Saída pela direita https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo Mon, 06 Dec 2021 12:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Consultoria agro diz que corona é armação chinesa e marchinha de Carnaval https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/20/consultoria-agro-diz-que-corona-e-armacao-chinesa-e-marchinha-de-carnaval/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/03/20/consultoria-agro-diz-que-corona-e-armacao-chinesa-e-marchinha-de-carnaval/#respond Fri, 20 Mar 2020 12:22:26 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/rural2.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=2496 A teoria de que o pânico global com o novo coronavírus é parte de uma grande conspiração da China invadiu as redes sociais de direita nos últimos dias, mas não fica restrita a elas.

Entre políticos, a campanha anti-China também encontra terreno fértil, como a guerra de palavras entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e a embaixada do país asiático mostrou.

No meio empresarial, algo parecido tem ocorrido. Uma consultoria especializada em agronegócio com sede no Mato Grosso do Sul, a Rural Business, vem se dedicando a apontar o que vê como uma armação chinesa.

O objetivo seria lucrar, insuflando uma histeria irracional com a pandemia.

“Muito do que se fala sobre o coronavírus não passa de marchinha de Carnaval, e das boas”, disse a consultoria em vídeo publicado em seu canal no YouTube em 21 de fevereiro, que teve 115 mil visualizações.

Abertamente defensora dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, a Rural Business tem sido usada pela direita em sua campanha contra a China. Vídeos vêm circulando em redes sociais para dar argumento a teses conspiratórias.

A doença já atingiu mais de 240 mil pessoas e causou quase 10 mil mortes em todo o mundo. Os números não param de crescer.

“Existe um gigantesco mercado que os chineses querem controlar, usando como argumento o coronavírus”, disse outro vídeo, de 12 de março, com o título “A Jogada de Mestre do Capital Chinês”.

Segundo essa tese, os chineses usam a pandemia, surgida no final de 2019 na província chinesa de Hubei, para controlar a economia mundial, e não apenas no setor do agronegócio.

O vídeo cita, por exemplo, a área de tecnologia. Com a paralisação da economia mundial, diz, empresas como as sul-coreanas Samsung e LG e a americana Motorola interromperam sua produção em fábricas no mundo todo, incluindo o Brasil. Serão suplantadas pela chinesa Xiaomi, que já retomou seu trabalho.

As análises em vídeo têm 5 a 15 minutos e são lidas por uma apresentadora. Os textos em geral são de Júlio Brissac, descrito como analista-chefe e estrategista de mercado da consultoria.

A consultoria diz ter 26 anos de experiência e uma vasta carteira de assinantes, de número desconhecido, que pagam para receber análises exclusivas de cenários.

Parte destes comentários é aberta no canal da consultoria no YouTube, que tem 234 mil inscritos. O canal está coalhado de vídeos críticos ao país asiático, com títulos como “A China enganou quase todo mundo!”.

Nesta quinta (19), entrou no ar mais um, bastante didático sobre a linha de pensamento da Rural Business.

A tese exposta é que rotineiramente a China cria pânico global com pandemias, para atender a seus interesses econômicos.

Com isso reduziria artificialmente a demanda por alimentos e jogaria os preços de produtos como a soja e o petróleo no chão.

Como foi quem provocou essa suposta histeria, estaria mais bem preparada para sair dela primeiro e conquistar mercado, segundo essa teoria.

Há diversos exemplos disso, diz a consultoria: a gripe aviária de 2004, a gripe suína de 2009, a peste suína africana de 2019 e agora o coronavírus.

Em nenhum destes momentos o crescimento do PIB chinês sofreu grandes abalos, o que seria uma prova cabal desta manipulação.

Imagem de vídeo da consultoria Rural Business (Reprodução/Folhapress)

“Quando tudo isso passar, e vai passar, é o seu bolso que estará sangrando. Tem muita gente querendo ganhar mercado usando ‘coronamoney’. E na política, muita gente querendo derrubar o novo Brasil”, diz o vídeo.

A grande farsa do coronavírus, segundo a Rural Business, foi causada pela guerra comercial entre a China e os EUA.

Confrontada por Donald Trump e obrigada a comprar mais produtos americanos para pôr fim à disputa, a China teria supervalorizado a pandemia como uma reação.

