Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Consultoria agro diz que corona é armação chinesa e marchinha de Carnaval https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/20/consultoria-agro-diz-que-corona-e-armacao-chinesa-e-marchinha-de-carnaval/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/20/consultoria-agro-diz-que-corona-e-armacao-chinesa-e-marchinha-de-carnaval/#respond Fri, 20 Mar 2020 12:22:26 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/rural2.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2496 A teoria de que o pânico global com o novo coronavírus é parte de uma grande conspiração da China invadiu as redes sociais de direita nos últimos dias, mas não fica restrita a elas.

Entre políticos, a campanha anti-China também encontra terreno fértil, como a guerra de palavras entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e a embaixada do país asiático mostrou.

No meio empresarial, algo parecido tem ocorrido. Uma consultoria especializada em agronegócio com sede no Mato Grosso do Sul, a Rural Business, vem se dedicando a apontar o que vê como uma armação chinesa.

O objetivo seria lucrar, insuflando uma histeria irracional com a pandemia.

“Muito do que se fala sobre o coronavírus não passa de marchinha de Carnaval, e das boas”, disse a consultoria em vídeo publicado em seu canal no YouTube em 21 de fevereiro, que teve 115 mil visualizações.

Abertamente defensora dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, a Rural Business tem sido usada pela direita em sua campanha contra a China. Vídeos vêm circulando em redes sociais para dar argumento a teses conspiratórias.

A doença já atingiu mais de 240 mil pessoas e causou quase 10 mil mortes em todo o mundo. Os números não param de crescer.

“Existe um gigantesco mercado que os chineses querem controlar, usando como argumento o coronavírus”, disse outro vídeo, de 12 de março, com o título “A Jogada de Mestre do Capital Chinês”.

Segundo essa tese, os chineses usam a pandemia, surgida no final de 2019 na província chinesa de Hubei, para controlar a economia mundial, e não apenas no setor do agronegócio.

O vídeo cita, por exemplo, a área de tecnologia. Com a paralisação da economia mundial, diz, empresas como as sul-coreanas Samsung e LG e a americana Motorola interromperam sua produção em fábricas no mundo todo, incluindo o Brasil. Serão suplantadas pela chinesa Xiaomi, que já retomou seu trabalho.

As análises em vídeo têm 5 a 15 minutos e são lidas por uma apresentadora. Os textos em geral são de Júlio Brissac, descrito como analista-chefe e estrategista de mercado da consultoria.

A consultoria diz ter 26 anos de experiência e uma vasta carteira de assinantes, de número desconhecido, que pagam para receber análises exclusivas de cenários.

Parte destes comentários é aberta no canal da consultoria no YouTube, que tem 234 mil inscritos. O canal está coalhado de vídeos críticos ao país asiático, com títulos como “A China enganou quase todo mundo!”.

Nesta quinta (19), entrou no ar mais um, bastante didático sobre a linha de pensamento da Rural Business.

A tese exposta é que rotineiramente a China cria pânico global com pandemias, para atender a seus interesses econômicos.

Com isso reduziria artificialmente a demanda por alimentos e jogaria os preços de produtos como a soja e o petróleo no chão.

Como foi quem provocou essa suposta histeria, estaria mais bem preparada para sair dela primeiro e conquistar mercado, segundo essa teoria.

Há diversos exemplos disso, diz a consultoria: a gripe aviária de 2004, a gripe suína de 2009, a peste suína africana de 2019 e agora o coronavírus.

Em nenhum destes momentos o crescimento do PIB chinês sofreu grandes abalos, o que seria uma prova cabal desta manipulação.

Imagem de vídeo da consultoria Rural Business (Reprodução/Folhapress)

“Quando tudo isso passar, e vai passar, é o seu bolso que estará sangrando. Tem muita gente querendo ganhar mercado usando ‘coronamoney’. E na política, muita gente querendo derrubar o novo Brasil”, diz o vídeo.

A grande farsa do coronavírus, segundo a Rural Business, foi causada pela guerra comercial entre a China e os EUA.

Confrontada por Donald Trump e obrigada a comprar mais produtos americanos para pôr fim à disputa, a China teria supervalorizado a pandemia como uma reação.

“A China viu a chance de devolver o tapa que levou de Donald Trump e mostrar quem de fato manda na economia global”, afirma a consultoria, que chama a preocupação mundial de “surto psicótico coletivo”.

A Rural Business não chega ao ponto de dizer que a doença foi criada em laboratório, como alguns mais malucos pregam.

Sua linha de argumentação é mais sutil: há uma superexploração de um problema existente.

“O coronavírus estava lá [na China], adoecendo a sua população. Então por que não explorar isso na mídia, à exaustão, com direito a cenas de gente morrendo na rua e vídeos assustadores para chacoalhar o mercado?”, pergunta a consultoria.

Fazendo eco aos bolsonaristas, a Rural Business diz que muitos opositores do presidente querem se aproveitar do momento para desestabilizar o governo.

“De políticos a grandes empresas globais, eles estão aqui, debaixo do nosso nariz, aproveitando-se do medo da população para desestruturar um governo eleito pelo povo, para colocar de novo a política brasileira nas mãos de corruptos e corruptores”, arremata o vídeo.

Não há menção às críticas que Bolsonaro vem sofrendo por ter minimizado a pandemia.

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Após a publicação deste texto, recebi de Júlio Brissac, diretor, analista chefe e estrategista da Rural Business, uma resposta a questionamentos que eu havia feito.

Ele primeiro contesta que a empresa seja uma consultoria. Define-a como “agência provedora de informações estratégica para o agronegócio e investidores de commodities agrícolas, com quase 30 anos de mercado”.

Segundo Brissac, os produtores brasileiros têm muito a agradecer aos chineses, pois dependem de seu consumo para continuar crescendo.

O cenário para a China mudou, diz ele, quando decidiu peitar os EUA na questão comercial, restando a eles a opção pelo Brasil.

