Aliados de Bolsonaro sofrem derrotas, e sonho de Internacional Destra fraqueja

Em dezembro de 2018, a primeira Cúpula Conservadora das Américas, em Foz do Iguaçu (PR), parecia anunciar uma fase de ouro para a direita continental.

Organizada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi pensada como uma alternativa ao Foro de São Paulo, grupo de partidos latino-americanos de esquerda capitaneado pelo PT.

Simultaneamente, o grupo The Movement era criado por Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, para ser um contraponto assumidamente populista e conservador à Internacional Socialista. Não por acaso, Eduardo foi escolhido seu representante na América Latina.

Menos de um ano depois, essas iniciativas estão fazendo água.

A Cúpula deve ter uma nova versão em dezembro. Já o Movement está em morte clínica. Em maio, seu coordenador na Europa, o belga Mischael Modrikamen, teve uma derrota tão grande nas eleições de seu país que foi obrigado a extinguir seu partido.

O próprio Bannon hoje parece mais um oráculo decadente da direita americana do que alguém com poder real de mobilização. Poucos esperam que tenha alguma posição de destaque na campanha à reeleição de Trump, no ano que vem.

Pior para os Bolsonaros, os líderes políticos com os quais o Brasil se aliou de forma mais intensa neste início de governo estão fragilizados. Cuidam da própria sobrevivência política e não têm encontrado muito tempo para grandes debates sobre a criação de um novo eixo conservador mundial.

Não ajuda o fato de que a nova direita é, por definição, nacionalista e antiglobalista. Formar grandes coalizões internacionais parece um tanto paradoxal para quem tem discurso nativista.

O presidente brasileiro estabeleceu sua rede mundial de alianças em um pentágono, no qual um vértice já caiu, outro está destinado ao desemprego em breve e dois têm futuro, no mínimo, incerto.

Apenas o húngaro Viktor Orbán, o líder mais próximo de um autocrata que a União Europeia já abrigou, segue firme no comando de seu país.

O italiano Matteo Salvini (outro que embarcou no Movement) levou um contragolpe humilhante ao tentar derrubar o governo no qual era vice-premiê, apostando em uma vitória em eleições antecipadas.

Não contava com uma reorganização da esquerda italiana, que evitou o novo pleito e o deixou na oposição.

Na Argentina, Mauricio Macri, saudado por Bolsonaro e seu entorno como um exemplo de liberal corajoso, está na curiosa posição de ex-presidente ainda no cargo.

Para todos os efeitos, Alberto Fernandez já é tratado como novo chefe de Estado, e a eleição do final do mês deve ser apenas uma formalidade.

Ainda de pé, mas abalados, estão dois dos líderes pelos quais o brasileiro nutre mais carinho. O israelense Binyamin Netanyahu, chamado por Bolsonaro de “amigo e irmão” em sua visita ao país do Oriente Médio em março, tenta pela segunda vez no ano formar uma maioria parlamentar para seguir no cargo de primeiro-ministro.

Esbarra, no entanto, no resultado inconclusivo da eleição do mês passado e nas acusações de corrupção que pesam contra si. Pela primeira vez em dez anos, um cenário sem Bibi no comando israelense é possível de ser vislumbrado.

Já Trump, aliado incondicional e espécie de modelo para o presidente brasileiro no estilo de se comunicar e de brigar com adversários, é alvo de processo de impeachment.

As chances de que seu mandato seja cassado pelo Congresso são remotas, mas as evidências de que ele operou junto ao governo da Ucrânia para que investigasse o filho do democrata Joe Biden podem causar dano político considerável.

Se a economia se desacelerar, como temem analistas, cresce a chance de Trump entrar na restrita galeria dos presidentes americanos de um mandato apenas.

Há ainda outra estrela do populismo de direita em apuros, o britânico Boris Johnson. Mas o conservador, em guerra com os europeus e com as instituições de seu próprio país em meio ao caos do Brexit, nunca teve grande proximidade com Bolsonaro.

Sua eventual queda, no entanto, seria mais um elemento a mostrar como o sonho de uma Internacional Destra parece impraticável, ao menos no momento.