Site sobre direita dos EUA ensina a esquerda a entender fenômeno Trump
Como grande parte da humanidade, o jornalista Howard Polskin, com uma longa carreira em órgãos da imprensa americana, acordou em choque no dia 9 de novembro de 2016.
Donald Trump, o empresário excêntrico que, de acordo com virtualmente todos os analistas, era carta fora do baralho na eleição americana, havia acabado de chegar à Casa Branca.
“Eu achava que conhecia meu país, mas me senti bobo e desinformado naquele dia”, afirma Polskin.
A conclusão a que ele chegou é parecida com a de muitos brasileiros que até o último momento se recusavam a acreditar na possibilidade de uma vitória de Jair Bolsonaro: é preciso informar-se melhor.
A resposta de Polskin foi criar o site “The Righting” (Endireitando), uma espécie de Saída Pela Direita dos EUA (brincadeirinha, rsrsrs).
É um agregador de notícias publicadas em blogs e sites conservadores, cujo slogan é “alertar audiências progressistas sobre as manchetes da direita”.
“Como diversos consumidores de notícias, eu achava que tudo de que precisava para ser um cidadão americano bem-informado era ler, assistir e ouvir uma variedade de fontes da mídia mainstream de forma regular”, afirmou ele, em entrevista por e-mail.
No seu caso, eram veículos como os jornais The New York Times e USA Today, a revista Time e as emissoras de TV NBC e CNN. Mas não era o suficiente.
Dezenas de outros sites, alguns bastante obscuros e segmentados, estavam, segundo ele, “formatando as opiniões políticas de milhões de americanos”.
The Righting, diz seu criador, busca essas informações e as agrega para quem se inscreve no site (gratuitamente).
Também produz uma newsletter diária e um ranking mensal dos 20 maiores sites conservadores, além de explicar a influência de cada um.
O ranking de dezembro de 2019 mostrou o site da Fox News disparado na frente, com 95 milhões de visitantes únicos. Completam o top 5 Washington Examiner (12 milhões), Washington Times (9,4 milhões), The Blaze (7,4 milhões) e National Review (6,2 milhões).
“Passo os primeiros 90 minutos do meu dia de trabalho lendo o conteúdo de dezenas de sites de direita e escolhendo os links que enviarei para meus assinantes”, descreve.
Ele não informa quantos assinantes tem, ou sua audiência mensal. Diz apenas que é concentrada em cidades como Washington, Nova York, Los Angeles, San Francisco e Seattle, todas redutos do Partido Democrata.
Afirma ainda que conta com um punhado de leitores no Brasil (“espero ganhar alguns quando esse artigo for publicado!”, diz).
Polskin é assumidamente o que se chama de “liberal” nos EUA, que por lá significa progressista ou esquerdista. Em geral, são eleitores do Partido Democrata, opositor dos republicanos de Trump.
E um problema difícil de superar, acredita, é a mentalidade de bolha (alguma semelhança com o Brasil, será?)
“Eu vivia numa bolha antes da eleição de Trump”, admite ele, morador da superesquerdista ilha de Manhattan, em Nova York. E essa mentalidade, acredita ele, não foi desfeita.
“Se você assistir a Rachel Maddow na MSNBC ou Don Lemon na CNN [âncoras de esquerda], vai achar que a qualquer momento agentes do FBI vão invadir a Casa Branca e prender Trump acorrentado por sua mais recente infração”, afirma.
Mas, pondera ele, essa não é a maneira segundo a qual grande parte dos americanos veem Trump e seu governo.
Às portas de uma nova eleição, em que o presidente enfrentará um democrata ainda não definido, ele alerta para o risco de a esquerda repetir o erro.
“Se os progressistas realmente querem estar acordados, têm de prestar atenção ao que está sendo dito na direita, por mais doloroso que seja”, acredita.
Segundo Polskin, os conservadores foram mais eficazes em criar um sistema que se retroalimenta.
Um Exército de comentaristas e políticos conservadores usa as redes sociais diariamente para expressar seus valores.
Isso é geralmente amplificado por comentaristas de rádio, um veículo que, nos EUA, é tradicionalmente dominado pela direita. A informação muitas vezes sobe na cadeia de produção até chegar na Fox News, emissora muitas vezes mais trumpista que o próprio Trump.
O ápice ocorre quando o próprio presidente ou alguém de seu círculo tuíta a informação, reiniciando com mais força o ciclo.
Polskin não cai na armadilha de achar que tudo que vem da direita é sensacionalismo e desinformação.
“Alguns sites conservadores produzem jornalismo sólido e argumentos bem pensados”, declara. “Mas muito do que é publicado acaba sugado no ecossistema da mídia conservadora sem qualquer filtro”.
Seja como for, o recado dele é claro. “Você não pode combater as forças do trumpismo se não entender as vozes que ajudam a fortalecer o presidente”, conclui.