“A China viu a chance de devolver o tapa que levou de Donald Trump e mostrar quem de fato manda na economia global”, afirma a consultoria, que chama a preocupação mundial de “surto psicótico coletivo”.

A Rural Business não chega ao ponto de dizer que a doença foi criada em laboratório, como alguns mais malucos pregam.

Sua linha de argumentação é mais sutil: há uma superexploração de um problema existente.

“O coronavírus estava lá [na China], adoecendo a sua população. Então por que não explorar isso na mídia, à exaustão, com direito a cenas de gente morrendo na rua e vídeos assustadores para chacoalhar o mercado?”, pergunta a consultoria.

Fazendo eco aos bolsonaristas, a Rural Business diz que muitos opositores do presidente querem se aproveitar do momento para desestabilizar o governo.

“De políticos a grandes empresas globais, eles estão aqui, debaixo do nosso nariz, aproveitando-se do medo da população para desestruturar um governo eleito pelo povo, para colocar de novo a política brasileira nas mãos de corruptos e corruptores”, arremata o vídeo.

Não há menção às críticas que Bolsonaro vem sofrendo por ter minimizado a pandemia.

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Após a publicação deste texto, recebi de Júlio Brissac, diretor, analista chefe e estrategista da Rural Business, uma resposta a questionamentos que eu havia feito.

Ele primeiro contesta que a empresa seja uma consultoria. Define-a como “agência provedora de informações estratégica para o agronegócio e investidores de commodities agrícolas, com quase 30 anos de mercado”.

Segundo Brissac, os produtores brasileiros têm muito a agradecer aos chineses, pois dependem de seu consumo para continuar crescendo.

O cenário para a China mudou, diz ele, quando decidiu peitar os EUA na questão comercial, restando a eles a opção pelo Brasil.

“Se os produtores brasileiros não se atentarem para o fato, os chineses vão transformar este Brasil no seu ‘fazendão’, um país pronto para garantir seu abastecimento com comida barata, farta e de qualidade. Nada além disso”, afirma.

De acordo com Brissac, o objetivo de sua agência não é julgar o coronavírus, sua origem ou o que está sendo feito para acalmar o pânico.

“Mas sim analisar, com olhos de estrategista, por que e com que interesses este pânico foi instalado, e por que está sendo aquecido por tanta gente, transformando coronavírus em ‘coronamoney’”, diz.

Ele aponta uma série de “coincidências” suspeitas na pandemia.

“A transformação de coronavírus em ‘coronamoney’ está possibilitando à China comprar soja no Brasil pelo menor valor em 13 anos em dólar. Um verdadeiro paraíso”, afirma.

Uma das “coincidências” apontadas é o fato de em menos de três meses a China já anunciar o fim do contágio e a volta à normalidade no país, enquanto o mundo afunda numa “histeria coletiva”.

“O surto psicótico especulativo gerado pelo coronavírus não teria acontecido não fosse o embate direto entre China e EUA e os enormes interesses políticos, econômicos e pessoais que guiam hoje as ações ao redor do mundo, algumas delas bem debaixo de nosso nariz, na tentativa de desestruturar o governo de Jair Bolsonaro e devolver o Brasil para as mãos de corruptos e corruptores”, afirma.

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Na capital nacional do cigarro, Bolsonaro é aliado contra ‘preconceito’ com fumo https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/12/na-capital-nacional-do-cigarro-bolsonaro-e-aliado-contra-preconceito-com-fumo/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/06/12/na-capital-nacional-do-cigarro-bolsonaro-e-aliado-contra-preconceito-com-fumo/#respond Wed, 12 Jun 2019 11:22:20 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/santacruz1-320x213.jpeg https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=1180 Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires (RS) – Em Santa Cruz do Sul, na região central gaúcha, o tradicional portal que dá as boas-vindas em alguns municípios do interior tem em um dos pilares a marca da fabricante de cigarros Souza Cruz.

Para não restar dúvidas de que a agradável cidade de 120 mil habitantes é a capital brasileira do fumo, um de seus mais chamativos edifícios, ocupando meio quarteirão numa das principais avenidas, é o quartel general da Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).

Neste prédio, sede da entidade que representa os plantadores de fumo do país, joga-se parte do futuro econômico da cidade e do setor tabagista.

