Sojicultores de MT se firmam como a linha mais fiel de defesa do bolsonarismo

Se a turma da Faria Lima já não vê o presidente Jair Bolsonaro com os mesmos olhos, preocupada com seus arroubos antidemocráticos e ameaças de promover o descontrole fiscal, o agronegócio ainda está enamorado do governo.

Entre os produtores rurais, um setor bastante diversificado, alguns dos mais entusiasmados são os produtores de soja. E destes, os de Mato Grosso são os mais empolgados entre os empolgados.

Nos últimos dias, houve algumas demonstrações de que os sojicultores compõem a mais fiel linha de defesa do bolsonarismo. Na segunda-feira (23), como revelou a colunista Mônica Bergamo, o presidente da Aprosoja Brasil (Associação dos Produtores de Soja), Antônio Galvan, chegou à sede da Polícia Federal em Sinop (MT) cercado de tratores.

A demonstração de solidariedade ocorreu porque Galvan foi chamado a prestar depoimento após ter sido alvo de uma operação de busca e apreensão na semana passada,  acusado de participar do financiamento e organização de atos contra a democracia.

Além disso, no último sábado (21), um auditório na mesma Sinop, espécie de capital mato-grossense do agronegócio, ficou lotado para um evento em que a estrela era o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.

Em pauta estava a construção da Ferrogrão, ferrovia planejada para escoar soja até o porto de Miritituba, no Pará, e de lá para abastecer a China. É um dos principais projetos de infraestrutura do atual governo, e menina dos olhos dos sojicultores, o que só reforça a aliança do setor com Bolsonaro.

Ambientalistas e entidades indígenas, por outro lado, fazem oposição cerrada à ferrovia, prevendo que trará mais devastação para a região amazônica.

A própria entrada do ministro no auditório já deu o tom do que seria o evento. Foi recebido ao som de música e na voz de um locutor que o anunciou como se fosse um lutador de boxe que chega para o ringue.

“Vamos em pé recepcionar o ministro. Uma salva de palmas. Esse é um momento histórico para o nortão de Mato Grosso, para o sul do Pará. Somos a força do Brasil. Mato Grosso precisa da Ferrogrão”, afirmou o apresentador do evento (o momento pode ser conferido neste link, a partir de 11 minutos).

A seu lado estavam lideranças do agronegócio, além de autoridades da cidade e do estado, capitaneadas pelo governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM).

O próprio Galvan estava no evento, e recebeu a solidariedade de diversos dos presentes, embora não tenha discursado. “Em nome da bancada federal, gostaríamos de prestar a nossa solidariedade ao Antonio Galvan. Os gabinetes de Brasília estão escancarados para você”, disse o deputado Juarez Costa (MDB).

Tarcísio também recebeu sua cota de elogios. “Você é a grande revelação do governo Bolsonaro. Você é um fazedor, você é aquele que realmente vai a campo”, afirmou o ex-deputado Nilson Leitão (PSDB), hoje ligado ao Instituto Pensar Agro. O ministro vem sendo mencionado pelo presidente Bolsonaro como possível candidato a governador de São Paulo.

Em sua fala, o governador Mauro Mendes atacou movimentos indígenas, como a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que se opõem à obra, e criticou a vinda ao Brasil de uma delegação da entidade global de esquerda Internacional Progressista (IP).

“Temos um presidente que é corajoso, e põe corajoso nisso. Temos um ministro que é técnico, eficiente. Temos nossos senadores todos, bancada federal, estadual, prefeitos, a sociedade toda. Será que nós vamos perder para esses caras?  Não vamos. Nós vamos ganhar essa guerra, e vamos lutar com todas as armas que sejam necessárias“, afirmou Mendes.

Numa provocação ao senador americano Bernie Sanders, apoiador da IP, disse que os americanos mataram milhares de índios ao fazerem suas ferrovias. “Vamos fazer a Ferrogrão sem matar um índio sequer”, declarou.

Já o ministro Tarcísio afirmou que é preciso “desconstruir a narrativa” de que a obra é prejudicial ao meio ambiente.

“Muita gente fala bobagem. Algumas pessoas atacam a Ferrogrão sem ter o menor conhecimento do que é esse projeto, do que representa. Vejo pessoas falando em agressão a povos tradicionais, ao meio ambiente. É a primeira vez que eu tenho que mostrar que uma ferrovia é sustentável”, afirmou.

A alternativa, afirmou o ministro, é duplicar a rodovia BR-163, hoje responsável pelo escoamento da soja, o que seria ambientalmente mais custoso.

O projeto da Ferrogrão ainda tem de vencer uma série de barreiras legais até começar a ser implantado, e sua própria viabilidade econômica já foi posta em xeque em estudos técnicos.

Mesmo que não saia, no entanto, a campanha pela frrovia ajuda a cimentar a união entre o agronegócio e o governo Bolsonaro. Um casamento que vem resistindo às intempéries, ao menos por enquanto.