Crise com o Irã resgata importância de Reagan para a direita americana

“Há muito tempo não tínhamos um presidente que coloca o país e o povo em primeiro lugar. Desde Reagan não havia um legítimo líder dos americanos”.

A mensagem foi tuitada neste domingo (5) pelo soldado Kato Trillbilly, que se define como um “orgulhoso e patriota” veterano da Guerra do Iraque, de 2003, que derrubou Saddam Hussein.

Opiniões deste tipo vêm pipocando nas redes sociais e em textos de analistas da direita desde o ataque ordenado pelo presidente Donald Trump que matou o general iraniano Qassim Suleimani, comandante da Guarda Revolucionária, no último dia 2.

A escalada na tensão entre EUA e Irã trouxe de volta à ribalta a figura de Ronald Reagan, presidente americano entre 1981 e 1989. Adorado pelos conservadores, ele é o padrão de comparação para todos os líderes do Partido Republicano, e não é diferente com Trump.

O atual ocupante da Casa Branca, lembremos, chegou ao poder quase que por acidente, beneficiado por uma conjuntura de crise econômica em alguns estados-chaves, incompetência dos opositores democratas, torrentes de fake news e muita sorte.

Suas credenciais para lidar com o cenário internacional eram risíveis, para dizer o mínimo, uma situação que não mudou muito desde sua vitória, em 2016. Pegar carona na mitologia e Reagan, assim, vem bem a calhar.

O ex-presidente, morto em 2004 aos 93 anos, é mais lembrado por ter vencido a Guerra Fria contra o bloco soviético, mas também aplicou sua retórica de um nacionalismo viril no Oriente Médio.

A década de 1980 teve como um de seus piores conflitos a guerra entre Irã e Iraque, que deixou mais de 1 milhão de mortos.

Reagan posicionou-se decisivamente contra os iranianos, colocando como prioridade a contenção do regime xiita que havia acabado de se instalar no país.

Aliou-se ao iraquiano Saddam Hussein, fornecendo ajuda militar ao ditador, que na década seguinte passaria a ser considerado um inimigo. Mas naquele momento evitar que a Revolução Islâmica se espalhasse era mais importante.

Por isso sua postura de confrontar o regime persa é tão emblemática, especialmente se comparada à de presidentes democratas como Jimmy Carter, humilhado pela crise dos reféns na embaixada americana em Teerã, e Barack Obama, que negociou um acordo nuclear com o país.

Frases de Reagan para inspirar o atual momento passaram a ser resgatadas nos últimos dias. “Quando não puder fazê-los ver a luz, faça-os sentir o calor” é uma delas.

Outra, utilizada como um slogan, é “paz por meio da força” (peace through strength).

No Twitter, diversos perfis alinhados à direita americana têm pedido que o assassinato do general Suleimani seja apenas um primeiro passo.

E sugerem a Trump que, “no estilo Reagan”, escale ainda mais ofensiva em direção à Síria, aliada do regime iraniano. Duas hashtags populares nesses círculos pedem o uso de drones contra o ditador sírio, Bashar al-Assad, e seu principal comandante militar, Suheil al-Hassan.

A ação de Reagan contra o regime iraniano não esteve livre de desastres e polêmicas. A maior tragédia ocorreu em julho de 1988, quando um avião de passageiros iraniano, com 290 pessoas a bordo, foi derrubado por um míssil lançado de um navio de guerra dos EUA.

Outro escândalo foi o caso Irã-Contras, em que armas foram vendidas secretamente ao regime iraniano por membros da alta hierarquia do Pentágono, oficialmente para obter a soltura de americanos mantidos reféns no Líbano pelo Hizbollah, uma milícia xiita alinhada a Teerã.

Uma parte da receita da venda dessas armas, no entanto, foi direcionada a rebeldes contra o governo socialista da Nicarágua.

O caso arranhou a imagem de Reagan como um líder implacável contra a ameaça dos xiitas iranianos e deixou claro que para o establishment militar americano nada importa mais do que fazer negócios, mesmo que com inimigos.

Mas para a direita americana, são apenas deslizes num cenário maior. Mais importante é que Reagan mostrou o caminho para lidar com os iranianos, e Trump deve segui-lo.

Ou, como resume num tuíte o ativista Patrick S., ligado ao Tea Party, a ala radical do Partido Republicano. “Trump é o melhor presidente que tivemos desde o Gipper [apelido de Reagan]. Todos os demais entre eles não dão para o cheiro”.