Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por que é tão difícil estudar a direita nas universidades? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/26/por-que-e-tao-dificil-estudar-a-direita-nas-universidades/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/11/26/por-que-e-tao-dificil-estudar-a-direita-nas-universidades/#respond Tue, 26 Nov 2019 11:14:07 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/cpac-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2102 Enquanto influenciadores digitais da direita tiravam selfies e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) era paparicado o tempo todo, uma profusão de panfletos e folderes era distribuída para os participantes da Cpac, conferência conservadora que ocorreu em São Paulo no mês passado.

Um deles me chamou a atenção: uma pós graduação em conservadorismo, com uma carga horária de 360 horas, distribuída em 12 disciplinas.

Entre elas, “fundamentos do pensamento conservador”, “discurso e narrativa conservadora” e “nova direita, liberais vs. conservadores”.

Quem anunciava a novidade era a Uninter, Centro Universitário Nacional, entidade paranaense que oferece cursos presenciais e à distância (como era o caso da pós em conservadorismo).

Parecia interessante. Cursos universitários sobre a direita são raros, o que dá certa credibilidade à acusação de que o ambiente acadêmico é um antro esquerdista. De fato, quem quiser estudar marxismo aplicado à jardinagem certamente conseguirá.

Mas a ideia, aparentemente, não foi para a frente. No site da Uninter não há nenhuma referência ao curso anunciado.  A assessoria de imprensa da instituição, que procurei, foi lacônica. Limitou-se a dizer que “o curso não consta no portfólio atual de oferta de pós-graduação”.

Perguntei se o curso havia sido cancelado e os motivos, e a resposta foi o silêncio.

Como não recebi explicações, só posso deduzir o motivo provável para o projeto ter flopado: falta de interesse. O que leva a uma questão maior: por que é tão difícil aprender sobre a direita e o conservadorismo?

Não é que haja um vazio absoluto. Institutos especializados, como o liberal Mises Brasil e o conservador Burke, de São José dos Campos (SP), oferecem programas acadêmicos (este último, aliás, até anunciou promoção na Black Friday).

A produtora gaúcha Brasil Paralelo, da qual já falei bastante neste blog, é outro exemplo, oferecendo documentários e cursos online com uma visão conservadora sobre história, educação e cultura.

Mas esses esforços, embora meritórios, são parciais e enviesados. Partem de um determinado ponto de vista, e não contemplam a visão mais imparcial e abrangente que se espera de um ambiente universitário.

Exemplo, do caso do Burke: quem se inscrever nos cursos do instituto recebe de brinde a obra “Por que o Brasil é um país atrasado”, do deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).

O parlamentar é unha e carne com o presidente Jair Bolsonaro e um dos organizadores de seu novo partido, a Aliança Pelo Brasil. Não espere uma visão desapaixonada, portanto.

A universidade é, por excelência, o espaço da crítica, e isso deveria ser estendido para o estudo da direita. Mas o que vemos hoje é uma espécie de círculo vicioso.

As instituições de ensino superior muitas vezes preferem ficar no conforto de suas grades curriculares, em que o conservadorismo é tratado como algo exótico. Nova direita, então, praticamente não encontra espaço.

E, como isso acontece, estudantes se desinteressam por estes temas ou, pior, têm receio da reação de seus pares ao tentar estudá-los.

Como corolário, o cenário reforça o discurso de gente como Olavo de Carvalho e o ministro Abraham Weintraub (Educação), de que o tal do “marxismo cultural” impera nas universidades.

A direita tem conquistado espaços, e talvez seja questão de tempo até que também entre com tudo nas universidades. Por enquanto, contudo, esse território continua sendo praticamente uma exceção na atual onda conservadora.

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Livro busca reabilitar Lacerda, o Corvo, como padrinho da nova direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/27/livro-busca-reabilitar-lacerda-o-corvo-como-padrinho-da-nova-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/27/livro-busca-reabilitar-lacerda-o-corvo-como-padrinho-da-nova-direita/#respond Fri, 27 Sep 2019 10:44:05 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/52e2d947e1412620c87b1c4adbefc62acbed3e80cd4e07e7f0d4dfb7be874c3b_5c116d83df966-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1778 A história não foi simpática com Carlos Lacerda (1914-1977).

Um dos grandes oradores do sua época, ficou marcado como o algoz de Getúlio Vargas. Houve um tempo em que lacerdismo, ou udenismo (de UDN, seu partido) eram quase palavrões.

Foi chamado de “Corvo”, apelido que pegou e o perseguiu até a morte. Político sagaz até a meia-idade, terminou a vida marcado como ingênuo, por ter acreditado que o golpe de 1964 seria apenas uma ponte para sua chegada ao Palácio do Planalto.

Num lance de desespero, teve de se humilhar ao formar uma quixotesca frente opositora com antigos adversários, como João Goulart e Juscelino Kubitschek. Fracassou.

Mas é possível ver Lacerda de outro ângulo. Por vias tortas, sua trajetória antecipou grande parte dos movimentos de direita que vemos neste início de século 21.

A retórica afiada antecipou a dos polemistas das redes sociais. A defesa de limites ao tamanho do Estado influencia a nova geração de liberais.

Mesmo sua conversão, de comunista militante para anticomunista ferrenho, é a mesma de diversos pensadores da direita atual.

Há um certo movimento de resgate da figura do jornalista e político, que atingiu o ápice quando governou o antigo estado da Guanabara (1960-65).

Em agosto, um encontro em Campinas (SP) aprovou a recriação da UDN (União Democrática Nacional), com loas a Lacerda. O partido, extinto em 1965 pela ditadura, ainda espera homologação do TSE para ser refundado.

