Vereador paulistano Fernando Holiday anuncia saída do MBL

Uma das lideranças mais conhecidas do MBL, o vereador paulistano Fernando Holiday (Patriota) está deixando o movimento.

 

Embora Holiday e o grupo tenham se estranhado nos bastidores nos últimos dias por questões como a presidência da Câmara dos Deputados e o tom na defesa do impeachment de Jair Bolsonaro, a separação é definida pelas duas partes como “amistosa”.

Oficialmente, as razões apontadas são a falta de prioridade dada pelo MBL a duas pautas que o vereador considera fundamentais: a oposição ao aborto e a defesa de causas LGBT –Holiday é gay.

“Estou saindo por razões pessoais, tenho projetos que quero desenvolver que nesse momento que não são prioridade para o momento, de proteção à vida e causas LGBT”, disse Holiday ao blog.

Segundo ele, é uma espécie de divórcio consensual. “A gente não vai ter intriga, nem pública nem nos bastidores”, afirma.

Em nota divulgada nesta quinta-feira (28), o MBL diz que houve uma “bifurcação” entre o movimento e o vereador.

“Fernando Holiday escolheu seguir um caminho próprio. O movimento sempre teve atuação em um amplo número de pautas, mas com energia focada em alguns eixos. Para o nosso projeto futuro estes eixos estão especialmente ligados à política nacional e ao estado de São Paulo”, afirma a nota do movimento.

Segundo o MBL, Holiday é “sensível às pautas LGBT e à luta antiabortista e quer se dedicar com um afinco mais especial a esses dois fronts”.

“Nos despedimos dele confiantes do projeto MBL para 2021, mas igualmente confiantes na carreira que Fernando irá trilhar. Mesmo fora do movimento, esperamos sempre contar com sua firme presença na Câmara e onde estiver, ele que é, acima de tudo, um amigo”, diz a nota.

A saída já havia sido mencionada pelo deputado estadual Arthur do Val (Patriota), também ligado ao grupo, em entrevista à Folha nesta quinta (28).

As duas partes não pretendem tratar nesse momento de outro motivo para o distanciamento entre Holiday e o movimento que o projetou: a sucessão para a presidência da Câmara.

Como mostrou o blog na semana passada, Holiday ficou incomodado com a troca de farpas entre Renan Santos, coordenador nacional do movimento, e o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS), candidato à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Casa.

Santos, defensor do impeachment de Jair Bolsonaro, criticou Van Hattem em razão de sua posição mais cautelosa quanto ao afastamento do presidente. Holiday, que apoia o deputado gaúcho, fez questão de demonstrar sua insatisfação pelo Twitter.

Esse caso, que levou a uma crise interna, foi superado, mas não evitou a saída do vereador do movimento, oficialmente em razão de visões diferentes sobre as prioridades do MBL.

Segundo Santos, a questão relacionada ao comando da Câmara não tem relação com o divórcio. “A saída do Holiday do movimento não tem nenhuma relação com a disputa pela presidência da Câmara ou o impeachment”, afirma ele. “Essa separação já estava sendo discutida entre nós desde o ano passado”, diz o coordenador do MBL

Holiday entrou no grupo em janeiro de 2015, dois meses após a fundação oficial do MBL, e rapidamente se tornou um dos porta-vozes do movimento e membro de sua coordenação nacional.

Com retórica afiada contra a esquerda e bom desempenho nas redes sociais e em vídeos no YouTube, chamou a atenção por defender pautas de direita, em especial a oposição às cotas raciais.

Elegeu-se vereador em 2016 e ganhou novo mandato no ano passado. Em 2022, pretende sair candidato a deputado federal, no que poderá dividir votos com Kim Kataguiri (DEM-SP), atual parlamentar, também ligada ao MBL. Mas essa questão, diz Holiday, não é central para o rompimento.

Nos últimos dias, houve contatos entre o vereador e membros do grupo que ele se segue considerando amigos, mas não foi possível evitar o distanciamento.

Para Holiday, será melhor para as duas partes. “Minha saída vai ter um impacto inicial para o movimento, mas por outro lado vai ser uma oportunidade de o MBL testar novas vozes, novas lideranças. Acho que vai ser mais arriscado para mim, já que me tornei conhecido por causa do grupo”, afirma.

Alguns aliados e assessores de seu gabinete devem acompanhá-lo na saída.

Holiday diz que não pretende se filiar a nenhum outro movimento e pretende se dedicar a seu mandato, por enquanto sem planos de deixar o Patriota, partido que foi “colonizado” pelo MBL.