Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Guedes, Damares, AI-5, Aliança e hienas; 10 fatos que marcaram a direita em 2019 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/guedes-damares-ai-5-alianca-e-hienas-10-fatos-que-marcaram-a-direita-em-2019/#respond Fri, 20 Dec 2019 13:38:16 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Bolsonaro-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2190 2019 foi o primeiro ano completo desde que a onda conservadora tomou o país.

Embora a saída de Lula da cadeia e a Vaza Jato tenham energizado a esquerda durante os últimos meses, quem comandou o noticiário foi mesmo a direita.

Jair Bolsonaro foi, claro, o principal protagonista, mas o ano foi rico no mundo destro e não se limitou ao presidente.

E como a perspectiva é de que o pêndulo político fique do lado direito por um bom tempo, muitas tendências apontadas no ano que passou devem ter desdobramentos em 2020.

Esta é a retrospectiva de Saída Pela Direita, com os dez fatos mais importantes do ano. Como sou humilde, não coloquei a criação deste blog entre eles.

Neste fim de ano, dou uma pausa e retorno com tudo em janeiro. Muito obrigado a todos que me acompanharam em 2019. Feliz Natal e um ótimo 2020 para quem é destro e para quem não é.

Mas antes, fique com o top 10 da direita no ano que termina.

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1-) Parquinho liberal pega fogo

Teve treta pelo apoio ao governo Bolsonaro, simbolizado pelo arranca-rabo entre Helio Beltrão, do Mises, e Elena Landau, do Livres. E teve provocação dos liberais clássicos aos adeptos da Escola Austríaca, comparados a economistas de humanas (ofensa grave).

Ouviram de volta que os clássicos só se preocupam com números. Tanta briga não deixa de ser um sinal de que a Kombi liberal cresceu.

2-) Flavio murcha, Carluxo dá um tempo e 03 se consagra

 

O deputado federal Eduardo Bolsonaro durante a conferência conservadora Cpac, em outubro (Divulgação)

O senador, acuado pelo caso Queiroz, não conseguiu ser o articulador político que se esperava. O vereador  gerou tanto problema na comunicação presidencial que achou por bem tirar um sabático.

Eduardo Bolsonaro, emissário junto a Trump e líder da tropa de choque do pai, se consolidou como herdeiro político dele.

3-) Ai, ai, ai, AI-5

Essa foi feia. 51 anos depois, o ato que endureceu a ditadura foi resgatado do pântano por frases inconsequentes de Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes. Voltou a ser um fantasma, por ora contido.

4-) Salvini vacila, Vox cresce e Boris vira rei

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reeleito de forma esmagadora em dezembro (Folhapress)

Que ano para a direita europeia.

O italiano Matteo Salvini tentou forçar uma eleição para chegar ao poder e viu sua estratégia falhar espetacularmente, com a união da esquerda, que formou novo governo. Na Espanha, os herdeiros de Franco do partido Vox cresceram vertiginosamente. Mas nada se comparou à consagração de Boris Johnson, o novo rei do Brexit.

Nos EUA, Trump não se abalou com o impeachment, mas é cedo para fazer prognóstico sobre sua reeleição. Netanyahu terminou o ano como primeiro-ministro de Israel, mas enfrenta novo pleito em 2020.

E na América Latina a direita perdeu Macri na Argentina, que saiu desmoralizado, mas ganhou Lacalle Pou no Uruguai, promessa de renovação na arena sul-americana.

5-) Aliança chega para ser a cara da direita brasileira

Teremos finalmente um partido genuinamente conservador no Brasil? A Aliança Pelo Brasil nasceu com essa ambição, para ser o veículo da direita bolsonarista, e não o puxadinho que era o PSL de Luciano Bivar.

6-) Cultura e educação, os novos campos de batalha

Do ministro falastrão Abraham Weintraub (Educação) à guinada conservadora na Cultura, a direita levou a sério o combate ao chamado “marxismo cultural”, conforme mandou professor Olavo de Carvalho.

A ascensão de grupos como a produtora Brasil Paralelo deu impulso a esse novo campo de batalha.

7-) Damares é pop, Guedes é Deus e Moro patina

A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, uma das mais populares do governo (Folhapress)

A ovação à ministra dos Direitos Humanos na conferência conservadora Cpac reforçou seu caráter de pop star da direita, corroborado pelo Datafolha. Seu colega de Esplanada Paulo Guedes também teve um ano bom, endeusado pelo mercado.

Já Sergio Moro teve um ano difícil, abatido pela Vaza Jato e pela desidratação de seu pacote de segurança.

8) Surge a direita de soja

As diatribes de Bolsonaro contra a imprensa, STF e Congresso alienaram parte da direita que o apoiou. Afastaram-se ex-aliados como MBL, Novo, João Doria, os ex-ministros Gustavo Bebianno e Carlos Alberto Santos Cruz e deputados como Alexandre Frota e Joice Hasselmann.

Todos de direita ainda, mas prometendo serem mais respeitadores da liturgia da política. E das instituições.

9-) Mais armas, mas menos do que a direita quer

Não foi fácil acompanhar o vaivém dos decretos do governo para tentar liberar armas. No fim, houve ampliação de acesso para produtores rurais e algumas poucas categorias. Muito pouco para quem votou em Bolsonaro por causa das arminhas que ele faz com a mão.

10-) O vale tudo das redes sociais

Post compartilhado por Jair Bolsonaro em que ele se compara a um leão acossado por hienas (Folhapress)
O vídeo das hienas de Bolsonaro; o quebra-pau entre Allan dos Santos e Nando Moura; a milícia digital agindo contra Joice Hasselmann; e muita, muita fake news. A internet, em 2019, esteve fora de controle no mundo destro. Que medo de 2020.
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Advogado praticante de tiro iniciou abaixo-assinado contra Miriam Leitão https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/16/advogado-praticante-de-tiro-iniciou-abaixo-assinado-contra-miriam-leitao/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/07/16/advogado-praticante-de-tiro-iniciou-abaixo-assinado-contra-miriam-leitao/#respond Tue, 16 Jul 2019 23:52:09 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Jaraguá-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1438 O advogado Danilo Faggian, de Jaraguá do Sul (SC), foi o responsável por iniciar o abaixo-assinado eletrônico que levou ao cancelamento da participação da jornalista Miriam Leitão na 13ª Feira do Livro da cidade.

A petição foi hospedada no site da Avaaz, especializado nesse tipo de ação, na tarde desta segunda-feira (15). Até a noite de terça (16), tinha 3.300 assinaturas. A meta é obter 5.000 apoios.