Também está sendo lançado um novo livro sobre o tema. “Lacerda, a Virtude da Polêmica” (editora LVM), do jornalista Lucas Berlanza, é menos uma biografia clássica e mais um longo ensaio analítico sobre discursos e textos do personagem.

Berlanza não esconde admiração por Lacerda e busca, num livro denso e de rica pesquisa, contribuir para o resgate de sua imagem. Logo no início qualifica seu biografado como um “personagem incompreendido e injustiçado por contrariar os interesses de demagogos”.

“É um ícone do conservadorismo e do liberalismo no Brasil”, afirma o autor, que lamenta o fato de que “muitos porta-vozes da direita moderna parecem ter extremo pudor em assumir qualquer inspiração nele”.

Muito antes de Jair Bolsonaro fazer campanha prometendo unir o conservadorismo de costumes e o liberalismo econômico, Lacerda já percebia que esse era o caminho para a direita chegar ao poder e evitar a ascensão comunista. Defendia “preservar a ordem como único meio de salvar a liberdade”.

Pregou durante décadas a primazia da iniciativa privada e a desburocratização, e insurgiu-se como poucos contra o desenvolvimentismo de JK e suas políticas inflacionárias.

Foi um crítico da construção de Brasília, embora tenha recolhido sua artilharia quando viu que a empolgação na sociedade com a nova capital era uma onda irrefreável.

Mas foi no antiesquerdismo e suas inúmeras variações (varguismo, janguismo, sindicalismo) que Lacerda construiu sua reputação.

Abrigado no jornal “Tribuna da Imprensa”, seu texto era “cruento e satiricamente irresistível, usando e abusando de apelidos, invectivas pungentes, acusações e analogias das mais criativas”, como define Berlanza.

Num país carente de figuras de proa do conservadorismo (em oposição à abundância de “pais dos pobres”), é inevitável que Lacerda se destaque.

Mas há um obstáculo incontornável na tentativa de reabilitar a figura de Lacerda como uma espécie de godfather da nova direita: seu desapreço pela via democrática e seus constantes flertes com o golpismo. E Lacerda foi um golpista de mão cheia.

Um parágrafo que escreveu em 1950, por ocasião da eleição que trouxe Vargas de volta ao poder, até hoje é uma espécie de padrão-ouro da defesa da ruptura da legalidade:

“O sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.

Nunca, nem antes nem depois, algo parecido foi dito, embora Berlanza tente suavizar um pouco a declaração argumentando que era uma espécie de apelo contra a volta ao poder de um ex-ditador.

Cinco anos depois, ele voltou à carga, tentando impedir a posse de JK na Presidência e Jango na Vice, recém-eleitos pelo voto popular. “Esses homens não podem tomar posse, não devem tomar posse, não tomarão posse”, afirmou.

É justo, porém, que uma figura da importância histórica de Lacerda não seja reduzida à de alguém que passou a vida tramando contra adversários, algo que o livro faz muito bem.

E é inevitável não sentir uma certa melancolia com o fim de um político que poderia ter contribuído com o debate ideológico brasileiro muito mais do que conseguiu.

Preso pelo AI-5, ele fez greve de fome e escreveu uma tentativa de carta-testamento, talvez inspirado, ironicamente, pelo próprio Vargas que tanto combateu.

“Os heróis de fancaria vão ver como luta e morre, sozinho e desarmado, um brasileiro que ama a pátria, mas a pátria livre. Se isto acontecer, malditos sejam pra sempre os ladrões do voto do povo, os assassinos da liberdade”, disse.

Mas, diferente de seu arqui-inimigo, ele não saiu da vida para entrar na história. Morreria nove anos depois, uma pálida sombra do tribuno de outrora.

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Fala de Bolsonaro na ONU foi 75% conservadora e 25% liberal https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/24/fala-de-bolsonaro-na-onu-foi-75-conservadora-e-25-liberal/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/24/fala-de-bolsonaro-na-onu-foi-75-conservadora-e-25-liberal/#respond Tue, 24 Sep 2019 21:39:51 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/8833fc06f9d3271a398504df5d0db0356cba830989f8d5ae1356ada58a94fd36_5d8a380d4b19a-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1770 Jair Bolsonaro gosta de caracterizar seu governo como uma mistura de liberalismo econômico e conservadorismo social. Ou, nas palavras do ministro Paulo Guedes (Economia), a união da ordem com o progresso.

O discurso do presidente à Assembleia Geral da ONU oferece uma oportunidade rara de tentar medir quanto de seu governo é liberalismo e quanto é conservadorismo. Ficou claro que certamente não é meio a meio.

Com base na íntegra do discurso, construí uma classificação, dividindo-o em quatro temas gerais: antiesquerdismo, defesa de valores, ambientalismo/questão indígena e liberalismo/globalismo (sim, houve acenos à demonizada comunidade internacional). Críticas à imprensa não mereceram uma categoria à parte porque basicamente perpassam o discurso inteiro.

Bolsonaro pronunciou 2.780 palavras, em 32 minutos. Destas:

-763 (27,4%) foram usadas para defender a visão do governo sobre meio ambiente, Amazônia e direitos indígenas;

-721 (25,93%) referiram-se à defesa de valores liberais e globalistas

-683 (24,56%) foram pronunciadas para a defesa de valores conservadores

-585 (21,04%) palavras foram de ataque a esquerdistas dos mais variados.

(o outro 1,07% é de saudações).

