schlapp, presidente da União Conservadora Americana, detentora da marca. Para novo momento de delírio da plateia, Eduardo imitou o pai usando uma caneta Compactor, em retaliação à francesa Bic.

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MBL, que ajudou a derrubar Dilma, terá deputados de PT e PC do B em congresso https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/04/mbl-que-ajudou-a-derrubar-dilma-tera-deputados-de-pt-e-pc-do-b-em-congresso/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/04/mbl-que-ajudou-a-derrubar-dilma-tera-deputados-de-pt-e-pc-do-b-em-congresso/#respond Fri, 04 Oct 2019 19:42:24 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/MBL1-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1814 Quem poderia imaginar, três anos atrás, um petista figurando num evento do MBL (Movimento Brasil Livre) como convidado, e não como saco de pancada?

Mas veremos essa cena no mês que vem, com a participação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) numa mesa-redonda promovida pelo grupo que foi um dos principais responsáveis pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Em 15 e 16 de novembro, o MBL realiza em São Paulo seu congresso anual, o quinto de sua história.

É o primeiro desde que o movimento, que ficou conhecido por sua agressividade retórica contra adversários e imprensa e por nunca fugir de uma treta, anunciou a decisão de dar uma espécie de “reset”.

O MBL promete deixar de ser escravo dos memes e tratar com respeito seus adversários. Mas também faz um cálculo político.

Seus líderes querem se diferenciar dos grupos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (que eles chamam ironicamente de “minions”) e pretendem ser uma direita crítica.

Seguirão apoiando algumas pautas do governo, sobretudo a econômica, mas querem ter liberdade para comentar acusações de corrupção e pautas que enxergarem como sendo excessivamente conservadoras.

Para quem pediu votos para Bolsonaro no segundo turno do ano passado e flertou com o obscurantismo ao criticar a exposição Queermuseu, em 2017, a mudança não é pequena.

O congresso do MBL foi pensado como uma vitrine desse movimento repaginado, e a programação está investindo bastante na valorização do contraditório.

Chinaglia participará no dia 16 de novembro de um debate sobre reforma política, com outros parlamentares de diversas tendências. Pelo PC do B estará presente Orlando Silva, que além de comunista, é ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), entidade que sempre foi considerada antípoda pelo MBL.

Também integrarão a mesa os deputados Vinicius Poit (Novo-SP), Daniel Coelho (Cidadania-PE) e Kim Kataguiri (DEM-SP), que é um dos coordenadores nacionais do movimento, além do senador Marcos Rogério (DEM-RO).

Outro evento com a participação de um parlamentar da esquerda está sendo negociado e deve ser anunciado nos próximos dias.

Cartaz do MBL anunciando seu congresso, em novembro (Divulgação)

Completam a programação mesas sobre educação política, sátira e empreendedorismo, entre outras.

(Em nome da transparência, devo dizer que haverá debates com a participação de jornalistas também, inclusive eu).

Esse evento servirá como parâmetro para dizer até que ponto o MBL realmente decidiu mudar e se tornar um movimento de direita mais independente.

Os céticos são muitos, o que é normal. Desfazer a impressão pretérita deixada pelo movimento levará tempo.

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Livro busca reabilitar Lacerda, o Corvo, como padrinho da nova direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/27/livro-busca-reabilitar-lacerda-o-corvo-como-padrinho-da-nova-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/27/livro-busca-reabilitar-lacerda-o-corvo-como-padrinho-da-nova-direita/#respond Fri, 27 Sep 2019 10:44:05 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/52e2d947e1412620c87b1c4adbefc62acbed3e80cd4e07e7f0d4dfb7be874c3b_5c116d83df966-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1778 A história não foi simpática com Carlos Lacerda (1914-1977).

Um dos grandes oradores do sua época, ficou marcado como o algoz de Getúlio Vargas. Houve um tempo em que lacerdismo, ou udenismo (de UDN, seu partido) eram quase palavrões.

Foi chamado de “Corvo”, apelido que pegou e o perseguiu até a morte. Político sagaz até a meia-idade, terminou a vida marcado como ingênuo, por ter acreditado que o golpe de 1964 seria apenas uma ponte para sua chegada ao Palácio do Planalto.

