Inquérito das fake news une a direita como não se via desde a eleição de Bolsonaro

A ação da Polícia Federal desta quarta-feira (27) em razão do inquérito aberto pelo Supremo contra fake news nos transportou de volta a outubro de 2018, quando a direita toda (ou quase) se uniu em torno de Jair Bolsonaro contra o PT.

Desde então, como se sabe, o guarda-chuvas destro se fragmentou, opondo liberais a conservadores, além de liberais e conservadores entre si.

O grande divisor, obviamente, é a figura do próprio Bolsonaro, que praticamente obriga a um posicionamento anti ou a favor.

O inquérito a cargo do ministro Alexandre de Moraes teve o condão de reunir, ainda que momentaneamente, grande parte das lideranças mais representativas da direita no repúdio à ação.

A tropa de choque bolsonarista, como era de se esperar, espumou quase que de imediato, alguns dobrando a aposta nas críticas ao detestado STF. A novidade foi o coro que fizeram grupos que hoje repudiam Bolsonaro em grau igual ou pior do que a aversão que têm à esquerda.

MBL (Movimento Brasil Livre), Partido Novo e Livres, entre outros, uniram-se no que foi enxergado como um abuso por parte do STF.

O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL, chamou o inquérito de ilegal.

Seu colega de Parlamento Marcel van Hattem (Novo-RS) foi na mesma linha.

Talvez um dos grupos que têm mais motivo para se opor a Bolsonaro, o Livres (que teve de deixar o PSL para o capitão entrar, em 2018), foi outro a criticar a decisão do STF.

Diversos outros movimentos e personalidades se manifestaram no mesmo sentido neste dia movimentado.

Houve algumas exceções que aplaudiram a ação da PF, como os deputados Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP).

Mas esses são casos específicos. São ex-bolsonaristas que têm militado na CPMI das Fake News e por isso são entusiastas do inquérito do Supremo. Também não são exatamente figuras com trajetória densa na direita, estão mais para oportunistas políticos.

Há uma razão de fundo ideológico para o fato de a direita ter esquecido por algumas horas suas profundas divergências neste caso. “Liberdade” é uma bandeira de liberais e conservadores em todo o mundo, assim como “igualdade” é para a esquerda.

Liberdade significa Estado menor e a primazia do indivíduo sobre o coletivo, talvez o aspecto mais importante para os que se colocam do lado direito do debate.

Adaptado para as redes sociais, esse cânone se traduz na possibilidade de se expressar com o menor receio possível de interferência de governos ou patrulhas ideológicas, ainda que excessos sejam cometidos.

Vem daí a crença de que o combate às fake news é apenas mais uma estratégia da esquerda para tornar as redes sociais também um campo de batalha. Até porque, acreditam direitistas, os alvos dessas ofensivas são sempre eles.

A direita, que admite ter perdido a disputa das ideias na universidade, na imprensa e no meio cultural, não quer admitir novo revés num terreno em que acredita ter mais condições de jogar de igual para igual, a internet.

A reação da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), outra que rompeu com Bolsonaro, é esclarecedora nesse ponto:

Em resumo, o que ela está dizendo é que mesmo comportamento odiáveis nas redes devem ser tolerados, e não criminalizados. Pode se acostumar a ouvir cada vez mais a palavra “censura” sempre que a direita reagir a qualquer investigação sobre fake news.