Além da Souza Cruz, a cidade conta com a presença das fabricantes de cigarros Philip Morris e JTI, de diversas processadoras de fumo cru e de milhares de pequenos produtores da planta.

Em cidades do entorno, como Venâncio Aires e Candelária, a economia gira em torno do tabaco. A lavoura foi introduzida por colonos alemães no início do século 20, que encontraram solo e clima propícios nessa região temperada.

A indústria do fumo se vê cercada pela crescente cultura antitabagista, pelo contrabando dos cigarros paraguaios e pelo consenso científico de que fumar faz mal à saúde. De dentro do bunker da Afubra, Benício Werner, 71, presidente da entidade no quarto mandato, dedica-se a tentar dar sobrevida ao setor.

Depois de muito tempo, ele finalmente sente algum motivo para alívio, com a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro. “A ministra Tereza Cristina [Agricultura] nos disse que o tabaco vai ser visto como as outras culturas. Não queremos favor, apenas sermos tratados de forma igual”, diz ele.

Os produtores de fumo veem tucanos e petistas como inimigos. O PSDB por abrigar um notório militante antitabagista, o ex-ministro da Saúde José Serra, que declarou guerra ao setor enquanto esteve no cargo; o PT, por ter assinado a convenção da Organização Mundial da Saúde contra o tabaco, em 2003.

Já o governo Bolsonaro criou um grupo de trabalho que estuda a mudança na tributação dos cigarros para combater o contrabando, que hoje já responde por metade do mercado. Para Werner, foi um gesto “fenomenal”. “Os cigarros mais baratos poderiam ter redução de imposto, que seria compensado com aumento nas marcas premium”, diz.

Contra o cerco que se fecha, os fumicultores adotam duas estratégias. A primeira é mostrar a importância econômica e social do setor.

Segundo dados da Afubra, 159 mil famílias plantam tabaco hoje no Brasil, uma atividade presente em 556 municípios. “Há cidades em que 80% da arrecadação vem do fumo”, diz o presidente da entidade.

A esmagadora maioria da produção é tocada por famílias em pequenas propriedades ( 87% têm até 20 hectares). Cerca de 90% da produção é exportada, o que rendeu ao país US$ 1,9 bilhão em 2018.

Mas a atividade vem caindo. Nos últimos dez anos, o número de famílias vivendo do fumo no Sul do Brasil caiu 17%, embora a redução na produção tenha sido menor, de 4%.

O presidente da Afubra, Benício Werner

A segunda estratégia é relativizar os malefícios do cigarro e apresentar o setor como vítima de perseguição por parte do governo, da imprensa e do lobby antitabagista.

“A poluição do ar mata muito mais do que o cigarro”, afirma Werner. Ele admite que fumar é um ato que envolve riscos, mas diz que corrê-los deveria ser uma decisão individual, assim como tomar cerveja ou cachaça.

Werner dá como exemplo sua própria história: presidente do principal grupo de defesa dos produtores de tabaco, ele não fuma. “Não tenho nenhum problema com o cigarro, apenas não peguei esse costume. Nunca tive esse gosto, e respeito quem tem”, diz.

Entre os produtores, há muita reclamação de preconceito contra as lavouras do tabaco, especialmente na hora de obter financiamento.

Quando Gilmar da Silveira, 40, dono de uma pequena propriedade na cidade de Venâncio Aires, precisou comprar uma estufa nova para as mudas de tabaco, não conseguiu recursos em bancos públicos e privados. Acabou pegando financiamento com a Philip Morris, que compra toda sua produção, de 70 mil pés.

O produtor de fumo Gilmar da Silveira, da cidade de Venâncio Aires (RS), com as mudas de tabaco que plantou

“A gente nem procura o banco mais, eles travam ao saber que é para o fumo. As pessoas pensam coisas sobre nós que não são a realidade”, afirma. Silveira diz que só conseguiu dinheiro para comprar um trator porque também o utiliza para plantar milho.

Dono de sete hectares na zona rural de Santa Cruz do Sul, Paulo Peckenkamp, 36, teve uma safra ruim no ano passado, em razão do mau tempo. As perdas foram parcialmente cobertas pelo seguro feito pela Afubra, e ele não pretende desistir da plantação.

