De Trump a Bolsonaro, como identificar (e enfrentar) um populista?

Populismo é o grande mal dos nossos dias.

Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos EUA, Nicolás Maduro na Venezuela, Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, a lista é imensa. Para combatê-los, a receita é simples: doses cavalares de liberalismo.

A opinião foi expressa há 20 dias em São Paulo por Tom Palmer, vice-presidente mundial da maior organização liberal internacional, a Atlas Network.

Defensora do Estado mínimo tanto na economia como nos costumes, a Atlas influencia diversas organizações mundo afora. No Brasil, Palmer deu uma palestra a convite do grupo Livres.

Para ele, o populismo é bastante heterogêneo, a começar pelo fato de que pode ser de direita ou de esquerda. Mas há algumas ideias centrais que são comuns a todos os populistas.

“Os populistas sempre exploram o fato de haver um inimigo do povo”, diz Palmer. Os nazistas escolheram os judeus; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi identificou os muçulmanos como inimigos; na esquerda europeia, em movimentos como o espanhol Podemos, a culpa é dos super-ricos.

“Temos um inimigo, e precisamos de um líder forte para combatê-lo. Esse é o discurso”, afirma Palmer.

O segundo ponto é a identificação total do líder com a população. O venezuelano Hugo Chávez, um dos grandes populistas do nosso tempo, dizia que ele e o povo eram apenas uma entidade.

“Chávez não sou apenas eu. Chávez é um povo. Somos milhões. Vocês também são Chávez!”, disse o líder, num discurso resgatado por Palmer.

No Brasil, tivemos um exemplo praticamente idêntico de nosso maior populista de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao ser preso disse, para a multidão que o acompanhava: “Eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês”.

Terceiro ponto: estar em batalha permanente. Aqui, Trump é o mestre absoluto. Tudo para ele é um conflito, como no caso da disputa comercial com a China.

“Trump considera o comércio uma batalha. Isso é insano. Quando você compra um sorvete, você está lutando contra ele?”, pergunta Palmer

A quarta característica apontada por ele é a defesa imediata da ação. Não há tempo para debates, considerações ou ponderação. O povo tem pressa, e é preciso trazer rápido as mudanças que a sociedade reclama.

Nessa toada, abusos são cometidos, regras são quebradas, negociações são descartadas. Se você identificou Bolsonaro aqui, ponto para você.

Por fim, se o populismo é o grande mal do nosso tempo, as notícias falsas são o grande mal do populismo. Uma espécie de mal ao quadrado.

Às vezes, é a invenção crua de fatos, como fez Trump ao divulgar, contrariando fotos, que sua posse, em 2017, foi a maior da história.

Aquele episódio levou à criação do termo “fatos alternativos” por uma de suas assessoras, um eufemismo para mentiras. De novo, é algo que podemos ver em outras partes do mundo.

Embora radicado nos EUA, Palmer, de 64 anos, é alemão. Quando jovem, nos anos 80, era membro de uma rede liberal europeia que contrabandeava livros e máquinas de xerox para países do bloco soviético. Espalhava as ideias de luminares como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e Frederic Bastiat.

Para ele, o que leva ao populismo é a sensação de melancolia do homem branco, que nas últimas décadas viu seu status relativo na sociedade ser questionado pelo avanço das mulheres e das minorias no ambiente de trabalho e nas universidades.

Palmer diz que apenas a diminuição do peso do Estado pode combater o populismo. E ele não diferencia suas versões à esquerda ou à direita.

“Populismo de esquerda e direita é como estricnina nos sabores baunilha e chocolate”, afirma.