Conheça o ranking que candidatos de direita adoram citar na campanha
Nas últimas semanas, candidatos a prefeito de direita têm mostrado em suas campanhas uma espécie de “selo de qualidade”. Exibem com orgulho a alta pontuação obtida no Ranking dos Políticos
Em São Paulo, o ranking foi mencionado por Joice Hasselmann, do PSL. No Rio, o mesmo fez seu colega de partido Luiz Lima. Em Recife, foi usado na disputa à prefeitura por Mendonça Filho (DEM) contra dois adversários de esquerda, João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), que têm baixa pontuação.
Joice, Lima, Campos e Arraes têm em comum o fato de serem deputados federais e, portanto, fazem parte do objeto de análise do Ranking.
Surgido em 2013, ele é produzido por uma ONG que dá uma nota de 0 a 10 para deputados federais e senadores com base em uma série de critérios, incluindo posicionamentos políticos, votações, assiduidade, uso de recursos públicos e acusações de corrupção.
Como estes critérios em geral são alinhados a pautas econômicas liberais, quem é de direita costuma se dar bem, e vice-versa.
Dos 10 líderes do ranking, 8 são deputados federais do Novo, ou seja, a bancada toda. Além deles, figura no top 10 Kim Kataguiri, deputado federal do DEM paulista e líder do MBL (Movimento Brasil Livre). O outro é o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR).
O primeiro petista aparece apenas na 472ª posição, o deputado José Ricardo (AM), com nota 3,34. O primeiro psolista é Talíria Petrone (RJ), no 479º lugar e nota 3,20.
Pontua alto quem defende, por exemplo pautas como as reformas econômicas e o marco legal do saneamento básico. Ou quem não usa recursos públicos como o fundo eleitoral e verbas de gabinete –caso do Novo.
“O fundão eleitoral a gente avalia contra. É um desperdício, num país com tantas carências. Esse recurso tem outras prioridades”, diz Renato Dias, diretor-executivo do Ranking dos Políticos.
Da mesma forma, a ONG é forte defensora das privatizações. “Privatizar é um ótimo combate à corrupção. A gente teve um petrolão, mas nunca houve um Valezão. Isso acontece muito porque a Vale foi privatizada”, afirma Dias, em referência à gigante do setor de mineração vendida em 1997 pelo governo. Isso não impediu, claro, a Vale de ter sido responsável pelas tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.
A iniciativa foi criada em 2013 por dois sócios da empresa Multilaser, do setor de eletroeletrônicos: Renato Feder, atualmente secretário da Educação do Paraná, e Alexandre Ostrowiecki. Feder chegou a ser cotado para ministro da Educação de Jair Bolsonaro, mas foi barrado pela ala ideológica que apoia o presidente por não ser conservador o suficiente.
Até hoje, ambos são os principais financiadores do projeto, que vive também de doações. A equipe é enxuta, com quatro pessoas dedicadas exclusivamente ao Ranking, mais voluntários.
Há também um conselho, que define quais pautas a ONG vai abraçar. Em outras palavras, quais matérias levarão seus defensores no Congresso a pontuar alto. “Algumas pautas são mais óbvias, outras são mais polêmicas”, diz Dias. São 27 pessoas, a maioria de orientação liberal.
De acordo com o diretor-executivo, a ideia do Ranking é dar uma ferramenta para que os cidadãos possam acompanhar mais de perto o trabalho dos congressistas.
“A gente vê as pessoas entendendo mais como a coisa funciona, o que é o Senado, o que é a Câmara. Há um foco grande no Congresso Nacional. Hoje as pessoas sabem quem são os deputados, conhecem o Rodrigo Maia [presidente da Câmara]”, afirma.
Dias afirma que o ranking não privilegia parlamentares específicos, mas sim propostas e ideias. “A gente não vê o partido, vê as propostas. O ranking não é neutro, mas é isento. Nós tratamos todo mundo igual, de forma transparente, explicando como tudo é feito”, diz.
Para tentar ser o mais abrangente possível com os eleitores, afirma o diretor-executivo, é possível customizar as notas, alterando a maneira como posicionamentos são avaliados.
Uma pessoa de esquerda, por exemplo, pode dar notas mais altas para congressistas que se oponham a reformas liberais, gerando rankings personalizados.
O Ranking tem cerca de 2 milhões de seguidores no Facebook, sua principal plataforma. No Twitter, são 41 mil. Por mês, juntando site e redes, são de 5 a 15 milhões de pessoas que acessam seu conteúdo, segundo Dias.
Muitos deputados, diz ele, chegam a consultar a ONG sobre atitudes que devem adotar antes de votações. “Temos uma ‘bancada’ de 20 a 30 congressistas que levam bastante a sério como é seu posicionamento no ranking”, diz ele.
Como resultado, Dias afirma que a ONG consegue influenciar em algumas votações importantes no Congresso.
“Claro que o ranking não vai convencer a Gleisi Hoffmann [presidente do PT e deputada pelo Paraná] a votar na reforma trabalhista. Mas um pessoal menos ideológico a gente consegue impactar. Não vai ser a única coisa que esse cara vai levar em conta, mas vai ter peso”, afirma.