“O lucro compensa, mas são três meses de trabalho bem judiado [duro]”, afirma ele, que há 45 dias plantou mudas numa estufa. Dentro de um mês, serão transplantadas para um terreno onde, em novembro, estarão prontas para a colheita.

“Quando eu era criança, olhava o campo e era tudo fumo. Hoje é só uma manchinha aqui e outra ali. O governo tem de fazer alguma coisa para ajudar”, afirma ele, que votou em Bolsonaro.

Ele e muita gente no cinturão do fumo, onde o presidente venceu no segundo turno com margens que passaram de 70% em diversas cidades.

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Ex-sem-terra que virou fazendeiro critica MST e modelo de reforma agrária https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/no-mt-ex-sem-terra-que-virou-fazendeiro-critica-mst-e-modelo-de-reforma-agraria/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/no-mt-ex-sem-terra-que-virou-fazendeiro-critica-mst-e-modelo-de-reforma-agraria/#respond Wed, 15 May 2019 11:20:25 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/Lucas-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=899 Lucas do Rio Verde (MT) – Em 1981, cerca de mil famílias de sem-terra acampavam na beira de uma estrada perto de Ronda Alta (RS) quando militares liderados pelo mítico coronel Sebastião Curió chegaram com uma proposta em mãos: que tal mudarem para uma nova terra promissora no centro-oeste do Brasil, uma região ainda não desbravada no norte de Mato Grosso?

O governo oferecia transporte de ônibus, bancava a mudança em um caminhão, concedia um pedaço de terra de 200 hectares e ainda daria um salário mínimo para cada família durante 18 meses.

Para a ditadura, o interesse era duplo: contribuir para a colonização do interior do país, vista pelos militares como estratégica e, de quebra, enfraquecer o acampamento, situado na Encruzilhada Natalino. Alguns anos depois, esse concentração de beira de estrada viria a dar origem ao MST.

Aceitaram a oferta 205 famílias, sob os olhares de reprovação das lideranças do acampamento, entre elas um tal João Pedro Stedile, que viria a se tornar a maior referência nacional do movimento. Há 13 anos, meu colega Eduardo Scolese contou essa história na Folha (leia aqui).

Um dos que toparam a empreitada foi Aquilino Sirtoli, hoje com 70 anos, dono de uma lavoura de 2.000 hectares (dez vezes o lote original) e de uma casa confortável no centro de Lucas do Rio Verde (350 km de Cuiabá).

“A gente era da roça, morávamos num barranco de beira de estrada. Era como pegar uma favela e trazer pra cá”, diz Aquilino, que nasceu em Tapejara (RS) e ainda hoje mantém o sotaque carregado do interior gaúcho e o hábito de tomar chimarrão.

A viagem levou três dias, e o ex-sem-terra veio acompanhado da mulher, Jurema, e da filha, que na época tinha seis anos. “O governo juntou nossos caquinhos, botou num caminhão e viemos. Chegamos aqui era só terra e mosquito, a única coisa que havia era um batalhão do Exército”, lembra.

Aquilino Sirtoli e Jurema em sua casa em Lucas do Rio Verde (MT)

Hoje, Lucas do Rio Verde é uma cidade que enriqueceu com as culturas do milho e da soja e cresce em ritmo alucinante. Atualmente com 65 mil habitantes, dobrou de tamanho nos últimos dez anos.

Mas o começo foi difícil, afirma Aquilino. “Nós sofremos, sofreeeeemos”, diz ele, puxando o sotaque. Das 205 famílias pioneiras, 150 já tinham voltado ao Sul nos primeiros dois anos.

“Eu pensei em voltar, mas a Jurema me impediu. Ela me disse: ‘você não dizia que ia vir mesmo sem mim? Agora, nós vamos ficar’. E graças a Deus nós ficamos”, afirma ele.

A família ficou cinco meses morando debaixo de uma lona, até conseguir construir sua primeira casa de madeira. O plantio também foi complicado, porque o Incra, que era responsável pelo assentamento, não queria deixar que eles produzissem soja. “Queriam que a gente cultivasse só frutas e hortaliças para subsistência, diziam que assim era a reforma agrária”, afirma.

