Plataforma orienta eleitor conservador a valorizar militares e respeitar tias do zap
A eleição municipal está sendo vista por boa parte da base conservadora como um momento de definição. Não seria apenas uma discussão sobre melhorar serviços públicos como saúde, educação e transporte.
O objetivo é consolidar o movimento iniciado em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro, preparar o caminho para um novo mandato presidencial em 2022 e para a eleição de um Congresso de perfil ainda mais direitista.
Esse tipo de atitude se manifesta em diversos grupos, sites e iniciativas. Uma das que têm ganho mais adesão é a plataforma digital Eleja Bem, que pretende ser uma referência para candidatos conservadores na eleição de novembro.
“Somos maioria, patriotas, conservadores. Somos apoiadores do presidente. #SomosTodosBolsonaro”, diz a plataforma, para não deixar dúvida de que lado está.
É uma espécie de portal repleto de dicas práticas para candidatos e eleitores de direita, desde a maneira de fazer campanha até formas de identificar um político genuinamente conservador.
Nos últimos dias, tem circulado entre grupos conservadores um formulário para ser preenchido por candidatos a prefeito e vereador, que formará uma lista de nomes chancelados pelo site.
E quais são os mandamentos que a Eleja Bem propaga para seu público? Aqui vai um breve decálogo:
1-) Evite candidato que “manda soltar criminosos e prender cidadãos de bem com a desculpa do vírus chinês”;
2-) “Diga sim a quem é conservador e patriota e que apoia o governo Bolsonaro”;
3-) Muito cuidado com quem se diz “ex-esquerda”. “Não dá pra confiar em quem diz que foi convertido à direita. Suspeite e, na dúvida, melhor descartar”;
4-) “Diga sim a quem não aceita fundo eleitoral”;
5-) Prefira os candidatos militares. “A carreira militar é pautada em valores, deveres, ética e defesa da pátria”;
6-) “É muito importante utilizar ferramentas disponíveis para impulsionar a campanha, seja Facebook, Instagram, WhatsApp ou qualquer outra gratuita”;
7-) Mas não negligencie a campanha de rua, que é extremamente importante e necessária. “Ela atinge pessoas que não estão conectadas nas redes ou não têm conhecimento dos candidatos”.
9-) Valorize as “tias do zap”. Organize encontros como um café da tarde ou chá com elas;
9-) Denuncie a urna eletrônica;
10-) Evite dividir a direita. “Pratique os valores cristãos de respeito, sinceridade, empatia e desprendimento. Nunca imponha sua vontade. Sempre sugira e, se houver um senso comum, siga em frente. Pense para o benefício de todos, para alcançar o objetivo final: eleger bem”.
A maior parte dos eleitores, diz a Eleja Bem, é trabalhadora, cristã, de boa índole e contra a corrupção. “A maioria do povo é pacífica e rejeita a mentira e a má conduta que a esquerda pratica e defende”, resume a plataforma.
Há uma visão consagrada entre profissionais de marketing político e analistas de que eleições municipais são muito pouco propensas a debates ideológicos e se prestam mais à discussão sobre o desempenho administrativo dos prefeitos e propostas para resolver problemas concretos.
A aposta de diversos grupos conservadores, no entanto, é mais uma vez colocar de cabeça para baixo o senso comum sobre a política, como ocorreu em 2018. E transformar o pleito municipal num plebiscito sobre o bolsonarismo.