“Por seu viés ideológico e posicionamento, a população jaraguaense repudia sua presença, requerendo, assim que a mesma não se faça presente em evento tão importante em nossa cidade”, afirma a petição online.

O cancelamento, segundo os organizadores da feira, se deu porque não era possível garantir a segurança da jornalista. A presença do sociólogo Sérgio Abranches também foi cancelada.

Em sua página no Facebook, Faggian posta fotos de apoio ao governo de Jair Bolsonaro e ao governador Comandante Moisés, ambos do PSL. Também faz elogios a símbolos da direita, como a ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, e críticas à esquerda.

Faggian é praticante de tiro esportivo e crítico das políticas de desarmamento. Jaraguá do Sul é conhecida por ter uma das maiores concentrações do país de adeptos dessa modalidade.

Todos os anos em novembro, a cidade sedia a Schützenfest, uma espécie de Okoberfest dos atiradores, que mistura cerveja e eventos ligados à prática. A tradição foi trazida da Alemanha, cidade de origem dos fundadores da cidade, há três décadas.

Com 175 mil habitantes e um dos melhores índices de qualidade de vida do Brasil, Jaraguá do Sul, no norte catarinense, deu vitória esmagadora a Bolsonaro no ano passado. O atual presidente obteve ali 83% dos votos válidos.

Procurado pelo blog, Faggian não quis dar entrevista sobre o assunto.

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Liberais, empresários do RS financiam polícia e criam Lei Rouanet da segurança https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/22/liberais-empresarios-do-rs-financiam-policia-e-criam-lei-rouanet-da-seguranca/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/22/liberais-empresarios-do-rs-financiam-policia-e-criam-lei-rouanet-da-seguranca/#respond Sat, 22 Jun 2019 18:00:03 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/Floresta1-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1268 Porto Alegre (RS) – Em dezembro do ano passado, a elite política e da segurança pública do Rio Grande do Sul perfilou-se em um ginásio de Porto Alegre em frente a uma mesa comprida, repleta de pistolas Glock recém-adquiridas.

Era a cerimônia de doação de 1.200 armas à polícia pelo Instituto Cultural Floresta, uma ONG criada por empresários gaúchos. Nove meses antes, num evento parecido, 46 carros modelo Pajero, com o logotipo do instituto afixado na lataria, já haviam sido entregues pela entidade.

O pacote de equipamentos, que incluiu ainda coletes, uniformes e rádios, custou R$ 14 milhões e foi adquirido após uma supervaquinha organizada pelo instituto, que teve a colaboração de 55 pessoas físicas e empresas gaúchas. As doações variaram de R$ 50 mil a R$ 1,5 milhão.

“Foi como uma gota d’água numa chapa quente. Fez um barulhão e chamou a atenção para o problema da falta de equipamento da polícia”, diz Leonardo Fração, 37, presidente do instituto, criado por um grupo de empresários amigos em 2017 com o objetivo de ajudar a resolver o problema da segurança no Rio Grande do Sul. Agora eles buscam uma forma de manter essa colaboração em bases permanentes.

A partir da esq., o presidente do Instituto Floresta, Leonardo Fração, o então comandante da PM, o então governador Ivo Sartori e o então secretário de Segurança, Cezar Schirmer, durante doação de armas em dezembro de 2018 (Karine Viana/SSP-RS)

A saída proposta pela ONG foi aprovada em agosto do ano passado pela Assembleia Legislativa e é uma espécie de Lei Rouanet da segurança. Empresas que queiram comprar equipamentos para a polícia poderão deduzir o gasto até o limite de 5% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) devido ao estado.

A entrada efetiva em vigor do Piseg (Progama de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública do RS) ainda depende de um decreto regulamentando-o, que está em fase final de ajustes. O governo estima que até R$ 115 milhões em material podem ser recebidos por ano, duas vezes e meia o investimento do estado em equipamentos em 2018.

Com diretores e conselheiros assumidamente liberais e críticos da ineficiência do Estado, o instituto prefere comprar os equipamentos e doá-los do que simplesmente entregar dinheiro ao governo.

Essa modalidade, segundo Fração, tem duas vantagens: fornecer os modelos e marcas que a polícia prefere e obter condições mais favoráveis em negociações com as empresas.

“O sistema está errado. Hoje você faz uma licitação e reza para que o vencedor seja quem você quer que equipe a polícia. E na maioria das vezes os equipamentos não são os que os policiais querem”, diz.

Além disso, afirma, é possível obter descontos expressivos pagando adiantado e dando aos fornecedores a certeza de que receberão pelos produtos, eliminando o risco de levarem calote do Estado.

Na prática, é uma espécie de licitação ao contrário. A Secretaria da Segurança Pública lista na internet os equipamentos de que precisa, especificando marca, modelo, quantidade e um termo de referência de preço.

Empresários interessados fazem a doação e recebem o incentivo fiscal. Há ainda a obrigatoriedade de pagarem ao estado 10% do imposto deduzido para aplicação em projetos educacionais.

Dono de uma gestora de recursos financeiros em Porto Alegre, Fração diz que decidiu criar o instituto após uma série de crimes de grande repercussão na cidade entre 2016 e 2017. Com o estado quebrado e a Brigada Militar (a PM local) depauperada, teve como primeira ideia consertar de carros de polícia.

“Comecei a ligar para amigos donos de concessionárias de carro pedindo que arrumassem viaturas da PM estragadas. Foram cem carros em duas semanas”, diz. Participaram 12 concessionárias, que não cobraram pelo serviço.

Carro de polícia doado pelo Instituto Floresta em março de 2018 (Marcos Nagelstein/SSP-RS)

Após essa primeira ação, afirma, empresários amigos começaram a entrar em contato pedindo para ajudar. Ele afirma que não tem pretensões políticas e que é apenas um empresário querendo ajudar.

“A segurança tem três pilares: prevenção, presença ostensiva da polícia e punição. Onde é mais fácil atuar? Ostensividade. Então vamos comprar carro, colete, rádio, pistola e equipar os policiais. Se não podemos contratar, vamos fazer o policial valer por dois”, afirma.

Durante muito tempo, diz ele, “a sociedade escanteou os nossos policiais “.

A Secretaria da Segurança Pública diz que a nova lei será uma “revolução” e que o decreto regulamentando seu funcionamento está sendo concluído. A pasta diz não ter conhecimento sobre outra lei semelhante no Brasil.