Aquilino pegou um primeiro financiamento no Banco do Brasil para plantar, mas não conseguiu pagá-lo e ficou com o crédito bloqueado. Só conseguiu comprar um trator em 1985, e diz que levou mais cinco anos para sair do sufoco.

A partir dos início dos anos 1990, com o boom da soja no Mato Grosso, é que conseguiu prosperar, comprar mais terras e aumentar a produção. Hoje planta soja e milho, emprega quatro famílias e tem os três filhos (dois nascidos na cidade) trabalhando na terra.

Ele diz ter uma admiração enorme pelos militares que o levaram para o Centro-Oeste. “O Curió veio de Brasília nos receber quando chegamos. O Exército nos tratou muito bem, melhor que o Incra, melhor que todo mundo”, diz.

Aquilino é a favor da reforma agrária, mas diz que o modelo atual está errado. “A reforma agrária do jeito que é feita hoje é péssima, é para judiar da pessoa. Largam a família no meio do nada, sem crédito, sem estrutura”.

Mas ele não concorda com as táticas empregadas pelo MST, movimento de cujo embrião ele, de uma certa forma, participou. “O MST é das piores coisas que existem. Invadir as terras dos outros, queimar as coisas, fazer maldade, isso não funciona”, diz ele.

Um dos motivos que o fizeram aceitar o convite para atravessar o país em busca de uma aventura é que ele nunca foi muito de agitação. “Eu nunca fui contra ou a favor, nunca me envolvi com política. Eu só queria plantar”, declara.

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Otimismo de ruralistas com Bolsonaro impulsiona ‘Tinder do campo’ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/06/otimismo-de-ruralistas-com-bolsonaro-impulsiona-tinder-do-campo/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/06/otimismo-de-ruralistas-com-bolsonaro-impulsiona-tinder-do-campo/#respond Mon, 06 May 2019 11:36:10 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/Tinder-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=871 Ribeirão Preto (SP) – O otimismo do setor rural com o novo governo não se traduz apenas na previsão de venda recorde de colheitadeiras ou na perspectiva de regras mais permissivas para aumentar as áreas de plantio. O campo está se movimentando de maneiras menos óbvias, como pude constatar na semana passada na Agrishow, principal feira agrícola do país, em Ribeirão Preto (SP).

Num estande relativamente modesto (ao menos se comparado aos monstrengos que as grandes empresas de máquinas montaram), os irmãos Rafael e Roberto Fabrizzi Lucas apresentavam o MF Rural, um serviço que é uma espécie de Tinder do campo.

O conceito é simples: produtores ou trabalhadores rurais anunciam seus produtos numa plataforma online, e os interessados dão uma espécie de “match”. “É um site para captar interessados em comprar e vender. A partir do momento em que se encontram, já não temos mais envolvimento”, diz Rafael, 35.

A plataforma surgiu modestamente em 2004, criado por uma família de veterinários: pai e quatro filhos. No ano passado, cresceram 15%, e neste ano esperam no mínimo repetir a dose. “Vendemos de galinhas a fazendas”, afirma Roberto, 38.

O serviço é um termômetro do setor. No ano passado, dizem os irmãos, foi claramente possível identificar o efeito da vitória de Bolsonaro sobre os negócios. “De outubro a dezembro as vendas superaram nossas previsões em 5%”, afirma Rafael.

Roberto afirma que a vitória de Bolsonaro foi bem recebida pelo setor. “Ele está tirando a visão de que produtor rural é bandido”, diz.

Os usuários pagam uma taxa fixa e única para o site que varia entre R$ 199 e R$ 299 a depender da visibilidade buscada, no modelo “anúncio eterno”: o produto só é retirado do ar depois de vendido.

O site surgiu quando o pai de Rafael e Roberto, que tocava uma fazenda na região de Marília (SP), cansou-se de procurar insumos e ferramentas de que precisava. Pensou primeiro em abrir uma loja física na cidade, mas depois foi convencido pelos filhos que o futuro era online.

O investimento inicial foi de R$ 12 mil (“em três cheques, para 30, 60 e 90 dias”, lembra Roberto). Atualmente, o site tem 2,2 milhões de acessos por mês e emprega 30 pessoas. É possível anunciar animais, aviões e até usinas de cana. O produto mais caro já vendido, dizem os irmãos, foi uma jazida de ouro, no valor de R$ 2,5 milhões. O mais simples, um saquinho de ovos de codorna em conserva por R$ 12,50.

