Instituto cria embrião de primeira universidade 100% liberal do Brasil
Instituições de ensino superior assumidamente liberais são uma raridade na América Latina. Na Guatemala, a Universidade Francisco Marroquín é uma exceção e referência no continente.
No Brasil, elas ainda não existem, apesar de alguns redutos isolados, como o Centro de Liberdade Econômica, da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
Uma iniciativa para preencher este espaço está sendo criada pelo Instituto Mises Brasil, que funciona em São Paulo desde 2007 como um think tank de difusão de ideias liberais, por meio de cursos, eventos e publicação de livros.
O Mises Academy Plataforma é, segundo o próprio instituto, o embrião da primeira universidade austro-libertária no Brasil. A definição faz referência à Escola Austríaca, uma vertente liberal que prega o Estado mínimo (ou, para alguns seguidores mais extremados, que se definem como anarcocapitalistas, a ausência total dele).
A ideia é que a nova instituição, totalmente em ambiente virtual, tenha cursos de pós-graduação em economia, direito e negócios, além de ser repositório de trabalhos de conteúdo liberal e ofereça lives com professores, seminários e uma revista acadêmica, a Mises Journal, que existe há oito anos.
O instituto é conduzido por Helio Beltrão, colunista da Folha. Segundo ele, a ideia é “dar um passo importante na consolidação do Instituto Mises Brasil, que sempre foi disseminar conhecimento da Escola Austríaca”. A direção acadêmica fica por conta do economista e professor Adriano Paranaíba.
A popularização das ideias liberais ocorreu no Brasil nos últimos anos em paralelo ao crescimento da chamada “nova direita”, que levou ao surgimento de movimentos, centros de estudos, clubes de jovens e partidos políticos.
Em 2018, a aliança de uma parcela dos liberais com o então candidato Jair Bolsonaro, um conservador, foi importante para sua vitória na eleição presidencial.
Desde então, o movimento liberal cresceu e se dividiu, como é comum com ideologias que estão crescendo. Uma parte se mantém fiel ao governo Bolsonaro, ainda confiante na atuação do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Outros se desiludiram com Bolsonaro, mas tendem a retornar para o ninho caso no segundo turno a opção seja entre ele e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
E uma terceira parcela abertamente aderiu à oposição, por ver em Bolsonaro um presidente autoritário e ineficiente, distante, portanto, dos principais princípios pregados pelos liberais. É o caso de movimentos como MBL, Livres e uma parte do Partido Novo.
Faltava uma universidade para que essas ideias fossem trabalhadas com maior embasamento acadêmico, num ambiente de ensino superior ainda praticamente dominado apenas pela influência de ideias marxistas e keynesianas.
A próxima década será definidora para o futuro do liberalismo no Brasil: se é uma onda efêmera, que tende a murchar caso a esquerda volte ao poder, ou se vai se manter como uma corrente cada vez mais influente no debate político, independentemente das circunstâncias do momento. Nesse sentido, uma iniciativa como a do Mises pode ajudar a iluminar o caminho que vem pela frente.