Na Assembleia, o projeto teve apoio de deputados de todos os partidos, com exceção de Pedro Ruas (PSOL).

Segundo ele, um problema é a presença de entidades que representam potenciais doadores no conselho técnico do programa, que discute a lista de equipamentos a serem pedidos para os empresários.

“A doação deve ser algo sem retorno para quem doa. Tenho receio de que as entidades privadas decidam onde haverá segurança e onde não”, afirmou.

Outros pontos que ele critica são a falta de acompanhamento do Ministério Público, a possibilidade de empresas devedoras de ICMS participarem do programa e a condição financeira precária do estado. “Nossa isenção fiscal já é de R$ 9 bilhões ao ano. Como um estado assim convive com novas isenções?”, afirma.

Ex-presidente do IEE (Instituto de Estudos Empresariais), um dos principais centros de difusão do pensamento liberal do país, Fração diz que a responsabilidade do Estado sobre a segurança pública não pode ser relativizada, mas defende a participação da iniciativa privada no combate à criminalidade.

O modelo de legislação atual, diz, prevê muitas restrições para o cidadão de bem e punição branda para quem transgride. Deveria ser o contrário, acredita.

“O Estado precisa ser menos preventivo e mais punitivo. Você tem que regular menos a vida do cidadão e punir mais o infrator”, afirma.

Essa punição mais efetiva se traduziria, segundo ele, em menos possibilidade de progressão de pena e condições mais rígidas para presidiários.

“O custo dos presídios e dos presos deveria ser aliviado da sociedade. Preso tinha que trabalhar, tinha que ter produtividade”, diz.

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Ser dona de casa é um direito e paridade salarial tem limite, diz antifeminista https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/18/ser-dona-de-casa-e-um-direito-e-paridade-salarial-tem-limite-diz-antifeminista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/18/ser-dona-de-casa-e-um-direito-e-paridade-salarial-tem-limite-diz-antifeminista/#respond Tue, 18 Jun 2019 11:19:08 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/img_2913-320x213.jpg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1222 Santa Maria (RS) – Existem mulheres de direita? Mulheres liberais? Claro que sim. Mas às vezes elas parecem um tanto invisíveis, ao menos em posições de destaque.

Na efervescência de novas organizações e institutos da direita liberal surgidos nos últimos anos, é raro ver uma mulher no comando. Encontrei uma em Santa Maria (RS), cidade de 280 mil habitantes no centro do Rio Grande do Sul.

Nêmora Schuh, 20, preside o Clube Farroupilha, fundado em 2013. Formado sobretudo por jovens universitários ou recém-formados, dedica-se a propagar o liberalismo na economia e nos costumes. Faz parte de uma rede internacional, a Students for Liberty, e promove seminários e debates na cidade. Seu principal evento anual é o Simpósio Interdisciplinar Farroupilha, todo mês de novembro.

Alguns ex-dirigentes do clube já empreenderam voos mais altos. Giuseppe Riesgo é deputado estadual gaúcho pelo Novo; Gianluca Lorenzon é diretor da Secretaria Especial de Desburocratização no Ministério da Economia.

Estudante de Direito na Universidade Federal de Santa Maria, Nêmora se descobriu liberal na adolescência. Começou a ler por conta própria os teóricos da Escola Austríaca, defensores do Estado mínimo na economia. “Aos poucos fui entendendo que liberal não é o cara que chuta mendigo e escraviza crianças. O liberalismo tem uma pauta maior, não agressiva”, diz.

Começou a participar do Farroupilha em 2017 e se tornou presidente em outubro do ano passado (substituindo, aliás, outra mulher).

Para Nêmora, mulheres liberais são exceção porque o discurso emotivo da esquerda tem um impacto maior sobre o sexo feminino.

“As mulheres liberais tendem a ser mais frias, mais objetivas. De uma forma geral, a mulher é criada de uma forma emotiva. E a emoção leva à esquerda”, diz.

Hoje, a pauta das mulheres está fortemente associada à esquerda, o que faz das feministas alvos preferenciais da direita. “Outro dia entrou um grupo de feministas na sala de aula para anunciar três dias de um evento sobre a condição da mulher. Só que no primeiro dia não podiam participar homens. Um absurdo!”, diz.

A agenda feminista, afirma Nêmora, é atrasada, por querer colocar a mulher acima dos homens e ter uma atitude autoritária. “O que me dá pavor é ver mulheres sendo criticadas porque querem ser donas de casa”.

Em uma pauta clássica das mulheres, o direito ao aborto, ela, como liberal, não tem divergências com suas adversárias (embora na direção do Clube o tema não seja consensual). Em outra, a da paridade de salário entre os gêneros, suas opiniões provocariam calafrios nas feministas.

“Eu sou favorável a salários iguais para homens e mulheres desde que o custo para as empresas seja igual”, afirma. O problema, diz ela, é que nem sempre isso acontece.

“Quando a mulher engravida ou tem que cuidar de um filho pequeno, isso gera um custo maior para o empregador. É óbvio que a empresa vai preferir contratar um homem”, diz.

Sobre a gestão Bolsonaro, ela reprova o tom conservador predominante e é especialmente refratária às posições do filósofo Olavo de Carvalho. “A gente faz um esforço enorme pra mudar a imagem de que a direita é arrogante, daí vem o Olavo de Carvalho e acaba com tudo”, afirma.

Mas com várias pautas do governo ela está de acordo, como a agenda econômica e a ampliação do direito a armas.

Há quatro anos, Nêmora estava trabalhando no caixa da padaria de sua família, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), quando um assaltante, em plena luz do dia, colocou uma arma em sua cabeça. Mais do que assustada, ela diz que ficou furiosa. “Eu fiquei brava porque ele tinha uma arma naquele momento e eu não”.

Por isso, está só esperando fazer 25 anos, idade mínima prevista em lei, para comprar a sua. “Eu quero muito ter armas. Vai ser o presente de aniversário que darei para mim mesma”, afirma.

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Arma é para cidadão se defender e não resolve questão da segurança, diz ativista https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/15/arma-e-para-cidadao-se-defender-e-nao-resolve-questao-da-seguranca-diz-ativista/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/15/arma-e-para-cidadao-se-defender-e-nao-resolve-questao-da-seguranca-diz-ativista/#respond Sat, 15 Jun 2019 17:11:16 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/Bene1-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1236 Florianópolis (SC) – Benê Barbosa teve seu primeiro contato com uma arma de fogo, um revólver calibre 32, numa idade em que crianças brincam com pistolas de plástico. Tinha 4 ou 5 anos, e um dia o pai o levou para o quintal da casa onde moravam, em Praia Grande (litoral de SP).

