Por que é tão difícil estudar a direita nas universidades?
Enquanto influenciadores digitais da direita tiravam selfies e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) era paparicado o tempo todo, uma profusão de panfletos e folderes era distribuída para os participantes da Cpac, conferência conservadora que ocorreu em São Paulo no mês passado.
Um deles me chamou a atenção: uma pós graduação em conservadorismo, com uma carga horária de 360 horas, distribuída em 12 disciplinas.
Entre elas, “fundamentos do pensamento conservador”, “discurso e narrativa conservadora” e “nova direita, liberais vs. conservadores”.
Quem anunciava a novidade era a Uninter, Centro Universitário Nacional, entidade paranaense que oferece cursos presenciais e à distância (como era o caso da pós em conservadorismo).
Parecia interessante. Cursos universitários sobre a direita são raros, o que dá certa credibilidade à acusação de que o ambiente acadêmico é um antro esquerdista. De fato, quem quiser estudar marxismo aplicado à jardinagem certamente conseguirá.
Mas a ideia, aparentemente, não foi para a frente. No site da Uninter não há nenhuma referência ao curso anunciado. A assessoria de imprensa da instituição, que procurei, foi lacônica. Limitou-se a dizer que “o curso não consta no portfólio atual de oferta de pós-graduação”.
Perguntei se o curso havia sido cancelado e os motivos, e a resposta foi o silêncio.
Como não recebi explicações, só posso deduzir o motivo provável para o projeto ter flopado: falta de interesse. O que leva a uma questão maior: por que é tão difícil aprender sobre a direita e o conservadorismo?
Não é que haja um vazio absoluto. Institutos especializados, como o liberal Mises Brasil e o conservador Burke, de São José dos Campos (SP), oferecem programas acadêmicos (este último, aliás, até anunciou promoção na Black Friday).
A produtora gaúcha Brasil Paralelo, da qual já falei bastante neste blog, é outro exemplo, oferecendo documentários e cursos online com uma visão conservadora sobre história, educação e cultura.
Mas esses esforços, embora meritórios, são parciais e enviesados. Partem de um determinado ponto de vista, e não contemplam a visão mais imparcial e abrangente que se espera de um ambiente universitário.
Exemplo, do caso do Burke: quem se inscrever nos cursos do instituto recebe de brinde a obra “Por que o Brasil é um país atrasado”, do deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).
O parlamentar é unha e carne com o presidente Jair Bolsonaro e um dos organizadores de seu novo partido, a Aliança Pelo Brasil. Não espere uma visão desapaixonada, portanto.
A universidade é, por excelência, o espaço da crítica, e isso deveria ser estendido para o estudo da direita. Mas o que vemos hoje é uma espécie de círculo vicioso.
As instituições de ensino superior muitas vezes preferem ficar no conforto de suas grades curriculares, em que o conservadorismo é tratado como algo exótico. Nova direita, então, praticamente não encontra espaço.
E, como isso acontece, estudantes se desinteressam por estes temas ou, pior, têm receio da reação de seus pares ao tentar estudá-los.
Como corolário, o cenário reforça o discurso de gente como Olavo de Carvalho e o ministro Abraham Weintraub (Educação), de que o tal do “marxismo cultural” impera nas universidades.
A direita tem conquistado espaços, e talvez seja questão de tempo até que também entre com tudo nas universidades. Por enquanto, contudo, esse território continua sendo praticamente uma exceção na atual onda conservadora.