“Se os produtores brasileiros não se atentarem para o fato, os chineses vão transformar este Brasil no seu ‘fazendão’, um país pronto para garantir seu abastecimento com comida barata, farta e de qualidade. Nada além disso”, afirma.

De acordo com Brissac, o objetivo de sua agência não é julgar o coronavírus, sua origem ou o que está sendo feito para acalmar o pânico.

“Mas sim analisar, com olhos de estrategista, por que e com que interesses este pânico foi instalado, e por que está sendo aquecido por tanta gente, transformando coronavírus em ‘coronamoney’”, diz.

Ele aponta uma série de “coincidências” suspeitas na pandemia.

“A transformação de coronavírus em ‘coronamoney’ está possibilitando à China comprar soja no Brasil pelo menor valor em 13 anos em dólar. Um verdadeiro paraíso”, afirma.

Uma das “coincidências” apontadas é o fato de em menos de três meses a China já anunciar o fim do contágio e a volta à normalidade no país, enquanto o mundo afunda numa “histeria coletiva”.

“O surto psicótico especulativo gerado pelo coronavírus não teria acontecido não fosse o embate direto entre China e EUA e os enormes interesses políticos, econômicos e pessoais que guiam hoje as ações ao redor do mundo, algumas delas bem debaixo de nosso nariz, na tentativa de desestruturar o governo de Jair Bolsonaro e devolver o Brasil para as mãos de corruptos e corruptores”, afirma.

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Ato atiça youtubers pró-Bolsonaro, que defendem ação militar contra Congresso e STF https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/ato-atica-youtubers-pro-bolsonaro-que-pedem-acao-militar-contra-congresso-e-stf/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/ato-atica-youtubers-pro-bolsonaro-que-pedem-acao-militar-contra-congresso-e-stf/#respond Thu, 05 Mar 2020 15:06:39 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Youtuber4-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2433 A manifestação chamada por Jair Bolsonaro e seus aliados para 15 de março, em defesa das reformas e contra o Congresso, estimulou uma parte da base digital do presidente a ter novos devaneios autoritários.

O movimento tem sido mais evidente entre youtubers que defendem cegamente Bolsonaro. Nos últimos dias, alguns deles, que nunca foram um modelo de respeito às instituições, parecem mais assanhados.

Referências ao fechamento do Congresso e do Supremo e à intervenção das Forças Armadas têm sido menos acanhadas.

“Agora não tem mais volta. Fecha o STF, fecha o Senado, fecha a Câmara”, é o título de um vídeo do Vlog do Lisboa, de 28 de fevereiro, que teve 125 mil visualizações até a quinta-feira (5).

Comandado por Paulo Lisboa, que esteve num grupo de youtubers recebidos por Bolsonaro no Palácio do Planalto em julho do ano passado, o canal tem 421 mil inscritos.

Seu apresentador, que se assemelha levemente a um lutador de MMA, transmite de uma espécie de escritório. Ao fundo, podem ser vistas fotos suas ao lado de Bolsonaro e do presidente dos EUA, Donald Trump.

O youtuber bolsonarista Paulo Lisboa (Reprodução)

“Uma coisa é você respeitar as instituições. Outra coisa é respeitar quem está lá dentro”, alerta ele, enquanto convoca para as manifestações.

Em outro vídeo, publicado em 26 de fevereiro e que teve 146 mil visualizações, Lisboa faz referência ao filmete que o próprio Bolsonaro compartilhou convocando para o ato.

“Uma pergunta que eu faço: Bolsonaro deve fechar tudo? Por que STF e Congresso estão com tanto medo de um videozinho?”, afirma.

Responsável pelo canal Giro de Notícias, Alberto Silva publicou em 28 de fevereiro um vídeo dizendo que o Exército não dará um golpe, mas cogita um contragolpe em reação a uma suposta trama do Congresso para tirar Bolsonaro do cargo. “As tropas irão às ruas se tentarem um golpe”, alertou.

“Golpe, não. O que pode ser executado é a Garantia da Lei e da Ordem. O Congresso e o Supremo estão brincando com a cara da população brasileira. Por isso que dia 15 o povo vai para as ruas, sim. O povo vai se manifestar contra esse deboche”, bradou Silva, outro que foi recebido por Bolsonaro na reunião do ano passado.

Silva é o mesmo que foi objeto de uma reportagem da Folha, de 2017, mostrando como funciona a engrenagem das notícias falsas no Brasil.

De uma pequena sala em Poços de Caldas (MG), ele comandava uma estrutura de sites que espalhavam mentiras contra diversos políticos.

O youtuber Alberto Silva, dono do canal Giro de Notícias

Assim como a maioria dos youtubers ligados ao presidente, Silva vive de replicar e amplificar teses e material que outros meios direitistas veiculam. Seu canal é um canhão potente, com mais de 1 milhão de inscritos.

A tese de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é um golpista e poderia ser retirado do cargo por vontade do presidente foi elaborada por Marcelo Rates Quaranta, colunista do site pró-Bolsonaro Jornal da Cidade Online, em 28 de fevereiro. Silva e Lisboa estão entre os que citaram esse artigo.

Outra referência, digamos, intelectual desse pessoal é o humorista Batoré, do programa A Praça É Nossa, que divulgou um vídeo pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo. Silva fez eco a essa reivindicação.

“Ele [Batoré] está errado de pedir o fechamento do Senado, do Congresso, do STF? Na verdade, ele retrata aquilo que o povo quer”, afirma o youtuber.

“Se precisar chutar o balde, se precisar meter o pé no balde, o presidente vai fazer. Pode esperar”, prossegue.

Dono do Canal Universo, Roberto Boni é um dos mais explícitos na defesa de um golpe sem meias palavras.

“Chega, presidente Bolsonaro. Não aceite mais isso. O sr. não deve atender a essa gente [Congresso]. […] O sr. é o chefe das Forças Armadas, pode muito bem resolver essa parada de vez, porque a nação está com o sr.”, cobrou, em vídeo de 25 de fevereiro.

