Bolsonaristas reclamam de perda de seguidores no Twitter, que diz verificar contas suspeitas
Alguns dos principais influenciadores digitais da direita reclamaram nesta segunda-feira (14) de um fenômeno intrigante: a perda repentina de seguidores em seus perfis no Twitter.
“Caça aos Conservadores”, resumiu, em manchete, o portal Terra Brasil Notícias, um dos mais atuantes entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Veio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, a mais dura crítica à rede social. Ele pediu mobilização dos conservadores para que haja uma espécie de intervenção no Twitter.
“Perdi hoje cerca de 15.000 seguidores no Twitter repentinamente. Sem qualquer explicação para seus clientes as Big Tech fazem o que querem e o temor é que em 2022 isso piore”, escreveu.
O parlamentar defendeu a publicação de um decreto em gestação no governo para proibir empresas de mídia de excluírem posts ou seguidores.
Eduardo disse que não haveria interferência na autonomia da rede social e comparou a situação à de uma ação governamental contra o trabalho escravo.
“Isso não é interferência na área privada. Quando um empregador usa mão de obra escrava, que é também uma violação as liberdades, e é punido por isso, ninguém vê aí uma interferência na atividade privada. Logo, garantir respeito à liberdade de expressão é papel do Estado”, justificou.
Na rede social, houve uma chuva de manifestações enfurecidas, como se pode ver de uma pequena seleção abaixo.
Bernardo Kuster, editor do jornal Brasil Sem Medo (ligado ao filósofo Olavo de Carvalho):
Osmar Terra, deputado federal (MDB-RS), apontado como chefe do “gabinete paralelo” da Covid no governo Bolsonaro:
Ex-ministro da Educação Abraham Weintraub:
Deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ):
Deputado estadual Gil Diniz (ex-PSL-SP):
Deputado estadual Bruno Engler (PRTB-MG):
As queixas de direitistas sobre uma suposta perseguição do Twitter não são novas, mas é raro que tantos se manifestem assim de maneira simultânea.
Procurada, a assessoria da rede social afirma que apenas realizou um procedimento padrão rotineiro, com contas que têm “comportamento suspeito”, para evitar a proliferação de robôs.
“Com o objetivo de proteger a integridade e a legitimidade de conversas em seu serviço, o Twitter regularmente solicita que contas com comportamentos suspeitos em todo o mundo confirmem detalhes como senha ou número de celular, comprovando que existe uma pessoa por trás delas”, disse o Twitter, em nota.
De acordo com a empresa, pode haver certo prejuízo aos perfis enquanto não ocorrem essas confirmações.
“Até que cumpram essa etapa de confirmação, as contas ficam temporariamente desabilitadas, com funcionalidades limitadas, e deixam de entrar no cálculo para contagem de seguidores. Isso significa que esse número pode oscilar quando fazemos essas checagens regulares globalmente”, diz.
A explicação pode fazer sentido do ponto de vista técnico, mas o fato de os principais alvos serem ligados à direita bolsonarista não ajudará em nada a mudar a opinião deles sobre a rede social, que é a pior possível.
No universo destro, o Twitter, que tem um passarinho azul como símbolo, é chamado de “red bird” (pássaro vermelho), no Brasil e em diversos países.
A chiadeira da direita contra redes sociais, as chamadas “big techs”, é ampla, incluindo também Facebook, Instagram, YouTube e WhatsApp. Todas rotineiramente excluem conteúdo considerado falso ou que contem discurso de ódio, o que aumentou exponencialmente durante a pandemia.
Por isso, são acusadas pelos conservadores de serem parte de uma conspiração progressista global que “censura” vozes divergentes.
O fato é que, ainda que tentem migrar para plataformas mais amigáveis aos conservadores, como o Parler, os influenciadores direitistas não conseguiram até o momento criar uma alternativa que gere engajamento similar ao das redes sociais existentes.
Por mais que odeiem o passarinho vermelho, os bolsonaristas estão condenados a conviver com ele, num turbulento casamento de conveniência.