Presidente de grupo de docentes de direita critica ‘lacração infantil’ de Camargo
Inimigo declarado de esquerdistas e do movimento negro, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, tem angariado adversários também no próprio campo bolsonarista.
Nesta quinta-feira (14), o professor de Música da Universidade de Brasília (UnB) Ebnézer Maurilio Nogueira da Silva publicou uma carta aberta com diversas críticas a Camargo.
Desta vez, não se trata de mais uma manifestação vinda do ambiente universitário, em que predomina o sentimento de rejeição ao governo Jair Bolsonaro.
Ebnézer é presidente do grupo Docentes Pela Liberdade, que representa professores abertamente de direita, a maioria simpáticos ao presidente.
“Se alguém discorda do senhor [Camargo], não é necessariamente ‘um esquerdista’, pode ser apenas uma pessoa que tenha a opinião certa”, diz o professor na carta. Ele diz ter escrito o texto em caráter pessoal, não em nome da entidade.
Ebnézer é um ex-aliado de Camargo que rompeu com ele no ano passado. Durante cerca de um ano, exerceu o cargo de diretor de Fomento da Cultura Afro-Brasileira na Fundação, até pedir para exoneração.
Na época, ele e outros diretores que deixaram o cargo criticaram a conduta errática de Camargo e sua obsessão por perseguir esquerdistas como parte da motivação para saírem.
Na carta, Ebnézer diz que o presidente da Fundação tem uma “estranha fixação por mim, como se pode observar nos seus disparos nas redes sociais”.
“Quando o conheci há quase dois anos, o senhor parecia ser uma pessoa diferente: bem humilde e disposto a aprender com a experiência dos demais. Porém, com o passar rápido do tempo, tornou-se cada vez mais preocupado com o poder e revelou-se vaidoso”, segue o texto.
Em agosto, Ebnézer prestou depoimento em inquérito aberto pelo Ministério Público do Trabalho em razão de acusações feitas por funcionários da Fundação de assédio moral praticado por Camargo. Na carta aberta, ele reforça que não é autor das acusações, mas sim testemunha.
O professor reafirma ainda que um dos motivos de ter se afastado de Camargo foram divergências quanto ao respeito a opiniões contrárias.
“Eu jamais discriminaria alguém, ainda mais por diferença partidária ou política –afinal, o senhor deve saber que o Brasil é uma democracia e possui uma Constituição: a cidadã”, declara na carta.
Ebnézer também desafia o desafeto a seguir o exemplo de Bolsonaro em suas viagens pelo Brasil. “Faça como nosso presidente: vá até um quilombo e tome uma xícara de café com os moradores; entre em um terreiro e converse com as pessoas. Talvez o senhor não tenha coragem para isso ou não consiga, até porque causa aversão em uma grande parcela do nosso publico alvo”, afirma.
O resultado, diz Ebnézer, é Camargo ter se tornado “um dos melhores cabos eleitorais da oposição”. “O senhor conseguiu unir as pessoas em um só propósito: exonerá-lo da Palmares.”
Desde que assumiu a Fundação Palmares, entidade cujo propósito é fomentar a cultura negra, Camargo tem comprado brigas com diversos setores.
Uma das missões que avocou para si é eliminar o que entende ser a influência esquerdista da instituição. Para isso, recorreu a atitudes midiáticas, como remover livros “comunistas” da biblioteca da Fundação.
Na última segunda-feira (11), Camargo foi afastado pela Justiça da gestão de pessoal no órgão, após denúncias de assédio moral e perseguição ideológica. Nas redes sociais, ele ironizou a decisão.
Para Ebnézer, esse tipo de comportamento mostra uma personalidade “desajustada”. “Depois de dois anos, onde estão os seus projetos, Camargo? O que o senhor faz além de tuitar? Não podemos seguir nesta linha do ódio acima de tudo; o que precisamos é de mais união e trabalho, não de lacração infantil”, conclui a carta do professor.
Em contato com o blog, Ebnézer afirmou que, com seu comportamento, Camargo prejudica a visão conservadora sobre a questão racial. “É um cara totalmente despreparado. Se fosse branco ele já estaria preso por alguns absurdos que falou, como dizer que a escravidão foi benéfica para os negros”, afirma.
A Fundação Palmares foi procurada, mas não se manifestou até a publicação deste texto.