Sósia quase perfeito do cantor Roberto Carlos, Boni tem 434 mil inscritos em seu canal. Diz que o povo não quer apenas o fechamento do Congresso e do Supremo. Quer a sua “inexistência”.

“O Congresso Nacional está fechado para a nação brasileira. Eles não se abrem para o povo. Ficam ali governando para eles. O STF está fazendo a mesma coisa”, afirma Boni.

O youtuber Roberto Boni, do Canal Universo

Segundo ele, o povo vai às ruas não para pedir o fechamento dessas instituições. “Já estão fechados. [As pessoas] vão pedir a sua inexistência”, declara.

Além destes, há outros youtubers menos cotados, como Gigante Patriota e Canal do Negão, igualmente defensores de uma ação enérgica contra o Congresso.

Todos devem ser importantes para mobilizar a base bolsonarista para o ato de 15 de março.

A pauta oficial é a pressão sobre o Congresso para que aprove matérias econômicas e projetos como o da prisão após condenação em segunda instância.

Mas não há dúvida de que palavras de ordem golpistas serão lidas e ouvidas na avenida Paulista e em outros locais pelo Brasil, ainda que entoadas por uma minoria.

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Na rota da soja, caminhoneiros apoiam Bolsonaro, mas reclamam (e muito) https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/03/na-rota-da-soja-caminhoneiros-apoiam-bolsonaro-mas-reclamam-e-muito/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/03/na-rota-da-soja-caminhoneiros-apoiam-bolsonaro-mas-reclamam-e-muito/#respond Tue, 03 Mar 2020 11:16:41 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/caminhao1-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2419 Há quase dois anos, em maio de 2018, caminhoneiros pararam o país durante dez dias. E desde então o fantasma de uma nova greve periodicamente amedronta o país.

Qual a chance de isso acontecer novamente? Pude ter um termômetro da situação na viagem de cinco dias que fiz há duas semanas pela BR-163, a rodovia da soja, entre Mato Grosso e Pará.

O relato da jornada de 1.500 km você pode ler na reportagem publicada neste domingo (1) pela Folha (link aqui).

Sentados em rodinhas esperando para entrar em algum armazém, tomando chimarrão ou café em pátios e restaurantes de beira de estrada, caminhoneiros dão vida à rodovia, e por isso não perdi uma chance de prosear com eles.

Para sorte deste governo, eles em sua maioria ainda apoiam o presidente Jair Bolsonaro, como fizeram na campanha eleitoral de 2018. Mas também reclamam. E não é pouco.

Catarinense de Catanduvas, Márcio José de Almeida, 40, diz que o presidente é bem intencionado, mas esbarra na resistência de outros Poderes.

“Bolsonaro não tem culpa de nada. O homem tem projeto bom. Mas tem 300 que barram na Câmara. O nome do problema é Rodrigo Maia”, diz, numa beira de estrada em Sorriso (MT), maior produtora brasileira de soja.

Não por acaso, esse é o mote da manifestação marcada para 15 de março por bolsonaristas, e apoiada pelo presidente, para fazer pressão sobre o Congresso Nacional, que não estaria deixando o homem trabalhar.

Um exemplo de medida positiva que o Congresso barrou, diz ele, foi a proposta do presidente de ampliar a possibilidade de posse de arma, que incluiria caminhoneiros. A estrada, afirma, é perigosa.

“Caminhoneiro tem de ter direito a arma no caminhão. A gente é obrigado a dormir dentro da cabine, com um olho aberto e outro fechado”, afirma Almeida, há 20 anos na estrada.

Júnior Damas, 29, é mais crítico com relação ao presidente. Ficou feliz que Bolsonaro finalmente concluiu o asfaltamento da BR-163 até o porto de Miritituba (PA). Mas critica a qualidade da obra.

“A diferença do Jair Bolsonaro é que ele está fazendo. Só que tá fazendo mal feito”, afirma, apontando já a existência de novos buracos na pista.

Quatro dias antes da nossa conversa, o presidente tinha inaugurado o asfaltamento num trecho conhecido como Cachoeira da Serra, sul do Pará, onde tudo estava bonitinho.

“Até tartaruga na pista botaram no trecho que ele foi. Por que não levaram no Morro do Moraes, onde tem buraco?”, questiona, referindo-se a um pedaço em que crateras tomam a pista.

Embora o trecho até o porto esteja asfaltado, há outros que ainda viram um lodaçal na época de chuvas, como o chamado Morro do Pixe, no caminho para Santarém (PA).

 

Caminhoneiros tentam desatolar carreta na região de Rurópolis (PA)

A boa vontade dos caminhoneiros com Bolsonaro não é infinita, pois os fatores estruturais que levaram à greve anterior permanecem: alto preço do diesel e baixo valor do frete. A razão principal, apontam os motoristas, é a explosão no número de carretas nas estradas.

“Essa estrada aqui não comporta tantos caminhões. Antes o produtor esperava o caminhão. Hoje é o caminhão que espera o produtor”, diz Arcádio Lukianitz, 51, de Santa Rosa (RS).

Gilmar Mendes, 45, de Brasilândia de Minas (MG), diz que a greve mostrou a força da categoria, mas não representou ganho real para os caminhoneiros.

“Depois daquela greve, só transportadora grande se deu bem. O resto levou ferro”, afirma ele, 24 anos de estrada.

Ele estava esperando havia seis horas para descarregar no porto. Levou dois dias para trazer soja desde o Mato Grosso, enfrentando uma pista esburacada e sem sinalização.

“Um escoamento de soja do Mato Grosso como temos, era para ter pista igual do estado de São Paulo”, diz.

Armindo Schuster, 57, de São José do Cerrito (SC), parecia resignado ao ser abordado enquanto tomava chimarrão num pátio enlameado no porto de Miritituba, enquanto esperava para ser chamado para descarregar sua carga de 50 toneladas de soja, que trouxe numa carreta de 25 metros e nove eixos.

