Quem é Winston Ling, o empresário pego no tiroteio verbal entre Bolsonaro e China

O tiroteio verbal de aliados de Jair Bolsonaro contra a China criou uma situação difícil para um megaempresário apoiador do presidente.

Winston Ling, 64, gaúcho de Santa Rosa e filho de chineses, é um dos maiores defensores de Bolsonaro no meio empresarial.

Desde que a crise do coronavírus se intensificou, o magnata sino-brasileiro tem buscado se equilibrar entre a aliança com o governo e a ligação com a terra de seus ancestrais.

Em alguns casos, como na postagem do ministro Abraham Weintraub (Educação) em que ironizou o modo como os chineses falam e comparando-os ao personagem Cebolinha, Ling preferiu se calar. Segundo tem dito, é mais adequado agir nos bastidores e tentar baixar a fervura em público.

Em outros, foi obrigado a se posicionar publicamente, como na crítica pesada que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez à China, de que seria a responsável pela pandemia.

“A diplomacia foi inventada para evitar a guerra, por isso existe uma série de regras e etiqueta que devem ser seguidas pelos homens públicos, mas que não precisam ser seguidas por cidadãos comuns. O fato do Eduardo ser filho do presidente agravou a situação”, afirmou.

Procurei Winston Ling, mas ele respondeu que prefere não dar entrevistas neste momento. Prefere manifestar-se apenas por suas redes sociais, como faz freneticamente.

Recentemente, Ling sentiu na pele o que é o racismo contra seu povo. No dia 19 de março, seu pai, o chinês Sheun Ming Ling, morreu aos 99 anos (de causas naturais).

Ao postar a notícia em suas redes sociais, Winston foi alvo de uma bateria de insultos.

Ironicamente, muitos vieram da base de seguidores de Bolsonaro, que por certo ignoram completamente quem ele é o que fez pelo presidente e pela direita brasileira.

E Winston Ling fez muita coisa. Ele não se limita ao mundo empresarial, mas procura influenciar no debate de ideias também.

Em 1995, sua família fundou em Porto Alegre o Instituto Ling, numa época em que defender o conservadorismo de costumes e o liberalismo econômico era visto como algo exótico.

O instituto hoje é uma referência na difusão destas ideias. Promove eventos, publica artigos e dá bolsas para jovens estudarem no exterior, entre eles jornalistas (inclusive alguns da Folha).

Quando Bolsonaro começou a despontar como candidato a presidente, por volta de 2017, Ling identificou nele alguém que pudesse levar adiante suas ideias.

Aproximou-se do deputado federal e rapidamente identificou uma fragilidade: para ser levado a sério, precisaria conquistar o respaldo do mercado e do empresariado. Para isso, Bolsonaro necessitaria de um guru econômico.

Ao lado da então ativista e hoje deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que conheceu por meio do ativismo nas redes sociais, Ling chegou ao economista liberal Paulo Guedes e fez a aproximação dele com Bolsonaro, num famoso encontro num hotel na Barra da Tijuca. O resto é história.

A fortuna da família iniciou-se na década de 1950, quando o pai imigrou para o Rio Grande do Sul, deixando para trás a China comunista.

Em Santa Rosa, começou a plantar soja. Depois enveredou para outros ramos do setor alimentício e diversificou seu império para áreas como a petroquímica e o comércio exterior.

Teve quatro filhos. Winston vive entre o Brasil e Hong Kong. Como liberal, é um crítico da China comunista, mas entende a importância do país para a economia mundial.

A amigos, tem dito que considera uma insanidade provocar o gigante asiático neste momento de crise internacional.

Seu apoio a Bolsonaro é sólido, como facilmente pode ser comprovado numa rápida análise de seu perfil no Twitter.

É um defensor do fim do isolamento total na atual pandemia, critica o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e defende a prescrição da hidroxicloroquina, medicamente que caiu no gosto dos bolsonaristas, para doentes de coronavírus.

Certamente há outros representantes da comunidade sino-brasileira que apoiam Bolsonaro, mas Winston Ling é, de longe, o mais vocal e influente.

É desta posição desconfortável que ele acompanha a troca de farpas cada vez mais dura entre apoiadores de seu amigo presidente e o lugar onde estão suas raízes.