Ou seja, a defesa de ideias liberais na economia e no comércio exterior ou acenos ao multilateralismo, como a participação em missões de paz, mereceram 1 em cada 4 palavras. Grosso modo, é o que mais poderia se aproxima de uma agenda positiva apresentada pelo presidente.

Exemplos:

“O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil”;

“Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor”;

“Reafirmo nossa disposição de manter contribuição concreta às missões da ONU, inclusive no que diz respeito ao treinamento e à capacitação de tropas, área em que temos reconhecida experiência”.

Os outros três quartos da fala são de um Bolsonaro que foi para cima dos adversários, como se estivesse em um palanque. Ou, para os que defendem o presidente, que reagiu às críticas num tom duro, mas necessário.

Como disse, dividi essa parte majoritária do discurso em três categorias, que detalho a seguir.

*

1-) Ambientalismo/meio ambiente/questão indígena (27,4% do discurso). Exemplos:

“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo”;

“O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses. O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas”.

2-) Defesa de valores (24,56%). Exemplos:

“A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família”;

“Não estamos aqui para apagar nacionalidades e soberanias em nome de um interesse global abstrato”.

3-) Antiesquerdismo (21,04%). Exemplos:

“O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido”;

“Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto”.

*

Minha divisão temática do discurso não é ciência exata, claro, e outras pessoas que se aventurem a fazer esse exercício poderão chegar a conclusões diferentes (embora não muito, suponho). Além disso, alguns trechos misturam categorias (crítica ao socialismo misturada com ambientalismo, por exemplo).

Mas o exercício teórico serve para mostrar que talvez seja um exagero dizer que este é um governo liberal-conservador. Está mais para um governo conservador com um nicho liberal.

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Principal voz conservadora no MPF atuou no caso do Césio e cometeu gafe sobre Venezuela https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/20/principal-voz-conservadora-no-mpf-atuou-no-caso-do-cesio-e-cometeu-gafe-sobre-venezuela/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/20/principal-voz-conservadora-no-mpf-atuou-no-caso-do-cesio-e-cometeu-gafe-sobre-venezuela/#respond Fri, 20 Sep 2019 11:24:40 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/ailton-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1727 Procurador-chefe em Goiás, Ailton Benedito de Souza, 49, é hoje a grande voz do conservadorismo no Ministério Público Federal.

Nas redes sociais, é incensado pela direita, que vê seus tuítes como uma espécie de farol. Benedito, afinal, ataca a esquerda sem dó. Investe contra a chamada “ideologia de gênero” e defende bandeiras como Escola Sem Partido e o endurecimento penal.

Como o procurador me disse numa entrevista publicada no domingo (15), esse é seu estilo, e ele não pretende mudar.

Aliado do futuro procurador-geral da República, Augusto Aras, Benedito deve compor sua equipe, em posição ainda a ser definida.

Sua faceta conservadora pode ser a mais conhecida, mas não é a única. Em 16 anos de carreira no MPF, ele atuou em casos de grande relevância. Comprou brigas, ganhou o respeito de opositores ideológicos e cometeu ao menos uma grande gafe.

Católico fervoroso, mineiro de Paracatu (MG) e torcedor do Atlético-MG, Benedito assume suas opções já na autodescrição biográfica do Twitter, onde tem 80 mil seguidores. “Yahveh é meu pastor, nada me falta. Brasil. Ordem. Justiça. Liberdade. Conservadorismo”, escreve, referindo-se ao termo em hebraico para Deus.

Ele atuação bastante na saúde pública, um campo, diz Benedito, em que colabora frequentemente com esquerdistas, sem grandes problemas.

Uma de suas ações, aceita pela Justiça Federal, obriga os médicos a informarem a parentes o prontuário de pacientes que morrem. O Conselho Federal de Medicina alegava sigilo profissional, mas a medida foi considerada importante para dar transparência sobre o tratamento e eventualmente identificar falhas.

Há anos, ele também tem atuado num dos casos mais rumorosos que já afetou Goiânia, o do Césio 137. O procurador tem representado vítimas do acidente ocorrido em 1987, que deixou quatro mortos.

Há cerca de 110 pessoas que tiveram contato direto e indireto com o material radioativo e recebem pensão do Estado. “Ele não tem rodeios com a gente. Nunca deixou de nos receber”, diz Sueli Lina de Moraes Silva, 61, presidente da Associação das Vítimas do Césio 137.

Os associados pleiteiam, entre outros pontos, que o benefício estadual que recebem seja equiparado a um salário mínimo e maior acesso a remédios.

Como seria de se esperar, Benedito tem uma atuação destacada na defesa da liberdade de divulgação de valores conservadores. Já se insurgiu diversas vezes contra tentativas de redes sociais de tirar do ar páginas de direita.

Em maio de 2017, tomou as dores de Thais Azevedo, 35, uma militante antifeminista que havia sido convidada para falar na Universidade Federal de Goiás. Estudantes de esquerda fizeram um protesto que a impediu de dar sua palestra.

“No dia seguinte, ele entrou em contato comigo me perguntando se eu tinha provas. Felizmente, nós filmamos tudo, e ele instalou um procedimento obrigando a universidade e adotar medidas de segurança para eventos semelhantes”, afirma Azevedo, hoje empresária em São Paulo.

Outras causas que ele abraçou são curiosas. Já saiu em defesa de baixinhos que foram barrados em um concurso da Aeronáutica e insurgiu-se contra tentativas de proibir contas de Twitter que alertavam para a ocorrência de blitze da Lei Seca.

Talvez a causa mais pitoresca que defendeu, no entanto, é um tanto constrangedora. Em 2014, pediu investigação contra um suposto aliciamento de jovens brasileiros pelo regime venezuelano.