Outros dois exemplos de empreendedorismo na feira vieram de Gramado (RS). Uma loja de produtos de couro e outras de facas pegaram a estrada e, após 1.500 km de viagem, aportaram na Agrishow.

Quando digo pegaram a estrada, é literal: ambas funcionam em caminhões adaptados que se desdobram e viram lojas bastante confortáveis.

Loja de calçados montada em caminhão na Agrishow (Fábio Zanini/Folhapress)

Na feira agrícola, despertavam curiosidade de quem passava por perto. O nome da loja de couro me deixou intrigado: “Malacara”. Menos mau que vende mais calçados do que malas.

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Em feira agro, ruralistas celebram autoestima renovada com Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/em-feira-agro-ruralistas-celebram-autoestima-renovada-com-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/em-feira-agro-ruralistas-celebram-autoestima-renovada-com-bolsonaro/#respond Fri, 03 May 2019 11:09:42 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/agrishow1-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=808 Ribeirão Preto (SP) – “Ser agro é bom”, diz um adesivo que circulou nesta semana na Agrishow, feira de máquinas em Ribeirão Preto (SP) que é um dos grandes eventos do calendário rural do ano.

Em meio à exposição de colheitadeiras que parecem naves espaciais, helicópteros decolando a todo momento com milionários do setor e multidões de homens e mulheres de chapéu e bota, o setor rural parece estar recuperando sua autoestima agora que tem um aliado inconteste na Presidência da República.

Máquina agrícola em exposição na Agrishow

“O Brasil passou por uma fase complicada, onde nos desindustrializamos. O que manteve o país foi o agronegócio. Foi o que salvou o Brasil”, diz o usineiro Maurílio Biagi Filho, 77, presidente de honra da feira.

Decano dos usineiros da região, Biagi diz que os ruralistas ficaram para trás na batalha de comunicação. “O setor perdeu essa guerra. Tem muita entidade, tantas que você não consegue nem citar ao iniciar um evento. Mas faltam lideranças”, diz.

Ele, que já foi bastante próximo do PT e do governo Lula, hoje enxerga um novo ciclo positivo se iniciando com Jair Bolsonaro. “O presidente Lula dava importância grande ao setor, mas não tinha segurança jurídica. O discurso era diferente da prática”, afirma.

Apesar de algumas rusgas neste início de governo, o campo segue firme no apoio a Bolsonaro. O presidente esteve na abertura da feira, na última segunda (29), e foi aplaudido de forma efusiva. Do lado de fora, manifestantes o tietavam debaixo de sol forte.

Eram ligados ao Movimento Brasil Limpo (não confundir com MBL), um grupo regional que inflou um bonecão de Bolsonaro de 17 metros de altura na beira da estrada que leva ao parque de exposições.

“Para o setor rural a presença dele aqui é muito importante, mostra que temos um aliado”, disse Edilene Oliveira, uma das integrantes do movimento. Para ela, o que mais reverberou na fala do presidente na abertura da exposição foi a defesa de que produtores rurais possam reagir a invasores sem risco de serem processados.

Apoiadores de Bolsonaro esperam pela saída dele, na abertura da Agrishow

“A principal questão para nós é a segurança no campo. Não adianta ter equipamento, semente, plantio, sem segurança”, diz Oliveira, cuja madrinha de 70 anos teve o sítio invadido em Santa Rita do Passa Quatro (SP) há alguns anos por bandidos armados, que a amarraram e agrediram.

A feira, que se encerra nesta sexta (3), tem previsão de negócios em torno de R$ 3 bilhões, crescimento de 7% sobre o ano passado. Mas apesar dos números positivos, os ruralistas se queixam de que por muito tempo foram caracterizados como vilões, especialmente nas questões ambientais e trabalhistas.

Isso pode estar mudando. “O otimismo do setor está alto. É um governo pró-empresas, pró-mercado, pró-trabalho”, diz Marcos Fava Neves, professor especializado em agronegócio da USP e da FGV.

O carro-chefe da feira são imensas máquinas agrícolas que ficam expostas em estandes igualmente gigantescos, alguns do tamanho de supermercados, com salas, espaço para café e mezanino.

