Para onde vão os liberais em 2022?

A existência dos liberais como um grupo influente no pensamento econômico e social brasileiro não é uma novidade, mas sua relevância política é.

Desde que a nova direita aflorou, em meados da década passada, os liberais ganharam espaço no debate público, embora ainda pequeno em comparação com a esquerda, o centro ou mesmo os conservadores, seus primos-irmãos no mundo destro.

Mas essa força ascendente, que se expressa em incontáveis institutos, ONGs e think tanks, além do mundo corporativo, está órfã eleitoralmente. Uma das grandes questões em aberto, à medida em que se aproxima a campanha de 2022, é quem conseguirá conquistar o coração liberal.

Em sua mais recente coluna na Folha, o presidente do Instituto Mises Brasil, Hélio Beltrão, escreveu que a pesquisa Datafolha divulgada na semana passada aponta que o maior foco dos liberais no ano que vem deve ser o aumento de espaço no Legislativo, mas que se deve também buscar um candidato à Presidência. “Há muito trabalho pela frente”, disse Beltrão, um dos mais influentes liberais hoje no país.

O candidato mais bem posicionado para isso era João Amoêdo, do Novo, que anunciou sua desistência da disputa, ao menos por ora. Não que ele tivesse ilusões de receber o apoio unificado dos liberais, uma vez que este é um bloco bastante diverso, o que não deixa de ser um reflexo de seu crescimento.

Uma parte dos liberais, embora decrescente, seguirá no barco de Jair Bolsonaro (sem partido), buscando relevar seus arroubos autoritários e valorizar algumas medidas econômicas que ele conseguiu implantar, ainda que abaixo da expectativa inicial. É a turma que ainda se empolga com as promessas grandiloquentes do ministro Paulo Guedes (Economia).

Já o liberalismo antibolsonarista, que hoje parece ser majoritário, é bem dividido, incluindo desde o Novo (que, por sua vez, também está bastante rachado) até o Livres, grupo que flerta com posições mais de centro. E há liberais isolados em diversos partidos, do PSDB ao Cidadania.

Essa gama variada tem como ponto de contato a crença na menor presença do Estado na economia e maior valorização das liberdades pessoais. É mais o indivíduo, e menos o coletivo.

Sem Amoêdo, que outras alternativas liberais se apresentam? O Novo provavelmente terá um candidato, embora certamente alguém que apenas fará figuração. Alguns colegas de partido já lançaram o nome do deputado federal Tiago Mitraud (MG).

O PSL, outra legenda que se apresenta como liberal (após ter se divorciado de Bolsonaro), filiou José Luiz Datena e promete lançá-lo candidato a presidente.

O apresentador, que fez fama em programas esportivos e policiais do estilo mundo cão, está longe de ser um liberal raiz, no entanto. Em compensação, ele poderá receber o apoio do MBL (Movimento Brasil Livre), esse sim um grupo assumidamente liberal.

Alguns liberais chegaram a se a animar com uma candidatura de Luciano Huck, que prometia um mix de menos Estado e maior rede de proteção social. Mas o global também ficou pelo caminho.

A lacuna já foi percebida por outros candidatos. Nesta segunda-feira (19), o governador João Doria (PSDB) publicou em suas redes sociais uma espécie de prestação de contas de tudo que fez na rubrica “enxugamento da máquina pública”. Incluiu concessões de rodovias, aeroportos e até do Jardim Zoológico.

“Prometemos uma gestão liberal e estamos cumprindo. As concessões reduzem despesas administrativas e nos possibilitam focar investimentos públicos em áreas essenciais, como: educação, saúde, segurança pública e proteção aos mais vulneráveis”, escreveu o governador, que ascendeu na política apregoando sua condição de empresário bem-sucedido.

Faltando ainda 1 ano e 3 meses para a eleição, o tabuleiro liberal ainda deve sofrer mudanças (o próprio Amoêdo pode repensar sua desistência). Mas dificilmente algum candidato desse campo consiga furar a polarização entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

E, num segundo turno, é grande a chance de parte considerável da direita liberal votar no atual presidente de nariz tapado, por não admitir a volta da esquerda. É com isso, aliás, que Bolsonaro conta para se reeleger.