Por que o presidente Jair Bolsonaro tem tanta popularidade entre motoqueiros?

Depois dos evangélicos, dos produtores rurais, dos armamentistas e dos Faria Limers, um novo grupo se credencia como fiel escudeiro do presidente Jair Bolsonaro: os motociclistas.

Um manifestação em Brasília no Dia das Mães, que contou com a presença do próprio Bolsonaro, reuniu centenas deles desfilando pela Esplanada dos Ministérios. Depois, como costuma acontecer, ainda houve uma aglomeração em frente ao Palácio do Alvorada (com muitos dos presentes sem máscara).

A multidão a perder de vista lembrou as cenas em aeroportos que começaram a aparecer em 2017 e geraram o primeiro choque de realidade de que o então deputado federal de extrema direita tinha, sim, alguma chance de ser eleito presidente.

Animados com o resultado, os motociclistas planejam outras manifestações de apoio ao presidente. Uma ocorrerá dia 23 de maio, no Rio de Janeiro, com a presença do próprio Bolsonaro. Em São Paulo haverá uma neste sábado (15), sem o presidente, e outra possivelmente no dia 30 de maio.

Qual a explicação para tamanha popularidade de Bolsonaro? Coordenador nacional de um dos maiores grupos que reúnem motociclistas do Brasil, Beto Sampa, 61, diz que muitos de seus colegas partilham valores representados pelo presidente: a liberdade de ir e vir e a defesa da família.

Afinal, são comuns, afirma ele, cenas de marido e mulher sobre uma mesma moto numa estrada, ou pais e filhos lado a lado, cada um com seu veículo, viajando juntos.

Some-se a isso o fato de que o próprio Bolsonaro gosta de andar sobre duas rodas. “O presidente é motociclista, e não é de hoje. A gente tem de aproveitar esse oportunidade para colocarmos nossas questões”, afirma.

Ele lidera o movimento AME-BR (Apoio ao Motociclista Estradeiro do Brasil), um grupo que tem 27 mil associados pelo Brasil, incluindo adeptos em outros países.

Fundado há oito anos, tem páginas em redes sociais, canal no YouTube e grupos de WhatsApp em que são divulgadas dicas de motos, manutenção, segurança, viagens e tudo mais o que se relacionar com esse universo. É um grupo apartidário, inclusive contando com motociclistas de esquerda.

Nem todos, diz Sampa, gostam de falar de política. “Muitas vezes o motociclista é uma pessoa que trabalhou, se aposentou, quer aproveitar a vida. Tem sua renda, quer curtir a moto, quer viajar”, afirma.

Mas uma parcela crescente, diz Sampa, se interessa pelo assunto, e tem maioria de defensores ardorosos do presidente.

Por isso, há pouco mais de um ano ele criou um subgrupo que reúne os bolsonaristas sobre duas rodas. O nome vai direto ao ponto: Política no Motociclismo.

Ex-bancário e ex-corretor de imóveis que vive em Guarulhos, Sampa (cujo nome de batismo é João Roberto da Silva) usa moto desde 1982 e atualmente tem uma Honda 450 cilindradas, que usa para andar pela cidade e viajar.

Ele faz uma uma diferenciação entre motoqueiros e motociclistas.

Motoqueiros, segundo ele, são todos que possuem uma moto, incluindo a legião que a utiliza para trabalhar diariamente. Em geral, veem o veículo mais como meio de transporte, sem nenhum outro apego especial.

Já os motociclistas são os que criam toda uma cultura em torno da moto, usando-a também como símbolo e forma de lazer. São os que têm modelos mais paramentados, e que nos finais de semana participam de eventos e viajam (vem daí o adjetivo “estradeiros”). É sobretudo entre estes que o apoio ao presidente se destaca, diz Sampa.

O fato de os motociclistas terem uma relação mais afetiva com o veículo não elimina o fato de terem bandeiras importantes, diz Sampa. Uma das principais reclamações é o alto custo dos impostos nas motos, tanto na hora da compra quanto na de pagar o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores).

Outro problema, afirma, é o elevado custo do pedágio. “Moto não estraga a estrada, o asfalto. Pagar pedágio de 50% do valor do carro não faz nenhum sentido”, diz.

Beto Sampa, coordenador de grupo de motociclistas que apoiam Bolsonaro (Facebook)

Na última segunda-feira (10), Bolsonaro prometeu, em conversa com apoiadores, que em futuras concessões de rodovias federais colocará como um dos itens do edital a isenção de pedágio para motos.

Uma conquista para a categoria, afirma Sampa, foi a redução no valor do seguro obrigatório, de cerca de 86%. “O motoboy pagava o mesmo que o dono de uma moto de R$ 100 mil”, diz.

Sampa votou em Bolsonaro em 2018 e pretende repetir a dose no ano que vem. Ele diz que o presidente tem feito um bom governo, que só não é melhor porque enfrenta uma máquina administrativa que joga contra.

“Tentar mudar essa galera é complicado, vai levar anos. É gente que foi colocada lá por outros governos”.

Também elogia o desempenho do presidente na gestão da pandemia, e repete a linha de Bolsonaro, de ser contrário a restrições nas atividades econômicas.

“Sou contra restrições, pois penso que economia e saúde andam juntos. Tem que ter vida normal com máscara, distanciamento, álcool em gel”, afirma.

Nas manifestações, diz ele, a recomendação é de que todos usem máscaras, embora imagens mostrem diversos motociclistas sem a proteção –inclusive o próprio Bolsonaro.

Ele defende o presidente, porém, e minimiza as imagens em que Bolsonaro aparece guiando uma moto sem máscara e sem capacete numa ponte recém-inaugurada em Rondônia.

“Ele quis fazer marketing, era uma ponte ainda fechada, fez para chamar a atenção. Você acha que o presidente vai contrariar as normas de trânsito?”.

Sampa prevê que daqui até a eleição as manifestações de motociclistas vão se suceder, em apoio ao presidente. E que alguma medida como a abertura de um processo de impeachment levará a uma reação.

“Não vejo possibilidade de impeachment nenhum, impeachment sobre o quê? A resposta foi dada no dia 1º”, diz ele, em referência aos atos pró-Bolsonaro no Dia do Trabalhador, em diversas capitais.