Plantadoras, colheitadeiras, fumigadoras e tratores fazem a alegria de visitantes. Casais fazem selfies, e crianças transformam as geringonças, algumas com custo perto de R$ 1 milhão, em brinquedos de playground.

Crianças brincam em trator exposto na feira

Rodrigo Bonato, diretor vendas no Brasil da John Deere, empresa americana de máquinas fundada em 1837, projeta 20% de aumento de vendas neste ano sobre 2018.

“As bases do nosso segmento estão muito sólidas, e o governo vem demonstrando que está preocupado com o setor”, diz ele. Falta apenas, na visão de Bonato, maior previsibilidade para o campo. O Plano Safra, por exemplo, tem regras diferentes todo ano. “Há uma ansiedade do produtor rural. É preciso criar uma ponte para daqui a dois, três, cinco anos”, defende.

Mas foi-se o tempo, segundo ele, em que o discurso do agronegócio era o de pedir proteção do governo contra a concorrência. “O segmento do agro evoluiu muito nos últimos anos, sabe que tem que competir num ambiente global. O setor hoje tem uma visão de gestão empresarial, investe muito em novas ferramentas”.

Outro pedaço do agronegócio que vê o cenário com otimismo é o dos agrotóxicos (ou, no termo preferido do campo, defensivos agrícolas). A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é, afinal, defensora de novas regras que facilitam o uso desses produtos, o que lhe valeu a alcunha de “musa do veneno” de ambientalistas.

Márcio Santos, diretor-comercial da Bayer, uma das principais empresas do setor de defensivos no Brasil, afirma que o lema hoje é ser “amigo do meio ambiente, mas amigo do produtor também”.

“A agenda do agro é positiva. O agricultor que trabalha com nossos produtos é jovem, tem 45 anos em média, ensino superior completo. Quer uma sociedade mais sustentável, que produza mais com menos recursos”, diz.

Ele diz que a imagem do setor agrário sofre os efeitos de um distanciamento muito repentino do Brasil com o campo. “O Brasil tornou-se urbano num espaço de 50 anos, é muito pouco tempo. Nós perdemos muito rápido a conexão com o setor rural”, diz. Mas o agro, afirma ele, é resiliente. “Entorta, mas não quebra”.

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No MA, cidade dos crentes rejeita ‘modernidades’ e confia em Bolsonaro https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/25/no-ma-cidade-dos-crentes-rejeita-modernidades-e-confia-em-bolsonaro/ https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2019/03/25/no-ma-cidade-dos-crentes-rejeita-modernidades-e-confia-em-bolsonaro/#respond Mon, 25 Mar 2019 11:10:12 +0000 https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/SãoPedro1-320x213.jpeg http://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=405 São Pedro dos Crentes (MA) – No mapa eleitoral do Maranhão, há um pontinho amarelo num estado tingido de vermelho. É São Pedro dos Crentes, cidadezinha de 5.000 moradores em que Jair Bolsonaro (PSL) teria sido eleito no primeiro turno, com 50,93% dos votos.

Mas como São Pedro dos Crentes não é o Brasil, foi preciso haver segundo turno, e aí o capitão ampliou sua vantagem: teve 57,5% dos votos válidos. No Maranhão, só para comparar, Fernando Haddad (PT) levou de lavada, com 73,2% dos votos.

A cidade no sul do estado tem características únicas entre os 5.570 municípios brasileiros. A mais óbvia, como o próprio nome diz, é sua proporção de evangélicos. Segundo dados do IBGE de 2010, são 51% na cidade, contra uma média nacional de 29% (apontada pelo Datafolha). Mas os moradores locais dizem que esse dado está subestimado, e que os evangélicos são pelo menos 70% da população.

São Pedro dos Crentes não tem agência do Banco do Brasil (algo raríssimo no país), mas tem dez igrejas evangélicas em sua meia dúzia de ruas. Nos estabelecimentos comerciais, é comum haver uma passagem bíblica pintada na parede. Há três botecos atendendo à minoria de “desviados”, como são chamados os não-evangélicos, mas estavam fechados nos dois dias em que estive por lá, na semana passada.

Passagem bíblica grafitada em parede de oficina de motos na cidade

As pessoas são conservadoras, bolsonaristas e não gostam da esquerda. O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PC do B, que foi reeleito no primeiro turno com quase 60% dos votos, ali teve míseros 14%.

