Membro de projeto anti-imprensa é novo guru americano da direita brasileira

A passagem do ativista Ryan Hartwig pelo Brasil no início de setembro mostrou mais uma vez como a direita bolsonarista recorre ao que vem dos EUA para se manter energizada.

Em tempos recentes, o papel de referência ideológica já coube a Steve Bannon, ex-consultor político do presidente Donald Trump. Com Bannon escanteado e depois preso, outros ensaiaram ocupar seu espaço, como Matt Schlapp, presidente da União Conservadora Americana, que trouxe para o Brasil o principal evento da direita dos EUA no final do ano passado.

A hora agora parece ser de Hartwig, a julgar por seu frenético roteiro em São Paulo e Brasília, entre 2 e 10 de setembro, como revelou na semana passada o jornal “O Estado de S. Paulo”.

Ele é integrante do Projeto Veritas, que apregoa ter por objetivo fiscalizar a imprensa e retirar dela seu viés esquerdista. Na prática, adota táticas, algumas sorrateiras, para tentar enganar jornalistas e desacreditar seu trabalho. Uma delas é alimentar a imprensa com dicas e dossiês falsos, para tentar forçá-la ao erro.

O projeto também afirma ter diversas pessoas infiltradas em grandes organizações de mídia, que exporiam corrupção, censura e preconceito contra conservadores.

Hartwig montou sua agenda no Brasil com alguns dos mais influentes integrantes da tropa de choque digital do presidente Jair Bolsonaro. Um deles foi o youtuber Paulo Lisboa, dono do canal Vlog do Lisboa, que tem 578 mil inscritos.

Lisboa é um dos alvos do inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal para investigar os responsáveis por atos que atacavam a democracia.

Em seu canal, ele defende ferrenhamente Bolsonaro, espalha mentiras, distorce fatos e vez ou outra cita a necessidade de militares entrarem em campo para dar uma espécie de corretivo nas instituições. Se há alguém que pode reproduzir no Brasil as estratégias usadas pelo Veritas é ele.

Hartwig encontrou também o comando do canal Terça Livre, do autoexilado ativista Allan dos Santos. O americano encontrou-se com o fiel escudeiro de Santos, Italo Lorenzon, além de ter dado uma entrevista para o canal. O tema era como as redes sociais, Facebook à frente, distorcem o noticiário para prejudicar a direita.

Em Brasília, o americano reuniu-se com a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), uma das principais defensoras de Bolsonaro na Câmara e participou (sem máscara) das comemoração do 7 de Setembro.

Também se reuniu com Emerson Grigollette e Flavia Ferronato, dois advogados que estão à frente de uma mobilização de profissionais de Direito para denunciar em fóruns internacionais o que consideram serem arbitrariedades do Supremo Tribunal Federal.

A iniciativa se intitula “A Maior Ação do Mundo”. Grigollette organizou uma vaquinha online para bancar as despesas de Hartwig no Brasil.

O americano lançou sua própria campanha de arrecadação online, estipulando a meta de US$ 3.000 para custear passagem aérea e hospedagem. Conseguiu US$ 688, de 17 doadores.

Antes de chegar, foi saudado por Allan dos Santos, em tom de brincadeira, como um enviado da CIA ao Brasil. “Não, não sou da CIA. Apenas um cidadão americano preocupado, tentando manter a liberdade de expressão no Brasil”, respondeu, também rindo.

Ao ir embora, prometeu que retornaria ao país para depor na CPI das Fake News, do Congresso Nacional, supostamente para denunciar a imprensa e as redes sociais.

Não está claro se a missão de Hartwig é criar uma filial do Veritas no Brasil. Caso isso aconteça, não será a primeira vez que uma novidade da direita americana aporta por aqui.

Recentemente, isso ocorreu com o movimento QAnon (“quí-anon”), que busca fazer conexões bizarras da esquerda com o satanismo e a pedofilia. Base de apoio do presidente Donald Trump, já tem braços brasileiros, que sonham crescer para ajudar na reeleição de Bolsonaro.

Até a eleição de 2022, essas iniciativas tendem a crescer, sempre turbinadas pela máquina da direita americana, especialmente se Trump for reeleito em novembro.