Na verdade, Benedito se confundiu com uma notícia divulgada pelo governo de Nicolás Maduro, que alardeava a participação de adolescentes em brigadas de comunicação popular na comunidade de Brasil, no estado de Sucre. Era apenas um bairro popular batizado em homenagem ao nosso país.

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‘Bolsonaro caipira’ é eleito prefeito no interior de SP, o 1º do novo PSL https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/12/bolsonaro-caipira-e-eleito-prefeito-no-interior-de-sp-o-1o-do-novo-psl/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/09/12/bolsonaro-caipira-e-eleito-prefeito-no-interior-de-sp-o-1o-do-novo-psl/#respond Thu, 12 Sep 2019 11:26:12 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Sodario-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1678 “O pai do atual presidente da OAB era um terrorista travestido de comunista, morreu assassinado pelos próprios colegas. Felipe Santa Cruz é uma vergonha para nós, advogados“. A frase poderia ter sido dita pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi tuitada no final de julho por Everton Sodario, na época apenas um militante de direita na pequena Mirandópolis, a 600 km de São Paulo.

Um mês e meio depois, Sodario, 26, tornou-se o primeiro prefeito eleito pelo PSL desde que o presidente tomou posse, em janeiro. O discurso conservador, o estilo brigão e as prioridades administrativas fazem dele, com muito orgulho, uma espécie de Bolsonaro caipira.

“Tem gente falando que o governo sofre desgaste, mas aqui não vi nada disso. Usei o Bolsonaro o tempo todo, o número 17, a legenda, o nome do PSL. Tudo isso me ajudou muito”, disse Sodario, que deve tomar posse para um mandato tampão na cidade de 30 mil habitantes, na região de Araçatuba, no início de outubro.

Ele teve 60% dos votos e derrotou um opositor do PSC para completar o mandato da ex-prefeita, cassada devido a irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado.

No ano passado, Sodario tentou ser deputado estadual, mas não foi eleito. Acabou sendo convidado para ser assessor parlamentar do gabinete do deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), do qual se desligou para disputar e vencer a eleição.

Sua vitória foi celebrada por caciques do partido como um prenúncio de que a força eleitoral de Bolsonaro, em que pese sua queda de popularidade, continua preservada. O PSL já traça planos de eleger centenas de prefeitos no ano que vem.

Sodario diz que o discurso de alinhamento com o presidente foi útil, mas ressalva que a pauta conservadora não foi a mais importante na campanha. “No interior não tem essa coisa tão forte de direita e esquerda. As pessoas não querem tanto saber de conservadorismo. Querem saber de emprego, saúde, asfalto, educação”, afirma.

Sua plataforma, em muitos aspectos, mimetiza o discurso do atual ocupante do Palácio do Planalto. Ele prometeu, por exemplo, enxugar cargos comissionados e unir departamentos da prefeitura. Uma fusão planejada é das áreas de agricultura e meio ambiente, algo que Bolsonaro indicou que faria, mas acabou não conseguindo.

Também teve efeito seu discurso de que a gestão municipal precisa ser reconstruída e, nesse caso, literalmente. Com o prédio da prefeitura condenado, a administração vem funcionando num ginásio de esportes.

Por fim, assim como fez o capitão reformado, o novo prefeito acenou com uma nova forma de fazer política. “Não vou fazer toma-lá-dá-cá com vereador. Isso não vai acontecer mais”, diz. Segundo sua própria estimativa, no entanto, ele terá apenas 4 dos 9 vereadores em sua base de apoio.

Mirandópolis tem duas fontes de renda principais: a cana de açúcar, inclusive com uma usina instalada no município, e a presença de três presídios estaduais, que empregam, juntos, cerca de 500 trabalhadores.

Mas a economia da cidade não dá conta de gerar trabalho para todos, diz Sodario, e por isso ele pretende atrair investimentos com a clássica receita de seduzir empresas com incentivos fiscais. “O empresário vai ter o que precisar: isenção fiscal, doação de terrenos. O que eu quero é que ele gere emprego na minha cidade”.

Outra medida promete ser mais polêmica. O novo prefeito quer acabar com um convênio municipal com presos do regime semiaberto, que exercem atividades como varrer ruas e limpar praças, recebendo pagamento por isso. Prefere que moradores da cidade façam esse serviço.

“Queremos que o preso trabalhe dentro da cadeia. Aqui fora, eu prefiro que o pai de família trabalhe”, diz ele.

Seguidor das aulas de Olavo de Carvalho e definindo-se como um “conservador ideológico”, ele diz que Bolsonaro está conseguindo, no governo, levar adiante as ideias que prometeu na campanha. Sobre o estilo do presidente ele não tem nenhum reparo, até porque faz igual.

“Sou tão brigão quanto o Bolsonaro, acho até mais do que ele. Agora que virei prefeito estou um pouco mais tranquilo, com outro foco. Mas acho que daqui a pouco eu volto a brigar com os esquerdistas”, diz.

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Com Brasil na rota, evento conservador CPAC mostra ambição global https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/20/com-brasil-na-rota-entidade-conservadora-cpac-mostra-ambicao-global/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/08/20/com-brasil-na-rota-entidade-conservadora-cpac-mostra-ambicao-global/#respond Tue, 20 Aug 2019 10:44:41 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/CPAC.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1594 Um sorridente Donald Trump abraça a bandeira americana como se fosse um garoto acariciando um brinquedo novo.