Num lance de desespero, teve de se humilhar ao formar uma quixotesca frente opositora com antigos adversários, como João Goulart e Juscelino Kubitschek. Fracassou.

Mas é possível ver Lacerda de outro ângulo. Por vias tortas, sua trajetória antecipou grande parte dos movimentos de direita que vemos neste início de século 21.

A retórica afiada antecipou a dos polemistas das redes sociais. A defesa de limites ao tamanho do Estado influencia a nova geração de liberais.

Mesmo sua conversão, de comunista militante para anticomunista ferrenho, é a mesma de diversos pensadores da direita atual.

Há um certo movimento de resgate da figura do jornalista e político, que atingiu o ápice quando governou o antigo estado da Guanabara (1960-65).

Em agosto, um encontro em Campinas (SP) aprovou a recriação da UDN (União Democrática Nacional), com loas a Lacerda. O partido, extinto em 1965 pela ditadura, ainda espera homologação do TSE para ser refundado.

Também está sendo lançado um novo livro sobre o tema. “Lacerda, a Virtude da Polêmica” (editora LVM), do jornalista Lucas Berlanza, é menos uma biografia clássica e mais um longo ensaio analítico sobre discursos e textos do personagem.

Berlanza não esconde admiração por Lacerda e busca, num livro denso e de rica pesquisa, contribuir para o resgate de sua imagem. Logo no início qualifica seu biografado como um “personagem incompreendido e injustiçado por contrariar os interesses de demagogos”.

“É um ícone do conservadorismo e do liberalismo no Brasil”, afirma o autor, que lamenta o fato de que “muitos porta-vozes da direita moderna parecem ter extremo pudor em assumir qualquer inspiração nele”.

Muito antes de Jair Bolsonaro fazer campanha prometendo unir o conservadorismo de costumes e o liberalismo econômico, Lacerda já percebia que esse era o caminho para a direita chegar ao poder e evitar a ascensão comunista. Defendia “preservar a ordem como único meio de salvar a liberdade”.

Pregou durante décadas a primazia da iniciativa privada e a desburocratização, e insurgiu-se como poucos contra o desenvolvimentismo de JK e suas políticas inflacionárias.

Foi um crítico da construção de Brasília, embora tenha recolhido sua artilharia quando viu que a empolgação na sociedade com a nova capital era uma onda irrefreável.

Mas foi no antiesquerdismo e suas inúmeras variações (varguismo, janguismo, sindicalismo) que Lacerda construiu sua reputação.

Abrigado no jornal “Tribuna da Imprensa”, seu texto era “cruento e satiricamente irresistível, usando e abusando de apelidos, invectivas pungentes, acusações e analogias das mais criativas”, como define Berlanza.

Num país carente de figuras de proa do conservadorismo (em oposição à abundância de “pais dos pobres”), é inevitável que Lacerda se destaque.

Mas há um obstáculo incontornável na tentativa de reabilitar a figura de Lacerda como uma espécie de godfather da nova direita: seu desapreço pela via democrática e seus constantes flertes com o golpismo. E Lacerda foi um golpista de mão cheia.

Um parágrafo que escreveu em 1950, por ocasião da eleição que trouxe Vargas de volta ao poder, até hoje é uma espécie de padrão-ouro da defesa da ruptura da legalidade:

“O sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.

Nunca, nem antes nem depois, algo parecido foi dito, embora Berlanza tente suavizar um pouco a declaração argumentando que era uma espécie de apelo contra a volta ao poder de um ex-ditador.

Cinco anos depois, ele voltou à carga, tentando impedir a posse de JK na Presidência e Jango na Vice, recém-eleitos pelo voto popular. “Esses homens não podem tomar posse, não devem tomar posse, não tomarão posse”, afirmou.

É justo, porém, que uma figura da importância histórica de Lacerda não seja reduzida à de alguém que passou a vida tramando contra adversários, algo que o livro faz muito bem.

E é inevitável não sentir uma certa melancolia com o fim de um político que poderia ter contribuído com o debate ideológico brasileiro muito mais do que conseguiu.