“Ele pegou uma lata de 18 litros de tinta, botou água, me pôs no colo e me ajudou a puxar o gatilho. Lembro do estampido, do furo na lata, da água saindo. E aí ele falou: ‘é isso que uma arma faz. Não é brinquedo’”, lembra.

Quatro décadas depois, Benê, 48, é um dos principais porta-vozes dos defensores das armas do país. Bem relacionado com a bancada da bala, na semana passada esteve no Congresso, defendendo o decreto pró-armas do governo, que corre sério risco de ser derrubado.

Muito atuante nas redes sociais e amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, não gosta de ser chamado de lobista, porque “sempre parece que tem um cifrão”. Prefere especialista.

Lobista ou especialista, ele comanda o Movimento Viva Brasil (MVB), ONG que criou em 2004 para dar assessoria aos defensores do “não” no referendo que tentou barrar a venda de armas, em 2005.

“Eu era o debatedor, o cara técnico”, afirmou à Folha em sua casa em Florianópolis, decorada com adesivos e gravuras alusivas a armas antigas e uma coleção de espingardas de chumbinho para a prática de tiro.

Na campanha do referendo, teve os primeiros contatos com os então deputados Bolsonaro e Onyx Lorenzoni. Venceram com 64% dos votos, mas Benê acabou pagando um preço pessoal por seu envolvimento com o tema.

Na época, ele dava aulas de informática no tradicional Colégio São Luís, de São Paulo, e o diretor veio dizer que seu posicionamento não era o mesmo dos jesuítas que comandavam a instituição. Acabou demitido.

Pôsteres sobre armas afixados na sala da casa de Benê Barbosa

Desde então, passou a se dedicar em tempo integral ao MVB, que comanda praticamente sozinho. Quando ouve que a entidade é uma versão brasileira da NRA (National Rifle Association), poderoso lobby pró-armas dos EUA, ri. “Legal, só me dá 8 milhões de associados e 6.000 empresas que colaboram”.

Bacharel em direito, Benê tentou ser delegado de polícia, mas desistiu. Enveredou pelos ramos da informática e do telemarketing. Nos anos 1990, infância da internet, começou a participar de grupos de emails de defensores de armas. “A gente caiu na internet por total ausência de espaço [na imprensa]”, diz ele, crítico ácido da mídia no Twitter, incluindo a Folha.

O MVB, diz Benê, financia-se com anualidade de R$ 100 paga por cerca de 2.000 associados. Também dá cursos de tiro e faz palestras sobre armas, ao custo de R$ 10 mil cada (preço negociável). Recebe ainda royalties pelo livro “Mentiram para Mim Sobre o Desarmamento”, lançado em 2015, que, segundo ele, vendeu 30 mil cópias.

Ao contrário do que se poderia imaginar, a vitória de Bolsonaro acabou reduzindo a receita de sua entidade, afirma.

“Nossa renda de doações despencou 40%, porque todo mundo acha que agora a questão está resolvida. Talvez eu devesse ter votado no [Guilherme] Boulos ou na Marina [Silva]”, brinca.

Benê afirma que não recebe dinheiro de empresas de armas nem de governos, embora já tenha recebido propostas para isso. “Quero poder chegar e falar: olha, isso aqui é uma bosta”.

Uma dessas situações ocorreu em janeiro, quando Bolsonaro baixou o primeiro decreto pró-armas, que ele considerou tímido, por basicamente apenas mudar algumas regras de registro de armas. Acabou batendo boca com Carlos Bolsonaro pelo Twitter.

Há cerca de um ano, Benê e a família trocaram São Paulo por Florianópolis. Como muitos paulistas, foram atrás de qualidade de vida da capital catarinense. No caso dele, também há a conveniência de ficar perto do Clube de Tiro .38, na cidade vizinha de São José. A ligação dele com o local, frequentado por Eduardo e Carlos Bolsonaro, é antiga, tanto que o endereço para correspondência do MVB é a sede do clube.

Mesmo em novo endereço, ele não desacelerou, especialmente no Twitter, onde tem 331 mil seguidores.

Armário de Benê Barbosa com adesivos pró-armas e contra o PT

A tese central de Benê é que a posse de armas é mais um direito que uma questão de segurança pública. “Nunca falei que a criminalidade vai desabar quando liberar as armas. Não sei se isso vai acontecer, a discussão não é essa”, afirma.

O cidadão, diz o ativista, tem de poder se defender, seja de bandidos, seja do próprio Estado. “Se você acabar com todas as armas para a população, só o Estado as terá. O risco caso um dia tenhamos um governo ditatorial é muito grande, e isso acontece toda hora na América Latina”.

Segundo Renato Sérgio de Lima, defensor do desarmamento e diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Benê modulou seu discurso ao longo dos anos. “Ele reduziu a ênfase na questão da segurança, mais divisiva, e prefere o discurso da arma como direito, mais palatável”, afirma. Para Lima, ele é o típico polemista dos tempos atuais, relevante nas redes sociais e bem menos fora delas.

Uma prioridade de Benê é torpedear o elo entre aumento de armas e de mortes. A principal peça de resistência dos desarmamentistas é o Atlas da Violência, pesquisa anual feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo FBSP com base em estatísticas de homicídios.

Na edição deste ano, divulgada em 5 de junho, os autores apresentaram números mostrando que a partir de 2003, quando foi aprovado o Estatuto do Desarmamento, o crescimento das mortes por armas de fogo desacelerou, de uma média anual de 5,44% para 0,85%.

Para Benê, as conclusões são afetadas pelo viés pró-desarmamento dos pesquisadores. “Eles acham que foi o desarmamento e ponto final, deixam todas as outras variáveis de lado”, afirma. A principal, diz ele, é o efeito de políticas regionais em estados populosos como SP, RJ e MG, o que afeta o número geral.

“O Nordeste, que mais participou de campanhas de desarmamento voluntário e onde há menor número de armas registradas, foi onde a criminalidade mais cresceu”, declara.

Ele afirma que há indicações de que a maior presença de armas induz à queda na criminalidade, mas admite que os estudos são inconclusivos.

“Nos EUA, estados que liberaram o porte de armas quase que imediatamente tiveram uma queda no número de crimes violentos. O criminoso, em vez de roubar o carro quando você estiver parado no farol, vai preferir furtar quando você não estiver por perto”.

