Em busca de ‘novo Novo’, liberais conversam com Eymael e Partido da Mulher
A crise no Novo deixou uma legião de liberais em busca de uma nova alternativa partidária. Líderes que se afastaram da legenda por divergências com seu fundador, João Amoêdo, e que se recusam a abraçar a defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro correm para encontrar uma casa a tempo da disputa eleitoral de 2022.
Quem tem liderado essa busca por um “novo Novo” é o empresário Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização do Ministério da Economia. Embora nunca tenha sido filiado ao partido, sempre foi muito próximo dele, e um dos seus maiores incentivadores. Em agosto, no entanto, rompeu com a legenda.
Fundador da rede de aluguel de carros Localiza, Mattar já teve conversas com ao menos dois partidos: o PMB (Partido da Mulher Brasileira) e a DC (Democracia Cristã). A ideia, segundo pessoas próximas do empresário, é “colonizar” uma dessas legendas, já que não haveria tempo hábil de criar do zero um partido liberal.
Assim, dissidentes do Novo e liberais órfãos ingressariam em um partido já existente, assumindo alguns cargos de direção e possivelmente até levando à mudança do nome da legenda.
Há cerca de 60 dias, Mattar procurou José Maria Eymael, eterno candidato a presidente conhecido por seu jingle pegajoso, e cacique da DC (ex-PSDC).
“Foi uma reunião muito harmoniosa, de conhecimento recíproco”, diz Eymael. Mattar estava acompanhado de um pequeno grupo, entre eles Hélio Beltrão, presidente do Instituto Mises Brasil, outro que rompeu com o Novo recentemente.
Segundo Eymael, os princípios de sua legenda são plenamente compatíveis com os dos liberais.
“Acreditamos que podemos estar junto com esse grupo na campanha que se avizinha, porque os postulados deles são os mesmos que os nossos. Podemos formar a ‘Democracia Cristã por um Brasil Liberal’, não temos nenhuma dificuldade com isso. Todos nós defendemos o Estado necessário”, afirma.
Até o momento, não houve nenhum acerto. Uma possível dificuldade é a resistência de Eymael de ceder o controle da legenda, além de abrir mão de ser mais uma vez candidato a presidente. Será sua sexta tentativa.
“É uma decisão definitiva. Sou pré-candidato a presidente da República indicado pela Democracia Cristã”, afirma.
Segundo Eymael, o grupo liberal não colocou condições para se filiar. “Quem chega chega para aprender, não é para mandar. Se eles quiserem se filiar, as portas estão abertas”, diz.
Outro alvo dos liberais, o PMB, foi procurado pelo blog, mas não respondeu aos pedidos de entrevista.
Outro que busca nova legenda é Christian Lohbauer, que foi vice na chapa de Amoêdo à Presidência da República em 2018. Em 16 de setembro, ele anunciou sua desfiliação, também por divergências sobre a centralidade que o tema do impeachment de Bolsonaro adquiriu na legenda.
“O verdadeiro liberal, ou muitos que estão no espectro liberal, está sem um espaço definido”, afirma. Ele diz já ter tido conversas com PTB e Podemos como opções partidárias. “Sou mais um em busca de uma casa”.
Segundo Lohbauer, faria sentido os liberais entrarem em bloco em uma legenda, inclusive mudando o nome dela. “Todos os partidos já mudaram de nome para fugir dos horrores do passado. O Cidadania, por exemplo, é o velho partidão [PCB]. Se você consegue fazer com que uma legenda seja liberal, tem que mudar de nome e comando”, afirma.
Nos últimos dias, esta movimentação esfriou um pouco, por duas razões: a primeira é a aprovação das federações partidárias, que podem incentivar partidos nanicos a se unirem para superar a cláusula de barreira, sem necessidade de engordar seus quadros.
Além disso, a situação de Amoêdo dentro do partido fragilizou-se, após algumas derrotas que teve. Primeiro, tentou voltar ao diretório nacional, mas teve sua pretensão barrada. Depois, alguns aliados que trabalhavam para o partido tiveram o vínculo encerrado. Estas decisões podem animar opositores do fundador do partido a permanecerem na legenda.
Em contato com o blog, Amoêdo diz que nunca teve controle sobre o diretório nacional. “Tanto isso é verdade que eu pedi para voltar. Se eu controlasse o partido isso seria desnecessário”, afirma.
Com relação a aliados seus que prestavam serviços para o partido, Amoêdo diz que jamais teve ingerência sobre o trabalho deles. “São profissionais independentes e respeitados, que nunca trabalharam sob minha orientação, muito menos receberam ordens minhas”, declarou.
A demora de Bolsonaro em definir para qual partido vai é outro complicador para os liberais que buscam numa nova casa. Enquanto ele não se define, tudo fica em suspenso.
Por meio de sua assessoria, o empresário Salim Mattar declarou que “nunca foi filiado ao Novo ou qualquer outro partido político e não procede a informação de que ele estaria ingressando nas legendas citadas ou em qualquer outra”. Procurado, Hélio Beltrão não quis se manifestar.