Tema de Fórum mostra preocupação de liberais com poder das mídias sociais

Criado há 33 anos, quando ser liberal no Brasil era quase uma aventura, o Fórum da Liberdade acaba de anunciar que o tema da edição de 2021 será o impacto das mídias sociais na liberdade de expressão.

“Mídias sociais podem bloquear usuários? Esse bloqueio pode ser seletivo, ou precisa ser amplo? Quem é o dono dos dados coletados pelas mídias sociais? Quais as oportunidades e ameaças para pessoas e empresas?”, perguntam os organizadores do Fórum, realizado todo ano desde 1988 pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE) em Porto Alegre (RS).

A edição deste ano, marcada para 12 e 13 de abril, será em formato híbrido, misturando palestras presenciais e transmissões online.

A escolha do tema é sintomática, ainda mais por ter sido encampada por um dos eventos mais influentes do restrito, mas crescente, movimento liberal brasileiro.

O Fórum, afinal, foi ao longo dos últimos anos palco de debates e palestras que disseminaram o credo liberal mesmo em momentos em que doutrinas de intervenção do Estado estavam em alta, em governos de PT e, em menor escala, PSDB. Em edições passadas, era presença constante um então desconhecido economista de nome Paulo Guedes, por exemplo.

“Rapidamente, as mídias sociais assumiram um papel essencial no nosso dia a dia profissional e pessoal, potencializado com a pandemia, e nossa proposta é refletir o quanto isso pode impactar a vida em sociedade”, diz a presidente do IEE, Júlia Evangelista Tavares.

Segundo ela, “precisamos conviver harmonicamente com a hiperconectividade e ainda assim preservar nossas liberdades individuais”.

Para quem defende ampla liberdade de expressão, os últimos tempos foram sombrios, o que ajuda a entender a opção do Fórum por esse tema.

A pandemia gerou um debate sobre os limites aceitáveis para que uma pessoa vá ao Twitter minimizar a gravidade da Covid-19, questionando a eficácia das vacinas ou se opondo ao uso de máscaras, por exemplo. Ou ainda defendendo o uso massivo de medicamentos sem eficácia comprovada, como a hidroxicloroquina.

Pior ainda se esses usuários forem pessoas com poder público e influência, como parlamentares ou até um presidente da República. Tem sido comum o banimento de mensagens, ou a inclusão de avisos por parte das redes sociais de que o conteúdo não é confiável.

Este debate, que já era delicado, explodiu de vez após o episódio da invasão do Congresso americano por apoiadores do presidente Donald Trump, em 6 de janeiro.

O banimento definitivo da conta de Trump no Twitter, acusado de incitar a violência, provocou reações mesmo entre aqueles que não nutrem nenhuma simpatia pelo homem mais poderoso do mundo, prestes a deixar o cargo.

“O direito digital limita ou liberta?”, pergunta o IEE. “Por um lado as mídias permitiram maior conexão, produtividade, competição em negócios estabelecidos, novas empresas e ferramentas, alcance e novas formas de expressão para mensagens antes com baixa visibilidade. Por outro, esse mesmo ambiente digital pode provocar bolhas de informação e desinformação, ameaça à privacidade, ampliação do embate em guerras culturais e riscos de tendências à concentração de mercado nas áreas tecnológicas”, diz o instituto.

Surgidas há menos de 20 anos, as redes sociais há muito deixaram de ser encaradas apenas pelo viés positivo da contribuição que deram para a transparência e a ampliação das possibilidades de trocas de ideias. Tornaram-se também algo mais sombrio, espaços para difusão de ódio e mentiras.

Mas quem decide o que pode ou não ser publicado? Castrar as redes sociais, numa tentativa de coibir manifestações negativas, compensa o custo de colocar uma camisa de força na liberdade de pensamento? É este o dilema existencial que aflige hoje os liberais, no Brasil e no mundo todo.