Outra certeza que tem é que “gun free zones”, ou seja, zonas livres de armas, como escolas, igrejas e centros comerciais, são “um convite para malucos”.

Para Benê, a epidemia de massacres nos EUA não tem relação com o acesso a armas. “Se tivesse, você teria esse tipo de coisa em outros países com muita arma”, diz, citando Canadá e Finlândia.

E qual a explicação? Sem grande convicção, ele teoriza: “É um problema cultural americano, quase uma coisa mitológica: ‘eu sou maluco, eu quero aparecer, eu vou matar um monte de gente’”, diz.

Assim que ocorre um massacre com armas de fogo, seja numa escola de Suzano (SP) ou numa mesquita da Nova Zelândia, ele se prepara para ser alvo de artilharia.

“A primeira coisa que faço é buscar informações. E cada vez mais eu vejo que não foge do script: arma ilegal, pessoa com problema mental, extremista e gun free zone”, afirma.

Passado o debate sobre o decreto, ele mira um objetivo maior: revogar o Estatuto e substituí-lo por uma legislação bem mais flexível de armas, quase sem restrições.

As únicas regras que propõe são idade mínima de 21 anos, limite de nove armas por pessoa e análise de perfil e antecedentes criminais.

“Defendo barreiras objetivas: tem histórico de violência? Fora. Problema psiquiátrico? Fora. Não sou um libertário”, diz.

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Defesa de armas vai de liberais do Estado mínimo a marxistas do PCO https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/13/defesa-de-armas-vai-de-liberais-do-estado-minimo-a-marxistas-do-pco/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/13/defesa-de-armas-vai-de-liberais-do-estado-minimo-a-marxistas-do-pco/#respond Mon, 13 May 2019 11:03:42 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/PCO-320x213.jpg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=909 Não são apenas Jair Bolsonaro e a bancada da bala que querem facilitar o porte e a posse de armas.

A defesa de maior acesso a revólveres, pistolas e fuzis pela população talvez seja o único tema do mundo que junte, por exemplo, liberais defensores do Estado mínimo e um partido de extrema esquerda, o PCO (Partido da Causa Operária).

Presidente do Instituto Mises Brasil, Hélio Beltrão comemorou o recente decreto de Bolsonaro ampliando as possibilidades de porte de arma.

“O decreto é um enorme avanço. Ele é amplo, atinge muitas áreas, e como liberal acredito que quem tiver condições e passar nas qualificações previstas na lei, como exame psicotécnico, antecedentes etc. deveria ter direito a ter armas”, afirma.

A perspectiva de Beltrão é a de que o direito de o cidadão se defender de uma agressão é inalienável, no mesmo nível de outros como à livre expressão e à manifestação política, por exemplo. Liberais como ele ressaltam mais este princípio do que os efeitos sobre a criminalidade, e passam longe do slogan “bando bom é bandido morto”, de gente mais ligada à área de segurança pública.

Outros grupos liberais, como o Livres e o MBL seguem na mesma linha, embora não desprezem o impacto que as armas possam ter na situação de segurança.

Banner do MBL defendendo decreto pró-armas de Bolsonaro (Reprodução)

Beltrão, por exemplo, destaca o que chama de “efeito aura”. “Hoje se você entrar num ônibus, a chance de ter um policial ou alguém com arma é muito pequena. Mas com esse decreto, ela aumenta. O fato de ter uma pessoa em 40 ou 50 já protege todas. O ladrão sabe disso, ele faz o cálculo sobre o risco de ter um problema. Hoje ele faz a festa porque ninguém pode ter arma”, afirma.

No outro extremo, o PCO, partido nanico de orientação marxista, achou que Bolsonaro foi tímido demais em seu decreto. Seus dirigentes defendem que toda a população possa andar armada. Sua tese: apenas assim os trabalhadores poderão resistir à opressão dos patrões e do Estado.

“Ter armas é um direito democrático. A população não pode ficar refém de uma burocracia estatal para se defender”, diz Natália Pimenta, da direção nacional do partido. Segundo ela, a Constituição americana, que assegura o direito de uso de armas, é um bom parâmetro.

O partido também é contra estabelecer condições para liberar o acesso, como exames e testes. “A gente sabe que esses critérios não são necessariamente técnicos”, afirma.

O PCO discorda do decreto de Bolsonaro, mas pelos motivos opostos ao do restante da esquerda: para o partido, o presidente foi muito restritivo.

“O decreto mantém a maioria da população de fora. É bastante seletivo e em geral favorece setores de classe média e classe média alta”, diz Pimenta. “Você acha que o governo permitiria que os milhões de sem-terra se armassem?”, pergunta ela.

Para o partido, as outras legendas da esquerda estão sendo incoerentes ao criticarem o desarmamento. “É uma posição que não é a tradicional do movimento operário e revolucionário”, diz a dirigente.

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No circuito da soja de MT, fazendeiros aplaudem decreto pró-armas https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/10/no-circuito-da-soja-de-mt-produtores-aplaudem-decreto-pro-armas/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/10/no-circuito-da-soja-de-mt-produtores-aplaudem-decreto-pro-armas/#respond Fri, 10 May 2019 11:21:49 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/sorriso1-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=885 Sorriso e Sinop (MT) – A cada dez dias, um helicóptero com cinco policiais percorre fazendas da região de Sorriso (MT), cidade que é a maior produtora de soja do Brasil. Em algumas propriedades, os tripulantes descem e conversam com grupos de fazendeiros das redondezas sobre segurança no campo.

As principais recomendações: evitem construir paredões verdes, cercas vivas e muros opacos, que facilitam a ação de delinquentes; cuidem do entorno da propriedade como se fosse parte dela, para evitar o aspecto de abandono; invistam o quanto puder em iluminação.

E mais importante: formem teias de contato por WhatsApp e outras redes sociais para avisar ao menor sinal de perigo.

O projeto foi implantado no início do ano, uma parceria do Sindicato Rural de Sorriso (400 km ao norte de Cuiabá) com o Ciopaer (Centro Integrado de Operações Aéreas) do governo do estado, que reúne as polícias militar e civil e o corpo de bombeiros.

O que motivou a iniciativa, diz Tiago Stefanello, presidente do sindicato, foram os altos níveis de violência no campo. “A invasão de propriedades chegou num ponto inaceitável”, diz ele.

