Direita faz trégua e promove até panelaço unificado contra decisão do STF pró-Lula

O retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao cenário político colocou do mesmo lado, ainda que momentaneamente, os dois lados da direita.

A reação ao choque com a decisão do ministro Edson Fachin teve o condão de deixar em segundo plano dois anos de ressentimentos e acusações entre bolsonaristas e antibolsonaristas.

Foi possível ver, por exemplo, o influenciador Leandro Ruschel, em geral alinhado ao presidente, concordando com a bolsonarista dissidente Janaina Paschoal.

“Ora, só depois de quatro anos foi possível notar a alegada incompetência? Independentemente de questões políticas, se essa decisão for mantida pelo pleno [do STF], será difícil crer na Justiça”, escreveu Janaina, apoiada em seu comentário por Ruschel.

Até no uso das exclamações os gritos das duas direitas foram ouvidos em uníssono na tarde desta segunda-feira (8).

“Revoltante!! Fachin anula condenações de Lula e torna o ex-presidiário elegível para 2022”, escreveu o deputado federal bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS).

“O país tem que parar!!!”, bradou o deputado estadual Artur do Val (Patriota-SP), ligado ao ex-bolsonarista MBL (Movimento Brasil Livre).

Ele conclamou um panelaço contra a decisão de Fachin às 20h30. Apoiadores do presidente fizeram o mesmo.

Fundador do Partido Novo e hoje um opositor incisivo do presidente Bolsonaro, João Amoêdo, chamou de “absurda” a decisão do ministro. “A impunidade vai avançando”, escreveu.

Na mesma linha, Bernardo Kuster, editor do jornal olavista Brasil Sem Medo, afirmou: “Próximo ato de ofício do STF: empossar Lula presidente eterno do Brasil”.

A coincidência de pontos de vista não é de se estranhar. Um dos motores da candidatura presidencial de Bolsonaro em 2018 foi o antipetismo. O desgaste de Lula e de seu partido foi alcançado em grande parte em razão da Operação Lava Jato, que elegeu o ex-presidente como alvo preferencial.

Com o enfraquecimento político do principal representante da esquerda, a direita inevitavelmente olhou para dentro, e começou a disputar espaço, num processo autofágico que levou à abertura de uma fenda separada pelo presidente da República.

A volta da ameaça petista deve gerar uma certa reaglutinação, embora não haja cola que refaça a unidade que se quebrou desde 2019.

Nas primeiras reações da direita à ressurreição de Lula, o que se pôde perceber foram diferenças de tom. Bolsonaristas se comportaram de forma mais exaltada, flertando até com rupturas institucionais, como no caso do ex-deputado federal Roberto Jefferson (RJ), presidente nacional do PTB.

Em um tuíte, ele fez menção a uma ação das Forças Armadas após a decisão do ministro. “O poder não é a toga, é o fuzil. Já é hora de ele afirmar seu poder moderador e garantidor da democracia, da lei e da ordem”, declarou.

Outro a pedir uma ação firme contra o STF foi o comentarista bolsonarista Rodrigo Constantino. “Enquanto tivermos respeito por gente como esses ministros do Supremo, tentando debater juridicamente suas decisões políticas seremos parte do problema, não da solução”, afirmou.

Em grupos de WhatsApp da direita, a reação mesclou indignação com conformismo.

Um card que circulou entre apoiadores do presidente dizia: “Falta pouco para o STF concluir que fomos nós que roubamos o Lula”.

“Já está tudo arquitetado, as urnas eletrônicas já têm o ganhador. Agora espero que todos entendam que somente uma intervenção militar salva o povo brasileiro. Chegou o momento”, afirmou um defensor de Bolsonaro.

A primeira reação à decisão do STF não significa que a direita vai caminhar unificada em defesa da reeleição de Bolsonaro em 2022 –certamente não no primeiro turno.

A grande questão é o quanto ela vai se unir no segundo turno caso do outro lado esteja a figura de Lula e a perspectiva real da volta da esquerda ao poder no Brasil.

O exemplo da Argentina, em que o kirchnerismo retornou após o fracasso de um presidente de direita, assusta a direita brasileira. Como mostrou a reação emotiva à decisão de Fachin, uma parte deve voltar para o ninho do capitão.