A imagem está em destaque no site da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora), anunciando a edição 2020 de um dos maiores eventos conservadores do planeta. Ocorrerá em fevereiro em National Harbor, estado americano de Maryland.

Os ingressos já estão à venda, variando de US$ 85 (R$ 350) para estudantes, até US$ 5.750 (R$ 23.500) no pacote “premium gold”. Há também uma série de eventos paralelos com DNA tipicamente conservador, como o “jantar Ronald Reagan”. Veteranos de guerra têm preços especiais.

O apoio à reeleição do presidente americano no pleito de novembro não chega a ser uma surpresa para a American  Conservative Union, entidade que organiza a conferência. Trump, afinal, sempre foi figurinha fácil na CPAC, desde quando era apenas um apresentador de TV folclórico.

Menos notada é a nova ambição global dessa organização. Cada vez mais, a CPAC deixa de ser um evento simplesmente americano para tentar se firmar como uma referência em ideias conservadoras em âmbito mundial. O inédito alinhamento político que levou diversos líderes de direita ao poder em vários continentes oferece uma oportunidade única para que o conservadorismo se espalhe.

Na semana passada, foi anunciada a versão brasileira do evento, que ocorrerá em outubro em São Paulo. Seu principal promotor é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que em breve deve ser indicado pelo seu pai como embaixador em Washington (pendente aprovação do Senado). Matt Schlapp, presidente da entidade organizadora, é presença confirmada, e espera-se a vinda de outros convidados internacionais.

Eventos similares estão pipocando em diversas partes do planeta. Há duas semanas, houve a primeira edição da CAPC Austrália. Conforme mostrou minha colega Patrícia Campos Mello, o evento foi repleto de polêmicas em razão da participação de alguns convidados, entre eles o ativista britânico de direita Raheem Kassam, conhecido por suas críticas ao Alcorão, o livro sagrado do islamismo.

No final do mês, o Japão realizará sua segunda edição do evento. Entre os temas em discussão, formas de lidar com o regime norte-coreano (inclusive com a presença de dissidentes da ditadura comunista), os protestos por democracia em Hong Kong e o crescente apetite da China de influenciar outros países, sobretudo por meio de projetos de infraestrutura. Também haverá uma discussão sobre as Olimpíadas do ano que vem, em Tóquio, e como tornar o evento um sucesso capitalista.

“À medida em que o mundo se move em direção ao caos, a situação cercando o Japão está se tornando mais e mais tensa”, diz o texto que apresenta o evento.

Em outubro, além da versão brasileira, também a Coreia do Sul sediará sua CPAC. No mês seguinte, será a vez da Irlanda. Fora esses grandes eventos internacionais, a American Conservative Union promove encontros regionais nos EUA praticamente todos os meses, que deverão se tornar um aquecimento da campanha eleitoral de 2020.

A chegada do evento a São Paulo, portanto, não é apenas uma deferência dos conservadores americanos ao governo de Jair Bolsonaro, embora isso tenha certamente sido fundamental para que a CPAC aporte por essas bandas.

Os conservadores, como bons defensores do capitalismo, estão percebendo uma oportunidade de mercado para crescer e divulgar suas ideias. Pode esperar novas edições do evento em diversas partes do mundo nos próximos anos.

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Com petições online, site conservador mira da Disney à ‘ditadura de gênero’ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/09/com-peticoes-online-site-conservador-mira-da-disney-a-ditadura-de-genero/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/09/com-peticoes-online-site-conservador-mira-da-disney-a-ditadura-de-genero/#respond Tue, 09 Jul 2019 11:27:54 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/citizengo2-1-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1367 Em novembro de 2017, a passagem por SP da filósofa e escritora americana Judith Butler, um dos principais nomes da atualidade na área de estudo de gênero, foi tumultuada.

Com cartazes pedindo “Menos Butler, Mais Família” e “Xô, Judith”, manifestantes se postaram em frente ao local onde a professora da Universidade de Berkeley participava de um debate e queimaram um boneco dela vestida de bruxa. Também foram protestar contra a acadêmica no aeroporto de Congonhas.

As manifestações, em parte, foram estimuladas por uma petição online que teve 300 mil assinaturas pedindo o cancelamento do evento. Quem organizou foi a CitizenGo, entidade pouco conhecida do grande público, mas bastante influente em círculos conservadores.

Surgida na Espanha em 2013 e com atuação em 50 países, a CitizenGo é uma entidade independente, mas próxima de movimentos de direita e da Igreja Católica.

No Brasil, é comandada pelo professor de História mineiro Guilherme Ferreira de Araújo, que tem relações com o Centro Dom Bosco, entidade de fiéis católicos.

Ele diz que, no episódio com Butler, não tem como se responsabilizar pelo tom agressivo dos manifestantes. “Os protestos não foram planejados nem coordenados pela CitizenGo. Ao que tudo indica, foi uma reação espontânea de grande parcela de um público que não aceita as ideias que ela promove”, afirma.

A CitizenGo é uma organização especializada em fazer pressão on-line em defesa de uma agenda conservadora, estratégia que sempre foi mais utilizada pela esquerda.

Promove petições em defesa da família e contra a chamada “agenda LGBT”, além de fazer oposição ferrenha a temas progressistas como teoria de gênero e ampliação do direito ao aborto. Também atua na defesa de cristãos que vivem sob ameaça em países em que essa fé é minoritária.

Sua carta de princípios tem 11 mandamentos. Entre eles, estão “direito à vida desde o momento da concepção”, “direito ao casamento, compreendido como a união entre um homem e uma mulher” e “direito a honrar Deus em público e em privado”.