Preso pelo AI-5, ele fez greve de fome e escreveu uma tentativa de carta-testamento, talvez inspirado, ironicamente, pelo próprio Vargas que tanto combateu.

“Os heróis de fancaria vão ver como luta e morre, sozinho e desarmado, um brasileiro que ama a pátria, mas a pátria livre. Se isto acontecer, malditos sejam pra sempre os ladrões do voto do povo, os assassinos da liberdade”, disse.

Mas, diferente de seu arqui-inimigo, ele não saiu da vida para entrar na história. Morreria nove anos depois, uma pálida sombra do tribuno de outrora.

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De A a Z, conheça o dialeto da direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/30/de-a-a-z-conheca-o-dialeto-da-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/30/de-a-a-z-conheca-o-dialeto-da-direita/#respond Tue, 30 Jul 2019 10:56:39 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Bolsonaro-1-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1480 Grande Dia!

Você é um Vermelho que adora problematizar?

Então está precisando conhecer o dialeto da direita e ficar atinado aos novos tempos. Está aí um guiazinho básico, de A a Z, para ficar mais afiado que Olavo de Carvalho.

Forte abraço!

 

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Ancap

Apelido fofo para os anarcocapitalistas, ultraliberais que defendem o fim do Estado e a privatização de todos os serviços públicos

Balbúrdia

O que acontece nas universidades (ao menos para o ministro da Educação)

CAC

Sigla para “Colecionador, Atirador, Caçador”, categorias que estão na linha de frente da ampliação das regras para posse e porte de armas

Defensivo

Termo direitísticamente correto para o bom e velho agrotóxico

Escola Sem Partido

Bandeira conservadora contra o o viés ideológico (vermelho, claro) nas escolas públicas

Forte abraço

Como Bolsonaro costuma encerrar tuítes

Grande Dia

Usada quando o presidente está muito feliz

Hegemonia marxista

Fenômeno perigosíssimo que controla universidades, cultura e imprensa

Imposto é Roubo

Slogan favorito dos liberais que não suportam o Estado

Jesus

Participantes da Marcha Para Jesus, em junho, em SP (Eduardo Anizelli/Folhapress)

Senhor de barba e cabelos longos que morreu há um tempo, citado o tempo todo por evangélicos e demais conservadores

Keynesianismo

Referente a John Maynard Keynes (1883-1946), economista britânico, pai do intervencionismo econômico, e, para a direita, um dos caras mais perigosos do século 20

Libertários

Ultraliberais só um pouquinho menos radicais que os ancaps (admitem que pode existir um Estado)

Melancia

General verde por fora, mas vermelho por dentro

Nióbio

Metal mais amado por Bolsonaro

Olavismo

Ligado a Olavo de Carvalho, guru do presidente e farol para boa parte dos conservadores brasileiros

Problematizar

Coisa de esquerdista que não estudou

Queermuseu

Manifestantes fazem protesto contra mostra Queermuseu, no Rio, no ano passado (Nicola Pamplona/Folhapress)

Exposição em Porto Alegre que foi suspensa após protestos da direita por causa de supostas cenas de pornografia acessíveis por crianças

Rosa e azul

Cores para meninas e meninos, respectivamente

Sexo

Homem e mulher. Favor não confundir com gênero, que é coisa de esquerdista

Tá ok?

O cacoete de linguagem mais poderoso do Brasil; variações aceitas: talquei e talkei

USA

Onde mora Trump, o Bolsonaro americano

Vermelho

Sinônimo de esquerdista, marxista, ambientalista, ongueiro, globalista, gayzista, abortista etc.

