Frustrados, conservadores dizem que direita se desconectou do cidadão comum

O que deu errado para a direita conservadora, especialmente aquela mais alinhada ao presidente Jair Bolsonaro, na eleição municipal?

Após colher resultados decepcionantes nas urnas, alguns de seus representantes passaram a adotar um discurso de autocrítica que é curiosamente muito semelhante ao que a esquerda fez dois anos atrás, após a onda Bolsonaro.

Em linhas gerais, o diagnóstico é que faltou captar o sentimento do homem comum, olhar mais para o cidadão médio e dar menos valor para as grandes disputas ideológicas que só interessam à elite política.

Essa sensação de estupefação foi bem resumida pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), hoje uma das vozes mais populares do bolsonarismo.

Houve, como se percebe pelo tuíte da deputada, o artifício de inspiração trumpista de agarrar-se numa suposta fraude da eleição, rumor alimentado pelas falhas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a apuração.

Mas isso deve ser visto mais como uma tentativa de oferecer algum conforto psicológico para uma eleição a ser esquecida para os conservadores.

A própria Zambelli está machucada: seu irmão Bruno não se elegeu vereador em São Paulo, enquanto o pai foi derrotado como candidato a vice-prefeito de Mairiporã, na Grande São Paulo. A cunhada perdeu eleição para vereadora na mesma cidade.

Um dos candidatos que ela apoiou em São Caetano, Giovani Falcone (PRTB), teve 214 votos para vereador e ficou longe de ser eleito na cidade da Grande São Paulo.  “Não é fácil brigar contra a tirania do status quo da máquina pública”, afirmou Falcone.

Colega de Zambelli na Câmara, o deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), ofereceu o que parece ser a resposta mais exata para o que ocorreu.

Na torrente de comentários que se seguiu a esse tuíte, conservadores frustrados cobravam novas estratégias para conter o avanço da esquerda. Entre elas, aumentar a presença nas universidades, vistas como antros de pensamento marxista, e aumentar o tom de confronto. “Se não bater de frente, vira mais do mesmo”, disse um bolsonariata.

O advogado Emerson Grigollette, que costuma mobilizar diversos conservadores no meio jurídico, atribuiu o fiasco à falta de unidade no campo da direita.

Concordando com o desabafo de Grigollette, uma ativista que se apresenta apenas como Claudette, pediu menos blá-blá-blá nas redes sociais.

Já o influenciador conservador Leandro Ruschel viu uma bem-sucedida campanha orquestrada contra a direita. “O que ocorre no Brasil é muito simples, de um jeito ou outro, conservadores são boicotados, não podem fazer parte do sistema”, afirmou.

Manifestações assim se multiplicaram nas redes bolsonaristas nas primeiras horas após o fim da tumultuada votação. Há um cheiro de queimado no ar, de que talvez a maioria da direita construída em 2018 possa estar se esfacelando.

O grande receio, claro, é quanto à reeleição de Bolsonaro em 2022. A derrota de Donald Trump nos EUA só contribui para isso.

Nos próximos dois anos, a ordem é reconectar-se com o cidadão médio. Bolsonaro, evidentemente, é o grande comandante desse processo. Mas agora há dúvidas sobre ser possível reerguer o ânimo de uma militância machucada.