Conheça o Blexit, rival de direita do Black Lives Matter

Há um ano, em 25 de maio de 2020, o negro George Floyd  foi morto em Minneapolis (EUA) após ter seu pescoço pressionado pelo policial branco Derek Chauvin.

A agonia de Floyd, filmada enquanto dizia que não conseguia respirar, desatou os maiores protestos raciais no país, e em outras partes do mundo, em décadas.

À frente das manifestações estava o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam). Sua crescente popularidade passou a gerar críticas de conservadores, que o consideram nada mais do que um agrupamento esquerdista que se aproveitou da tragédia para avançar sua pauta progressista.

Uma das expressões dessa reação da direita é o Blexit, um movimento que é até anterior ao assassinato de Floyd (foi criado em março de 2018).

O nome é um jogo de palavras entre “black” (negro) e Brexit, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Seu propósito, assumidamente, é tentar ser um contraponto ao BLM, o que fica explícito em um quadro comparando os dois movimentos publicado no Twitter.

Quadro do Blexit que o compara ao Black Lives Matter (Reprodução)

Entre os pontos comparados, conforme mostra o diagrama acima, o Blexit diz que “cria vitoriosos” e “espalha soluções”, enquanto o BLM “cria vítimas” e “espalha divisão”.

Da mesma forma, o movimento de direita diz que “todas as vidas negras importam”, alfinetando o concorrente, para quem apenas “algumas vidas negras importam”.

O Blexit é comandado por dois jovens negros, Candace Owens, 32, e Brandon Tatum, 34. Segundo o site do movimento, ambos “buscam educar minorias nos EUA sobre a história de nosso grande país destacando os princípios da Constituição e a importância da autoconfiança”.

Owens, segundo a biografia apresentada pelo movimento, estudou jornalismo e trabalhou com moda e no mercado financeiro, antes de se dedicar ao ativismo conservador.

Apoiadora do ex-presidente Donald Trump, ela diz que tem se dedicado a estudar “a forma como as mídias sociais são usadas como método de manipulação política”. Em outras palavras, é adepta da visão de que as grandes empresas de comunicação têm viés esquerdista e censuram conservadores.  Tem uma base enorme de apoiadores no Twitter, com 2,7 milhões de seguidores.

Já Tatum é um ex-jogador de futebol americano na Universidade do Arizona que chegou a participar do “draft” da NFL, a liga americana profissional, evento no qual jovens promissores são escolhidos pelos maiores clubes do país. “Mas Deus tinha outros planos”, diz sua biografia no site da entidade.

Ele posteriormente foi policial e integrou a Swat, a unidade de elite da polícia americana, antes de se tornar um influenciador digital conservador, com 565 mil seguidores.

O blog entrou em contato com a assessoria do Blexit pedindo uma entrevista com algum dos seus fundadores, mas não teve resposta.

Os princípios da entidade são parecidos com os de grupos no Brasil que rejeitam a a abordagem majoritária da questão racial. Em linhas gerais, veem vitimização no movimento negro e questionam políticas como cotas .

Entre seus valores está, por exemplo, a defesa de “empreendedorismo como chave para escapar da dependência do governo e da pobreza”.

O Blexit advoga ainda uma nova abordagem educacional, em que pais possam receber vouchers para enviar filhos às escolas de sua escolha, uma ideia em geral rejeitada pela esquerda e pelos sindicatos.

Também diz que é preciso “desenvolver programas de história que inspirem crianças de minorias a ter vidas responsável e produtivas”. Ou seja, reescrever os currículos escolares, tidos como esquerdizantes.

Um dos temas mais presentes nas atividades do Blexit é a defesa dos policiais. No dia 16 de maio, o grupo fez diversas manifestações presenciais e online com a temática “Back the Blue” (apoie os homens de azul, em referência à cor do uniforme policial).

É uma posição totalmente oposta à do Black Lives Matter, que defende que se corte o orçamento das polícias, em razão de seus atos desproporcionais de violência contra minorias.

O Blexit está organizado em 28 dos 50 estados americanos, e diz que se mantém por meio de doações. Seu público alvo é formado sobretudo por jovens, e por isso muitos eventos que promove têm formato de show ou festivais. Frequentemente, usam uma linguagem próxima à de grupos evangélicos.

O próximo ocorrerá em 27 de junho em Birmingham, no estado do Alabama, com o título “Blexit 2021: nossa libertação”. É definido como uma “exploração de pop arte na jornada da América Negra pela história em três partes: Libertação, Deserto e Terra Prometida”.

A escolha não é por acaso: a cidade tem grande significado para o movimento negro, por ter sido um dos principais palcos de atos contra o racismo na década de 1960.

Embora ainda longe de ter a influência do Black Lives Matter, o Blexit mostra que quer crescer, e busca surfar na rejeição que atos do BLM provocam em parte da população.

No longo prazo, seu maior objetivo é claro: ajudar, em 2024, a levar Donald Trump de volta à Casa Branca.