Wal do Açaí

A funcionária fantasma mais famosa da República

Xô, CPMF

Campanha capitaneada pela direita em 2007 contra o imposto do cheque, primeira vez em que conseguiu aplicar uma derrota no governo do PT

Yossi Shelley

Embaixador de Israel no Brasil, amigo do peito de Bolsonaro

A partir da esq., Carlos, Flávio e Eduardo, filhos do presidente (Reprodução Twitter)

Zero 1, Zero 2, Zero 3

Flavio, Carluxo e Dudu, a prole do presida

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O que pensam direitistas de Paraíba e Maranhão sobre a frase de Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/23/o-que-pensam-direitistas-de-paraiba-e-maranhao-sobre-a-frase-de-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/23/o-que-pensam-direitistas-de-paraiba-e-maranhao-sobre-a-frase-de-bolsonaro/#respond Tue, 23 Jul 2019 10:20:00 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Bolsonaro-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1456 Até para o padrão Jair Bolsonaro, a última sexta-feira (19) foi, digamos, intensa. Numa manhã inspirada, durante um café com jornalistas de veículos estrangeiros, o presidente distribuiu declarações polêmicas para todo lado.

Curiosamente, talvez a que mais gerou burburinho foi uma afirmação que ganhou o debate público meio sem querer. Em conversa antes do início do evento com o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), captada pelos microfones, Bolsonaro referiu-se aos governadores dos estados  ‘paraíba’, como nordestinos são chamados de maneira pejorativa no Rio de Janeiro. Um deles, especialmente, foi alvo especial da língua ferina do presidente: o do Maranhão, Flávio Dino (PC do B).

E o que os envolvidos pensam disso? Fui atrás de representantes da direita nos dois estados citados nominalmente pelo presidente. Como sempre acontece no Brasil atualmente, as opiniões se dividiram.

Mateus Siqueira, diretor do Instituto Tropeiros, da cidade paraibana de Campina Grande, considerou um erro a fala de Bolsonaro. “O episódio enfatiza quanto o presidente está desalinhado com as mudanças necessárias que devem ocorrer em todo o país”, disse Siqueira

A entidade que ele comanda defende o liberalismo econômico, mas tem laços também com o conservadorismo. Recentemente, numa sessão tumultuada por grupos de esquerda, ele organizou a exibição do documentário “1964, o Brasil entre Armas e Livros”, que apresenta uma visão simpática ao golpe militar.

Para ele, Bolsonaro mostra desprezo pela região em sua fala. “Quando faz referência a todo o Nordeste como ‘Paraíba’, ele demonstra falta de conhecimento com relação aos seus estados, cultura, limites e população, além de desdenhar de uma região sempre tão prejudicada pelo estatismo e pelo coronelismo”, afirma.

Do outro lado do debate, o pastor Euder Ferreira, coordenador do Vinacc (Visão Nacional para uma Consciência Cristã), diz que a frase do presidente está sendo distorcida.

“Bolsonaro não falou da Paraíba e do Maranhão, nem dos nordestinos. Atacou apenas os governos desses estados, algo natural no mundo político. O resto é fake news, pura distorção apenas para jogar o Nordeste contra ele”, afirmou ele, cuja entidade é uma espécie de guarda-chuvas de igrejas evangélicas, sobretudo nordestinas.

Todos os anos, o Vinacc organiza um grande encontro, também em Campina Grande, reunindo milhares de evangélicos. É um dos maiores do tipo no Brasil.

Ao publicar sua opinião no Facebook, o pastor ouviu reclamações de alguns seguidores. Respondeu que “crítica política [de Bolsonaro] faz parte do jogo”.

“Não mandar dinheiro para o governo do estado não significa não mandar dinheiro para o estado, pois o governo federal pode fazer diretamente a obra que quiser em parceria com as prefeituras. Isso faz parte do jogo político. O governador comunista do Maranhão vive atacando o governo, eu no lugar de Bolsonaro faria a mesma coisa”, declarou.

No outro estado citado, o Maranhão, perguntei ao prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahésio Rodrigues (PSDB), o que achou do que disse o presidente.

A cidade de 4.600 moradores no sul do estado tem uma peculiaridade: é uma ilha bolsonarista num estado vermelho, onde o presidente teria ganho já no primeiro turno. O motivo é que a localidade tem alta proporção de evangélicos.

Rodrigues, adversário político do governador, acha que Bolsonaro está coberto de razão.

“Ele liberou muito dinheiro para o Maranhão. Está recuperando as estradas da região para o escoamento da soja, que é importante para nossa economia. E o governador fica usando Twittter, o Instagram e Facebook para detonar o presidente”, diz.

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