Por isso, os produtores rurais do norte de Mato Grosso, uma das regiões onde o agronegócio é mais forte no país, aplaudiram efusivamente as medidas anunciadas pelo governo de facilitação de posse e uso de armas de fogo nas propriedades rurais, anunciadas nesta semana.

As principais ocorrências são roubo de fertilizantes e defensivos agrícolas, que são fortemente afetados pela alta do dólar e por isso nunca estiveram tão caros (uma tonelada de adubo, suficiente para dois hectares plantados, subiu de US$ 350 para US$ 390 em um ano).

Também há furto de sementes, cabeças de gado e máquinas. Em alguns casos, os bandidos usam de violência, agredindo e amarrando proprietários rurais e caseiros.

E há também a sempre presente possibilidade de ação de grupos de sem-terra, embora essa ameaça tenha sido reduzida nos últimos dois anos, afirma Stefanello. “Eles entraram na minha propriedade uns anos atrás, mas foram convencidos a se retirar de um jeito muito persuasivo”, diz ele, que mobilizou policiais na época para removê-los.

Natural de Ibirubá (RS), Stefanello, 41, migrou para o Mato Grosso em 2000 para trabalhar numa propriedade como engenheiro agrônomo, mais um entre milhares de sulistas que vieram tentar a vida no Cerrado. Hoje, planta soja e milho.

O presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT), Tiago Stefanello (Fábio Zanini/Folhapress)

Stefanello é eleitor de Bolsonaro e diz que 99% dos 620 fazendeiros que seu sindicato representa apoiaram o capitão na eleição. “Ele é contra invasão de terras e o aparelhamento do Incra, que nos trouxe muito prejuízo”, afirma. Uma de suas ações à frente do sindicato foi distribuir bandeiras do Brasil para os produtores. “Temos que reforçar o patriotismo”, diz.

Em Sinop (MT), cidade vizinha que também é um pólo produtor de soja, Ilson Redivo, 62, catarinense de Caçador que migrou há 30 anos para a região, diz que as medidas adotadas por Bolsonaro para facilitar o uso de armas nas fazendas vão fazer a lei valer para todos.

“Se o cara vai lá na fazenda, chumbo grosso nele. Você primeiro atira e depois pergunta o que ele foi fazer lá”, afirma Redivo, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade.

Segundo ele, a Polícia Militar no município mal tem condição de oferecer segurança urbana para a cidade de 140 mil habitantes, considerada a “capital do Nortão de Mato Grosso”.

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Sinop, Ilson Redivo (Fábio Zanini/Folhapress)

A lei do desarmamento desarmou o cidadão de bem”, afirma ele, que mantém um adesivo de Bolsonaro em seu computador de trabalho. “O Estado não tem condição de prover segurança, é preciso dar condições às pessoas de se defenderem”.

Dezenas de grupos de WhatsApp coordenados pelo sindicato deixam os produtores em alerta constante para episódios de invasão à propriedade.

Assim como em Sorriso, em Sinop o principal problema é o roubo de fertilizantes e defensivos. “Roubo de defensivo tinha que ser crime inafiançável como é o tráfico de drogas. Quem sabe o Bolsonaro não muda isso também?, pede.

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Guerra entre fabricantes de pistolas vem à tona em feira de armas no Rio https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/08/guerra-entre-fabricantes-de-pistolas-vem-a-tona-em-feira-de-armas-no-rio/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/08/guerra-entre-fabricantes-de-pistolas-vem-a-tona-em-feira-de-armas-no-rio/#respond Mon, 08 Apr 2019 11:15:51 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/armas2-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=549 Rio de Janeiro – A primeira visão de quem chegava à Laad, maior feira de produtos de defesa e armamento da América Latina, que terminou na última sexta-feira (5) no Rio, era proporcional ao tamanho da principal briga em curso hoje no setor.

Um stand enorme da fábrica de pistolas Taurus dava as boas-vindas aos visitantes do evento, no centro de convenções Riocentro. Dezenas de pessoas se aglomeravam para empunhar um dos vários modelos ali expostos, fazendo poses e tirando selfies.

Stand da Taurus, na entrada da Laad, no Rio de Janeiro

Ao lado, um stand quase do mesmo tamanho era ocupado pela austríaca Glock, uma das principais candidatas a desafiar o virtual monopólio que a Taurus tem hoje sobre o mercado nacional.

Stand da austríaca Glock, na Laad, no Rio

Em outros pontos da feira, havia espaços também para empresas loucas para abocanhar uma parte do mercado nacional, como a suíço-alemã Sig Sauer e a americana Smith & Wesson.

Por enquanto, elas estão praticamente excluídas, dado que obter autorização para operar no Brasil depende do Exército e de uma série de regulamentações que na prática garantem uma reserva de mercado para a gaúcha Taurus.

Apenas clubes de tiro conseguem autorização para importar armas. Já houve também algumas licitações internacionais de órgãos de segurança em que as estrangeiras puderam participar. Mas há um longo caminho a percorrer até a abertura de mercado, algo que o presidente Jair Bolsonaro promete promover.

Uma rara empresa a conseguir furar o bloqueio é a Imbel, que, por ser estatal, está em posição privilegiada para vender seus armamentos para o Exército e polícias estaduais. Apenas 20% de sua produção é para consumidores privados, no entanto.

A empresa, uma das poucas na Laad a atender a meus pedidos de entrevista, enxerga potencial de crescimento de 10% a 20% nesse ano em razão do recente decreto do presidente Jair Bolsonaro facilitando as regras para posse de arma. “Está havendo mais procura pelo cidadão comum”, diz Marcelo Muniz, assessor de comunicação da Imbel.

A empresa não detalha números de sua produção, mas admite que sua escala é bem menor que a da Taurus. “O decreto deu uma pequena mexida no mercado, mas para nós já faz diferença. Agora, para haver uma explosão de demanda, seria preciso medidas mais profundas para facilitar o acesso e o porte de armas”, afirma Muniz.

A Imbel, diz ele, é favorável à abertura de mercado, desde que as estrangeiras se instalem no Brasil fisicamente, com fábricas, e sujeitas às mesmas condições das empresas nacionais (inclusive carga tributária e legislação trabalhista). Essa é a posição da Taurus também.

Conversei com representantes de outras estrangeiras, que, reservadamente, me disseram que estariam dispostas a construir fábricas no Brasil, assim que isso for permitido.

Pelo interesse que vi na Laad, mercado haverá. O pequeno stand da Smith & Wesson, incomparavelmente menor do que a da Taurus, estava o tempo todo cheio. A marca americana tem um apelo especial para quem gosta de armas.

