Criaram um fantasma em cima do centrão, como se fosse terrível, diz deputado bolsonarista

Um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo, o deputado estadual Frederico D’Avila (PSL) diz que o governo federal precisar dar respostas mais rápidas às acusações de que negligenciou a pandemia.

“As respostas do governo têm de ser dadas rapidamente. A impopularidade ocorre quando elas demoram ou quando a população não percebe que chegaram”, afirma ele.

Um dos mais antigos apoiadores do presidente, ele pretende se candidatar a senador ou deputado federal em 2022, apoiando para o governo paulista o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).

Ligado ao setor rural e ex-aliado do tucano Geraldo Alckmin (mas com quem mantém boa relação), ele entrou no barco bolsonarista no início de 2018, quando a vitória do presidente ainda era vista como algo bastante improvável. Isso dá a D’Avila credibilidade no entorno do presidente, com quem ele costuma conversar ao menos uma vez por mês.

Opositor ferrenho da esquerda e do governador João Doria (PSDB), o deputado cita uma das medidas tomadas pelo governo para tentar preservar empregos, a redução de jornada com diminuição salarial.

Inicialmente implementada durante um período de quatro meses no ano passado, deve ter uma segunda rodada em breve, já que a Covid-19 não dá trégua.

“A medida que estabeleceu a redução da jornada de trabalho é um exemplo. Tem coisas que se não chega rápido na ponta criam um desânimo. Tem que ter mais eficiência na resposta”, afirmou.

Apesar disso, o deputado se diz otimista com a manutenção dos índices de aprovação de Bolsonaro, mesmo com o início iminente da CPI da Covid no Senado.

“A popularidade não cai mais do que está. Tende a subir. Teve muita retração econômica por medo das consequências da pandemia. Na hora que sentir que a vacinação surtiu efeito, aí não tem Lula, não tem ninguém”, diz.

Outro aspecto positivo, segundo ele, é a melhoria da articulação política, e aí D’Avila não tem receio de fazer um elogio ao antes famigerado centrão.

“Não vejo o centrão como problema, porque tem vários integrantes que sempre trabalharam pelo interesse público e a favor do Brasil. Criaram um fantasma em cima do centrão, uma nuvem, como se fosse uma coisa terrível”, afirma ele.

Esse era o discurso de campanha de Bolsonaro, como é fácil resgatar com uma rápida busca na internet. Ficou marcada especialmente a musiquinha cantada pelo general Augusto Heleno, atual chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), em um evento, que dizia: “se gritar pega o centrão, não fica um meu irmão”.

Segundo o parlamentar, “tem muita gente boa no centrão”.  “No tempo do presidente FHC [1995-2002] o fiel da balança era o centrão. A diferença é que o governo já tinha 200 deputados de largada na base, com PFL e PSDB, mas a realidade mudou”.

Além disso, argumenta, não pertencer ao centrão não significa atestado de idoneidade. “Vai dizer que no PSDB, no PT, que não são centrão, só tem santo?”

Outro avanço na articulação política, diz D’Avila, ocorreu após essa função ter sido destinada por Bolsonaro a quem é do ramo, com a transição do general Luiz Eduardo Ramos para a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo.

“Apesar de o general Ramos ser muito afável na conversa, muito agradável, tem sempre aquela história: você pega os governos militares, o único articulador militar era o general Golbery [do Couto e Silva], e isso porque tinha formação em política na Escola Superior de Guerra. Não estava ali porque era militar, estava porque tinha habilidades políticas”, afirma.

O governo percebeu, diz o deputado, que “político quer conversar com político, assim como militar não gosta de civil no Ministério da Defesa”.

“A Flávia Arruda é política. O ambiente em que ela vive é politico. Se ela foi apadrinhada pelo [ex-deputado] Valdemar da Costa Neto, que é um habilidoso articulador, isso diz alguma coisa”, afirma ele. Valdemar, um dos acusados no mensalão, é visto como fiador da nomeação de Arruda, que é do seu partido.

Com essa profissionalização da política, acredita o parlamentar, será possível enfrentar a CPI com uma certa tranquilidade, até porque, diz ele, a responsabilidade pela doença é do próprio caráter imprevisível da doença, e não de Bolsonaro.

“É uma coisa totalmente nova essa doença. Não tem padrão, nem protocolo. Estava todo mudo tateando no escuro, cada um da sua maneira. O presidente não fez nada querendo errar. Algumas estratégias estavam corretas, outras não estavam”, afirma.