O modus operandi da organização é bastante controverso, como mostra o episódio com Butler. Não foi o único caso polêmico recente.

Em abril deste ano, durante reunião da Comissão da ONU para Mulheres, em Nova York, a diplomata queniana Koki Grignon, uma das coordenadoras das discussões, reclamou de sofrer bullying virtual, ao receber milhares de mensagens de texto em seu celular. Era uma ação com a participação da CitizenGo, para que a comissão não tomasse decisões contrárias a valores da família.

Os temas das campanhas globais são variados (dentro, obviamente, do universo conservador). Vão desde uma petição para que o governo britânico proteja pregadores de rua cristãos até o apoio ao ensino domiciliar na Islândia. Uma das mais chamativas no momento pede o fim da “doutrinação LGBT na Disneylândia”, que já passa de 393 mil assinaturas.

Campanha da CitizenGo contra a doutrinação LGBT pela Disney (Reprodução)

A principal estrutura da CitizenGo fica na Espanha, onde tem cerca de 40 pessoas. Segundo balanço financeiro da entidade, sua receita global em 2017, último ano disponível, foi de R$ 9,1 milhões, toda reunida a partir de doações. A entidade diz ter 10,6 milhões de associados globalmente.

No mundo, sua principal liderança é o advogado espanhol Ignacio Arsuaga, que tem laços com a ultradireita em seu país.

No Brasil, o grupo tem como principal interlocutor na Câmara a deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ), advogada católica em primeiro mandato que em 2017 participou de uma ação contra o site humorístico Porta dos Fundos por um esquete em que satirizava a religião.

Apesar disso, diz Araújo, o CitizenGo “não tem políticos de estimação” e é uma entidade independente, seja de governos, empresários ou Igreja Católica.

Entre os milhares de pessoas que apoiam as nossas campanhas,  há quem professe outras crenças e até não crentes que defendem a vida, a família e as liberdades fundamentais”, declara.

No Brasil, já houve cerca de 120 campanhas online. Atualmente, são três as principais. Uma apoia o projeto de lei 4754/16, que visa coibir o ativismo judicial (visto como um indutor de ideias progressistas). Tem 23 mil assinaturas online.

Outra pede que o jesuíta José de Anchieta seja o patrono da educação brasileira, no lugar de Paulo Freire. Nesta, a meta é conseguir 20 mil assinaturas, e a CitizenGo já reuniu mais de 14 mil.

A  mais popular é contra o projeto 672/19, que, segundo seus apoiadores, criminaliza a homofobia –mas que, na visão da entidade, promove uma “ditadura de gênero”. Mais de 34 mil pessoas já assinaram.

Segundo Araújo, a CitizenGo defende valores que têm ampla representatividade na sociedade. “Pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros é a favor da vida, da família e das liberdades fundamentais”, afirma.

Mas, prossegue ele, mesmo que não houvesse tanto apoio, a entidade seguiria fazendo campanha por valores conservadores. “Eles correspondem à própria dignidade da natureza humana”, diz.

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De Mandela aos alimentos orgânicos, conheça 10 implicâncias da direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/05/de-mandela-aos-alimentos-organicos-conheca-10-implicancias-da-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/05/de-mandela-aos-alimentos-organicos-conheca-10-implicancias-da-direita/#respond Wed, 05 Jun 2019 10:19:41 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/mandela-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1121 Este post é um desdobramento de um ranking que fiz há um mês com os maiores inimigos da direita. Ao elaborar meu top 10 da impopularidade do povo destro, vários outros nomes apareceram.

Mas não eram exatamente odiados, eram mais alvos de alguma implicância. Para completar, nem todos na lista eram pessoas ou instituições. Algumas eram apenas “coisas”.

Decidi então fazer um novo ranking, das 10 maiores implicâncias da direita. Em alguns casos, apenas os liberais torcem o nariz. Em outros, só os conservadores (e vários são uma unanimidade).

Aqui vai a lista, sem estar em ordem de importância:

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Nelson Mandela

Hein?? Mandela, aquele santo? O cara que ficou 27 anos preso pelo apartheid sul-africano e ao ser libertado tornou-se um símbolo de conciliação? Para parte da direita, ele também foi um perigoso comunista e terrorista. Aos fatos: sim, Mandela tinha simpatia pelo bloco soviético na juventude; sim, liderou o braço armado da resistência contra o regime racista, mas os ataques eram direcionados à infraestrutura do país, nunca a civis; e não, nunca foi perigoso (os ataques não faziam cócegas no governo).

Perseguição aos canudinhos

Neste caso, juntam-se dois pontos: uma resistência dos liberais ao chamado “Estado-babá”, que quer regular as atividades mais comezinhas do dia a dia; e uma rejeição de quem acha que o fundamentalismo ecologista está indo longe demais. Melhor investir em educação e reciclagem do que em proibição, dizem. Fora aqueles empregos todos que os canudinhos geram.

Verbo ‘lacrar’

Provavelmente a gíria mais odiada pela direita, pois quem gosta de “lacrar” nas redes sociais são esquerdistas em busca de aplauso com suas teses progressistas. Liberais adoram criticar a “lacrosfera”. Um tempo atrás, o MBL lançou o slogan “quem lacra não lucra” (ou seja, quem tem teses de esquerda se dá mal economicamente).

Dia da Consciência Negra

O 20 de novembro e a figura de Zumbi dos Palmares não são nada populares entre a direita, que os considera símbolos esquerdistas. Os conservadores preferem exaltar a Princesa Isabel e a Lei Áurea como marcos do fim da escravidão.

