Com Biden acuado, aliados de Trump apostam em Warren como rival em 2020

A campanha à reeleição de Donald Trump já vê a senadora Elizabeth Warren (Massachusetts) como sua mais provável adversária na disputa de 2020, e o caminho para a vitória passa por associá-la a um termo que é quase uma ofensa para muitos americanos: socialista.

A avaliação foi feita por Mercedes Schlapp, 46, que foi diretora de Comunicação da Casa Branca de 2017 até julho deste ano e participou da Cpac, conferência conservadora ocorrida sexta (11) e sábado (12) em São Paulo.

“Elizabeth Warren é uma candidata da extrema esquerda, que tem a marca do socialismo. Se você olha para os independentes, olha inclusive para os democratas moderados, eles não gostam disso”, disse à Folha Mercedes, que ocupará a função de “conselheira-sênior” na campanha de Trump à reeleição.

“Trump tem a oportunidade de dizer: ‘a economia está mais forte do que nunca, estamos enfrentando a imigração ilegal, e esses socialistas vão mudar a direção e destruir a democracia dos EUA'”, declarou.

Na visão da assessora republicana, o ex-vice-presidente Joe Biden, que vinha sendo apontado como favorito para ser o postulante democrático, está praticamente descartado como oponente.

“As pesquisas mostram que ela [Warren] está ganhando terreno, e é porque há tanta controvérsia cercando Biden. O cenário é problemático para ele. Acho que veremos Warren ir bem já nas primárias dos primeiros estados”, afirmou.

Nos EUA, a escolha dos candidatos a presidente é feita por meio de eleições primárias nos estados, que devem começar em fevereiro.

Segundo uma média de pesquisas divulgada na sexta (11) pelo jornal The New York Times, Biden, da ala moderada do Partido Democrata, ainda se mantém ligeiramente à frente da esquerdista Warren, por uma margem de 26% a 23%. Em julho ele tinha mais de 30%.

A controvérsia a que ela se refere é a ligação do filho de Biden, Hunter, com uma empresa ucraniana suspeita de corrupção. Em uma conversa telefônica com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, o líder americano pressionou para que a família do ex-vice-presidente fosse investigada, o que levou ao início de um processo de impeachment de Trump.

Mas o imbróglio também jogou luz sobre possíveis conflitos de interesse envolvendo Joe Biden e seu filho. Neste domingo (13), Hunter anunciou que deixaria o conselho de outra empresa à qual é ligado, a chinesa BHR, administradora de fundos de investimentos.

“Agora mesmo há uma caçada por Hunter Biden, ninguém sabe onde ele está. Desapareceu, está escondido”, disse Matt Schlapp, 51, marido de Mercedes e presidente da União Conservadora Americana, que organiza a versão americana da Cpac.

O evento, que nos EUA é realizado desde 1973, ocorreu pela primeira vez no Brasil, trazido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A estratégia dos republicanos para rebater a suspeita de que Trump abusou do cargo para perseguir Biden também já está traçada e terá duas ações simultâneas, segundo deixou claro o casal.

A primeira é reforçar que presidentes têm a prerrogativa de conversar com líderes estrangeiros livremente, pois isso atende ao interesse nacional dos EUA.

“Temos uma longa tradição diplomática na qual o chefe de Estado pode conversar com líderes estrangeiros e isso se mantém confidencial, não se torna uma conversa pública. Se isso começa a ser vazado para a imprensa, pode levar a menos comunicações. Quanto menos Trump conversa, menos sabe o que está acontecendo nesses países e qual a decisão correta a tomar sobre diversos assuntos”, afirmou Matt.

A segunda perna da estratégia é dizer que o impeachment é algo que poderá desestabilizar os EUA.

“O objetivo deles [democratas] é criar distração e caos. Isso pode levar a uma crise econômica, a uma crise constitucional, por causa do ódio contra Trump”, disse Mercedes.

Para seu marido, o processo de impeachment é preocupante, mas não em razão de algum crime que o presidente tenha cometido.

“Estou preocupado no sentido de que é um processo em busca de um crime. Os democratas tentaram por dois anos e meio provar alguma ligação de Trump com a Rússia, e não conseguiram. Estão tentando de novo agora”, afirmou.