Palhaço do canal Brasileirinhos vira cult entre bolsonaristas; leia entrevista
Criado há três anos, o canal Brasileirinhos, no YouTube, ganhou status de cult na direita. Com 146 mil inscritos, não chega ser gigantesco, mas tem uma influência proporcionalmente muito maior (o vereador Carlos Bolsonaro, por exemplo, é um fã assumido).
Seus criadores são uma dupla misteriosa, que só aparece fantasiada: o carioca Palhaço e o maranhense Gatão. Quando se juntam, criam vídeos que misturam humor nonsense, bolsonarismo e a chamada estética vaporwave, com referências dos anos 1980.
Uma de suas produções mais conhecidas é o vídeo “prudência e sofisticação” (aqui o link), no qual ironizam os liberais que se voltaram contra Bolsonaro, a partir de uma propaganda soviética tosca de ternos. Virou um bordão bolsonarista, citado por diversos influenciadores.
Na última segunda-feira (20), a dupla, vestida a caráter, atuou como mestre de cerimônias da estreia de “Nem Tudo se Desfaz”, documentário do cineasta Josias Teófilo sobre a agitação política no Brasil entre 2013 e 2018.
Enquanto era assediado por admiradores, Palhaço falou com o blog, numa rara entrevista a um veículo de imprensa.
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Vocês vão apresentar o evento? Vamos falar umas merdas lá. Falar umas besteiras lá, cara.
E você não dá seu nome, é isso? Como você se chama? Não, sou muito secreto, sou muito secreto. Sou o Palhaço do Brasileirinhos.
Me disseram que você é publicitário, é verdade? Não, é ruim, hein? Senão não estaria aqui.
O que você faz? É bastante secreto, mas trabalho com a área de segurança, por assim dizer.
O que você acha do Bolsonaro e da campanha do ano que vem? Vão tentar ajudar de alguma maneira na reeleição dele? Olha, ano que vem vai ser um pega pra capar. Vamos ver, se ficar bom, sim, pretendo [participar da campanha]. Porque tudo pode mudar e, sei lá, pode dar a louca nele, e de repente virar traveco, ou sair dando cambalhotas por aí. Por enquanto estou apoiando, sim, mas vamos ver qual vai ser.
O principal adversário dele é o Lula mesmo, ou pode ter Terceira Via? Eu acho uma forçação de barríssima esse negócio de ser o Lula. Eu conheço pouquíssimas pessoas que votariam no Lula de novo. Conheço muito mais gente que votaria no Ciro Gomes. Houve toda uma campanha “ah, PT não, Lula não”, agora nego diz “não, esquece tudo, esquece mensalão, esquece impeachment, agora é Lula de novo, hein, galera”. A rejeição dele é muito grande, ele não pode ir a nenhum lugar que é xingado. Mas pra esquerda ter um poder de força para combater o Bolsonaro, teria que ser o Ciro. Pra ficar mais tupi-guarani, ele deveria trocar por “y” [virar Cyro].
O negócio do “prudência e sofisticação”, que vocês inventaram contra os liberais pegou, virou um bordão. Como surgiu essa ideia? Na verdade, eu observava que as pessoas mais ligadas ao liberalismo se mostravam mais sofisticadas, não tão direita tosca, por assim dizer, quanto os bolsonaristas. E eles diziam que deveríamos ter prudência, que as pessoas deveriam ser mais comedidas, falar mais baixo. E eu vi um clipe russo, na verdade, soviético, e achei “caraca, isso aqui tem tudo a ver com eles, porque eles são metidos a limpinhos”.
Onde você achou esse vídeo? Onde você acha tudo hoje em dia, na internet, no YouTube. Vi lá, achei maneiro. Fico buscando coisas pro canal, procurando coisas obscuras. Eu vi esse clipe, tinha uma musiquinha adequada, achei que tinha a ver com o espírito e coloquei. Não é uma crítica ao liberalismo em si, é uma crítica ao tipo do liberalismo que se notabilizou aqui no Brasil, que quer ser uma coisa mais limpinha, quer dar uma de inglês.
MBL, Livres, Novo? É, tipo essa galera aí.
E como é o uso da estética vaporwave? Nós tínhamos alguns elementos de vaporwave na parada, mas a verdade é que quando a gente falou de vaporwave, já estava muito hypado. Eu nunca pretendi ser um grande expoente do vaporwave. A gente usou elementos lá e nego atribuiu à gente. Mas eu nunca vesti bandeira, “ah, sou vaporwave”. Sei lá, a gente nunca vestiu bandeira nenhuma. Não, já vestimos bandeira na verdade, a bandeira brasileira.
E o uso da máscara, foi uma inspiração de algum lugar? Não, é que eu sou palhaço naturalmente mesmo.
Você é palhaço profissional? Não, sou brincalhão. A gente foi numa loja de fantasia, eu arrumei esse moicano, achei maneiro. Esse negócio preto em volta, me inspirei no Dr. Manhattan [personagem de quadrinhos], do Watchmen. Botei e ficou. Não tem nenhum sentido exato, não quer dizer alguma coisa. Aliás, esse negócio de forçação de metáfora é meio caído pra gente.
Vocês falam muito para o público jovem. Qual vai ser a importância dele na eleição do ano que vem? Eu acho que jovem tinha que ficar calado ouvindo o mais velho. Ou servir pra quando tiver guerra, ser bucha de canhão, botar toda sua juventude lá, pra espetar as baionetas na barriga dos inimigos. Não gosto muito de jovem, não (risos).
Você tem quantos anos? Tenho 47. Mas uso Renew [creme antirrugas]. Estamos vendo um patrocínio aí do Renew, da Avon, ver se a gente consegue.
Você acha que Bolsonaro tem que dar uma segurada no discurso, depois do que ele falou no 7 de setembro? Cara, tá tudo muito zoado. Nego fala “ah, tem que ir pra cima, tem que dar o golpe”. A verdade é que ninguém sabe o que está acontecendo lá. Todo mundo é cientista político, todo mundo tira uma onda, como se estivesse sabendo de tudo. E eu converso com pessoas que estão lá dentro, e eles próprios dão opiniões divergentes. Eu com a maturidade aprendi que sei lá, que não sei de nada. E o lance é rezar a Deus, pedir que tudo dê certo pra todo mundo, direita, esquerda, porque a gente está no mesmo barco. Pra todo mundo se amar, acreditar em Cristo.
Você é cristão? Sou, pra caralho.
Católico ou evangélico? Católico, rezo o terço todo dia, não é piada. Vou à igreja etc. Me converti há aproximadamente sete anos, por influência do grande professor Olavo de Carvalho.
Me dá um contato seu? Porra, não posso. Desculpe.