Instituto quer converter jovens ao liberalismo a partir dos 14 anos

Em que momento é possível identificar jovens com inclinações liberais e atraí-los para a causa? Cada vez mais cedo, parece ser a resposta dos entusiastas dessa escola de pensamento.

Um dos principais centros formadores de lideranças liberais no país, o IFL (Instituto de Formação de Líderes), desdobrou-se em uma versão “jovem”, com filiais em Belo Horizonte e, mais recentemente, São Paulo.  Se antes o público-alvo começava aos 20 anos, agora o foco passou a ser em adolescentes de até 14 anos de idade.

“Queremos pegar pessoas que nem são liberais ainda, às vezes são até mais de centro, e converter para o liberalismo”, afirma Rodrigo Bogmann, 23, presidente do IFL Jovem paulista, criado no segundo semestre do ano passado.

A faixa etária da entidade vai dos 14 aos 23 anos, enquanto o IFL tradicional, que segue existindo normalmente, ocupa-se de um público que vai até os 35 anos.

Ou seja, o objetivo é dar ao jovem liberal uma espécie de ciclo de formação completo, que vai da adolescência até as portas da meia idade. É uma faixa etária em que a esquerda tem muito apelo, e na qual a entrada de liberais e conservadores sempre foi muito mais difícil.

“A ideia é ter um foco em desenvolver pessoas liberais antes do que acontece atualmente, para que o jovem chegue pronto para a vida e o mercado de uma forma diversa da que é oferecida pela esquerda”, diz Bogmann.

O programa do IFL Jovem envolve um processo seletivo e uma espécie de curso de formação, que envolve palestras, workshops, debates e simulações de operações no mercado financeiro.

A primeira turma, formada no ano passado, reuniu cerca de 40 jovens, que passaram por um programa inicial, de seis meses (online, em razão da pandemia). Metade progrediu para uma segunda fase, com novas aulas e projetos.

O IFL e seu filhote “jovem” sempre tiveram como filosofia a formação prática voltada ao mercado de trabalho, e por isso há uma preocupação em ensinar técnicas e passar conhecimentos que possam ser úteis profissionalmente.

Exemplos são aulas sobre gestão, liderança e persuasão. Mas também há uma parte teórica, em que grandes ícones do liberalismo são estudados, como Ludwig von Mises, Friedrich Hayek, Ayn Rand e Frederic Bastiat.

Alguns textos que representam a antítese do liberalismo, como o Manifesto Comunista, de Karl Marx, também são parte da ementa do curso. “A gente acha importante ver o contraponto”, afirma Bogmann.

Neste ano, o IFL Jovem pretende aumentar sua turma de 40 para 60 alunos. É apenas o início de um plano de expansão ambicioso do instituto, que envolve o recrutamento de jovens liberais em escolas.

“A gente está crescendo muito rápido. Vamos começar a entrar nas escolas com projetos e começar a captar mais o público de 14, 15 e 16 anos”, diz o presidente do instituto.

Por causa da Covid-19, visitas presenciais a salas de aula ainda não estão nos planos, e esse trabalho de base está sendo feito com eventos virtuais.

O foco, nesse momento, é em escolas particulares, mas o objetivo é atrair interessados de outras faixas socioeconômicas e ampliar a diversidade –um ponto em que o movimento liberal é sempre criticado. Há cinco bolsas oferecidas para jovens que não têm condições de pagar a mensalidade de R$ 90 do programa de formação.

Formado em publicidade e marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e atualmente trainee numa grande rede varejista, Bogmann menciona seu próprio exemplo pessoal para mostrar a importância de investir na formação de liberais desde cedo.

“Eu era um cara de centro-direita e agora sou um liberal. Temos aqui pessoas que eram de centro-esquerda”, diz. Mais complicado, afirma ele, é converter aqueles que desde cedo manifestam ideias de esquerda ou simpatia por partidos como PT, PSOL ou PC do B (que é forte no movimento estudantil).

O presidente do IFL Jovem de São Paulo, Rodrigo Bogmann (Divulgação)

Mas engana-se, afirma Bogmann, quem pensa que a concorrência por atrair a atenção de jovens vem apenas de redutos de esquerda, como centros acadêmicos ou DCEs (diretórios centrais de estudantes) de universidades.

“Os grandes concorrentes são as entidades de faculdades, como empresas-júnior e outras iniciativas parecidas, que competem pelo tempo dos jovens”, diz.

Desde que ideias liberais ganharam o mainstream, na década passada, diversos centros dedicados a esse ideologia têm surgido pelo Brasil. A chegada ao poder de Jair Bolsonaro representou um divisor de águas para o movimento, já que a equipe econômica do ministro Paulo Guedes (Economia) tem pedigree da Escola de Chicago, um dos centros difusores dessas pautas.

O tímido avanço da agenda de menos Estado na economia e os arroubos autoritários do presidente, no entanto, acabaram afastando grande parte dos liberais do governo, a ponto de muitos hoje se colocarem em franca oposição a Bolsonaro.

Mas a perspectiva de longo prazo, dizem os liberais, é de crescimento, embora ainda vá demorar para que tenham uma dimensão comparável à da esquerda.

O diferencial dos liberais, diz Márcio Ramos, presidente do IFL-SP “original”, é o foco na formação prática de novos líderes.

“Não adianta ler muito e não saber colocar em prática. O cara sai do curso um acadêmico e não sabe liderar nada. Sou um pessimista no curto prazo, mas um otimista no médio e no longo prazos”, afirma Ramos.