Em debate, Kim Kataguiri e Coppolla mostram direita dividida por Bolsonaro

Transmitido ao vivo no sábado, um debate on-line entre o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e o comentarista político Caio Coppolla não foi exatamente a final da Champions League, embora o mediador, Paulo Mathias, tenha brincado que era muito melhor do que o jogo entre Chelsea e Manchester City, que ocorreu quase simultaneamente.

Mas na bolha da direita, houve sim um certo clima de decisão de campeonato, com 126 mil pessoas acompanhando ao vivo e 1,4 milhão de visualizações até a manhã desta segunda-feira (31). (Veja a íntegra aqui).

Jovens, midiáticos e de retórica ferina, Kataguiri e Coppolla, de certa forma, representam as duas direitas divididas por Jair Bolsonaro. O deputado apoiou Bolsonaro no segundo turno em 2018, mas hoje faz oposição ao governo do capitão. O comentarista da CNN é leal ao presidente, ainda que tenha críticas pontuais.

As posições que eles apresentaram em cerca de 50 minutos de debate dizem muito sobre o estado atual do universo destro e as perspectivas para o futuro.

O debate teve semanas de idas e vindas, até que os dois protagonistas do duelo chegassem a um acordo sobre as regras. A diferença entre ambos começou na escolha dos temas.

Kataguiri optou por pandemia e relação de Bolsonaro com a direita, dois assuntos controversos. Coppolla foi de infraestrutura e recuperação do emprego, temas suaves para o presidente. Ambos concordaram ainda num quinto item, a eleição de 2022.

O deputado, em uma de suas primeiras intervenções, acusou o presidente de ter ressuscitado uma esquerda que estava na lona na eleição de 2018.

“Bolsonaro pegou o país com uma esquerda destruída e com o Lula preso, inelegível, impopular. Pegou um país propício para que a direita finalmente ascendesse ao poder e ficasse lá pelo menos por 12, 16, 20 anos”, disse.

O maior legado do capitão, acusou Kataguiri, foi de retrocesso para os direitistas. “Pegou um país com a esquerda destruída e entrega um país com a direita destruída, e num cenário de terra arrasada”.

Coppolla reagiu acusando o MBL (Movimento Brasil Livre), ao qual o parlamentar é ligado, de ser o verdadeiro responsável por desgastar a direita.

“Onde estava o MBL quando o povo brasileiro precisou ir às ruas pela reforma da Previdência? Estava boicotando manifestação, fazendo o jogo sujo dos sindicatos. Essa guerra de atrito quem faz contra a direita é o próprio MBL”, afirmou.

Na condução da pandemia, Kataguiri acusou Bolsonaro de “negligência criminosa com a vacinação”, ao citar a falta de resposta dada às ofertas de vacinas da Pfizer. E provocou Coppolla por elogios feitos à cloroquina e ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

“Tendo em vista as 450 mil famílias enlutadas e o desastre completo de um presidente defendendo um medicamento comprovadamente ineficaz, queria saber se o Coppolla se desculpa ou se arrepende de ter dito que o Pazuello era qualificado e que a mortandade da Covid-19 seria menor que a da gripe”.

Coppolla respondeu com o argumento de que as estimativas de mortandade constavam de documentos publicados pela própria OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2020, e que o currículo de Pazuello era realmente elogiável.

“Sobre Pazuello, eu estava repercutindo fatos, o currículo do ministro na Operação Acolhida [de apoio a refugiados venezuelanos em Roraima] era de domínio publico. Ele também foi elogiadíssimo pelos seu trabalho nas Olimpíadas”.

Na parte econômica do debate, a ofensiva coube ao comentarista. Ele elogiou o trabalho do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, dizendo que os avanços na área são negligenciados propositalmente pela imprensa.

“Não tem como não sermos bombardeados pela negatividade do jornalismo militante e a sua perspectiva pessimista sobre o Brasil. Na infraestrutura, há um quadro técnico, um servidor de carreira. Ele não apenas estancou a corrupção, como trouxe a agenda liberal para a pasta”, afirmou Coppolla, mencionando concessões de estradas e portos.

Ao citar os recordes da Bolsa de Valores, a geração de empregos medida pelo Caged, as perspectivas de crescimento da economia e a queda do dólar, disse que a gestão da economia pelo ministro Paulo Guedes está no caminho certo.

“Desânimo, desesperança são armas de comunicação política. Tem um Brasil que está dando muito certo e está sendo varrido para debaixo do tapete, simplesmente por uma questão de militância”, afirmou.

Em suas réplicas, Kataguiri disse que Freitas não tinha nada de liberal. “É um ministro desenvolvimentista, que aceita parcerias com a iniciativa privada, assim como Ciro Gomes”, afirmou.

“Eu não abro mão de nenhum princípio, de nenhum valor da direita brasileira, do desenvolvimento econômico ou de salvar vidas na pandemia em troca de meia dúzia de rodovias”.

O deputado lembrou ainda das inúmeras promessas de Guedes de mandar ao Congresso reformas que nunca se materializam. “Ilusão e demagogia são instrumentos que vendem falsas esperanças para a população e já foram usados por todos os líderes populistas de direita e esquerda no nosso país”, declarou.

Mas foi ao falar sobre o futuro que o debate teve mais significado. De maneira mais imediata, está em jogo o tamanho do apoio que a direita dará para Bolsonaro se reeleger.

Coppolla resumiu o sentimento de grande parte da direita bolsonarista atual: reconhecer alguns erros do capitão, mas minimizá-los em nome do embate que se avizinha com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não existe equivalência moral entre Lula e Bolsonaro. O Bolsonaro está para o Lula como uma unha encravada está para um pé quebrado. O Brasil precisa caminhar. E caminhar com pé quebrado é infinitamente mais difícil”, afirmou.

O atual presidente, disse Coppolla, tomou atitudes reprováveis, na nomeação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República e distribuição de cargos para o centrão. “Mas pelo menos o Bolsonaro realiza algum tipo de enfrentamento ao sistema, ao establishment midiático, à tirania que tolhe direitos. Bolsonaro é tipo um Rambo, ele está la na selva, sobrevivente. Lula é o Poderoso Chefão”, resumiu.

Kataguiri respondeu defendendo a terceira via em 2022. “Eu não quero nem unha encravada, nem pé quebrado. A gente tem que caminhar muito bem com as duas pernas, construindo uma alternativa de terceira via”, diz ele, que defende uma frente unindo o ex-ministro Sergio Moro, o empresário João Amoêdo (Novo) e o apresentador Danilo Gentili.

“Prefiro perder com meus valores do que ganhar me vendendo”, acrescentou.

No longo prazo, as distintas visões representadas pelos dois debatedores vão definir o futuro da direita, que tende a repetir em larga medida o que hoje acontece com a esquerda.

Ou seja, um balé de diversas visões dentro do mesmo campo ideológico, aproximando-se ou se distanciando conforme o cenário político, como hoje ocorre, por exemplo, com Ciro e Lula, ou com PT e PSOL.

A divisão atual, no entanto, preocupa, conforme arrematou no final Mathias, mediador do debate, apresentador na rádio Jovem Pan e ele mesmo um direitista.

“Tenho muita preocupação com o lulopetismo. É muito ruim a gente ver uma direita rachando dessa maneira”, declarou.