Com defesa de camelôs e moto-táxis, grupo liberal busca entrada na periferia
Frequentemente acusados de serem elitistas e sem conexão com a vida real, os liberais querem aproveitar a eleição municipal para se apresentarem ao povão.
Nunca houve tantos candidatos que defendem essa ideologia disputando cargos em cidades importantes. Só para prefeito de São Paulo, são 4: Arthur do Val Mamãe Falei (Patriota), Joice Hasselmann (PSL), Andrea Matarazzo (PSD) e Filipe Sabará (Novo) –embora este último esteja à beira de ter a candidatura impedida.
Um dos grupos mais atuantes no país, o Livres está apoiando 75 candidatos a vereador e 4 a prefeito pelo país. Ainda é uma cifra modesta no universo de candidaturas, mas representa um avanço considerável para a difusão das ideias liberais, diz o presidente da entidade, Paulo Gontijo. “Eleição municipal para nós é liberalismo na veia”, afirma.
Uma campanha municipal, diz, é a oportunidade de dar cara e concretude a discussões ideológicas. E também corrigir o que ele vê como uma deficiência histórica do movimento liberal.
“A gente está tentando fazer uma discussão de forma muito aplicada, muito concreta. E queremos recuperar uma falha histórica dos movimentos liberais, que é só falar de temas macro, ou de economia”, declara.
O Livres é uma entidade suprapartidária, com associados que defendem uma plataforma de liberdade individual e econômica. Seus integrantes pertencem a partidos como Novo, Cidadania, PSDB e PSD.
Para a campanha deste ano, o grupo lançou um caderno com temas a serem defendidos por candidatos liberais. Na área de transportes, uma das propostas é a abertura para “iniciativas independentes”, como moto-táxis, vans, peruas e motoristas de aplicativos.
O grupo também propõe uma reforma administrativa, com a vedação de progressão automática de servidores por tempo de serviço e comissões de “revogaço”, em que normas obsoletas seriam canceladas. Diversos desses revogaços já foram implantados em cidades pelo Brasil, inclusive São Paulo.
Quanto a medidas econômicas, o Livres defende a privatização das empresas municipais e parcerias com a iniciativa privada. Os tribunais de contas municipais, que existem em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, seriam extintos.
Uma medida que chama a atenção é a regularização do comércio ambulante, “substituindo a repressão do trabalhador informal pela inclusão social com o reconhecimento de seus direitos de propriedade”.
Camelôs, como se sabe, são detestados por lojistas e por parte da população que usa calçadas, mas o Livres optou pelo princípio de respeito à iniciativa individual do trabalhador.
Num aceno às preocupações ambientais, que hoje estão definitivamente incorporadas ao ideário liberal, o caderno propõe a criação de um “IPTU Verde”, em que haveria créditos tributários para ações de preservação ambiental.
“Eleição municipal é a mais próxima das pessoas. Afeta muito diretamente as coisas que a população vive todos os dias: tamanho da creche, oferta de moradias. Se você não interfere usando as ideias liberais nesse tipo de pauta, você vai deixando isso passar”, afirma.
O Livres aposta em eleger de 15 a 20 vereadores pelo Brasil. Ainda será uma eleição, diz Gontijo, em que a maioria dos votos liberais virá das classes médias. Mas ele enxerga um avanço na receptividade ao ideário na periferia.
“Candidatos liberais têm ido para a periferia muito mais do que jamais foram, mas ainda é muito pouco. O grosso do voto ainda é da classe média e média alta, onde tem voto de opinião”, afirma.
Mas basta analisar o Instagram de candidatos, diz ele, para ver que sempre há visitas de candidatos ligados ao Livres a bairros distantes.
Nas últimas eleições, afirma Gontijo, o que impulsionou o ainda pequeno movimento liberal foi o cansaço com a esquerda. Agora, o momento é tentar mudar um pouco essa chave para incluir novos temas.
“Em 2016, os principais expoentes do liberalismo se elegeram por causa do antipetismo, ou por causa da questão econômica. Em 2020 a gente pode eleger gente que fala de urbanismo, de creche”, diz.