Fundada em 1852, é a arma dos filmes de caubói e da conquista do oeste americano. Produz um modelo com aquela clássica roleta no meio da arma em que as balas são colocadas uma por uma. Mas atualmente só podem vender no Brasil o calibre 22, que não tem similar no mercado nacional. O calibre 38, filé mignon do setor, tem reserva para brasileiros.

Outra marca lendária também tinha um espaço modesto na feira, mas atraía muita gente. Uma subsidiária americana da Kalashnikov russa expôs versões do AK-47, talvez a arma mais famosa do século 20. Também estão esperando licença do governo para poder vender no Brasil.

Pessoas manuseiam armas em stand da Kalashnikov

“Temos recebido muitas demonstrações de interesse de polícias militares, Polícia Federal e guardas municipais”, diz Eduardo de Barros, vice-presidente de operações da Kalashnikov EUA, fundada em 2014. Atualmente, apenas colecionadores, atiradores e caçadores podem importá-la.

“Por ora, é muito cedo para fazer um planejamento para o Brasil. É preciso esperar o que vai acontecer com o mercado”, afirma Barros.

Os próximos meses devem ver novos lances nessa disputa. Dependerá, dizem todos, do empenho pessoal de Bolsonaro em mexer num mercado que é dos mais engessados da economia.

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Feira no Rio retrata empolgação do setor de Defesa com governo Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/05/feira-no-rio-retrata-empolgacao-do-setor-de-defesa-com-governo-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/04/05/feira-no-rio-retrata-empolgacao-do-setor-de-defesa-com-governo-bolsonaro/#respond Fri, 05 Apr 2019 13:07:11 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/Laad5-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=532 Rio de Janeiro – Se o empresariado tem se frustrado com as perspectivas de recuperação da economia, ao menos um setor não esconde o sorriso no rosto.

Alguns fabricantes de produtos de defesa e segurança pública falam de crescimento de dois dígitos em 2019 (ou seja, mais de 10%) com uma combinação imbatível: na economia, uma nova atitude pró-mercado do governo; na política, a presença de um capitão do Exército na Presidência e de uma penca de generais no ministério.

Nesse clima se desenrolou no Rio de Janeiro a Laad, a maior feira de segurança e defesa da América Latina, que se encerra nesta sexta (5). Estive lá na quarta (3) e quinta-feiras (4), e se o ambiente nos três pavilhões do Riocentro não chegava a ser de euforia, era certamente de otimismo.

Um dos motivos para isso estava num stand acanhado num canto da feira. Era a base do BNDES na Laad, primeira vez que o banco de fomento estatal montou uma presença física no local.

“A expectativa nossa para o setor é boa, bem maior que a de 2018, em razão da melhora econômica e do crescimento do tema”, diz André Taveira, gerente de exportações do BNDES.

O setor de defesa sempre se ressentiu de não ter acesso a linhas de crédito específicas à sua disposição, e a presença física do banco ali foi vista como uma sinalização animadora. “É importante estar aqui para estabelecer contato mais próximo com as empresas, das grandes às micro”, afirma Taveira.

Uma das empresas que conversaram com o banco é a Condor, líder nacional em armamento “não-letal”, como bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogêneo. “O mercado mudou com a eleição do Bolsonaro, só isso já bastou para alterar o cenário”, diz Luiz Monteiro, diretor de Relações Institucionais da empresa, que exporta para 55 países. “Nossos presidentes sempre tiveram vergonhinha de vender produtos de defesa. Agora não tem mais isso”, afirma.

O setor vem de uma ressaca. Estive na Laad a última vez em 2015, quando a crise econômica começava a se acentuar. O clima de tristeza era evidente. Um diretor da Odebrecht, empresa que estava entrando no setor de defesa, usou o eufemismo “desafiador” para o cenário (mal sabia ele que a Lava Jato varreria a Odebrecht da área militar).

“O mercado desacelerou muito desde 2016. Grandes projetos estratégicos foram suspensos”, diz o coronel Armando Lemos, vice-presidente executivo da Abimde (Associação Brasileira das Indústrias e Materiais de Defesa e Segurança). Agora a coisa esboça sinais de melhora, diz ele. “Esperamos um cenário positivo. A sociedade está finalmente vendo segurança e defesa como coisas importantes”, diz ele.

No estande da Avibras, protótipos de mísseis decoram o ambiente.

Protótipo de míssil exposto no stand da Avibras (Divulgação)

A empresa fundada em 1961 é uma potência global, com exportações de foguetes e lançadores para 38 países. Com 1.850 funcionários em três fábricas, vem em recuperação após alguns anos difíceis, em que sua força de trabalho chegou a ter apenas 600 pessoas. Agora, está investindo R$ 72 milhões em sua unidade de Lorena (SP) para produzir PBHT (Polibutadieno Hidroxilado), insumo fundamental na produção de combustível sólido.

“A gente tem uma expectativa boa, é um governo liberal, e que tem olhos mais adequados para esse mercado”, diz Carlos Cidade, diretor de Assuntos Corporativos da Avibras.

Para ele, o atual clima favorece a que o setor tenha uma política mais incisiva de comunicação com a sociedade. “O grande desafio do setor militar é mostrar sua importância para a economia. Há um enorme arrasto tecnológico para a sociedade em cada projeto militar, por exemplo, e isso não é passado para as pessoas”, declara Cidade.

A Laad ainda não tem número fechados sobre a presença de público, mas expositores foram unânimes em dizer que o crescimento é notório comparado a anos recentes.

De fato, os pavilhões estavam bem cheios durante minha visita, e com alta presença de delegações de Forças Armadas de países estrangeiros (a presença de militares africanos, compradores tradicionais de armamento brasileiro, chama a atenção).

Há um certo clima de Disneylândia militar que é interessante para quem, como eu, não é do meio. Grupos fardados caminham pelos corredores fazendo selfies e brincando em simuladores de tanques, navios e aviões.

 

Militar da Namíbia usa simulador de navio na Laad

 

Muita gente se diverte empunhando pistolas, fuzis e até bazucas que estão em exposição.

 

Mulher aponta arma em exposição na Laad

Mas nada que se compare à “atração” mais popular da festa: uma réplica do trono de ferro de “Game Of Thrones” feita com cartuchos de balas. Filas se formavam para tirar um retrato sentado na obra de arte.