“O problema são os empresários, que botaram muito caminhão”, diz. “Caminhoneiro sofre que nem cachorro”.

Ele ainda dá crédito a Bolsonaro, que estaria genuinamente tentando melhorar a vida de quem vive nas estradas. “Pelo menos alguma coisa ele [Bolsonaro] fez. Eu tenho meu pé atrás sempre. Político é sempre corrupto”, afirma.

Schuster, no entanto, é contra uma nova greve. Acha que não adianta nada. “Nem o governo manda no preço do óleo. E frete é oferta e procura. Está sobrando caminhão na frente dos armazéns.”

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De Trump a Bolsonaro, como identificar (e enfrentar) um populista? https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/21/de-trump-a-bolsonaro-como-identificar-um-populista/#respond Fri, 21 Feb 2020 08:49:10 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/palmer-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2400 Populismo é o grande mal dos nossos dias.

Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos EUA, Nicolás Maduro na Venezuela, Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, a lista é imensa. Para combatê-los, a receita é simples: doses cavalares de liberalismo.

A opinião foi expressa há 20 dias em São Paulo por Tom Palmer, vice-presidente mundial da maior organização liberal internacional, a Atlas Network.

Defensora do Estado mínimo tanto na economia como nos costumes, a Atlas influencia diversas organizações mundo afora. No Brasil, Palmer deu uma palestra a convite do grupo Livres.

Para ele, o populismo é bastante heterogêneo, a começar pelo fato de que pode ser de direita ou de esquerda. Mas há algumas ideias centrais que são comuns a todos os populistas.

“Os populistas sempre exploram o fato de haver um inimigo do povo”, diz Palmer. Os nazistas escolheram os judeus; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi identificou os muçulmanos como inimigos; na esquerda europeia, em movimentos como o espanhol Podemos, a culpa é dos super-ricos.

“Temos um inimigo, e precisamos de um líder forte para combatê-lo. Esse é o discurso”, afirma Palmer.

O segundo ponto é a identificação total do líder com a população. O venezuelano Hugo Chávez, um dos grandes populistas do nosso tempo, dizia que ele e o povo eram apenas uma entidade.

“Chávez não sou apenas eu. Chávez é um povo. Somos milhões. Vocês também são Chávez!”, disse o líder, num discurso resgatado por Palmer.

No Brasil, tivemos um exemplo praticamente idêntico de nosso maior populista de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao ser preso disse, para a multidão que o acompanhava: “Eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês”.

Terceiro ponto: estar em batalha permanente. Aqui, Trump é o mestre absoluto. Tudo para ele é um conflito, como no caso da disputa comercial com a China.

“Trump considera o comércio uma batalha. Isso é insano. Quando você compra um sorvete, você está lutando contra ele?”, pergunta Palmer

A quarta característica apontada por ele é a defesa imediata da ação. Não há tempo para debates, considerações ou ponderação. O povo tem pressa, e é preciso trazer rápido as mudanças que a sociedade reclama.

Nessa toada, abusos são cometidos, regras são quebradas, negociações são descartadas. Se você identificou Bolsonaro aqui, ponto para você.

Por fim, se o populismo é o grande mal do nosso tempo, as notícias falsas são o grande mal do populismo. Uma espécie de mal ao quadrado.

Às vezes, é a invenção crua de fatos, como fez Trump ao divulgar, contrariando fotos, que sua posse, em 2017, foi a maior da história.

Aquele episódio levou à criação do termo “fatos alternativos” por uma de suas assessoras, um eufemismo para mentiras. De novo, é algo que podemos ver em outras partes do mundo.

Embora radicado nos EUA, Palmer, de 64 anos, é alemão. Quando jovem, nos anos 80, era membro de uma rede liberal europeia que contrabandeava livros e máquinas de xerox para países do bloco soviético. Espalhava as ideias de luminares como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e Frederic Bastiat.

Para ele, o que leva ao populismo é a sensação de melancolia do homem branco, que nas últimas décadas viu seu status relativo na sociedade ser questionado pelo avanço das mulheres e das minorias no ambiente de trabalho e nas universidades.

Palmer diz que apenas a diminuição do peso do Estado pode combater o populismo. E ele não diferencia suas versões à esquerda ou à direita.

“Populismo de esquerda e direita é como estricnina nos sabores baunilha e chocolate”, afirma.

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Manifesto aponta preconceito contra evangélicos no governo https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/07/manifesto-aponta-preconceito-contra-evangelicos-no-governo/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/07/manifesto-aponta-preconceito-contra-evangelicos-no-governo/#respond Fri, 07 Feb 2020 11:26:04 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/Damares-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2349 Evangélicos que ocupam posições de destaque no governo sofrem preconceito?

O assunto vem sendo debatido com intensidade crescente desde o início do mandato de Jair Bolsonaro.

Na verdade, desde antes, quando a pastora Damares Alves, ainda nem empossada como ministra dos Direitos Humanos, foi ridicularizada por dizer que viu Jesus numa goiabeira.

No final de janeiro, outra notícia jogou lenha nesse debate incandescente, com a revelação pela Folha de que o novo presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Benedito Guimarães Aguiar Neto, defende a abordagem educacional do criacionismo em contraponto à teoria da evolução.

Ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Aguiar Neto é adepto do chamado design inteligente, uma espécie de criacionismo gourmetizado.

Como agora ele é responsável por um órgão que cuida dos cursos de pós-graduação, choveram críticas de que o ensino no Brasil poderia ser ameaçado em razão de sua crença pessoal.

Nos últimos dias, a discussão seguiu. Na terça-feira (4), em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, o economista Pedro Fernando Nery apontou a existência de uma certa “crentefobia” no país, citando os episódios de Damares e do novo chefe da Capes, entre outros.

