Neste 14 de Julho, a direita não vai celebrar a Revolução Francesa; saiba por quê

A Revolução Francesa, c0memorada todos os anos em 14 de julho, é um evento inspirador como poucos. Traz consigo os ideais do Iluminismo, da razão e da luta contra a opressão monárquica, e popularizou um dos mais poderosos slogans já criados pelo homem: “liberdade, igualdade, fraternidade”.

Também estabeleceu os conceitos de direita e esquerda, gestou a França secular e republicana que vemos hoje e, como se não bastasse, deu ao mundo o belíssimo “A Marselhesa”.

Muitos talvez se surpreendam com o fato de que este marco importantíssimo ocorrido em 1789, que simboliza o início da Idade Contemporânea (como aprendemos na escola), tenha seus detratores.

Para parte considerável da direita, a Revolução Francesa tem muito pouco de louvável. No mínimo, precisa ser questionada por seus excessos.

A primeira e até hoje mais importante crítica à revolução veio daquele que é considerado o pai do moderno conservadorismo, o político e pensador irlandês Edmund Burke (1729-1797).

Um ano após a queda da Bastilha, Burke publicou um ataque contundente ao que ele enxergava como uma ruptura radical às noções de tradição, hierarquia e família, que formavam a base da sociedade europeia até ali. E alertava que isso poderia ter consequências perigosas.

A previsão de Burke não tardou a se materializar. Em 1793, a Revolução Francesa iniciou um processo de autofagia que levou ao chamado período do Terror, comandado por Maximilien de Robespierre.

Milhares de “inimigos do Estado” foram perseguidos e guilhotinados, em nome da preservação dos ideais revolucionários. O caos levou à ascensão da figura carismática e autoritária de Napoleão Bonaparte, que varreu a Europa na primeira década do século 19, chacoalhando regimes monárquicos estabelecidos havia séculos.

Em grande medida, foi em reação à ameaça napoleônica que o conservadorismo como hoje conhecemos brotou. Em outras palavras, a repulsa à Revolução Francesa e às suas consequências é parte do DNA da direita.

Não apenas isso. O próprio slogan da Revolução é um fator de divisão ideológica.

Para a esquerda, o conceito chave é “igualdade”, algo que a direita rejeita cabalmente, por enxergar uma porta aberta para a imposição de medidas socializantes e que ameaçam a propriedade privada.

Os conservadores apreciam muito mais o ideal de “liberdade”, que seria o instrumento indispensável de valorização do indivíduo e veículo para o progresso humano desimpedido de amarras estatais.

(Quanto à fraternidade, a outra perna do tripé, ninguém é exatamente contra que as pessoas se amem).

No Brasil, um dos que mais contribuem para difundir uma visão crítica da Revolução Francesa é ninguém menos do que Olavo de Carvalho, para quem este evento teve diversas consequências nefastas, entre elas a ascensão de uma burguesia intelectual que, meio século depois, geraria as ideias socialistas de Karl Marx e Friedrich Engels.

Além disso, como escreveu Olavo em um artigo de 1999, a Revolução Francesa marca definitivamente o momento histórico em que o país perde a corrida das ideias e de influência global para outras potências.

“Desde a Revolução, a França não fez senão recuar perante a Inglaterra, a Rússia, a Alemanha e os Estados Unidos, até tornar-se hoje uma pseudopotência acovardada e servil, que vive das ilusões do passado e ridículas encenações de soberania”, escreveu o guru do bolsonarismo.

O motivo, como dizem Olavo e outros pensadores conservadores, é que a Revolução Francesa destruiu um sistema estável e coerente que havia na Europa para dar lugar a um modelo que privilegiou o caos e ideologias revolucionárias.

O que incomoda a eles é a crença desimpedida na razão e na ciência como motores da atividade humana, o que contribui para esmagar a espiritualidade, a cultura e a tradição, que serviriam como uma espécie de cola da sociedade. Sem esses elementos, o que se vê é a mentalidade revolucionária, que leva à desagregação.

Em outras palavras, a Revolução Francesa, para o conservadorismo, fez mais mal do que bem. Neste 14 de Julho, quando tocarem os famosos acordes iniciais que precedem o verso “alons enfants de la patrie”, nem todo mundo vai se emocionar.