 

Militar tira foto em réplica do trono de “Game Of Thrones” feita com cartuchos de bala
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Vem aí mais uma bancada da bala no Congresso Nacional https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/04/vem-ai-mais-uma-bancada-da-bala-no-congresso-nacional/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/04/vem-ai-mais-uma-bancada-da-bala-no-congresso-nacional/#respond Mon, 04 Mar 2019 11:06:47 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/trutis-150x150.png http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=232 A Câmara dos Deputados está criando uma segunda bancada da bala. A atual, cujo nome oficial é Frente Parlamentar da Segurança Pública e reúne 300 deputados (58% da Casa), aparentemente não é suficiente.

A nova frente será exclusiva para defender uma das bandeiras de campanha mais chamativas do presidente Jair Bolsonaro: a facilitação da compra, posse e porte de armas de fogo pela população.

Seu proponente, como adiantou a coluna “Painel” na semana passada, é o deputado novato Loester Trutis (PSL-MS), que nas redes sociais se define como “conservador, pró armas, anticomunista e carnívoro”.

É dele a iniciativa de recolher apoios para a criação da Frente Parlamentar Armamentista. Até o meio da semana passada, Trutis já tinha a assinatura de 174 deputados, número suficiente para criar a frente (4 senadores também a apoiam). O deputado diz que a lista vai chegar a cerca de 220 e já marcou até data para a criação oficial do grupo: 19 de março,

E por que mais esse grupo, se a bancada da bala “raiz” já tem o armamento da população como uma bandeira? Para Trutis, 36, empresário em seu estado e adepto do tiro esportivo e da caça, o tema é importante demais para ser um mero sub-item da pauta da segurança pública.

“A segurança tem vários temas para tratar, todos de suma importância. Principalmente o pacote enviado pelo ministro Sergio Moro. Não vai sobrar tempo para discutir temas armamentistas”, diz ele.

A primeira meta do deputado será baratear as armas e aumentar a qualidade do produto oferecido no Brasil, que, segundo ele, deixa muito a desejar. E, para isso, ele promete ir para cima do monopólio nacional representado pelas empresas Taurus e CBC, que, em 2014, tornaram-se uma só.

“Se você conversar com qualquer policial militar hoje e perguntar o que fazer para melhorar as condições de trabalho, ele vai falar: ter armamento de ponta. E isso só será possível se a gente quebrar o monopólio”, afirma.

Uma série de normas, desde regulamentações do Exército até a lei 12.598/12, estabelecem que a venda de armas e munição é prerrogativa de empresas nacionais. Abrir o mercado para importação de armamento e para que estrangeiras instalem fábricas no Brasil revolucionará o setor, diz ele.

Como mostrou a Folha em reportagem recente, empresas como a tcheca CZ, a austríaca Glock e a suíça Sig Sauer têm planos de vir ao Brasil, mas esbarram na burocracia.

Segundo o deputado, uma pistola nacional padrão custa cerca de R$ 4.500, valor que poderia cair à metade se o mercado fosse aberto às estrangeiras. A qualidade segundo ele, é baixa em razão de “má-fé” da Taurus, que vende nos EUA um produto superior.

“A CBC/Taurus fabrica arma de qualidade de exportação para os EUA. Porém, nenhum desses modelos internacionais eles colocam à disposição do Brasil. Acontece aquela velha prática: porque não há concorrência na licitação, o produto é de baixa qualidade”, acusa.

As armas brasileiras, segundo Trutis, têm índice de problemas 60 vezes maior do que o padrão internacional. “A arma trava, não solta o projétil na hora que precisa, tem também muito disparo não proposital. Temos casos de mortes no Brasil, de civis ou policiais, de arma que dispara sozinha quando o carro passa em cima de um buraco”.

 

Funcionário manuseia arma em fábrica da Taurus em São Leopoldo (Diego Vara/Reuters)

Procurei a Taurus, que me enviou uma nota dizendo que a acusação do deputado “não faz sentido e é um grande equívoco”.

“A companhia produz cerca de 1 milhão de armas por ano. Destas, aproximadamente 10% são comercializadas no Brasil. Portanto, não seria razoável acreditar que para cada 10 armas, 9 são produzidas com qualidade superior e, mudando os critérios, uma é produzida com qualidade inferior. Isso não existe e não seria viável”, diz a nota.

A Taurus afirma ainda que seu processo produtivo é “robusto” e que a qualidade das armas é atestada em testes rigorosos em laboratórios do mundo todo.

Por fim, a empresa diz que a liberação dos importados ocorrerá quando o Congresso resolver a questão tributária e regulatória. Para as empresas brasileiras, 70% do preço da arma são impostos, o que não incide sobre as estrangeiras e pode criar uma concorrência desleal.

Mas brigar com a indústria de armas não é a única prioridade da nova frente. O parlamentar diz que o Parlamento tem de fazer a discussão sobre posse e porte, que não pode ficar apenas na mão do Executivo.

Em um dos primeiros atos de seu governo, Bolsonaro baixou um decreto tentando facilitar as regras para a posse de armas. Mas mudanças mais profundas precisam de nova legislação.

Uma alteração importante seria uniformizar os critérios para obtenção de arma, que atualmente são sujeitos à aprovação da Polícia Federal.

“Se você atingir os critérios da lei –maior de 25 anos, sem queixa de violência doméstica, não ter antecedentes criminais, ter aptidão física e psicológica e possuir curso de tiro e tiver emprego fixo–, tem que poder comprar. Hoje  vai da interpretação do delegado da PF. Se ele não for com a tua cara, não dá [a posse]”.

Talvez para tornar mais palatável o tema, a frente propõe também endurecer a lei para quem dispara uma arma “por motivo torpe”.

“Como diz a frase dos quadrinhos do Stan Lee: com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Se você usar essa arma numa briga de trânsito, tem que ser exemplarmente punido”, afirma ele, que defende a criação de uma nova tipificação criminal para casos assim.

O discurso do deputado Trutis é um pouco diferente dos argumentos típicos da bancada da bala, que defende o armamento “para matar bandido”. Sua retórica é mais parecida com a da Segunda Emenda da Constituição americana, de que ter uma arma é um direito individual.

“Compra, posse e porte de arma têm a ver com liberdade de escolha”, diz ele.

Dar armas aos cidadãos, ele admite, não vai acabar com a violência. “Quando eu compro um casaco, eu não quero acabar com o inverno. Eu quero me proteger do frio. Quando eu compro uma arma, eu não quero acabar com a criminalidade. Eu quero deixar a minha integridade física e a da minha residência mais seguras”, diz.

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