‘Não quero mitada, nem lacrada’, diz pré-candidato do Novo ao governo de SP

Faltando um ano para a definição das candidaturas ao governo de São Paulo, a direita é quem tem se mexido com mais intensidade. Pelo lado bolsonarista, já se apresentam o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) e o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.

Na direita não alinhada ao presidente, está em campanha aberta o deputado estadual Arthur do Val (Patriota). O último a colocar seu nome na corrida foi o deputado federal Vinicius Poit, do Novo.

Formalmente, ele é ainda pré-candidato, inclusive dentro de seu próprio partido. O Novo tem como procedimento escolher seus candidatos em um longo processo de seleção interno, semelhante ao usado por empresas para buscar executivos. Poit terá de passar por todos os estágios, provavelmente contra outros nomes que se apresentem.

Nem sempre é um trâmite tranquilo. Na eleição municipal do ano passado, o processo seletivo, que definiu a candidatura de Filipe Sabará em São Paulo, levou a um racha no partido. Nacionalmente, o Novo teve um desempenho decepcionante, elegendo apenas um prefeito, em Joinville (SC).

“O partido tem de ter humildade para aprender com o que não deu certo. Dessa vez vai ser melhor. Vejo para 2022 um partido mais convergente, que aprendeu com os seus erros”, afirma o deputado.

O fato de ser um deputado federal, líder da bancada, faz de Poit o franco favorito para disputar o Palácio dos Bandeirantes pelo Novo. Criado há menos de dez anos, o partido ainda vive os dilemas provocados por sua relativa juventude, e pelo fato de seus principais expoentes serem relativamente neófitos na política. O próprio Poit, com 35 anos, está no primeiro mandato.

O principal fator de tensão interna, obviamente, é a relação com o governo de Jair Bolsonaro. Parte da sigla, liderada pelo ex-candidato a presidente João Amoêdo, assume uma postura abertamente oposicionista, inclusive defendendo o impeachment de Bolsonaro. Já a bancada federal e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, são mais maleáveis.

Poit defende independência com relação a Bolsonaro, criticando pontos como a gestão da pandemia e os arroubos autoritários do presidente.

“A gestão da pandemia é catastrófica, e a gente precisa ser duro. Não temos problema em criticar e fazer oposição quando não concordarmos com ações do presidente. O uso das máscaras, por exemplo, ele já largou de novo. Tudo de que o Brasil não precisa é alguém que não dá exemplo”, afirma.

Isso não significa, no entanto, assumir uma atitude abertamente opositora, diz o deputado. “Não vamos nos opor às reformas administrativa e tributária, ou à capitalização da Eletrobras. Não vamos votar juntos com PT ou PSOL”, afirma.

Poit recentemente se uniu ao grupo Livres, uma organização suprapartidária que defende o chamado “liberalismo por inteiro”, na área econômica e de costumes.

As marcas da entidade, afirma Poit, são a moderação e a abertura ao diálogo, o que ele pretende que seja a tônica de sua futura candidatura ao governo.

“Não quero mitada, nem lacrada”, diz ele, usando dois termos normalmente associados, respectivamente, à direita e à esquerda.

O caso do combate à pandemia, para Poit, é emblemático. “Enquanto ficamos na polarização e no extremismo, esquecemos do problema do cidadão. De um lado, o governo federal não faz esforço para ajudar o estado de São Paulo, do outro o governador [João Doria] vai ao Twitter reclamar do governo federal”, exemplifica.

A definição formal do candidato do Novo deve ocorrer ainda este ano, provavelmente no início do segundo semestre. Poit afirma já estar em contato com especialistas para preparar seu programa de governo, muitos deles ligados ao Livres.

E não descarta uma coligação com outro partido que apoie suas ideias, embora o Novo tradicionalmente prefira chapas puro-sangue.

Para presidente, Poit inclina-se por uma nova candidatura de Amoêdo, a quem vê como o nome mais bem posicionado do partido. Mas o mais importante, diz ele, é a criação de uma opção de centro viável entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Não dá para ter Bolsonaro e Lula no segundo turno. Isso é de novo cair na polarização”, afirma.

Ao mesmo tempo, admite o deputado, dificilmente será possível surgir uma “terceira via” única já no primeiro turno. “Não acredito que a gente vá reunir todos os presidenciáveis numa sala e sair a fumacinha branca”, diz.