Papa Francisco

O papa Francisco, que é alvo de críticas de conservadores (Reprodução)

Essa retórica em favor dos pobres, essa humildade toda, essa tolerância com os homossexuais… Sei não, mas esse papa é meio vermelho. E ainda escreve cartinha pro Lula! Sdds Bento 16.

RG

A direita libertária, e mesmo outros liberais menos radicais, odeiam documentos de identificação como o RG. O argumento: obrigar alguém a fornecer dados pessoais para o governo é uma invasão de privacidade e um passo para a tirania do Estado sobre o indivíduo. Se precisar identificar alguém em alguma situação, carteirinha da academia com foto já basta.

Limites à economia disruptiva

Patinetes sendo recolhidos pela Prefeitura de SP após fiscalização (Reprodução)

Pode ser a regulamentação do Uber, a obrigatoriedade de capacetes ao usar patinetes ou alguma regra para o Air BNB: se hay limites, soy contra, dizem os liberais. Onde já se viu, afinal, o Estado se meter na sagrada capacidade inovadora do indivíduo?

Latte

A imagem de um esquerdista num café descolado, tomando seu espresso com muita espuma de leite em cima (um latte) ocupa hoje o lugar que já foi da “esquerda caviar” ou do “petista do Jobi” (um bar no Leblon). É o cara que se preocupa com a desigualdade no mundo enquanto aproveita os prazeres burgueses. A direita americana até criou o termo “latte liberal” (mas lá liberal é sinônimo de esquerdista).

Cartórios

Ok, todo mundo implica com eles, mas só a direita enxerga nos cartórios uma questão existencial, como se ameaçassem todo o sistema capitalista. Sempre que você vir iniciativas sobre desburocratização vindas de liberais, pode ter certeza que é o ódio dos cartórios se manifestando mais uma vez.

Alimentos orgânicos

Não é que a direita não consuma esse tipo de alimento (dizem até que existem direitistas veganos, mas eu não conheço). É mais uma defesa do direito de agricultores usarem defensivos agrícolas (agrotóxico é palavra de esquerda!) e sementes geneticamente modificadas. Se possível, até em terras indígenas.

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Com sarcasmo, liberal faz sucesso nas redes e diz que polarização é excelente https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/com-sarcasmo-liberal-faz-sucesso-nas-redes-e-diz-que-polarizacao-e-excelente/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/com-sarcasmo-liberal-faz-sucesso-nas-redes-e-diz-que-polarizacao-e-excelente/#respond Thu, 30 May 2019 11:14:35 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/maultasch-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1041 “Cristão = Easter worshipper (cultuador da Páscoa)

Terrorista = vítima do imperialismo ocidental

Morte de um palestino = crime contra a humanidade

Morte de um israelense = aí é só resistência”

Assim começa um post recente no Facebook de Gustavo Maultasch de Oliveira, sobre a atual “novilíngua progressista”, com vários outros verbetes.

Diplomata de carreira e atualmente servindo no consulado do Brasil em Washington, Maultasch, 38, tem feito sucesso em círculos liberais com seu tom sarcástico nas redes sociais, direcionado sobretudo (mas não apenas) à esquerda.

Quando o governo anunciou cortes na Educação, ele disse que a atitude da esquerda era “se lançar ao chão e dar aqueles mil rolamentos, como se fosse Neymar fingindo falta”. Também já defendeu o direito de Olavo de Carvalho de ser desbocado. “Debate público tem fricção, às vezes até faísca; o resto é frescobol de truísmo”.

O estilo de Maultasch e sua popularidade refletem algo maior: os liberais, até recentemente muito tímidos no embate com a esquerda, estão saindo do casulo.

Às vezes, o diplomata recebe críticas de colegas liberais pelo tom demasiadamente debochado. Ele não se importa e, mais do que isso, faz uma ode à polarização nas redes sociais, destoando do sentimento de que o Fla-Flu seria retrato da nossa inaptidão para o diálogo.

“Qual o problema de estar polarizado? Qual o problema de ter discordância? As redes sociais são fantásticas. A polarização é excelente. Quem troca fala não troca bala”, diz.

Como muitos liberais da segunda década do século 21, ele foi esquerdista no decênio anterior. Fez direito na Uerj e cursou (sem se formar) história na UFRJ, dois centros do que ele chama de “mentalidade problematizadora”.

“É o cara que quer problematizar antes de entender. ‘Eu não entendi como funciona o livre mercado, mas eu quero problematizar, falar de opressão, mais valia'”, diz.

Esquerdista aplicado que era, fez uma viagem a Cuba e na volta começou um processo gradativo de conversão ideológica: primeiro para a esquerda não radical, depois social-democracia e finalmente, por volta de 2008, liberalismo.

A mudança coincidiu com sua entrada na carreira diplomática, quando conheceu por dentro o funcionamento do governo. “Percebi que não havia chance de aquilo funcionar”, afirma.

Filiado ao Partido Novo e ligado ao grupo Livres, Maultasch vê uma certa dificuldade de se romper o “supremacismo moral da esquerda”.

É a visão deturpada, explica ele, de que a esquerda detém o monopólio do bem. “Se você é uma pessoa boa, você é de esquerda. A esquerda sempre tem uma resposta bem intencionada para tudo”, diz.

E vai além: “O pensamento de esquerda é e sempre será uma grande tentação. É uma grande massagem no próprio ego, uma grande ferramenta narcisista. ‘Ah, eu estou do lado certo da história. Estou aqui tomando um latte de soja de R$ 18, mas no fundo eu me preocupo com o social'”, provoca.