No mesmo dia, um artigo no site The Intercept Brasil usou o gancho da nomeação de Aguiar Neto para denunciar que esse fato “marca a presença cada vez maior e influente no núcleo do governo de um grupo evangélico tão reacionário quanto discreto: os calvinistas”.

A tese é de que os calvinistas, um dos chamados ramos históricos do protestantismo, são menos histriônicos que os neopentecostais, mas não menos influentes. E até mais perigosos, por agirem em silêncio.

Citado na reportagem do Intercept, um grupo evangélico divulgou nessa quinta (6) um manifesto (clique aqui para ler a íntegra).

A Coalizão Pelo Evangelho, que reúne diversos líderes evangélicos pelo país, reclama de “ataques em determinadas mídias” e um “perceptível aumento das demonstrações de desprezo contra os cristãos nas redes sociais em nosso país”.

No final de 2019, esse grupo, ligado à organização americana The Gospel Coalition, notabilizou-se por ter iniciado a campanha contra o especial de Natal do Porta dos Fundos, que satirizava Jesus Cristo e apontava uma relação homossexual dele. Houve uma campanha online de cancelamento de assinaturas da Netflix, que veiculou o filme.

“Repudiamos o abandono do campo das ideias e o uso de ataque através da plantação de mentiras e do assassinato de reputações, bem como a difusão de difamações como meio de produzir conteúdo, vencer debates, ou atrair adeptos”, diz o manifesto, assinado por 17 líderes evangélicos de estados como São Paulo, Rio, Pernambuco, Ceará e Paraíba, entre outros.

O texto afirma que religião e Estado “são esferas distintas da sociedade”. Os signatários asseguram que não são adeptos de qualquer forma de teonomismo, ou seja do governo da sociedade pela lei cristã.

“A religião não deve ser imposta pelo Estado, e nem o Estado e a sociedade devem ser subjugados pela religião”.

Ao mesmo tempo, dizem os pastores, Estado laico não é sinônimo de Estado ateu. “Ninguém deve ter opiniões diminuídas ou exercício político limitado por conta de sua religião”, prega o manifesto.

“Defendemos o direito de cidadãos de viés filosófico e ideológico diverso de se reunirem com a finalidade de propagar aquilo no qual acreditam”, prossegue o texto.

A controvérsia é, em larga medida, esperada, dado que Bolsonaro elevou os evangélicos a parte fundamental de sua coalizão política.

Existem realmente sinais preocupantes de que ser crente virou o pré-requisito mais importante para ocupar determinados cargos públicos no atual governo.

Por outro lado, não é porque a pessoa é evangélica que necessariamente aplicará suas crenças no campo político.

A pessoa pode acreditar em Adão e Eva e ser um gestor técnico. Mesmo o criacionista no comando da Capes merece o benefício da dúvida.

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Mutirão pró-Aliança tem conservadores, tias do zap e fãs de Weintraub https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/03/mutirao-pro-alianca-tem-conservadores-tias-do-zap-e-fas-de-weintraub/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/02/03/mutirao-pro-alianca-tem-conservadores-tias-do-zap-e-fas-de-weintraub/#respond Mon, 03 Feb 2020 11:03:09 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/alianca1-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2335 Saudosistas dos militares, conservadores desde criancinha, tias do zap e até fãs do criticado ministro Abraham Weintraub (Educação) saíram de casa na manhã cinzenta de sábado (1°) para dar sua assinatura em prol da criação do Aliança Pelo Brasil.

Todos atendiam ao chamado nas redes sociais do Movimento Conservador, que organizou um mutirão para coletar apoios ao novo partido do presidente Jair Bolsonaro.

Para facilitar o processo, o ponto de encontro foi o 9° Cartório de Registro de Notas, no bairro do Paraíso. Pregado num poste em frente à entrada, um banner da Aliança dava as instruções básicas para concretizar o apoio.

“Nunca participei de política. Agora eu vivo a política até o sangue, até a medula óssea”, disse a dentista Raquel (não quis dar o sobrenome), que se declara conservadora desde a juventude. “Eu fui uma hippie de direita aos 17 anos”, afirmou.

Entusiasmada com Bolsonaro, afirmou que já está em campanha pela sua reeleição em 2022 e pela vitória de Sergio Moro (Justiça) em 2026.

“Tomara que eles não briguem”, ressalvou, para quem Moro é, ao lado de Weintraub, o melhor ministro do governo. “Meu ídolo é o Weintraub, eu amo o Weintraub!”, declarou.

O roteiro cumprido pelos que foram dar sua assinatura para criar o novo partido era simples. As pessoas chegavam e pegavam uma ficha da Aliança com um dos organizadores do evento, caso já não a tivessem imprimido em casa.

Preenchida a ficha, pegavam a fila do cartório para abrir firma (se já não a tivessem) e reconhecê-la. Pagavam taxa de R$ 6,45, preço de tabela do cartório, e entregavam a um integrante do Movimento Conservador na saída do prédio.

O movimento diz que se encarregará de enviar as fichas para um cartório eleitoral para que sejam conferidas. A ideia de reconhecer firma é tentar agilizar o processo de comprovação de que a assinatura é verdadeira.

Muitos faziam questão de tirar foto com a ficha, para guardar de lembrança e terem como uma garantia, caso por algum motivo desapareça. Entre os apoiadores de Bolsonaro, correm boatos, não confirmados, de que os Correios estariam desviando essas fichas.

Outra preocupação era quanto à boa vontade dos cartórios. A dona de casa Nanci de Faria, moradora de São Bernardo do Campo (SP), disse que teve dificuldade para registrar o apoio em sua cidade.

Relatou que primeiro se dirigiu a um cartório no bairro de Rudge Ramos, que teria se recusado a reconhecer firma de apoio à Aliança. “Disseram que se eu quisesse fazer o reconhecimento, ia estar perdendo dinheiro”, afirmou.

