Produtora conservadora Brasil Paralelo oferece filmes e ‘escola da família’ a Paraisópolis

Educar famílias, com a difusão de valores como o respeito ao matrimônio e a criação dos filhos em um ambiente saudável, estão entre os objetivos da produtora de filmes conservadora Brasil Paralelo, em recente acordo firmado com o G 10 das Favelas, uma das principais entidades que representam essas comunidades no país.

O convênio prevê a concessão de 500 assinaturas gratuitas do conteúdo da BP  para moradores de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

Os contemplados, indicados pelo G 10, terão acesso a parte do catálogo da empresa, especializada na produção de documentários, séries e cursos com viés de direita.

Recentemente, a Brasil Paralelo expandiu sua atuação também para a área de entretenimento, incluindo em seu acervo filmes hollywoodianos, desde que sejam compatíveis com seus valores. A ambição é se tornar uma espécie de “Netflix de direita”.

“Queremos efetivamente levar nosso conteúdo para pessoas que normalmente não teriam acesso a ele, disseminar nossa mensagem para um público mais amplo”, diz Renato Dias, head de Relações Institucionais da produtora.

Os moradores de Paraisópolis terão acesso a filmes e documentários da Brasil Paralelo, que já fez diversas produções sobre temas como educação, meio ambiente, temas internacionais e a pandemia de Covid-19.

Além disso, também será possível assistir ao “Escola da Família”, que se assemelha a um curso de relações familiares. Entre os temas abordados nos programas estão diálogo com os filhos, relação entre marido e esposa “sem perder a paciência” e maneiras de desenvolver a vida espiritual de crianças e adolescentes.

“Este é um público [das favelas] que valoriza muito a família. Tivemos uma avaliação de que seria interessante oferecer conteúdo que trata da importância de haver uma família estruturada, um matrimônio harmônico”, afirma Dias.

Os 500 planos destinados a Paraisópolis são parte de um modelo de “mecenato”, pelo qual assinantes da Brasil Paralelo doam as assinaturas, como se fosse uma ação social. A ideia é que isso seja expandido para outras favelas, inclusive de outros estados, futuramente.

Em entrevista à coluna Painel, da Folha, o presidente do G10 Favelas, Gilson Rodrigues, diz que a parceria tem como objetivo subsidiar os moradores de favelas com todo tipo de conteúdo para que possam formar suas próprias opiniões, sejam elas convergentes ou divergentes em relação ao que a produtora de vídeos conservadora apresenta na sua filmografia.

“A gente quer, como grande massa de favela, formar a nossa opinião de forma livre. A gente quer acesso a todo tipo de conteúdo para poder construir a nossa própria história”, afirmou ele, que é líder comunitário em Paraisópolis.

A Brasil Paralelo é frequentemente criticada por promover conteúdo revisionista, ou negacionista, rótulos que ela rejeita. Um documentário sobre o golpe de 1964, por exemplo, apresentava o movimento como uma reação a uma suposta ameaça comunista, que muitos historiadores consideram exagerada.

Em outro, sobre a educação, a influência do educador Paulo Freire é apontada como maior razão para o atraso do Brasil na área. No caso de um filme sobre o meio ambiente, há diversos ataques à atuação de ONGs conservacionistas.

A produtora se defende dizendo que apenas defende valores conservadores. A empresa, que começou como uma operação amadora de um grupo de estudantes gaúchos há apenas cinco anos, vem crescendo meteoricamente. Hoje, já tem uma carteira de mais de 200 mil assinantes, que pagam planos mensais que variam entre R$ 10 e R$ 49. O objetivo é chegar a 1 milhão até o final do ano que vem.

Embora a BP tenha se beneficiado como poucos da ascensão da nova direita no país, sobretudo após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, seus fundadores negam a pecha de “bolsonaristas”, e fazem questão de reiterar sempre que não recebem dinheiro público.

O acordo com o G 10 Favelas, que representa as dez maiores favelas do país, mostra que a empresa fala sério quando se propôs uma meta ambiciosa: tornar-se a mais influente produtora de conteúdo cultural do Brasil –e não apenas no universo da direita, mas de forma geral.