Produtora conservadora Brasil Paralelo anuncia nova fase e tenta ampliar apelo para além da direita

Tornar-se o maior grupo de comunicação do país e encarar de igual para igual gigantes do streaming como Netflix, Disney e Amazon. A Brasil Paralelo pode ser acusada de muita coisa, menos de não ter objetivos grandiosos.

A produtora de vídeos e documentários conservadora, que surgiu como um projeto de amigos universitários gaúchos há meros cinco  anos, tem crescido de forma acelerada, na esteira da ascensão da direita brasileira.

Nesta segunda-feira (27), a empresa deu seu salto mais ambicioso, num evento que buscou a mesma estética dos grandes lançamentos da indústria cultural, popularizados por Steve Jobs, da Apple.

Vestido de preto, de pé num palco circular em frente a uma plateia selecionada, Filipe Valerim, um dos fundadores da produtora, apresentou a “Nova BP”. O que antes se resumia a um site e um canal no YouTube se torna uma plataforma com diversas opções de conteúdo, como filmes, produções infantis, cursos, séries, podcasts e programas.

“Resgatar as boas ideias, valores e sentimentos no coração de todos os brasileiros”, disse Valerim, repetindo o slogan da empresa, estampado na sede da Brasil Paralelo, que ocupa dois andares de uma torre de escritórios na avenida Paulista.

“Cada vez mais a gente percebe que a sociedade anseia por esse resgate. Principalmente num momento em que quase tudo é relativizado: os valores, o conceito de verdade, o conceito de bom e mau, aquilo que é pior, aquilo que é melhor”, acrescentou.

Em seu projeto de crescimento, a Brasil Paralelo vem gradualmente buscando fazer um reposicionamento de marca. A produtora pretende se firmar como uma empresa para toda a família, sem negar o viés conservador de suas ideias e produções, mas tentando fugir de alguns dos excessos do bolsonarismo.

“Nossa orientação é sempre a busca pela verdade histórica, ancorada na realidade dos fatos, e somos contrários a qualquer tipo de ideologização na produção de conteúdo”, diz o material promocional apresentado pela empresa.

Apesar disso, a digital do olavismo permanece indelével no material da produtora, de programas em que o filósofo é o protagonista a outros em que figuram alguns de seus maiores discípulos.

O cardápio de novo conteúdo tem uma forte pegada de entretenimento. A partir de um contrato com a Sony, são oferecidas aos assinantes produções hollywoodianas como “Capitão Philips” e”Gangues de Nova York”, além de clássicos como “Taxi Driver”,  e “Lawrence da Arabia”. Um diferencial apresentado são vídeos extras produzidos pela equipe da Brasil Paralelo que analisam o filme e debatem sua importância histórica.

Também há produções de ficção e humor. Uma minissérie investiga casos policiais rumorosos, e escolheu como primeiro episódio o sequestro do empresário Abílio Diniz, em 1989, no qual o PT foi acusado falsamente de participação.

Outros exemplos são um esquete satírico que faz uma crítica ácida da imprensa e um programa de debates com o sugestivo nome de “Red Pill”, referência a um mundo paralelo do filme “Matrix” que é bastante usada pela direita.

Na área infantil, por enquanto há desenhos animados e produções mainstream, como “Caillou” e “Bob, o Construtor”, mas a empresa deve investir em conteúdo próprio também direcionado a este segmento, considerado estratégico para a direita.

A ambição de virar uma “Netflix” da direita é o que move a Brasil Paralelo. A empresa ostenta números expressivos de crescimento na base de assinantes e de faturamento.

No ano passado, faturou R$ 30 milhões, crescimento de 335% sobre 2019, já descontada a inflação. A meta é chegar a 1 milhão de adeptos pagantes até o fim de 2022, o que dará condição à empresa de não receber nenhum dinheiro público, um troféu que ostenta com orgulho.

Equipe da produtora de vídeos Brasil Paralelo, em São Paulo, que faz filmes e documentários de viés conservador (Divulgação)

Outro chamariz da Brasil Paralelo está no fato de oferecer uma assinatura a preço bem mais baixo do que as gigantes do setor: são R$ 19 mensais, contra R$ 55,90 da Netflix, por exemplo.

Isso se justifica, no momento, pelo fato de o catálogo da produtora brasileira ainda ser consideravelmente mais enxuto, embora a promessa seja de expandi-lo gradualmente ao longo dos próximos meses.

O novo foco no entretenimento e na diversificação de produtos não deverá eliminar o que a empresa entende como sua missão fundadora: a produção de documentários sobre temas da atualidade, com viés conservador, que saem do forno em escala industrial.

Entre os mais recentes estiveram filmes sobre meio ambiente, com forte crítica à atuação de ONGs, e a Argentina, apontando o populismo de esquerda como raiz dos problemas do país vizinho.

Não é raro essas produções receberem de muitos historiadores e especialistas o rótulo de revisionistas, simplificadoras, ou até negacionistas. A Brasil Paralelo parece não se importar com isso, no entanto.

Com uma estrutura que só cresce, já passando de 100 profissionais, a empresa busca se estabelecer no firmamento da indústria cultural brasileira, com um lado bem definido. E espera manter a pujança como uma referência na direita, mesmo que no ano que vem haja um refluxo da maré conservadora nas urnas.