Com coach cristão e réplica do Coliseu, feira mostra força do mercado evangélico
Encerrada neste domingo (20) em São Paulo, a Expo Cristã, mega feira evangélica realizada no pavilhão do Anhembi, explica muito as razões pelas quais esse segmento cresce tanto, em número e influência.
Com uma variedade de estandes que foram muito além das tradicionais exposições de Bíblias e divulgação de pequenas igrejas, a feira mostrou um setor com uma incrível capacidade de se adequar a diversos segmentos da economia.
É espantosa a maneira como se consegue imprimir uma digital cristã das maneiras mais improváveis.
Um local anunciava um consórcio evangélico (consórcio mesmo, de venda de carros e imóveis). Outro promovia um curso de coach cristão, seguindo as orientações do “maior coach de todos os tempos, Jesus Cristo”.
Mulheres circulavam com bolsas do banco Santander adaptando seu slogan (“o que a gente pode fazer por você hoje?”) para “o que a gente pode fazer pela sua instituição evangélica hoje?”.
Ingressos para um parque aquático eram vendidos a preços especiais para igrejas evangélicas, e com o compromisso de que parte do valor pago financiasse cursos de informática em comunidades carentes.
Até uma palestra sobre “sexualidade à luz da Bíblia” entrou na programação, com uma sexóloga de Cristo, toda vestida de rosa choque, ensinando uma plateia basicamente de mulheres que “sexo não é apenas para reprodução, mas para prazer também”.
Bandas gospel em todos os cantos imagináveis e invencionices high tech deram um certo ar de parque de diversões para o local.
Uma réplica do Coliseu romano foi construída, com direito a tour de realidade virtual no qual um leão pula no usuário que faz o papel de um cristão no meio da arena. Filas se formavam para atrações temáticas das Dez Pragas do Egito, Travessia do Mar Vermelho e Arca de Noé.
João Vitor Alves de Almeida, 18, enfrentava uma dessas filas. Tinha acabado de entrar na feira e foi direto para a área de diversões. “Tem muita coisa para fazer. Vou dar uma olhada em tudo”, disse ele, fiel da igreja Nova Vida. Mesmo desempregado, pretendia gastar com livros evangélicos.
Em um palco montado dentro do pavilhão, apresentava-se a cantora Cassiane, um fenômeno da música gospel. No intervalo entre as músicas, entoava um discurso junto à plateia como se fosse uma pastora.
“Vamos dar um soco na cara do Diabo! E dar glória a Deus aí, meu irmão! Aleluia!”, pregou. “Tem gente que acha que glória a Deus espanta, né? Não espanta, não, viu, meu irmão. Glória a Deus atrai”.
Segundo o Datafolha, os evangélicos já são 31% dos brasileiros e começam a ameaçar a hegemonia católica (55%). Votaram majoritariamente em Jair Bolsonaro para presidente no ano passado, e seguem sendo um bloco político importante de apoio a ele, apesar de rusgas eventuais.
Uma das ministras mais conhecidas do governo é uma pastora, Damares Alves (Direitos Humanos). O presidente também já prometeu nomear um ministro “terrivelmente evangélico” para uma vaga no Supremo no ano que vem.
Mas a Expo Cristã mostra que os evangélicos têm força independentemente da presença de um aliado no Palácio do Planalto. Prova disso é o fato de que em nenhum lugar da exposição o nome ou a imagem de Bolsonaro estavam em evidência.
Aliás, as maiores e mais fortes igrejas não se fizeram presentes no Anhembi. O evento é destinado mesmo para o mercado evangélico, cujo crescimento, ao que tudo indica, passa pela conquista conjunta de fiéis e consumidores.