Em outro cartório, continuou, não quiseram devolver a ela a ficha, mas enviar diretamente à Justiça Eleitoral. “Isso se chama boicote”, afirmou Faria.

Sua amiga Alessandra Favorin decidiu apoiar a Aliança para ajudar Bolsonaro em sua tentativa de mudar o Brasil.

“O maior problema é o Supremo Tribunal Federal, que impede o presidente de fazer o que é preciso”, diz ela, também fã do ministro Weintraub. “Esse ministro da Educação é nota dez. Está querendo resgatar nossos valores”, afirma.

O blog entrou em contato com o cartório que teria se recusado a registrar a ficha. Uma atendente afirmou que ali funciona um cartório de registro civil, e não de notas, e que normalmente esse tipo de serviço não é feito.

A Aliança tenta se viabilizar para a eleição municipal de outubro. São necessárias 492 mil assinaturas validadas pela Justiça Eleitoral até o início de abril.

“Nós vamos conseguir as assinaturas até o final de fevereiro. Já foram obtidas em todo o Brasil mais de 250 mil, em apenas 20 dias úteis de coleta. Daí é com a Justiça Eleitoral”, disse Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador.

A entidade organizou mutirões em 70 cidades do interior paulista, além de municípios no Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em uma hora, foram coletadas 40 assinaturas de apoiadores. Haverá outros mutirões em dias de semana e aos sábados até o dia 21 de fevereiro.

Os cartórios, que prestam um serviço público, não podem dar apoio logístico para a formação de um partido político. Oferecer estrutura material ou dar isenção das taxas cobradas é vetado, por exemplo.

Não havia sinais de favorecimento no mutirão de sábado. O horário de funcionamento do cartório, das 9h às 12h, é o normal para este dia da semana.

O aposentado Dermeval Rodrigues, do bairro do Jabaquara, levou para casa mais dez fichas de apoio à Aliança para familiares, mas se frustrou ao saber que cada um teria comparecer ao cartório para reconhecer firma.

O aposentador Dermeval Rodrigues (à esq.) assina ficha de apoio ao Aliança Pelo Brasil

“O jeito vai ser cada um tentar fazer isso durante a semana mesmo”, afirmou. Mecânico que trabalhou na Varig, companhia aérea que faliu há dez anos, ele diz que na época do regime militar sua vida era muito melhor.

“Na Varig a gente tinha ambulância para atender aos funcionários que trabalhavam no aeroporto. Daí, quando a CUT assumiu o sindicato, venderam as ambulâncias para comprar carros de som”, reclama.

A melhor qualidade do presidente Bolsonaro, afirma ele, é a ausência de corrupção. Mas e o caso Queiroz?

“Tem que apurar, o presidente já falou. E se o cara estiver errado, vai pra cadeia. Nem que seja o filho do presidente”, afirmou ele, que elegeu Moro, Paulo Guedes e Weintraub como os melhores ministros do governo.

Outra apoiadora presente, a aposentada Denise de Freitas disse que, quando o partido for criado, pretende se filiar. Será sua primeira experiência de militância política

E ela disputaria algum cargo eleitoral? “Não! Sou apenas uma tia do zap”, afirmou.

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Crises na Educação e na Cultura abalam projeto de poder da direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/18/crises-na-educacao-e-na-cultura-abalam-projeto-de-poder-da-direita/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/01/18/crises-na-educacao-e-na-cultura-abalam-projeto-de-poder-da-direita/#respond Sat, 18 Jan 2020 20:19:17 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/live.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2275 Jair Bolsonaro elegeu-se prometendo a retomada do crescimento econômico, a melhora nos índices de segurança e o resgate de valores que teriam sido minados por décadas de ideologia de esquerda.

Ao fim de um ano de seu mandato, ele tem algo a mostrar em dois terços deste tripé. Com inflação controlada e juros na baixa histórica, a economia mostra alguma força para crescer em 2020.

A queda no número de homicídios, embora algo que apenas levemente possa ser creditado a seu governo, tem potencial para ser para Bolsonaro um símbolo comparável ao que foi a redução da desigualdade para o PT e a estabilidade para o PSDB.

Mas para a direita, isso não é suficiente, e por isso as crises gêmeas na Cultura e na Educação, ocorridas num intervalo de apenas dois dias, são tão danosas.

O resgate dos valores é fator importantíssimo para o conservadorismo, e para isso essas duas áreas são estratégicas. Parte da direita trocaria sem pestanejar o crescimento de 2,5% previsto para 2020 pela aprovação do Escola Sem Partido, ou pelo expurgo de Paulo Freire dos currículos escolares.

O nome disso é o combate ao “marxismo cultural”, um termo surgido nos EUA nos anos 1990 que aqui chegou uma década depois, popularizado por ele, Olavo de Carvalho.

É um dos motivos, aliás, pelos quais o professor autoexilado na Virgínia mantém-se tão influente na direita, apesar de sua verborragia escatológica.

Ideólogos de direita acreditam que, sem vencer a influência esquerdista nas escolas primárias, na academia, nos movimentos sociais e no meio cultural, não criará raízes sociais e será apenas uma marola passageira num oceano vermelho. Esse, pelo menos, é o credo de uma parte considerável da base política que sustenta Bolsonaro.

Péssima notícia para os conservadores, então, que Cultura e Educação estejam entre os setores mais caóticos de um governo que não é conhecido pela constância.

A queda de Roberto Alvim é apenas o exemplo mais absurdo de uma sucessão de erros de gestão e planejamento que transformaram o setor cultural numa balbúrdia, para tomar emprestado um termo popularizado pelo ministro Abraham Weintraub, da Educação.

O erro da divulgação das notas do Enem, admitido neste sábado (18) pelo próprio Weintraub, pode não ser tão aberrante quanto o já famoso vídeo nazistoide de Alvim, mas tem consequências mais sérias.

É mais uma demonstração de que a Educação vive desgoverno, o que é obviamente trágico para uma geração de jovens que depositam seu futuro num sistema falido.

