No interior de SP, campanha de ‘Bolsonaro caipira’ é seguida com lupa pela direita

Pouco após a meia noite de domingo, 27 de setembro, o prefeito de Mirandópolis (SP), Everton Sodario (PSL), tirou sua máscara com estampa da bandeira do Brasil e iniciou uma live anunciando o início da campanha à reeleição.

Junto dele, perfilados na praça central da cidade, sob a iluminação de postes e tendo a igreja matriz ao fundo, estavam 11 dos 13 candidatos a vereador da sua chapa, além do vice, Mirão (PSL).

“Estamos aqui respeitando o distanciamento, todo mundo com máscara”, ressaltou, nos primeiros minutos do início oficial da campanha. “A partir de agora teremos 45 dias em que apresentaremos nosso projeto para a população de Mirandópolis”.

Aos 27 anos, Sodario se apresenta como uma espécie de “Bolsonaro caipira”. Em setembro do ano passado, foi eleito para um mandato tampão na cidade de 30 mil habitantes na região de Araçatuba, após a então prefeita ter sido cassada devido a irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado.

Militante de direita e ex-assessor do deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), ele fez campanha com um forte discurso conservador e de apoio ao presidente.

Foi o primeiro político bolsonarista a ter sucesso nas urnas desde a onda conservadora de 2018, o que transformou Sodario numa espécie de ídolo da militância alinhada ao presidente.

Em 11 meses de governo e durante a atual campanha, o prefeito não moderou o tom. A exemplo de Bolsonaro, escolheu como um de seus alvos o governador João Doria (PSDB), a quem chama em suas redes sociais de “Joãozinho Tranca Rua”, em razão da quarentena determinada no estado.

Apesar da cena noturna na praça com todos de máscara, ele não esconde as críticas à preocupação excessiva com o coronavírus, que chama de vírus chinês.

Também defende o uso da hidroxicloroquina no tratamento e prevenção da doença, ignorando a falta de comprovação científica sobre sua eficácia.

“Quem é de direita tá tomando cloroquina pra todo mundo ver, quem é de esquerda tá tomando escondido e a vida tá voltando ao normal”, escreveu, em 19 de setembro.

Anunciou ainda que toma outra droga sem efeito comprovado, a ivermectina, a cada 15 dias, como prevenção contra o vírus.

Apesar dos protestos contra o isolamento social, Sodario foi obrigado a seguir o decreto de quarentena do governo estadual, não sem protestar no site da prefeitura. “Infelizmente este é o cenário atual e as questões estão alheias à intervenção da municipalidade”, escreveu, em junho.

Numa cidade que deu a Bolsonaro 79% dos votos no segundo turno há dois anos, o prefeito aposta mais uma vez em colar sua imagem à do presidente para conseguir um mandato completo. Procurado pelo blog, Sodario não deu entrevista.

Sodario durante manifestação de apoio a Bolsonaro na avenida Paulista (Reprodução Facebook)

São comuns suas críticas à esquerda e seu apoio incondicional ao presidente. No dia 1º de outubro, por exemplo, ele disse que Bolsonaro não tem culpa pelos incêndios florestais e defendeu a escolha de Kassio Nunes para ministro do STF, que frustrou grande parte da base conservadora.

Ao assumir no ano passado, o prefeito fez diversas promessas, que cumpriu parcialmente. As principais realizações são a revitalização da praça da matriz e o início da reforma do paço municipal da cidade, que abriga também a rodoviária, por R$ 1,3 milhão. A prefeitura estava semidestruída quando ele assumiu e opera até hoje de forma improvisada no ginásio municipal.

Sodario também disse que acabaria com um convênio da prefeitura com o governo estadual, pelo qual detentos de três penitenciárias que ficam no município trabalham em zeladoria e manutenção de praças, ruas e prédios públicos.

A ideia seria substituir os presos por “pais de família”, reduzindo o desemprego da cidade. O convênio não foi desfeito, mas na prática o trabalho dos presos parou, em razão da pandemia.

Uma promessa não cumprida foi a drástica redução no número de secretarias municipais. Elas continuam sendo 12. A anunciada fusão das pastas da Agricultura do Meio Ambiente, por exemplo, não foi feita.

Na Câmara, o prefeito tem hoje apoio automático de apenas 1 dos 9 vereadores, e por isso tem insistido muito na necessidade de eleger uma grande base parlamentar.

Seu principal aliado é o vereador Tiago Soares (PSL), que disputa novo mandato. Segundo ele, a atuação de Sodario nas redes sociais é uma estratégia política para conseguir fazer avançar projetos de interesse.

“A reforma do paço municipal é um exemplo. Na primeira votação, só eu fui a a favor. Aí a polêmica foi para a rede social e o povo pressionou. Fizeram nova votação e mais cinco votaram a favor”, afirma.

Segundo Soares, o povo apoia o prefeito justamente por causa de seu estilo. “Eu e ele somos do mesmo jeito. Se tiver polêmica, a gente fala mesmo”.

Sodario tem dois concorrentes no pleito. Um deles é o atual presidente da Câmara, Wellington Brito (PV).

“O atual prefeito imita tudo do Bolsonaro. O que o presidente faz ele também faz. Eu não sigo essa linha, nem falo o nome dele [Bolsonaro]”, diz Brito, que, apesar disso, afirma ter votado no atual presidente no segundo turno de 2018.

Ele nega que a Câmara atrapalhe o prefeito. “Não importa quem esteja à frente do Executivo, a gente sempre tenta ajudar. O prefeito não tem nada a reclamar, aprovamos mais de 30 projetos dele”, afirma.

Segundo Brito, o estilo brigão acaba prejudicando o município. “A população aqui não gosta de barraco. Essa briga com o governador não pegou bem aqui com os comerciantes. Queira ou não, nós temos de respeitar a autoridade”, afirma.

Embora Mirandópolis esteja longe de ser um dos principais polos urbanos do estado, a eleição ganhou significado estratégico para a direita bolsonarista.

O desempenho de Sodario será um importante termômetro para dizer se a onda conservadora de dois anos atrás também terá fôlego em âmbito municipal.