Com Brasil na rota, evento conservador CPAC mostra ambição global
Um sorridente Donald Trump abraça a bandeira americana como se fosse um garoto acariciando um brinquedo novo.
A imagem está em destaque no site da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora), anunciando a edição 2020 de um dos maiores eventos conservadores do planeta. Ocorrerá em fevereiro em National Harbor, estado americano de Maryland.
Os ingressos já estão à venda, variando de US$ 85 (R$ 350) para estudantes, até US$ 5.750 (R$ 23.500) no pacote “premium gold”. Há também uma série de eventos paralelos com DNA tipicamente conservador, como o “jantar Ronald Reagan”. Veteranos de guerra têm preços especiais.
O apoio à reeleição do presidente americano no pleito de novembro não chega a ser uma surpresa para a American Conservative Union, entidade que organiza a conferência. Trump, afinal, sempre foi figurinha fácil na CPAC, desde quando era apenas um apresentador de TV folclórico.
Menos notada é a nova ambição global dessa organização. Cada vez mais, a CPAC deixa de ser um evento simplesmente americano para tentar se firmar como uma referência em ideias conservadoras em âmbito mundial. O inédito alinhamento político que levou diversos líderes de direita ao poder em vários continentes oferece uma oportunidade única para que o conservadorismo se espalhe.
Na semana passada, foi anunciada a versão brasileira do evento, que ocorrerá em outubro em São Paulo. Seu principal promotor é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que em breve deve ser indicado pelo seu pai como embaixador em Washington (pendente aprovação do Senado). Matt Schlapp, presidente da entidade organizadora, é presença confirmada, e espera-se a vinda de outros convidados internacionais.
Eventos similares estão pipocando em diversas partes do planeta. Há duas semanas, houve a primeira edição da CAPC Austrália. Conforme mostrou minha colega Patrícia Campos Mello, o evento foi repleto de polêmicas em razão da participação de alguns convidados, entre eles o ativista britânico de direita Raheem Kassam, conhecido por suas críticas ao Alcorão, o livro sagrado do islamismo.
No final do mês, o Japão realizará sua segunda edição do evento. Entre os temas em discussão, formas de lidar com o regime norte-coreano (inclusive com a presença de dissidentes da ditadura comunista), os protestos por democracia em Hong Kong e o crescente apetite da China de influenciar outros países, sobretudo por meio de projetos de infraestrutura. Também haverá uma discussão sobre as Olimpíadas do ano que vem, em Tóquio, e como tornar o evento um sucesso capitalista.
“À medida em que o mundo se move em direção ao caos, a situação cercando o Japão está se tornando mais e mais tensa”, diz o texto que apresenta o evento.
Em outubro, além da versão brasileira, também a Coreia do Sul sediará sua CPAC. No mês seguinte, será a vez da Irlanda. Fora esses grandes eventos internacionais, a American Conservative Union promove encontros regionais nos EUA praticamente todos os meses, que deverão se tornar um aquecimento da campanha eleitoral de 2020.
A chegada do evento a São Paulo, portanto, não é apenas uma deferência dos conservadores americanos ao governo de Jair Bolsonaro, embora isso tenha certamente sido fundamental para que a CPAC aporte por essas bandas.
Os conservadores, como bons defensores do capitalismo, estão percebendo uma oportunidade de mercado para crescer e divulgar suas ideias. Pode esperar novas edições do evento em diversas partes do mundo nos próximos anos.