Ex-dirigente do Flamengo se lança a prefeito do Rio e quer tratar cidadão como cliente

A ascensão de ideias liberais deve trazer uma novidade para o discurso político na campanha municipal de 2020. Diversos pré-candidatos pretendem defender que as prefeituras sejam tratadas como empresas, e os cidadãos, como clientes.

A iniciativa parece incomum, para dizer o mínimo, e sua aceitação pelo eleitorado ainda é incerta. Na eleição de 2016 algo desse discurso já esteve presente, por exemplo na campanha de João Doria (PSDB) em São Paulo e seu famoso bordão “não sou um político, sou um gestor”.

Mas a promessa agora é radicalizar esse conceito, e o Partido Novo é quem empunha essa bandeira com mais ênfase, especialmente nas capitais onde terá candidato próprio.

No Rio, Fred Luz, 66, ex-engenheiro da Petrobras, executivo que trabalhou em diversas empresas e com uma passagem pela administração do Flamengo, foi escolhido no último fim de semana o candidato a prefeito do Novo.

“A primeira coisa é choque de gestão na prefeitura, de fazer funcionar os serviços, não aparelhar a máquina. É muito mais uma atitude de síndico de que de ideologia”, diz Luz. “O cidadão tem que ser tratado como cliente, afinal é ele que paga por tudo”.

O liberalismo, afirma, será o pano de fundo de sua campanha. “É estimular o empreendedorismo, simplificando a vida do cidadão, desregulamentando, apoiando, para gerar negócios”, diz.

Há, obviamente uma questão chave nessa aposta, o efeito que a defesa de um Estado mínimo terá em comunidades onde os serviços públicos são precários e a população espera uma ação maior, e não menor, do poder público.

O pré-candidato não vê empecilho, e acha que seu discurso terá bastante ressonância em favelas, por exemplo. “Basta entrar em qualquer comunidade para você ver a quantidade de pequenos empreendimentos que existem. As pessoas que vivem nesses locais querem apenas mais liberdade para trabalhar e iniciar seu próprio negócio”, diz.

Seu cartão de visitas será a experiência que teve como executivo no setor privado. Ele destaca, por exemplo, seu trabalho nas Lojas Americanas.

E daí vem a pergunta inevitável: ter sido parte da cúpula do Flamengo, clube mais popular,  mas também o mais odiado, do Rio de Janeiro, ajuda?

“O Flamengo hoje virou um paradigma de gestão entre os clubes brasileiros. Não é um torcedor que estará indo para a prefeitura. O que importa é replicar o modelo de recuperação que foi dado”, afirma.

Luz a princípio se mostra aberto a coligações com outros partidos, algo que costuma ser um tabu no Novo. “Não descarto coligação. É  difícil coligar com o Novo por causa dos nossos princípios, mas não impossível. Todos estamos evoluindo nesse aspecto”.

Novato em eleições, ele foi integrante do Renova BR, uma das start-ups da política que querem renová-la e capacitar para a atividade pública gente sem nenhuma experiência prévia.

Em 2018, Luz foi coordenador da campanha presidencial de João Amoêdo, do Novo, e depois ajudou no início da administração de Romeu Zema, do mesmo partido, em Minas Gerais. Agora, acha que chegou sua hora de estar na linha de frente de uma eleição.

Se eleito, pegará uma prefeitura com dificuldades financeiras e estará à frente de uma cidade machucada pela crise iniciada em 2015. Mais um argumento, acredita ele, para um prefeito com cabeça de empresário.