Mas é fato, diz ele, que os liberais ainda não conseguem desinflar esse discurso. Perguntei se a culpa por isso não é em parte do próprio liberalismo, muito mais preocupado com a economia e os direitos individuais do que com as políticas sociais.

Em resposta, ele diz que a dificuldade é convencer as pessoas a aceitar a existência de um terceiro pólo, nem a direita conservadora bolsonarista, nem a esquerda.

“É um desafio teórico para os liberais, e de marketing de ideias. Quando você defende as liberdades econômicas, você se confunde com os conservadores. Quando se fala de liberdades civis, se confunde com a esquerda”.

Mesmo entre os liberais, ele diz, há uma certa utopia que lembra muito a da esquerda. “É achar que, se tiver livre mercado, amanhã vem a cura do câncer”.

E como fica a aliança com conservadores que elegeu Bolsonaro? Para Maultasch, se for possível tocar pautas liberais, como vem tentando fazer o ministro Paulo Guedes (Economia), é um preço que vale a pena pagar.

Não que o presidente fique imune à sua crítica ácida. “O conservadorismo brasileiro pode ser muito melhor do que o governo Bolsonaro”, diz.

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Atos abrem fissura na aliança liberal-conservadora que elegeu Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/21/atos-abrem-fissura-na-alianca-liberal-conservadora-que-elegeu-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/21/atos-abrem-fissura-na-alianca-liberal-conservadora-que-elegeu-bolsonaro/#respond Tue, 21 May 2019 11:22:21 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/bolsoguedes-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=974 Os protestos de domingo (26) são uma fissura no que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamava na campanha eleitoral de “junção da ordem com o progresso”.

Ou seja, a união de interesses entre os conservadores comportamentais (ordem) e os liberais econômicos (progresso) que ajudou a empurrar Jair Bolsonaro para a Presidência. A questão agora é saber se é apenas um estranhamento ou o início de um divórcio.

Os liberais decidiram se distanciar das manifestações, abraçadas com ânimo pelas mais diversas vertentes do conservadorismo: olavistas, ruralistas, armamentistas, evangélicos, saudosistas da ditadura e outros.

Referências liberais, que têm em Guedes uma idolatria quase comparável à dos filhos de Bolsonaro por Olavo de Carvalho, ficarão longe da avenida Paulista e de outros pontos de manifestação pelo país.

Estão nessa linha, por exemplo, o MBL, o grupo liberal Livres, o Partido Novo, o Instituto Mises Brasil e congêneres espalhados pelo país.

Alguns são abertamente hostis aos atos. “Somos contra qualquer tipo de manifestação que atente contra os poderes institucionalmente constituídos. É um risco para o país o acirramento e a intolerância. O governo deveria deixar as polêmicas e os moinhos de vento ideológicos de lado e se ocupar de governar”, afirma Paulo Gontijo, presidente do Livres.

Outros, como o Novo, têm atitude mais amena, aceitando que os protestos são legítimos, mas tomando distância regulamentar deles. “Em manifestações com pautas diversas e sem objetivo claro, o Novo entende que cabe ao cidadão decidir quanto ao apoio, e não ao partido como instituição”, disse em nota.

Os liberais não escondem que a paciência com Bolsonaro está perto do fim e que a única coisa que ainda os liga ao governo é a esperança na agenda econômica de Guedes de reformas e desregulamentação.

Como me disse Guilherme Moretzsohn, de um instituto liberal em Belo Horizonte: “Defender político diretamente não é muito parte de uma agenda liberal. Se for defender ideias, projetos etc, aí vai”, afirma.

Do outro lado, grupos de perfil mais conservador estão se organizando para dar uma demonstração de força no domingo.

Há diversos exemplos. Em Mato Grosso, no maior pólo produtor de soja do país, sindicatos rurais em cidades como Sinop e Sorriso estão organizando manifestações que devem reunir fazendeiros de toda a região.

“Aqui as pessoas apoiam este governo. Não queremos nunca mais a esquerda no poder, faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que isso nunca mais aconteça”, afirma Ilson Redivo, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Sinop.

A pauta dos conservadores é a reforma da Previdência, a chamada CPI da Lava Toga, o pacote do ministro Sergio Moro (Justiça) e a votação da MP 870, que reorganiza a estrutura do governo e reduz o número de ministérios.

Em Pernambuco, há manifestações marcadas para Recife e Caruaru. “Nossa pauta é em prol do nosso capitão, que está sangrando lá, tentando mudar esse Brasil. Mas tem uns políticos corruptos, velhos, bandidos, que estão lá em Brasília, e aqueles deputados miseráveis”, afirma Abimael Santos, um dos principais líderes pró-Bolsonaro da região de Caruaru.

No Rio, o Clube Militar engrossará as manifestações, dizendo estar preocupado com as reformas e a governabilidade.

No interior de São Paulo, há atos planejados pelo Movimento Brasil Limpo na região Ribeirão Preto e pelo grupo Direita SP em todo estado. E muitos outros pelo Brasil.

Banner do grupo Direita SP chamando para manifestação na avenida Paulista (Reprodução/Facebook)

Depois de cogitar a presença em um ato, o que foi defendido pelo núcleo ideológico do Planalto, Bolsonaro desistiu da ideia —e orientou ministros a não comparecerem também.

Num cenário benigno, as manifestações renovarão a energia política de Bolsonaro e darão novo impulso às reformas. Se, ao contrário, forem a porta de entrada de um cenário de radicalização do governo e enfrentamento do Congresso e do Judiciário, será difícil evitar o rompimento dos liberais com o presidente que ajudaram a eleger.

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