Direita busca fórmula para repetir onda Bolsonaro nas prefeituras
A eleição municipal em outubro deste ano será uma espécie de tira-teima para a direita.
A onda conservadora que elegeu o presidente Jair Bolsonaro, diversos governadores e parlamentares em 2018 foi apenas produto de uma circunstância específica? Ou foi sintoma de uma mudança duradoura na sociedade brasileira?
Lideranças conservadoras estão desde já ocupadas em tentar transpor a onda nacional de dois anos atrás para o plano municipal.
Mas não é algo simples. Eleições locais são muito mais sobre a limpeza das ruas e as condições do trânsito do que sobre slogans como “a nossa bandeira jamais será vermelha”.
“Precisamos transpor a nossa ideologia, aquilo em que nós acreditamos, a nossa moral, nossos princípios, para os problemas locais”, diz Rodrigo Morais, que foi secretário-geral do PSL de São Paulo e atualmente é consultor político de pré-candidatos conservadores a prefeito e vereador.
Morais também é um dos líderes da Acons (Associação Nacional dos Conservadores), que em abril realizará um congresso voltado à discussão municipal. O slogan do evento é um alerta: “Eleições 2020: a última fronteira da esquerda”.
Traduzindo, há o risco, da perspectiva dos conservadores, de que a esquerda consiga se reorganizar em outubro e se fortaleça para a próxima eleição presidencial. Isso, lógico, caso a direita não saiba lidar com temas locais.
“Se nós não ganharmos essas prefeituras, alguém vai ganhar. E serão nossos inimigos, nossos opositores”, afirma Morais, em vídeo de apresentação do evento.
Segundo o raciocínio do dirigente, a primeira onda do bolsonarismo, apesar de toda a empolgação, gerou um efeito colateral preocupante.
Foi produto sobretudo da campanha em redes sociais, e elegeu um grande número de pessoas com pouco ou nenhuma vivência de rua.
“A primeira onda de bolsonarismo teve pouco ou nenhum contato com a sociedade, com a base”, afirma ele. “A grande maioria dos deputados foi eleita por vídeos no WhatsApp, nas redes sociais. Pessoas que não pegaram na mão de 5% dos seus eleitores”, diz ele.
A solução, afirma o dirigente, é um retorno à boa e velha campanha de porta em porta.
“É muito importante que essa segunda onda esteja fincada, ancorada num trabalho de base, municipal”, diz Morais. “É indo lá, batendo na porta, ouvindo não. É assim que a gente vai aprender”, afirma.
Nesse ponto específico, a esquerda larga na frente, por ter mais tradição em campanhas de rua, e uma base de atuação que conta com movimentos sindicais e sindicatos.
E quais são os temas que a direita pode explorar?
Em setembro do ano passado, entrevistei Everton Sodario, que foi eleito pelo PSL num pleito especial na cidade de Mirandópolis (SP), para um mandato-tampão.
Apelidado de Bolsonaro caipira, conseguiu realizar na prática o projeto de transplantar a onda conservadora para o plano local.
“No interior não tem essa coisa tão forte de direita e esquerda. As pessoas não querem tanto saber de conservadorismo. Querem saber de emprego, saúde, asfalto, educação”, alertou ele, na época.
Sua grande sacada foi adaptar partes da plataforma de Bolsonaro para a realidade de seu município.
Ecoou o discurso do fim do toma-lá-dá-cá desistindo de contemplar vereadores com cargos na prefeitura. Também prometeu um plano de redução de impostos para atrair empreendimentos.
E, mais sintomático, encerrou um convênio com presídios da cidade pelo qual presos ajudavam na limpeza da cidade.
“Queremos que o preso trabalhe dentro da cadeia. Aqui fora, eu prefiro que o pai de família trabalhe”, disse ele.
Foi um sucesso. Elegeu-se com 60% dos votos. Sua receita pode resolver o dilema da direita em outubro.