Mas não apenas isso. Para a direita, as crises da semana que passou são uma confissão de que seu grande projeto ao chegar ao poder está incompleto.

Por terem caráter transformador, Educação e Cultura são relevantes demais para os conservadores para que fiquem sujeitos a tanta confusão.

Talvez isso acorde o governo para a necessidade de resolver os problemas de gestão das duas áreas. Se isso será preferível à bagunça, é outra história.

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Guedes, Damares, AI-5, Aliança e hienas; 10 fatos que marcaram a direita em 2019 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/#respond Fri, 20 Dec 2019 13:38:16 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Bolsonaro-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2190 2019 foi o primeiro ano completo desde que a onda conservadora tomou o país.

Embora a saída de Lula da cadeia e a Vaza Jato tenham energizado a esquerda durante os últimos meses, quem comandou o noticiário foi mesmo a direita.

Jair Bolsonaro foi, claro, o principal protagonista, mas o ano foi rico no mundo destro e não se limitou ao presidente.

E como a perspectiva é de que o pêndulo político fique do lado direito por um bom tempo, muitas tendências apontadas no ano que passou devem ter desdobramentos em 2020.

Esta é a retrospectiva de Saída Pela Direita, com os dez fatos mais importantes do ano. Como sou humilde, não coloquei a criação deste blog entre eles.

Neste fim de ano, dou uma pausa e retorno com tudo em janeiro. Muito obrigado a todos que me acompanharam em 2019. Feliz Natal e um ótimo 2020 para quem é destro e para quem não é.

Mas antes, fique com o top 10 da direita no ano que termina.

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1-) Parquinho liberal pega fogo

Teve treta pelo apoio ao governo Bolsonaro, simbolizado pelo arranca-rabo entre Helio Beltrão, do Mises, e Elena Landau, do Livres. E teve provocação dos liberais clássicos aos adeptos da Escola Austríaca, comparados a economistas de humanas (ofensa grave).

Ouviram de volta que os clássicos só se preocupam com números. Tanta briga não deixa de ser um sinal de que a Kombi liberal cresceu.

2-) Flavio murcha, Carluxo dá um tempo e 03 se consagra

 

O deputado federal Eduardo Bolsonaro durante a conferência conservadora Cpac, em outubro (Divulgação)

O senador, acuado pelo caso Queiroz, não conseguiu ser o articulador político que se esperava. O vereador  gerou tanto problema na comunicação presidencial que achou por bem tirar um sabático.

Eduardo Bolsonaro, emissário junto a Trump e líder da tropa de choque do pai, se consolidou como herdeiro político dele.

3-) Ai, ai, ai, AI-5

Essa foi feia. 51 anos depois, o ato que endureceu a ditadura foi resgatado do pântano por frases inconsequentes de Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes. Voltou a ser um fantasma, por ora contido.

4-) Salvini vacila, Vox cresce e Boris vira rei

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reeleito de forma esmagadora em dezembro (Folhapress)

Que ano para a direita europeia.

O italiano Matteo Salvini tentou forçar uma eleição para chegar ao poder e viu sua estratégia falhar espetacularmente, com a união da esquerda, que formou novo governo. Na Espanha, os herdeiros de Franco do partido Vox cresceram vertiginosamente. Mas nada se comparou à consagração de Boris Johnson, o novo rei do Brexit.

Nos EUA, Trump não se abalou com o impeachment, mas é cedo para fazer prognóstico sobre sua reeleição. Netanyahu terminou o ano como primeiro-ministro de Israel, mas enfrenta novo pleito em 2020.

E na América Latina a direita perdeu Macri na Argentina, que saiu desmoralizado, mas ganhou Lacalle Pou no Uruguai, promessa de renovação na arena sul-americana.

5-) Aliança chega para ser a cara da direita brasileira

Teremos finalmente um partido genuinamente conservador no Brasil? A Aliança Pelo Brasil nasceu com essa ambição, para ser o veículo da direita bolsonarista, e não o puxadinho que era o PSL de Luciano Bivar.

6-) Cultura e educação, os novos campos de batalha

Do ministro falastrão Abraham Weintraub (Educação) à guinada conservadora na Cultura, a direita levou a sério o combate ao chamado “marxismo cultural”, conforme mandou professor Olavo de Carvalho.

A ascensão de grupos como a produtora Brasil Paralelo deu impulso a esse novo campo de batalha.

7-) Damares é pop, Guedes é Deus e Moro patina

A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, uma das mais populares do governo (Folhapress)

A ovação à ministra dos Direitos Humanos na conferência conservadora Cpac reforçou seu caráter de pop star da direita, corroborado pelo Datafolha. Seu colega de Esplanada Paulo Guedes também teve um ano bom, endeusado pelo mercado.

Já Sergio Moro teve um ano difícil, abatido pela Vaza Jato e pela desidratação de seu pacote de segurança.

8) Surge a direita de soja

As diatribes de Bolsonaro contra a imprensa, STF e Congresso alienaram parte da direita que o apoiou. Afastaram-se ex-aliados como MBL, Novo, João Doria, os ex-ministros Gustavo Bebianno e Carlos Alberto Santos Cruz e deputados como Alexandre Frota e Joice Hasselmann.

Todos de direita ainda, mas prometendo serem mais respeitadores da liturgia da política. E das instituições.

9-) Mais armas, mas menos do que a direita quer

Não foi fácil acompanhar o vaivém dos decretos do governo para tentar liberar armas. No fim, houve ampliação de acesso para produtores rurais e algumas poucas categorias. Muito pouco para quem votou em Bolsonaro por causa das arminhas que ele faz com a mão.