“A sociedade aqui não aceita muito as modernidades”, diz o prefeito, Lahésio Rodrigues, 40, um tucano que abandonou o candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, já no primeiro turno e apoiou Bolsonaro. Ele cita entre as “modernidades” rejeitadas o aborto, o casamento gay e a ideologia de gênero nas escolas.

A cidade tem uma história sui generis. Foi criada a partir da Assembleia de Deus, maior denominação evangélica do país e que ainda hoje domina a vida política e social do município. “A igreja normalmente surge da cidade, aqui a cidade surgiu da igreja”, diz o pastor Manoel Lima de Souza, titular da maior igreja do município.

Pastor Manoel Souza, titular da maior igreja da cidade

Perguntei a ele se é fácil pregar para uma cidade de convertidos. Ele diz que não necessariamente. “Aqui as pessoas conhecem a Bíblia, inclusive crianças, que vão à escola dominical aprender sobre ela. Tenho que me preparar bem para falar com todos”, diz.

Na década de 1940, a fazenda São Pedro, de propriedade da Assembleia de Deus, foi divida em lotes doados para família evangélicas que vieram de fora colonizar a região, dando origem a uma vila pertencente à cidade de Estreito (MA). Em 1994, houve a emancipação, e São Pedro dos Crentes se tornou município.

As principais ramificações da Assembleia de Deus estão representadas na cidade: Madureira, Convenção Geral, Seta, Guará e Comadesma (um ramo local). Mantêm uma relação cordial, mas competem intensamente por fiéis. Há uma solitária Igreja Católica no município.

Lavrador aposentado, Pedro Damasceno, 73, é uma espécie de historiador informal do município. “Quando isso aqui surgiu, crente era besta-fera”, lembra ele, que chegou criança ao povoado. “Hoje, é uma cidade abençoada por Deus”, diz.

Ele afirma que votou em Bolsonaro porque sua candidatura está de acordo com a Bíblia. “Notei que ele fala muito a favor de Israel“, diz. Também gostou do slogan do então candidato, que menciona “Deus acima de todos”.

A cidade é relativamente pobre, com Índice de Desenvolvimento Humano de 0,60 numa escala de 0 a 1 (a média do Brasil é 0,69), mas fiquei com boa impressão do lugar. As ruas são limpas e asfaltadas, a estrutura de saúde é boa, com um hospital grande e equipado, e o comércio é surpreendentemente pujante.

A base da economia é a agricultura familiar. Além disso, o sul maranhense, que fica numa zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, é grande produtor de soja. Parte da população trabalha em lavouras em municípios vizinhos.

Há quatro meses, São Pedro recebeu o que seria a versão local de um Carrefour ou Wal-Mart: um supermercado que vende comida, roupas e autopeças. Seu dono, Neurivan Jorge, 43, traz produtos de cidades maiores como Balsas e Imperatriz e diz que não costumam encalhar.

“Está melhor o movimento este ano”, diz ele, que, claro, é evangélico e votou em Bolsonaro. “Se o presidente diminuir um pouco a corrupção, já é um adianto”, afirma. Para melhorar seu ambiente de negócio, ele pede duas coisas: estradas melhores (as que levam ao município são uma buraqueira só) e uma agência bancária.

Uma vez por mês, conta ele, um carro-forte traz dinheiro para o único caixa eletrônico da cidade (do Bradesco), e para a agência do Banco Postal, que representa o Banco do Brasil. Acaba faltando dinheiro em circulação, e por isso ele criou um cartão de crédito de sua loja, nos moldes dos que têm as grandes redes.

Pelo menos de uma coisa os comerciantes da cidade não podem se queixar. Episódios de violência são praticamente inexistentes. Não há delegacia de polícia, apenas um destacamento da PM.

“Há pequenos furtos e de vez em quando algum caso de Maria da Penha [agressão a mulher]”, disse o soldado Wellington, que naquele dia chefiava o posto.

Para ele, o alto índice de evangélicos contribui para a cidade ser tão pacífica. “Aqui dá um certo tédio. A gente sai pilhado da academia de polícia, vir pra cá é meio frustrante. Não acontece nada”, diz.

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