Em reunião ao ar livre, ativistas planejam nova onda de direita na eleição
Enquanto famílias aproveitavam o domingo (30) de sol e abnegados enfrentavam o calor para dar uma corridinha no entorno do parque do Ibirapuera, um grupo de cerca de 100 pessoas se reunia ali perto, debaixo de árvores, para planejar o próximo passo da revolução conservadora no Brasil.
Eram ativistas e pré-candidatos a prefeito e vereador que seguem fielmente o presidente Jair Bolsonaro. Em pauta, como transformar a onda direitista de dois anos atrás em algo enraizado no nível mais elementar da política, os municípios.
“Eu estou há dois anos nessa luta. Começou de cima, no céu, agora é hora de descer, de alicerçar a base”, disse a ativista Josi Guimarães à plateia sentada em cadeiras de plástico numa área verde ao lado da Assembleia Legislativa de São Paulo, em frente ao parque fechado. A maioria não usava máscaras.
Ela é uma das fundadoras do Aliança Municipal Direita Conservadora, grupo surgido no final de 2018 (sem relação com o Aliança Pelo Brasil, partido que bolsonaristas tentam criar).
Batista, diz que teve a ideia do nome do movimento durante um culto em que o pastor abriu a Bíblia no trecho em que o profeta Abraão firma uma aliança com Deus. Também se define como “ex-intervencionista”.
“Eu fui intervencionista, até perceber que o caminho para derrotar o comunismo não é uma intervenção militar, mas o apoio ao presidente Bolsonaro”, discursou.
No local onde o encontro aconteceu, existe desde abril um acampamento que defende Bolsonaro e pede a saída do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Atualmente, há três áreas separadas, em razão de desavenças passadas entre os ativistas. Cerca de 20 pessoas se revezam dormindo em barracas.
Outro integrante do movimento, o engenheiro civil Giovani Falcone diz que intervenção militar, só se o presidente mandar.
“Não queremos artigo 142 [da Constituição], nem AI-5. Só se o Bolsonaro falar. Senão, a gente não apoia. Seguimos incondicionalmente o presidente”, afirmou Falcone, pré-candidato a vereador em São Caetano do Sul pelo PRTB.
Sua principal proposta é levar uma escola cívico-militar para o município do ABC. Ele diz que apresentou a ideia no seu Facebook e teve rapidamente 27 mil visualizações e 1.600 likes. “Se a gente não tiver uma atuação forte no município, não tem como ajudar o presidente”, diz.
A escola cívico-militar também é bandeira de outro pré-candidato presente ao encontro, o major do Exército Vitor Santos, que tentará uma cadeira na Câmara de São Paulo. “Essas escolas são muito boas. Aqui, quando chegar o pessoal vai ficar doido”, disse.
Ele afirma que finalmente decidiu tentar a política porque é o passo natural para alguém que milita pelo conservadorismo. “Se você não estiver na política, alguém vai estar no seu lugar. É estilo Maquiavel. Não pode deixar hiato de poder”.
A militância de direita espera neste ano um “bis” da eleição de 2018, quando a onda conservadora surpreendeu até a seus adeptos mais otimistas.
“A direita sem sombra de dúvida vai crescer. Só não sei o quanto porque essa briga dentro do PSL atrapalhou um pouco”, disse o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), também presente à reunião.
Um dos beneficiados pela onda Bolsonaro na última eleição, ele diz ter dúvidas sobre a volta do presidente ao partido. “A relação entre Bolsonaro e o PSL é igual cristal quebrado. Pode até colar, mas sempre vai ficar trincado”.
Cuidadosos, os organizadores da reunião reforçavam aos ativistas que se sucediam ao microfone que deveriam se apresentar como pré-candidatos, para não correr o risco de serem acusados de campanha antecipada.
Também seguiam outros rituais. Ao começo e ao final do evento, foi rezado um Pai Nosso e entoado o Hino Nacional. Alguns policiais militares observavam à distância, sem interferir no evento.
Usando brincos em formato da bandeira do Brasil, a maquiadora Val Paschoalini se apresentou como pré-candidata a vereadora em São Bernardo pelo PRTB.
Sua meta: combater desde cedo o que vê como ideologização de esquerda nas escolas do município. “O PT coloca a doutrinação para as crianças desde cedo. A gente quer dar uma resposta”, afirmou.
Já o professor Aelison Alcântara, que tentará a Câmara paulistana também pelo PRTB, defende conservadorismo sem radicalismo. “O mais importante é entender o funcionamento da máquina publica. Para ter direito a vida, emprego e família, é fundamental haver liberdade”, diz.
Militante conservador há sete anos, ele afirma que chegou a hora de optar pela via eleitoral. “Saímos das ruas e estamos ocupando esse terreno político”, afirma.
Pouco depois das 16h, o empresário Johnny Johannes, que fazia o papel de mestre de cerimônias, anunciou o fim do evento. Indonésio de nascença e ligado à Igreja Mórmon, ele é do setor de grafeno, material que pode ser usado na indústria eletrônica e que é visto com entusiasmo por Bolsonaro.
“Se Deus é por nós, quem será contra nós?”, entoaram os manifestantes em coro. Prometeram manter-se energizados até a eleição, e prontos para tentar dar uma nova sova eleitoral na esquerda.