10-) O vale tudo das redes sociais

Post compartilhado por Jair Bolsonaro em que ele se compara a um leão acossado por hienas (Folhapress)
O vídeo das hienas de Bolsonaro; o quebra-pau entre Allan dos Santos e Nando Moura; a milícia digital agindo contra Joice Hasselmann; e muita, muita fake news. A internet, em 2019, esteve fora de controle no mundo destro. Que medo de 2020.
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Alvo de fake news, ex-ministro Santos Cruz defende perícia sobre milícias digitais https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/23/alvo-de-fake-news-ex-ministro-santos-cruz-defende-pericia-sobre-milicias-digitais/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/23/alvo-de-fake-news-ex-ministro-santos-cruz-defende-pericia-sobre-milicias-digitais/#respond Wed, 23 Oct 2019 20:49:28 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/santoscruz-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1997 Uma dos primeiros alvos da máquina de moer aliados que virou o governo Bolsonaro, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz defende uma perícia para identificar os responsáveis pela existência de uma suposta “milícia digital” ligada ao Palácio do Planalto.

“Sobre comportamento de uma milícia na internet e nas redes sociais, mais do que uma opinião, uma análise de peritos qualificados pode trazer dados mais concretos”, declarou ao blog.

Santos Cruz, que ocupava o cargo de ministro da Secretaria de Governo, foi demitido em junho após um longo processo de atrito com o chamado núcleo ideológico do governo, capitaneado pelo filósofo Olavo de Carvalho.

A exemplo da ex-líder do governo Joice Hasselmann (PSL-SP), Santos Cruz se diz vítima de ataques coordenados em redes sociais, que incluiriam fake news. Ele atribui a isso, em parte, sua queda.

“O que aconteceu comigo é público. Foi fabricado um diálogo falso, em que eu e um interlocutor falávamos mal do presidente e de seus filhos”, afirmou. Ele se refere a uma conversa falsa divulgada nas redes sociais em maio, em que criticaria Bolsonaro e um dos filhos do presidente (não especificado).

O ex-ministro entrou na lista de possíveis testemunhas da CPI das Fake News, e deixou claro que irá, caso seja chamado. “Qualquer cidadão ou autoridade, quando chamado por uma comissão de parlamentares, tem obrigação de responder e prestigiar a solicitação. Se for convidado, falo sobre minha experiência pessoal, sem suposições”, disse.

Ele diz, no entanto, não ter informações sobre a existência de um “gabinete do ódio” no Palácio do Planalto, formado por três assessores presidenciais.

Na segunda (21), Santos Cruz foi criticado no Twitter pelo vereador Carlos Bolsonaro, por dizer que foi alvo de uma milícia digital. “Quem seria essa milícia digital a que este tal Santos Cruz se refere? Mais um (x) revoltad (x)!”. O general limitou-se a responder com um “#semcomentários”.

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‘Nós avisamos’, diz, aliviado, grupo que perdeu PSL para Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/18/grupo-que-perdeu-psl-para-bolsonaro-se-diverte-com-briga-no-partido/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/10/18/grupo-que-perdeu-psl-para-bolsonaro-se-diverte-com-briga-no-partido/#respond Fri, 18 Oct 2019 18:32:54 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Livres2-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1940 Pense numa pessoa aliviada. Pensou? Agora multiplique por dez.

Esse é o sentimento de Paulo Gontijo, presidente do Livres, grupo liberal que está acompanhando de camarote a confusão no PSL.

A explicação é que o Livres escapou de estar no meio da brigalhada no partido (ainda) do presidente Jair Bolsonaro.

“É uma novela mexicana de segunda divisão“, resume Gontijo. “É até difícil acompanhar: fulaninho que trai beltrano, um que passa a perna no outro, a Carla Zambelli que xinga a Joice Hasselmann e é xingada de volta…”

Numa era distante, em que Bolsonaro era apenas um deputado federal do baixo clero cuja pretensão de disputar a Presidência era vista com descrédito, o Livres surgiu com uma nova proposta. Ser um raro movimento liberal na economia e também nos costumes.

Criado em 2015, reuniu gente de peso, como os economistas Persio Arida e Elena Landau, e começou a procurar um partido para se hospedar. Chegaram ao PSL, que era apenas uma legenda nanica e buscava um novo projeto. Deu match.

Os líderes do Livres filiaram-se ao partido e começaram a controlar diretórios estaduais. Chegaram a dominar 12 deles. Tinham como aliado Sergio Bivar, presidente da fundação do partido e filho do carique da legenda, Luciano Bivar.

Sergio, hoje afastado da política, tinha uma cabeça liberal, bem diferente da do pai, um deputado e ex-cartola (do Sport) que disputou a Presidência em 2006, quando obteve 0,06% dos votos.

Mas aí, lá para o final de 2017, as coisas começaram a ficar estranhas. Bolsonaro, de saída do PSC, começou a procurar um partido que pudesse controlar. Acenou para o Patriota, mas começou a negociar sua filiação ao PSL com Bivar.

O Livres incomodou-se. Afinal, apesar dos acenos de Bolsonaro a políticas econômicas liberais, o discurso conservador e as bravatas do presidenciável incomodavam. Gontijo foi tirar satisfação com Bivar, que garantiu: era tudo especulação.

O Livres acreditou e colocou um comunicado em seu página no Facebook garantindo que Bolsonaro não se filiaria ao PSL.

Comunicado do Livres divulgado em dezembro de 2017 (Reprodução)

Menos de um mês depois, em janeiro de 2018, a especulação virou realidade. Bolsonaro entrou e o Livres saiu.

Hoje, o grupo se mantém como um movimento suprapartidário, com filiados espalhados por partidos como Cidadania, PSDB, PSB, Novo e Rede.

“O PSL virou briga na pelada da várzea, um negócio horroroso”, afirma Gontijo.

Apesar da indisfarçável schadenfreude, ele acha a situação “institucionalmente ruim” para o país.

“É triste que a principal legenda de apoio ao governo esteja se comportando dessa forma. É o que acontece quando você não tem um projeto de verdade. O PSL é um bando, que se juntou apenas por um projeto de poder”, afirma.

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