Após campanha tumultuada, Sabará retoma projeto de hortas urbanas e diz que não desistiu da política
A primeira experiência na política foi um tanto traumática para o empresário Filipe Sabará. Há cerca de um ano, ele era escolhido candidato do Novo à Prefeitura de São Paulo, prometendo defender uma plataforma liberal.
A campanha durou pouco, no entanto. Antes mesmo do primeiro turno, a candidatura acabou inviabilizada pelo próprio partido, que também expulsou o empresário. A razão alegada foram acusações de inconsistência no currículo de Sabará, mas havia um contexto mais amplo: a aproximação do empresário com o bolsonarismo.
De novo na iniciativa privada, Sabará retomou a atividade que o projetou na área do empreendedorismo social. Voltou ao comando do Arcah, ONG que criou em 2013 e que se dedica a reinserir na sociedade moradores de rua da capital.
“Nossa percepção é que dobrou o número de pessoas nas ruas desde 2016, e na pandemia deve ter dobrado de novo”, diz. O número oficial da prefeitura é de 24 mil paulistanos nessa condição na cidade, mas Sabará afirma que o dado está provavelmente subestimado.
O Arcah tem como filosofia apresentar soluções liberais para problemas sociais, até para provar que a preocupação com a diminuição da pobreza não é monopólio da esquerda.
Seu principal projeto são as hortas urbanas, espaços em que ex-moradores de rua trabalham no plantio de legumes, verduras e raízes.
São 12 variedades de hortaliças no total, cultivadas em quatro hortas na cidade: duas no Jabaquara, uma no Jaguaré e outra no Itaim Bibi — esta última fica num terraço do restaurante Trattoria Fasano, um dos mais caros da cidade.
A maior parte da produção é vendida para restaurantes e supermercados da cidade, ou compõe saladas comercializadas por delivery, pelo site hortasocialurbana.org. Uma parcela também é destinada a albergues.
Nas hortas, é feita a capacitação de moradores de rua em técnicas de plantio, além de educação financeira básica e inclusão digital. O trabalho não parou nem mesmo na pandemia, embora as turmas tenham sido reduzidas de cerca de 40 participantes para 9. Desde que iniciou seu trabalho, a ONG calcula ter alcançado já 3.000 pessoas.
“Hoje a demanda de alimentos é o principal problema da pandemia. Cesta básica existe há muito tempo, o que não existe é pensar na segurança alimentar de forma perene”, diz Sabará.
Segundo ele, o conceito liberal não é lutar contra a pobreza, como prega a esquerda, mas “resolver a pobreza”. “Você fica lutando, fazendo ativismo, mas que hora vai resolver? Para isso, precisa de capital, gente com vontade e capacidade de execução”, diz. A ambição do Arcah, de acordo com o empresário, é chegar futuramente a 14 hortas urbanas na cidade de São Paulo.
Sem partido, Sabará diz estar afastado apenas temporariamente da política, mas não descarta uma nova investida eleitoral. Afirma que segue sonhando em ser prefeito de São Paulo um dia, único cargo que lhe interessaria. Por isso, não pretende disputar a eleição do ano que vem.
Ele entrou na política pela mão do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de quem foi secretário na prefeitura. Também comandou o Fundo Social do estado de São Paulo na gestão do tucano, mas hoje está bem mais próximo de Jair Bolsonaro, a quem declara apoio em 2022.
“Não consigo ver uma terceira via, vai ser uma disputa entre Bolsonaro e Lula. E nesse caso, com certeza não vou de Lula”, afirma.
Segundo ele, a direita, mesmo a que hoje tem críticas ao presidente, não terá opção a não ser apoiar mais um mandato de Bolsonaro. “A direita, na hora do vamos ver entre Bolsonaro e Lula, vai de Bolsonaro”, acredita.
Sobre a conturbada experiência na política partidária, Sabará diz que não guarda mágoa, e que aprendeu muito no processo. “A política não é tão simples. Tem a questão do ego. A questão de melhorar a vida das pessoas fica em terceiro ou quarto plano”, afirma.